tag:blogger.com,1999:blog-53025195775585014932024-02-20T23:13:44.027+00:00Saramago ApontamentosJosé Saramago.
Uma visão apaixonada, sobre o homem que da Estátua descobriu a Pedra.
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.comBlogger1417125tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-34035855570243639842023-09-09T10:15:00.001+01:002023-09-09T10:15:01.991+01:00"DRCAlg | Viagem pela “Rota Literária Saramago no Algarve” chega a Alcoutim" - via Mais Algarve<p><a href="https://maisalgarve.pt/2023/09/05/drcalg-viagem-pela-rota-literaria-saramago-no-algarve-chega-a-alcoutim/">https://maisalgarve.pt/2023/09/05/drcalg-viagem-pela-rota-literaria-saramago-no-algarve-chega-a-alcoutim/</a></p><p style="text-align: justify;">"A Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg) apresenta, no dia 8 de setembro, às 14h45, na Biblioteca Municipal Carlos Brito – Casa dos Condes, em Alcoutim, o itinerário literário de Alcoutim, da “Rota Literária Saramago no Algarve”.</p><p style="text-align: justify;">No mesmo dia, terá lugar a inauguração da exposição fotográfica “Viagem Fotográfica ao Algarve”, um projeto da associação 1/4 Escuro, Associação de Fotógrafos Amadores de Vila Real de Santo António (VRSA), apoiado pela DRCAlg, e realizado em colaboração com a Fundação José Saramago, e a Região de Turismo do Algarve. A iniciativa conta com o acolhimento da Câmara Municipal de Alcoutim, no âmbito das comemorações das Festas do Município de Alcoutim. A exposição “Viagem Fotográfica ao Algarve” já passou por Vila Real de Santo António, Castro Marim, Lepe (Huelva – Espanha), Olhão e Tavira, e irá percorrer a totalidade dos concelhos que integram a “Rota Literária Saramago no Algarve”.</p><p style="text-align: justify;">José Saramago entra no Algarve vindo de Mértola, no Alentejo. «Quando o viajante entrava em Alcoutim, viu em sobranceiro monte um castelo redondo e maciço, com mais jeito de torre amputada do que construção militar complexa. Pela largueza do ponto de vista valeria a pena ir lá acima, pensou. Não foi. Julgava ele, enganado pela perspectiva, que o monte ainda estivesse em território português. Afinal, para chegar lá seria preciso atravessar o Guadiana, contratar barqueiro, mostrar passaporte, e isso já seria diferente viagem. Do outro lado é Sanlúcar e outro falar. Mas as duas vilas, postas sobre o espelho da água, hão-de ver-se como espelho uma da outra, a mesma brancura das casas, os mesmos planos de presépio. Em riso e lágrima, também a diferença não deve ser grande» escreve o Prémio Nobel sobre a sua chegada a Alcoutim, na obra Viagem a Portugal (1981).</p><p style="text-align: justify;">Diego Mesa, autor da “Rota Literária Saramago no Algarve”, ao percorrer os lugares visitados por Saramago, 40 anos depois, inspirado pelas palavras do Nobel da Literatura, encontra em Alcoutim os mesmos encantos, uma vila que mantém a identidade, a genuinidade, onde o tempo permite os encontros, desfrutar as paisagens, os sabores e os cheiros que se encontra em lugares onde as atividades humanas respeitam a natureza envolvente, preservando a curto, mas também a longo prazo, tendo como objetivo um desenvolvimento economicamente eficaz, socialmente equitativo e ecologicamente sustentável.</p><p style="text-align: justify;">Estes projetos constituem uma oportunidade para dar a conhecer um território que inspirou vários escritores, nomeadamente os lugares, os monumentos, as paisagens, os sabores e as gentes, mas também promover o Algarve como destino de turismo literário.</p><p style="text-align: justify;">O mote para a criação dos itinerários, da chamada “Rota Literária Saramago no Algarve”, promovido pela DRCAlg, foi a vontade de refletir sobre o território: se aquele foi o Algarve visto, em 1980, por José Saramago, como será o Algarve de agora?</p><p style="text-align: justify;">O desafio dos fotógrafos participantes no projeto foi realizarem uma visita aos concelhos algarvios referidos e inspirarem-se, fotograficamente, nos textos escritos por José Saramago aquando da sua passagem pelo Algarve. O fotógrafo algarvio, André Boto, distinguido, pela FEP – Federation of Professional European Photographers, como “Fotógrafo Europeu do Ano”, em 2023, participa no projeto com a fotografia de Silves e com a edição das restantes fotografias selecionadas para a exposição.</p><p style="text-align: justify;">Parafraseando Saramago, na obra, Viagem a Portugal, «É preciso recomeçar a viagem. Sempre».</p><p style="text-align: justify;">DRCAlg"</p><p><br /></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm9rkeP6N9_5tNxBStlZ485fiRjJkT9FZQ51c74SA9fj5_X7ooGyccEY_XOoYbX2BlATp5x4PyazT4cjH6gP7IRsvuTwhpqWoozf6NjtysFu0vmyub-EKLdtdpkm30kvthng3QXuaCRIbueI33lMZ48twUJcfrTg5DUjE6CCoLCmMSF_4Pb5BciLSGq0c/s700/Exposicao-Fotografica-Viagem-Saramago.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="495" data-original-width="700" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm9rkeP6N9_5tNxBStlZ485fiRjJkT9FZQ51c74SA9fj5_X7ooGyccEY_XOoYbX2BlATp5x4PyazT4cjH6gP7IRsvuTwhpqWoozf6NjtysFu0vmyub-EKLdtdpkm30kvthng3QXuaCRIbueI33lMZ48twUJcfrTg5DUjE6CCoLCmMSF_4Pb5BciLSGq0c/s320/Exposicao-Fotografica-Viagem-Saramago.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgknspIBsKrlEkG1_2-1WJ6tYsKDKX_wpdCoXr_02-PTZCLe_2AYBT-VFYJjbufq1glTPWGKYvalx04Ajsqdgftr--N6JeLRVhRaqRj06U8A7_wb97wmoGLZhm2AC1PzYg7cbw68r8j39s-6vSdR1TQ9reALkr-w24y4wG2c2mNtlW5lx19qpy4vbYOlBk/s900/Saramago-Alcoutim.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="650" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgknspIBsKrlEkG1_2-1WJ6tYsKDKX_wpdCoXr_02-PTZCLe_2AYBT-VFYJjbufq1glTPWGKYvalx04Ajsqdgftr--N6JeLRVhRaqRj06U8A7_wb97wmoGLZhm2AC1PzYg7cbw68r8j39s-6vSdR1TQ9reALkr-w24y4wG2c2mNtlW5lx19qpy4vbYOlBk/s320/Saramago-Alcoutim.jpg" width="231" /></a></div><br /><p><br /></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-24882420440095993822021-01-10T11:14:00.009+00:002021-01-10T11:14:56.869+00:00"O veto ao Evangelho de Saramago, 25 anos depois" Publicado em 25/04/2017 no Observador<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcrfBow56wB39qOP66hC2TshWmcPsTmHHaJbpHcnmdDhb0oSrDUuXu1vsN_12sl26e50sgI3KWawykE0wRH16Ipy0RRplJWy07ezFq1c_DjwnwBpeWchMY6SxjiGf50QJo2m1whFwVyDQ/s1280/saramago-lanzarote_grande_1280x720_acf_cropped.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcrfBow56wB39qOP66hC2TshWmcPsTmHHaJbpHcnmdDhb0oSrDUuXu1vsN_12sl26e50sgI3KWawykE0wRH16Ipy0RRplJWy07ezFq1c_DjwnwBpeWchMY6SxjiGf50QJo2m1whFwVyDQ/w400-h225/saramago-lanzarote_grande_1280x720_acf_cropped.jpg" width="400" /></a></div><br /><p>Publicado aqui</p><p>via <a href="https://observador.pt/especiais/o-veto-ao-evangelho-de-saramago-25-anos-depois/">https://observador.pt/especiais/o-veto-ao-evangelho-de-saramago-25-anos-depois/</a></p><p>De Joana Stichini Vilela (25 abr 2017)</p><p><i>"Em 1992, o subsecretário de Estado da Cultura afasta José Saramago de um prémio literário. Magoado, o escritor deixará Portugal e anos depois ganhará o Nobel. Sousa Lara diz ter rezado por ele.</i></p><p style="text-align: center;"><b><i>– “Quer que lhe conte o que se passou? Normalmente, é publicado errado.”</i></b></p><p style="text-align: center;"><b><i>– “Quando quiser. Está a gravar.”</i></b></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><i>António Sousa Lara, 65 anos, senta-se na primeira fila do pequeno auditório da Academia de Letras e Artes, no Monte Estoril, instituição a que preside e que funciona “por caturreira” há 30 anos. Porte aristocrático, chapéu de feltro na cabeça, anel com brasão no mindinho, prepara-se para recuar a 1992. O ano é o da morte da sua carreira política e o de uma viragem radical na vida e obra do Nobel José Saramago. Provocador experiente, o ex-subsecretário de Estado da Cultura levanta o queixo, semicerra os olhos, contempla o horizonte e arranca: “Vamos lá ver. Estamos num Governo de Cavaco Silva…”</i></span></p><p style="text-align: justify;"><i><br /></i></p><p style="text-align: justify;"><i>A vida pública desta história começa de forma tímida, numa altura em que ninguém intui nem o impacto nem a longevidade e muito menos as repercussões que terá. Nas palavras de Lara, “três meses de xivarri”.</i></p><p style="text-align: justify;"><i><br /></i></p><p style="text-align: justify;"><i>“Este livro não, porque ofende”</i></p><p style="text-align: justify;"><i>A 25 de Abril de 1992, faz agora 25 anos, uma notícia remetida para o terço inferior de uma das páginas da secção de Cultura do jornal Público avança, “Sousa Lara corta nome de Saramago”. Antetítulo: “Prémio Literário Europeu” (PLE). Em causa está O Evangelho Segundo Jesus Cristo, o sexto romance do autor depois de, em 1980, com Levantado do Chão, ter saltado das notas de rodapé para um papel de destaque na história da literatura portuguesa. “Não representa Portugal”, justifica Sousa Lara ao jornalista do Público. “Não me pediram um julgamento sobre a obra inteira de Saramago, mas sobre este livro. Ora, há questões pessoais que me modelam, às quais não me oponho por questões de consciência pessoal.”</i></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEzhEmwI9LCCzogg2BkHHnAxNKBKlRbqSQhwt6jfCV3s5W7PXJ2zTpyCKx5DkiCKev6muezNdE3VHtyVyhGAH2q4FSsNG5jVPLd0gxjVZefRfSNPPXOT0ahfOoVsWnLHSG2xPzGqcHupc/s577/1507-12.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="577" data-original-width="400" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEzhEmwI9LCCzogg2BkHHnAxNKBKlRbqSQhwt6jfCV3s5W7PXJ2zTpyCKx5DkiCKev6muezNdE3VHtyVyhGAH2q4FSsNG5jVPLd0gxjVZefRfSNPPXOT0ahfOoVsWnLHSG2xPzGqcHupc/w445-h640/1507-12.jpg" width="445" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><i>A capa da edição de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” </i></span></div><div style="text-align: center;"><i>que está atualmente nas livrarias (Porto Editora)</i></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Saramago escusa-se a comentar. Só sabe da notícia pelo próprio jornalista. “O Torcato [Sepúlveda] ligou-nos para casa e o José ao princípio disse, ‘Palavra? Nah, não é possível’. Estava quase divertido”, conta a viúva, Pilar del Río, 67 anos. “[Quando se confirmou] Ficou tão dececionado e tão magoado… Não por causa do prémio. Mas porque o Governo do seu país tinha feito uma coisa de que ele tinha vergonha. Dizer, ‘este livro não, porque ofende’.”</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>O Evangelho Segundo Jesus Cristo “era um romance de grande ousadia”, lembra o editor de Saramago na Caminho, Zeferino Coelho. “O ateísmo militante de Saramago já era conhecido. Agora, pegar em Deus, em Cristo, e transformá-los em personagens de romance, ainda por cima um romance negativo, isso foi uma grande ousadia.” Na sua opinião, Saramago tinha noção do efeito que o livro causaria e terá sido essa uma das razões por que o escreveu. O autor gostava de provocar o debate. Só não contava com a censura.</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>A administração interna, explica Sousa Lara, “tinha tudo a ver” com o seu perfil. “A minha tese de doutoramento é sobre subversão do Estado.” Quanto à cultura, ainda mais a “dos vivos”, olhava para ela “como um lúdico”.</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div><div style="text-align: justify;"><i>No Monte Estoril, Sousa Lara afirma não gostar de polémica. “Mas não fujo”, assegura. “E não cedo.” Há 25 anos, declarava: “A tutela cultural não deve assinar de cruz as sugestões dos seus serviços.” Referia-se com isto ao processo de seleção das obras, ou seja à parte inicial desta história, os bastidores.</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>A 14 de Abril, avançará o jornal O Independente, Sousa Lara recebe do Instituto Português do Livro e da Leitura (IPLL) um ofício com a sugestão de três nomes para candidatos ao PLE: Saramago, Pedro Támen e Fiama Hasse Pais Brandão. A lista fora elaborada depois de consultados a Associação Portuguesa de Escritores, o Pen Club e o Centro Português de Escritores Literários. Artur Anselmo, então presidente do IPLL, informa Lara de que também obtiveram o apoio dos Escritores Literários os nomes de Hélia Correia, com A Casa Eterna, e de Sophia de Mello Breyner, pelo Obra Poética – Volume II. Dois dias depois, Lara assina um primeiro despacho com a sua escolha: Fiama, Támen e Sophia. A 20 de Abril, Artur Anselmo responde, “proponho, a título pessoal, o Vale Abraão, de Agustina Bessa-Luís”. Lara junta o nome de Agustina ao despacho. Nem Pedro Santana Lopes, secretário de Estado da Cultura, nem Maria José Nogueira Pinto, secretária de Estado Adjunta, estariam a par destas movimentações.</i></div></div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJykI4EdtnEMUM8zGCmYL72gDVGvDnOr_zLNBq2hwZH8fDiEztTmPi3cLb9KW2fC8hJAl-lB7ceviYOz1T2fj2_KppaJ3e75-hSJjZore4TxNk6fj4Xaa9R8WMQ9XfuJ622kaLNpNnMfc/s1920/img_1729-e1493052558467+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1680" data-original-width="1920" height="350" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJykI4EdtnEMUM8zGCmYL72gDVGvDnOr_zLNBq2hwZH8fDiEztTmPi3cLb9KW2fC8hJAl-lB7ceviYOz1T2fj2_KppaJ3e75-hSJjZore4TxNk6fj4Xaa9R8WMQ9XfuJ622kaLNpNnMfc/w400-h350/img_1729-e1493052558467+%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><i>O artigo publicado no Público a 25 de abril de 1992</i></span></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Sousa Lara recorda este capítulo de forma um pouco diferente, na sua versão a história começa ainda antes, com a sua nomeação para subsecretário de Estado da Cultura.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O convite original para secretário de Estado da Administração Interna fora do amigo Dias Loureiro. E Lara aceitara. Só que pouco depois viu o seu passe transferido para outro Ministério. Melhor dizendo, secretaria de Estado. “Domingo à noite, liga-me o Dias Loureiro a dizer que o Santana dizia que ficava ofendido, porque eu tinha criado o Instituto de Estudos Políticos com ele”, conta. “E eu lembro-me de ter respondido por telefone, ‘Olha, Manuel, não te agradeço. Já estou…’ E depois disse um palavrão que equivale a ‘lixado’ mas começa por ‘f’. Sic.” A administração interna, explica, “tinha tudo a ver” com o seu perfil. “A minha tese de doutoramento é sobre subversão do Estado.” Quanto à cultura, ainda mais a “dos vivos”, olhava para ela “como um lúdico”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Parece que há um problema com o Saramago”</div><div style="text-align: justify;">De perfil harmonioso, barba branca bem aparada e bigode de pontas arrebitadas, Sousa Lara mantém o rosto a que Saramago chamou “suave” numa entrevista de 10 de Maio de 1992 ao Público (para depois acrescentar que quer em Portugal quer em Espanha, “os retratos dos inquisidores apresentam semelhanças [com Lara], numa espécie de ar de família”). Professor universitário, o ex-subsecretário de Estado tem jeito para as palavras. Verbo certeiro, ágil, informal. As narrativas surgem com frequência em discurso direto, pontuadas por termos coloridos. E também por uma ideia recorrente: a alegada omissão deliberada por parte dos média de determinados aspetos deste episódio.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">Como quando Artur Anselmo lhe apresentou a lista e lhe transmitiu que teria de ser a tutela a indicar os candidatos. “Eu disse, ‘acho muito mal. Posso estar aqui como gestor e não perceber nada de literatura’. Sic. Este facto é sempre omitido.” Lara continua: “E, depois, quem é que fabricou a short-list? Aquilo era uma lista ‘esquerdosa’.” E ainda: “Eu digo ao Anselmo, ‘Com esta porcaria, o Saramago não vai, nem por cima do meu cadáver’.” Solução: “’Nem li o livro da Sophia, mas não me interessa – vai esse. Tudo o que ela faz é bom’.”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Parêntesis: Se está a perguntar-se se Lara tinha lido o Evangelho Segundo Jesus Cristo, a resposta é “não”. Ou melhor, “uma parte”. Porquê? “Porque houve alguém que leu e disse, ‘este gajo é um pulha, já viste o que ele diz de Deus?’ E fui ler aquele bocado. E era ofensivo.” Parêntesis dentro do parêntesis: hoje, não só já leu como tem várias edições. Tornou-se uma piada entre os amigos que, volta e meia, lhe oferecem um exemplar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Lara defende que a lista estava “cozinhada” para Saramago fazer parte dela. Insiste que a cultura “é um ninho de vespas da esquerda”. E que houve “má fé”. Acabaria por tomar uma decisão pessoal em nome do Estado. “É a minha maneira de fazer política”, assume sem hesitar. “A minha conceção de democracia – e agora entra outra parte que ninguém publica – é que a democracia não é o consenso nem a bissetriz. É a direita contra a esquerda e a esquerda contra a direita. Tenho uma lógica de luta, de combate, de cruzada, de porrada.”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Santana Lopes só sabe do veto na véspera da notícia do Público. Sousa Lara argumentaria que se tratava de uma “competência delegada”. De acordo com O Independente, na estreia do filme “Aqui D’El Rei”, Maria José Nogueira Pinto terá comentado com o secretário de Estado: “Parece que há um problema com o Saramago”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Francisco Sousa Tavares pede a demissão do subsecretário de Estado, alegando que este está “agarrado à cadeira do poder” e alerta para a repercussão internacional: “Lançou de novo sobre nós os estigmas tradicionais da intolerância religiosa e do repúdio da abertura espiritual”. O escritor João de Melo sintetiza, “Saramago neste momento somos todos nós.”</div><div style="text-align: justify;">Índice</div><div style="text-align: justify;">“Este livro não, porque ofende”</div><div style="text-align: justify;">“Parece que há um problema com o Saramago”</div><div style="text-align: justify;">“Tony, que Deus te guie”</div><div style="text-align: justify;">“Ingrato e repugnante”</div><div style="text-align: justify;">“O Inferno está cheio. Não se ria”</div><div style="text-align: justify;">Quatro dias depois o caso vai parar à Assembleia da República durante o debate parlamentar sobre a Cultura. A intervenção de Lara ficará para a história. Se por boas ou más razões, depende da perspetiva. O subsecretário de Estado começa por argumentar que o caso não devia ter sido tornado público. Depois, alega que “a obra ataca o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, divide-os.”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No Público, Torcato Sepúlveda comenta, “tal raciocínio evoca, com efeito, o Tribunal do Santo Ofício”. Sucedem-se as acusações de censura. A palavra “inquisição” nas suas várias declinações, enunciada pelas mais variadas personalidades literárias e da cultura, propaga-se pelas páginas dos jornais. Promovida a escândalo, a polémica internacionaliza-se. Surgem relatos e reações nos jornais espanhóis ABC, El País e El Mundo, nos franceses Libération e Le Monde, no italiano La Stampa, e na Folha de São Paulo. Até o ministro da cultura francês se manifesta. Para Jack Lang a censura de que o “Evangelho” foi alvo é “inaceitável”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entretanto, o eurodeputado socialista João Cravinho tenta levar o caso ao Parlamento Europeu. A 9 de Maio, o Expresso noticia: “O Presidente do Parlamento Europeu, Egon Klepsch, envia carta a Jacques Delors [presidente da Comissão Europeia] pedindo explicações sobre o afastamento de Saramago à candidatura ao PLE.”</div><div><br /></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiax98KhcXAxbFnn499ND2RBKRdnaS_gNNT9rKb972ReNFaC4j480K_oZqypQ8bRI0_lCrIgxREF1EubMhkJg3zZgsS76hPntGY93Yl5FzosQ4xVozAM-Jr9JZUWUto_TGCjuW8tSFIokw/s2000/img_2171.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2000" data-original-width="1500" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiax98KhcXAxbFnn499ND2RBKRdnaS_gNNT9rKb972ReNFaC4j480K_oZqypQ8bRI0_lCrIgxREF1EubMhkJg3zZgsS76hPntGY93Yl5FzosQ4xVozAM-Jr9JZUWUto_TGCjuW8tSFIokw/w480-h640/img_2171.jpg" width="480" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>Um fax enviado por Agustina Bessa-Luís para a Sociedade Portuguesa de Autores, </i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>um pedido para José Saramago não desistisse da candidatura ao Prémio Europeu de Literatura</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Por cá, Támen e Fiama recusam a candidatura ao PLE. Já o poeta David Mourão Ferreira é dos mais vocais. Numa mensagem escrita defende que o primeiro-ministro devia “ter pedido desculpas públicas” ao escritor e que é Cavaco Silva “quem deve ser responsabilizado pelo estado novo a que chegou o grotesco e tenebroso processo das candidaturas portuguesas”. Já Francisco Sousa Tavares pede a demissão do subsecretário de Estado, alegando que este está “agarrado à cadeira do poder” e alerta para a repercussão internacional: “Lançou de novo sobre nós os estigmas tradicionais da intolerância religiosa e do repúdio da abertura espiritual”. O escritor João de Melo sintetiza, “Saramago neste momento somos todos nós.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Entretanto, uma sondagem do jornal Público indica que 63,3 por cento dos habitantes de Lisboa e Porto acham que o “Evangelho” devia fazer parte da lista de candidatos ao PLE. O Expresso também consulta o cidadão comum e divulga resultados que apontam para um equilíbrio maior na sociedade portuguesa: 57 por cento dos inquiridos está contra a exclusão.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Tony, que Deus te guie”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Por esta altura já Santana Lopes chamou a si o caso, revogou a decisão de Sousa Lara e afastou o subsecretário de Estado. Santana anuncia a criação de novo júri para escolher nova lista de candidatos. Saramago avisa logo que não estará disponível e pede para não ser considerado sequer. Santana ignora o repto, alegando que essa decisão cabe ao júri internacional.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Se Sousa Lara começou por agir sem informar ninguém, agora é ele próprio quem se queixa de ter sido mantido na ignorância. A quem? Ao primeiro-ministro. “O Cavaco apoiou-me sempre”, diz. “Ele é uma pessoa hierática.” Como prova disso, depois do veto, Cavaco tê-lo-á convidado para ir à estreia de “qualquer coisa do La Féria” [“Maldita Cocaína”]. Lara conta que recusou dizendo que a sua presença monopolizaria as atenções e neutralizaria a imagem que o primeiro-ministro queria dar, que era a de pessoa atenta à cultura. “E então não fui. Porque não preciso. Porque se o Cavaco estivesse contra, eu diria a mesma coisa. Aqui não há negociação possível. É risco no chão. Ninguém percebeu. Não há negociação possível!”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Na sequência da decisão de Santana, o subsecretário de Estado acabaria por pedir a demissão ao primeiro-ministro. Sem sucesso. Conta que Cavaco lhe respondeu: “’Isso não pode ser. Seria uma atitude de fraqueza’”. Conclusão: “Estive lá a ‘abobrar’. Só saí em novembro, quando o Deus Pinheiro foi à vida. Perguntaram, ‘Quer ir agora?’ ‘Quero, quero’. Ala!” De facto, Lara só abandona o Governo a 13 de novembro de 1992, altura em que o então ministro dos Negócios Estrangeiros também sai, apesar de, entretanto, ter havido duas outras remodelações, uma em junho e outra em agosto.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ao longo destas semanas, José Saramago desdobra-se em entrevistas e declarações. A sua casa, um pequeno T1+1 na Rua dos Ferreiros à Estrela, em Lisboa, converte-se em central telefónica. “Um inferno”, resume Pilar del Río. “Não só por causa deste caso mas também porque Saramago era a pessoa mais conhecida de Portugal tirando os futebolistas.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Índice</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Este livro não, porque ofende”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Parece que há um problema com o Saramago”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Tony, que Deus te guie”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Ingrato e repugnante”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“O Inferno está cheio. Não se ria”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Novo parêntesis. Em junho, um jantar de “homenagem ao Prof. Doutor António de Sousa Lara (…) pela coerência e verticalidade” reunirá 250 pessoas no restaurante Muchaxo, no Guincho. Entre elas incluem-se D. Duarte Pio de Bragança, que não presta declarações mas que horas antes tinha dito à TSF que o livro de Saramago era “uma grande merda” e o presidente da Câmara de Cascais, Georges Dargent, que fala num “combate às forças do mal”. Enviam mensagens de apoio Cavaco Silva, os ministros Couto dos Santos, João de Deus Pinheiro e Marques Mendes, bem como os diretores dos jornais O Diabo (Vera Lagoa), O Título e A Zona. A dada altura, um dos membros da organização lança o repto, “Tony, que Deus te guie”.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Mesmo com Sousa Lara fora do caminho, não há maneira de Santana conseguir nova lista de candidatos. Parte dos jurados vai-se revelando indisponível até que o presidente do IPLL, que anunciara a formação do júri, decide acabar com ele. “A polémica tinha atingido tal grau de insanidade e envenenamento que o Dr. Óscar Lopes [presidente do júri] diz que não há condições políticas, ecológicas, ambientais para o júri se reunir.”, lembra Artur Anselmo, hoje presidente da Academia das Ciências. “E a coisa ficou por aí.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Na opinião de Artur Anselmo, tudo não passou de uma “lamentável intromissão da esfera política na esfera cultural. E não teve só a ver com Portugal. Teve a ver com todos os países que faziam parte da então CEE.” Este é capaz de ser o único ponto em que há acordo entre todos os intervenientes: ao contrário do previsto no regulamento do prémio, a decisão não devia ser política – embora os dois anteriores governantes por quem passaram listas da mesma natureza, em 1990 e 1991, se tivessem limitado a dar o seu aval às sugestões das entidades consultadas. Quanto a 1992, com o fim do júri, volta tudo ao início: Támen, Fiama… e Saramago.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ao longo destas semanas, José Saramago desdobra-se em entrevistas e declarações. A sua casa, um pequeno T1+1 na Rua dos Ferreiros à Estrela, em Lisboa, converte-se em central telefónica. “Um inferno”, resume Pilar del Río. “Não só por causa deste caso mas também porque Saramago era a pessoa mais conhecida de Portugal tirando os futebolistas.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Nos jornais, há sobretudo declarações de solidariedade, mas também se desenterram acusações de censura. Recorda-se o Verão Quente de 1975, altura em que o militante comunista esteve à frente do Diário de Notícias: “Pessoalmente, quero servir a construção do socialismo. E o DN vai ser um instrumento nas mãos do povo português para a construção dessa linha já adotada pelo Conselho Superior de Revolução…” O diretor do Expresso, José António Saraiva, cria um cenário em que o PCP subiu ao Governo e Saramago é secretário de Estado da Cultura para provocar: “Na hipótese de um livro, mesmo notável – mas crítico em relação ao comunismo –, ser indigitado para um prémio, Saramago dar-lhe-ia ou não o seu apoio? Muito provavelmente não.”</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvHRZLmpLa2OZuW1yu0NX-ZoVobFRMJFdgh88jyN-r7gLjy2xKPcVUfFzvYbmjuLuH9MMmpbXnqaAuSIULxJrjlxzlEiEnBUuIWmmW1DeGGCnl2rF6zsm25yENh3b6EznwzwNdDOG60j8/s2000/jantar-sousa-lara-publico.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2000" data-original-width="1472" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvHRZLmpLa2OZuW1yu0NX-ZoVobFRMJFdgh88jyN-r7gLjy2xKPcVUfFzvYbmjuLuH9MMmpbXnqaAuSIULxJrjlxzlEiEnBUuIWmmW1DeGGCnl2rF6zsm25yENh3b6EznwzwNdDOG60j8/w472-h640/jantar-sousa-lara-publico.jpg" width="472" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>Reportagem no jantar de apoio a Sousa Lara; no canto superior direito </i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>é reproduzido o convite do evento (Público)</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ao mesmo tempo, as vendas do romance disparam. A 21 de maio, já vai nos 135 mil exemplares, só em Portugal. Pouco depois, torna-se um dos mais procurados na Feira do Livro de Madrid e entra para o Top 10 espanhol. Pilar del Río diz desconhecer quantos livros se venderam ao todo. Remete para a Caminho, que por sua vez passa a bola para a Porto Editora, que detém atualmente os direitos da obra do Nobel mas declara não poder avançar essa informação. Adianta, porém que o “Evangelho” continua a vender-se “todas as semanas”, longe, porém, dos números do principal best-seller de Saramago, “Memorial do Convento”.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Saramago diz precisar de tranquilidade. Já há bastante tempo que o casal procurava uma casa para comprar nos arredores de Lisboa. Mafra, por exemplo, lembra Zeferino Coelho. Por coincidência, a 1 de maio, uma semana apenas depois de estalar a polémica, vão visitar a irmã de Pilar a Lanzarote, em Espanha. “Descobrimos o princípio do mundo”, lembra Pilar. “E aí fui eu que disse, ‘por que não nos mudamos para Lanzarote?’ Todos os criadores dizem a dada altura, ‘iria viver para uma ilha deserta’. Pois alguns o dizem e o fazem.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A notícia cai com estrondo em Portugal: Saramago abandonaria o país na sequência do veto de Sousa Lara. Em entrevista ao Público, o escritor tenta clarificar: “Há uma coincidência que eu não busquei”. Pilar começa por admitir que foi em parte por causa desta questão que resolveram mudar-se – “foi muito duro para um escritor a polémica que se montou, ter de responder ao mundo” –, para depois desvalorizar: “Coincidiu”.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Ingrato e repugnante”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Na Fundação Saramago, em Lisboa, a Presidenta – como insiste em formular a palavra – limpa distraída um retrato a óleo do escritor com um lenço de papel. As obras do Terminal de Cruzeiros, mesmo em frente à Casa dos Bicos, enchem tudo de pó. Conversa rodeada de artefactos da vida e obra do Nobel, incluindo um top 10 da Bertrand da década de 1990 em que apenas dois livros não são dele: Vai Onde te Leva o Coração, em 7º, e Aparição, em 10º. Há alguma acidez no discurso, mas sobretudo amargura: “Este episódio é ingrato e repugnante”; “Não significou nada para Saramago”; “’Desilusão’? Não. Para nos desiludirmos temos de ter estado iludidos”; “Saramago está a anos de luz de toda esta situação e de toda esta gente. Pensam que Saramago estava preso a uma decisão de um Governo que já não existia, que tinha membros presos? Por amor de Deus. Saramago tinha seguido navegando pelo mundo e os outros continuavam por aí.”</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjab5P8Ifa8fSS35zdXDRrCwPFELWp25bVfkkkF6IfiBtux179WyyaToP6yLxMjMGCmRWi-kAJc6vxRB9f-JO-EF8sln-sT2HkWqME3uonFlnVzwh8ZT1wKQgaBn74OVrVFSeiTg-VW8BI/s1280/pilar-del-rio_1280x720_acf_cropped.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjab5P8Ifa8fSS35zdXDRrCwPFELWp25bVfkkkF6IfiBtux179WyyaToP6yLxMjMGCmRWi-kAJc6vxRB9f-JO-EF8sln-sT2HkWqME3uonFlnVzwh8ZT1wKQgaBn74OVrVFSeiTg-VW8BI/w400-h225/pilar-del-rio_1280x720_acf_cropped.jpg" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div></div><div class="separator" style="clear: both;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Seja qual for a interpretação, a verdade é que o “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, que coincide com a mudança para Lanzarote, assinala um ponto de viragem na obra do escritor. “Ele dizia que até ao ‘Evangelho’ escrevia sobre a estátua”, explica Zeferino Coelho. “A partir do ‘Evangelho’ passou a escrever sobre a pedra.” A primeira é a superfície; a segunda o seu interior. “Já não é o homem em determinada circunstância. O que lhe importa é a alma humana no que ela tem de universal.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Saramago explica esta evolução em 1998, na Universidade de Turim, numa palestra mais tarde publicada em livro e intitulada “Da Estátua à Pedra” (em que afirma ainda e de forma taxativa que o Evangelho Segundo Jesus Cristo é não só o seu romance que “gerou mais polémica” mas também “a causa de ter mudado a minha residência de Lisboa para Lanzarote”).</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">O primeiro romance desta nova fase chama-se Ensaio Sobre a Cegueira. “Que eu acho”, prossegue Zeferino Coelho, “e até lho disse várias vezes – ele não concordava – que é o melhor romance dele.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Entre um e outro livro passam quatro anos. O interregno é atípico, mas a vida do escritor está cada vez mais cheia. Além de que a matéria ficcional que agora o ocupa é de uma dureza inusitada. “A certa altura cheguei a dizer: ‘Não sei se consigo sobreviver a este livro.’”, contaria ao Expresso em 1995. “Foi como se tivesse dentro de mim uma coisa feia, horrível, e tivesse de sacá-la. Mas não saiu, está no livro e está dentro de mim.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Saramago era um pessimista. Para ele, a irracionalidade estava a tomar conta de um mundo contemporâneo ao serviço do lucro e do mercado. Na opinião do autor de Biografia – José Saramago (Guerra & Paz), João Marques Lopes, “os efeitos da polémica e do veto poderão ter contribuído para o aprofundamento do pessimismo”, afirma por email, “mas creio que são secundários face às mudanças geo-políticas e ideológicas do ‘mal-chamado’ socialismo real em 1989-1991.” Quanto a Lanzarote? “Há quem relacione a ‘secagem’ do estilo barroco com a orografia desprovida de vegetação e de arvoredo. Acho que pode estar correto.” Pilar concorda: “Talvez a austeridade de Lanzarote [tenha sido uma influência]”.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Não faz sentido nenhum [dizer que censurei o Saramago]”, afirma Sousa Lara. “O homem ficou rico à minha custa. E ganhou o prémio Nobel à minha custa. Eu sou acusado é de ter promovido o senhor Saramago a prémio Nobel. Tenho qualquer cota-parte nessa causa.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Índice</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Este livro não, porque ofende”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Parece que há um problema com o Saramago”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Tony, que Deus te guie”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“Ingrato e repugnante”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“O Inferno está cheio. Não se ria”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Adaptado ao cinema em 2008 pelo brasileiro Fernando Meirelles, Ensaio Sobre a Cegueira é porventura o livro mais importante no percurso internacional de Saramago. A edição americana sai em 1998 e é recebida com entusiasmo pela imprensa. “Lembro-me de uma recensão publicada no Los Angeles Times que o classificava como um romance sinfónico”, conta Zeferino Coelho. “Isto em Agosto, Setembro. Em Outubro dão-lhe o Prémio Nobel. Pode ter empurrado um bocadinho.” O romance aparece em destaque no texto de atribuição, “Um dos romances destes últimos anos aumenta consideravelmente a estatura literária de Saramago. É publicado em 1995 e tem como título ‘Ensaio Sobre a Cegueira’.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">“O Inferno está cheio. Não se ria”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Uma das histórias que Sousa Lara gosta de contar tem a ver com um momento de epifania na sua vida. Antes do 25 de Abril, um artigo seu sobre o LSD publicado num jornal monárquico foi censurado pela PIDE. Indignado com a situação, foi falar com o director, Jacinto Ferreira. “Eu tinha 18, 19 anos”, conta. “Disseram-me: ‘És muito miúdo. Não sabes que há verdades que não se podem dizer?’ Fez-se clique. Olhei para o gajo e disse assim: ‘Mas comigo é que não’.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Não deixa de ser curioso que o homem que aponta um episódio de censura como um dos mais transformadores da sua vida se tenha tornado infame por causa de uma acusação de censura. Hoje, Sousa Lara diz-se “proscrito”: “Escovaram-me da política”. Ainda assim, voltaria a vetar a candidatura. “Não faz sentido nenhum [dizer que censurei o Saramago]”, afirma. “O homem ficou rico à minha custa. E ganhou o prémio Nobel à minha custa. Eu sou acusado é de ter promovido o senhor Saramago a prémio Nobel. Tenho qualquer quota-parte nessa causa.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Quando no ano passado Cavaco Silva condecorou Sousa Lara com a Ordem do Infante D. Henrique, destinada a “quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro”, o colunista João Pereira Coutinho aproveitou para atiçar o lume: “Se a esquerda fosse verdadeiramente grata, já teria erguido uma estátua ao homem por serviços prestados à causa.” Para provocador, provocador e meio. O gesto de Lara foi “pacóvio”, escreveu no Correio da Manhã, e “ridículo” avançou ao Observador por email, mas “sem Sousa Lara, jamais Saramago teria optado pelo ‘exílio’ em Lanzarote; sem esse ‘exílio’, jamais Saramago teria sido o escritor ‘maldito’ (ou ‘perseguido’) que ele passou a usar na lapela; e sem o ‘exílio’ e a ‘perseguição’, não haveria Prémio Nobel para ninguém.” Mais: “a repercussão internacional foi imensa – e é justo extrapolar que aumentou a visibilidade de Saramago.” Como Lara gosta de dizer, “os argumentos são subjetivos”.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">O editor de Saramago acredita que hoje o “Evangelho” voltaria a causar alvoroço. “Para mim, o direito à blasfémia é a medida da liberdade do pensamento. Mas a opinião dominante lida mal com isto.” Um exemplo recente é o da Bíblia de Frederico Lourenço (Quetzal). Traduzida do grego, faz opções semânticas que põem em causa dogmas da Igreja. Lourenço, Prémio Pessoa 2016, chegou a ser acusado de ignorante. Mas não por Sousa Lara, ressalve-se. O ex-subsecretário de Estado da Cultura é fã. “Tenho cinco versões da bíblia na minha mesa de cabeceira. Desde que saiu, que só leio essa”, conta. “É mais consentânea com o que terá sido. O gajo é um erudito. Aquilo dá gosto. Só que tem perigos, rasteiras.”</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Lara diz viver em oração permanente. Tem uma fé inabalável, permanente, impositiva: “Preenche o oxigénio dos meus dias.” Pela primeira vez, parece ter algum receio de ser mal interpretado. “Dizer isto parece mal.” Da mesma forma, garante não guardar rancores. Nem um ao longo da vida.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">– E quando disse, ‘vou rezar pelo Saramago’, rezei. Não acho que valha a pena porque ele deve estar no Inferno.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">– Acredita no Inferno, portanto?</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">– Ah, claro. E acredito que está cheio. Não se ria.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">– E quando chegar a sua vez?</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">– Espero passar no exame.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Contactados pelo Observador, nem Aníbal Cavaco Silva nem Pedro Santana Lopes se mostraram disponíveis para comentar este caso. Em 1992, ganharia o Prémio Literário Europeu e os correspondentes 20 mil ecus o espanhol Manuel Vázquez Montalbán.</div></div></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><p><br /></p><p><br /></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-72758160635585781532021-01-05T17:53:00.002+00:002021-01-05T17:53:37.646+00:00Visita à Delegação da Fundação José Saramago na Azinhaga - Golegã<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Visita à Delegação da Fundação José Saramago na Azinhaga - Golegã</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Delegação de Azinhaga</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><div class="separator" style="clear: both;">Largo das Divisões</div><div class="separator" style="clear: both;">Azinhaga</div><div class="separator" style="clear: both;">2150-008 Golegã</div><div class="separator" style="clear: both;">azinhaga@josesaramago.org</div><div class="separator" style="clear: both;">Tel. ( 351) 249 957 032</div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="goog_1297088057"><br /></a></div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://www.josesaramago.org/onde-estamos/">https://www.josesaramago.org/onde-estamos/</a></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfoXfoMxrUKcSwooAw7PIn7IZ6NKz_dNu3nfd-JpIMU3KC-LPwmnrj-hrgqaT0AnUq9trIcxyMVpbj9oUXmaFXUuQX_qu6QWPRT2w-JUegsPebxIYkkNTRDr2llTbrUpWpa60N1tsW_BA/s2048/136214731_399926704434842_4156471208303588577_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1536" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfoXfoMxrUKcSwooAw7PIn7IZ6NKz_dNu3nfd-JpIMU3KC-LPwmnrj-hrgqaT0AnUq9trIcxyMVpbj9oUXmaFXUuQX_qu6QWPRT2w-JUegsPebxIYkkNTRDr2llTbrUpWpa60N1tsW_BA/s320/136214731_399926704434842_4156471208303588577_n.jpg" /></a></div></div><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB9XkOiwX9s9ImGmR2ibMRaP2dn6cDSKrPw_W1jMPXZbCMvXOIFhJRfY51me5aLSUCk3nTykYq-kHxbHnr8kcx48wn2svyBLdL479h3J0IXtPRTD6zvtyrOxKrQ27onyW58K0TrJSatGk/s2048/136149757_3488935507822593_8161118555996486756_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB9XkOiwX9s9ImGmR2ibMRaP2dn6cDSKrPw_W1jMPXZbCMvXOIFhJRfY51me5aLSUCk3nTykYq-kHxbHnr8kcx48wn2svyBLdL479h3J0IXtPRTD6zvtyrOxKrQ27onyW58K0TrJSatGk/s320/136149757_3488935507822593_8161118555996486756_n.jpg" width="320" /></a></div><br /><br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8F6PNC4-r1SObLpj7UNi39EOQoWIlJ6093tTG7AmTxIPLqBVlBRq5M6l99q-ZO44oXVYZzjyB-yswFIjQTj8tfyOHYOYESNINA2DK7h8ul4Udl4pfm7WmMd-CUdrpwQOcUruDRuUKNJU/s2048/136353722_421378255945513_2681451034609045281_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8F6PNC4-r1SObLpj7UNi39EOQoWIlJ6093tTG7AmTxIPLqBVlBRq5M6l99q-ZO44oXVYZzjyB-yswFIjQTj8tfyOHYOYESNINA2DK7h8ul4Udl4pfm7WmMd-CUdrpwQOcUruDRuUKNJU/s320/136353722_421378255945513_2681451034609045281_n.jpg" width="320" /></a></div><br /> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAb7SMagfagUqqWXficIdQ2_37zVME_5wupgby_0jxw-IxokeFpDC4rJfQ0fUtHB2VX2CubnksqPmqWLWcrWv4ozGk3tBQlQNEnDQw-EhiU7Fu_fwUNuLq726t8M95yT_RptPNiC423Ic/s2048/136321087_144900857403739_7326646719993894730_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1536" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAb7SMagfagUqqWXficIdQ2_37zVME_5wupgby_0jxw-IxokeFpDC4rJfQ0fUtHB2VX2CubnksqPmqWLWcrWv4ozGk3tBQlQNEnDQw-EhiU7Fu_fwUNuLq726t8M95yT_RptPNiC423Ic/s320/136321087_144900857403739_7326646719993894730_n.jpg" /></a></div><p></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-38904993043980545952021-01-02T11:13:00.004+00:002021-01-02T11:14:44.447+00:00Projecto página Facebook "Viagem pelos Cadernos de Saramago"<p style="text-align: justify;">Revisitar os dias vencidos e plasmados na diarística dos cinco "Cadernos de Lanzarote" e "Último caderno de Lanzarote", que compreendem os anos de 1993 a 1998, e que com o findar deste ano em que criámos esta página, se juntam "O Caderno" I e II, com os textos escritos para o blog https://caderno.josesaramago.org/</p><p style="text-align: justify;">Revisitemos esses dias passados pela memória escrita de José #Saramago</p><p style="text-align: justify;">#ContinuarSaramago</p><p style="text-align: center;"><a href="https://www.facebook.com/viagempeloscadernosdesaramago"><b><span style="font-size: medium;">https://www.facebook.com/viagempeloscadernosdesaramago</span></b></a></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLU6YEUmxD9kwIAckhtGX2yCgVf6UkLHWVJWdtNmh_P4ZoWa13r4NGuh7F7StJ6KsEWqaTT9uK8_C_O6B-8Ba72EoO8GI6sXVHwKeCuz-gsJBXB6kHuY2kjU8j3P3nFZldPGWPuBgVE7A/s2048/134672118_219057026490258_6594926516548445842_n+%25282%2529.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLU6YEUmxD9kwIAckhtGX2yCgVf6UkLHWVJWdtNmh_P4ZoWa13r4NGuh7F7StJ6KsEWqaTT9uK8_C_O6B-8Ba72EoO8GI6sXVHwKeCuz-gsJBXB6kHuY2kjU8j3P3nFZldPGWPuBgVE7A/w400-h300/134672118_219057026490258_6594926516548445842_n+%25282%2529.jpg" width="400" /></a></div><br /><p><br /></p><p><br /></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-57137027563431759622021-01-02T11:05:00.008+00:002021-01-02T11:05:46.762+00:00Faleceu Carlos do Carmo<p style="text-align: center;"><b>Carlos do Carmo emprestou a sua Caligrafia na reedição da obra de José Saramago </b></p><p style="text-align: center;"><b>"O que farei com este livro?"</b></p><p></p><div style="text-align: center;"><b>Faleceu aos 81 anos 🥀 </b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBFKgn4tgMriJGwFl161_bMwnk1u4ofcSGOEjRy2yVoLduRN4JdcONNYZr7MlcHRF-DRtTMu8vjCMxfIkUZ8q25iMle0FcMLRCfnSU4Q_SCox9p3dBkxx_6Kr7u9HXFiPOqv1g4Bdyhjo/s340/1540-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="340" data-original-width="340" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBFKgn4tgMriJGwFl161_bMwnk1u4ofcSGOEjRy2yVoLduRN4JdcONNYZr7MlcHRF-DRtTMu8vjCMxfIkUZ8q25iMle0FcMLRCfnSU4Q_SCox9p3dBkxx_6Kr7u9HXFiPOqv1g4Bdyhjo/w400-h400/1540-1.jpg" width="400" /></a></div><br /><p></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-86992613474604951942020-12-11T12:15:00.001+00:002020-12-11T12:15:25.302+00:00"José Saramago, uma vida de resistência" documentário da BBC (2002)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">"Documentário sobre José Saramago, da série "BBC Profiles", por Julian Evans, em 2002."</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">"On the eve of publication of The Cave- Saramago's first novel since winning the Nobel Prize for Literature - the writer discusses his life and career.</div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;">Director: Christopher Bruce</div><div class="separator" style="clear: both;">Writer: Julian Evans</div><div class="separator" style="clear: both;">Stars: Hélia Correia, Maria da Piedade Damiao, Julian Evans"</div><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://www.imdb.com/title/tt5553506/">https://www.imdb.com/title/tt5553506/</a></div></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/jxy_Ax7lJUI" width="320" youtube-src-id="jxy_Ax7lJUI"></iframe></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Pode ser consultado e visualizado via Youtube, aqui</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">em <a href="https://www.youtube.com/watch?v=jxy_Ax7lJUI&t=21s">https://www.youtube.com/watch?v=jxy_Ax7lJUI&t=21s</a></div><br /> <p></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-1100205621519451212020-10-20T11:15:00.003+01:002020-10-20T11:15:22.916+01:00Entrega do Prémio Cidade de Lisboa (01/06/1982)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVJKwPdHDIystkHBByHH_-OATlya4BFIJMfywbPiKZf-flsDD_WuiktrhzrI13g-LhJE4GvRoaoNtmjy67g0L47AqUQg6baBcpQKKoSxtJYxpcWJ2klwqB4EMRUTcSzz2D6A_1-vrE5Bo/s1998/0001_M.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="950" data-original-width="1998" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVJKwPdHDIystkHBByHH_-OATlya4BFIJMfywbPiKZf-flsDD_WuiktrhzrI13g-LhJE4GvRoaoNtmjy67g0L47AqUQg6baBcpQKKoSxtJYxpcWJ2klwqB4EMRUTcSzz2D6A_1-vrE5Bo/w499-h237/0001_M.jpg" width="499" /></a></div><br /><div style="text-align: center;"><b><i> Entrega do prémio Cidade de Lisboa, ao escritor José Saramago pelo livro Levantado do Chão. A esta cerimónia presidiu o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Nuno Abecasis (01/06/1982)</i></b></div><div style="text-align: center;"><b><i><br /></i></b></div><div style="text-align: center;">Pode ser consultada via Arquivo Municipal, aqui </div><div style="text-align: center;">em <a href="https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/X-arqWEB/Result.aspx?id=288625&type=PCD">https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/X-arqWEB/Result.aspx?id=288625&type=PCD</a></div><p></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-30531002657298403992020-10-03T12:39:00.000+01:002020-10-03T12:39:19.113+01:00"Preparação do programa comemorativo do centenário de Saramago arrancou hoje" (via RTP 02/10/2020)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1iwiA5vkZsihjnurFGTmK7pDoL6MoS7UhjS7x3bdx5e6uD6bYzXAakWPH4OcLRoWKlZW1tkAx6tRe8ry4wfyZkHUWaVwRptYvJQy_Lr6_f3SKSOVBLgdQpGaaH86EuLctFK0NWAK1ngk/s980/saramago+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="551" data-original-width="980" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1iwiA5vkZsihjnurFGTmK7pDoL6MoS7UhjS7x3bdx5e6uD6bYzXAakWPH4OcLRoWKlZW1tkAx6tRe8ry4wfyZkHUWaVwRptYvJQy_Lr6_f3SKSOVBLgdQpGaaH86EuLctFK0NWAK1ngk/w400-h225/saramago+%25282%2529.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: center;">Pilar del Río no momento da apresentação</div><div style="text-align: left;">Notícia que pode ser recuperada aqui,</div><p></p><p style="text-align: left;">em <a href="https://www.rtp.pt/noticias/cultura/preparacao-do-programa-comemorativo-do-centenario-de-saramago-arrancou-hoje_n1263553">https://www.rtp.pt/noticias/cultura/preparacao-do-programa-comemorativo-do-centenario-de-saramago-arrancou-hoje_n1263553</a></p><p style="text-align: justify;">"O Ministério da Cultura e a Fundação José Saramago assinaram hoje um acordo para prepararem conjuntamente um programa comemorativo do centenário do escritor, para 2022, que celebre e homenageie a sua vida e obra, e simultaneamente promova a leitura.</p><p style="text-align: justify;">O memorando de entendimento foi assinado hoje à tarde pela ministra Graça Fonseca, e pela presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Rio, à sombra da oliveira que guarda as cinzas do escritor, em frente à Casa dos Bicos, sede da Fundação José Saramago (FJS).</p><p style="text-align: justify;">O objetivo deste acordo é preparar um programa comemorativo do centenário do escritor português, vencedor do Nobel da Literatura, que celebre a sua vida e obra, nas dimensões de escritor e de pensador; que reforce a sua presença na história cultural e literária; que promova o estudo e a difusão tanto da obra como do pensamento do autor; que estimule, através da sua obra, o conhecimento e o interesse pela literatura portuguesa e pelo património cultural português.</p><p style="text-align: justify;">Segundo Graça Fonseca, o Ministério da Cultura terá um papel central no programa comemorativo, através das suas diversas instituições, mas o objetivo é que esta seja "uma iniciativa aberta a todos aqueles que queiram dar o seu contributo às comemorações".</p><p style="text-align: justify;">"Festejar José Saramago é celebrar uma obra ímpar e transversal", mas é também "festejar Portugal e a língua portuguesa, num dos seus mais intensos e brilhantes cultores", assim como um dos mais significativos momentos da história recente, a atribuição do Nobel da Literatura a um português.</p><p style="text-align: justify;">Para a ministra, esta será "uma oportunidade privilegiada para celebrar a obra de José Saramago, mas também para homenagear a sua figura de cidadão".</p><p style="text-align: justify;">"Promover a leitura, em articulação com os setores públicos e privado, é uma missão estrutural do Ministério da Cultura, e é, como não poderia deixar de ser, um dos eixos centrais deste centenário", afirmou, sublinhando que esta promoção da leitura se reveste de um sentido mais amplo, que se estenda para lá da comunidade de leitores de José Saramago.</p><p style="text-align: justify;">Neste mesmo sentido, Pilar del Rio assinalou que "este centenário vai ativar a memória" e que serão recordados temas inerentes às obras de Saramago, como a reconstrução do Convento de Mafra, ou temas políticos, como "a noite levantada de 25 de Abril, assim como se recordará Luis de Camões, Padre António Vieira, ou Gil Vicente, "que perguntou pelas alabardas e espingardas, e que José Saramago lembrou no seu último livro".</p><p style="text-align: justify;">"Reviveremos momentos únicos que os livros nos proporcionam", afirmou, sublinhando que irão trabalhar para que as comemorações do centenário -- que começaram a ser preparadas em tempos de pandemia -- sejam "um acontecimento na vida cultural portuguesa".</p><p style="text-align: justify;">O comissário para a celebração do centenário, Carlos Reis, destacou que este entendimento com o Ministério da Cultura é "fundamental", porque muito do que se pretende fazer "é feito ou dinamizado por organismos sob a tutela do Ministério da Cultura.</p><p style="text-align: justify;">"O centenário será um momento decisivo para consolidar o escritor como referência cultural e para celebrar a literatura, que nunca foi tão importante como neste momento de angústia e medo que estamos a viver".</p><p style="text-align: justify;">O centenário do nascimento de José Saramago assinala-se a 16 de novembro de 2022.</p><p><br /></p>Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-85957043734259091722020-05-14T12:24:00.000+01:002020-05-14T12:24:15.933+01:00"Still a street-fighting man" Entrevista de Stephanie Merritt a José Saramago para o "The Guardian" (30/04/2006)<b>A entrevista de Stephanie Merritt publicada no "The Guardian" em 30/04/2006 pode ser recuperada e consultada aqui,</b><br />
<b>em</b> <a href="https://www.theguardian.com/books/2006/apr/30/fiction.features1?fbclid=IwAR0pf74nS8G1oYS0G4xytiJ9zM0YJYrU_lECn1oWJunC1mTJKEF6Eeivsjc">https://www.theguardian.com/books/2006/apr/30/fiction.features1?fbclid=IwAR0pf74nS8G1oYS0G4xytiJ9zM0YJYrU_lECn1oWJunC1mTJKEF6Eeivsjc</a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><i>"Still a street-fighting man"</i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i>"In his first interview with an English newspaper, 83-year-old Portuguese novelist José Saramago reveals that his famed radicalism is undiminished"</i></b></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"The architecture of José Saramago's purpose-built library, as it rises from a parched hillside on his adopted island of Lanzarote, creates the impression of a modern cathedral. Sunlight splinters through high, narrow windows of opaque glass that stretch the full two storeys; the clean, white walls and cool flagstones contribute to a sense of hushed reverence in the presence of so many volumes, ancient and modern, in so many languages. Here is a shrine to literature, an alternative religion for a Portuguese Nobel laureate, who left his homeland 14 years ago in protest at the government's censorship of his novel, The Gospel According to Jesus Christ (it vetoed its submission for the European Literature Prize on the grounds that it was offensive to Catholics).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>It takes some effort to believe that Saramago is about to turn 84 - not just because of his vivid physical presence, his barely-lined face and the quickness of his eyes and hands when he talks, but also because of his extraordinary productivity.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Although Seeing is published this week in English translation, he has produced another book in the meantime; Las Intermitencias de la Muerte was published last autumn in Portugal, Spain and Latin America (his Spanish wife, Pilar del Rio, translates his books as he goes along so that they can be published simultaneously for his large Spanish readership), and he is now working on an autobiography entitled Peque?Memorias (Little Memories), about his childhood in rural Portugal.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>But the image of the venerable novelist shut away in his island retreat, disengaged from the world, could not be further from the truth. Saramago is about to leave Lanzarote for two months of travelling, as he does most years, in part to promote the new novel, but mainly to speak at conferences and presentations on politics and sociology. 'Most of it doesn't have much to do with literature,' he explains, 'but this is a part of my life that I consider very important, not to limit myself to literary work; I try to be involved in the world to the best of my strengths and abilities.' Still a member of the Communist party, Saramago is a vocal opponent of globalisation and many of his best known novels have taken the form of political allegory. Does he believe that the artist is obliged to take on a political role? 'It isn't a role,' he says, almost sharply.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'The painter paints, the musician makes music, the novelist writes novels. But I believe that we all have some influence, not because of the fact that one is an artist, but because we are citizens. As citizens, we all have an obligation to intervene and become involved, it's the citizen who changes things. I can't imagine myself outside any kind of social or political involvement. Yes, I'm a writer, but I live in this world and my writing doesn't exist on a separate level. And if people know who I am and read my books, well, good; that way, if I have something more to say, then everyone benefits.'</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Seeing evolved into a kind of sequel to his 1995 novel, Blindness, in which the inhabitants of a republic that may or may not be Portugal are struck by a temporary epidemic of blindness and quickly revert to barbarism. Seeing revisits the same country four years later as it experiences another unprecedented phenomenon: despite the high turnout for the municipal election, when the votes are counted, more than 80 per cent have been returned blank. This wholesale vote of no confidence in any of the political parties makes a farce of the democratic process and the leaders are forced to declare a state of emergency.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'I was giving a talk about my novel, The Double, in Barcelona,' Saramago remembers. 'I have this habit of only talking about my books for a few minutes, then I prefer to spend the time talking about the world in which we find ourselves, a world which is a disaster, and usually I end up talking about the problem of democracy, whether we truly have a democratic system, and I believe that we don't. And in Barcelona, someone asked me, well then, what do you propose? Because I was saying that, in reality, the world is governed by institutions that are not democratic - the World Bank, the IMF, the WTO. People live with the illusion that we have a democratic system, but it's only the outward form of one. In reality we live in a plutocracy, a government of the rich.'</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>So what was his solution?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'I answered that I didn't have a solution, except that we, as citizens, do have the power of the vote, but we always use it to vote for one or other of the parties on off er. But there is another possibility, which is to cast a blank vote.' He leans forward and points a stern finger. 'And this is not at all the same as abstention. Abstention means you stayed at home or went to the beach. By casting a blank vote, you're saying that you understand your responsibility, you have a political conscience and you came to vote, but you don't agree with any of the existing parties and this is the only way you have of saying so.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'Then I thought about what would happen if the blank votes went up to 50 or more per cent. It would be a way of saying society has to change but the political powers we have at the moment are not enough to effect this change. The whole democratic system would have to be rethought.' He speaks Spanish with a heavy Portuguese inflection, each sentence composed with precision, not at all like the rather breathless, digressive narrative style that has become a hallmark of his novels. Expounding these theories, he comes across as grave and wise, though when he talks about the problems of poverty in Africa or the volatility of most employment, there flares a passionate anger that has fuelled his lifelong commitment to leftist politics.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>But there's a twinkle of humour, too, in his mock sternness with his dog as she scuffles around our feet, and a warmth in his exchanges with his wife, who comes in to offer us coffee; as she turns to leave, he impulsively clutches her hand and gives it an affectionate squeeze. I point out that, for all the brave intentions of the blank voters in Seeing, the novel has a bleak end - the authorities simply revert to force, though the protest has been as peaceful as a protest could be; in the end, it seems to have been in vain. I tell him it reminded me of the anti-war demonstrations in London.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'Yes, it all ends badly, because things are not mature,' he says sadly. 'Here in Spain, 90 per cent of the population was against the war and nobody in power was interested. But look what just happened with the employment law in France - the law was withdrawn because the people marched in the streets. I think what we need is a global protest movement of people who won't give up, who won't leave the streets. In Madrid and London, we marched, we did our duty, then we went home and those in power did nothing.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'But we have to keep on demonstrating and demonstrating and demonstrating' - here he breaks into a rich, throaty laugh - 'there's no solution but to say we do not want to live in a world like this, with wars, inequality, injustice, the daily humiliation of millions of people who have no hope that life is worth anything. We have to express it with vehemence and spend days on the street if we have to, until those in power recognise that the people are not happy.'</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>In a lifetime of political activism, Saramago has witnessed the struggle from various angles. He grew up as the son of landless peasant labourers in a village north east of Lisbon and, although he published his first novel, Land of Sin, at the age of 23, it was another 30 years until he attempted another. In the meantime, he worked successively as a mechanic, civil servant, metalworker, production manager at a publishing house and a newspaper managing editor, until the politico-military coup of 1975 made it impossible for someone of his political colours to find work.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>He turned to writing full time, publishing his second novel, Manual of Painting and Calligraphy, in 1976, and producing plays, poetry, essays and newspaper columns until his 1982 historical novel, Baltasar and Blimunda, brought him international recognition. His most successful novels were all written when he was in his sixties and he won the Nobel Prize in 1998, at the age of 76. Why, after so many years and excursions into different genres, did he decide that the novel was the best form for the ideas he wanted to express?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'I think the novel is not so much a literary genre, but a literary space, like a sea that is filled by many rivers. The novel receives streams of science, philosophy, poetry and contains all of these; it's not simply telling a story.' Saramago is often described as a pessimistic writer. I ask if he feels genuinely pessimistic about the future or if he thinks there could be hope for the left?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'We're not short of movements proclaiming that a different world is possible,' he says, heavily, 'but unless we can co-ordinate them into an organic international movement, capitalism just laughs at all these little organisations that do no damage. The problem is that the right doesn't need any ideas to govern, but the left can't govern without ideas. It's very difficult.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>'At 83, I don't hope for much, but you are young, you have to keep a perspective. I don't think this novel is going to change the world, but look - those in power are there because we put them there. If they don't get it right, then out! And let others try. There are plenty of reasons not to put up with the world as it is, and if the book has any kind of message, I suppose that's it."</i></div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-90320481627389737952020-05-10T12:09:00.000+01:002020-05-10T12:09:07.731+01:00"A separação ibérica idealizada por José Saramago" - por João Céu e Silva (DN/1864 (01/02/2020)<div style="text-align: justify;">
<i><b>"Trinta anos antes do referendo do Brexit, o escritor separou a Península Ibérica do continente europeu. Um sonho que a Inglaterra persegue, apesar de já ser uma ilha, ao querer afastar-se da União Europeia após o voto popular de 2016."</b></i></div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSaM8SHWlCsk-6GV6jv9lXARua7tQL8qYA58NnOQZtOQgGT2C_UUh87rQf69eiwJvBAoJ6fqsK7gzI7oTBMS9Dqlnc5Cr4Th_4i3xso1E3_biuIppztpvGhUoWUDfXPfoFz_nLKd_phso/s1600/image+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSaM8SHWlCsk-6GV6jv9lXARua7tQL8qYA58NnOQZtOQgGT2C_UUh87rQf69eiwJvBAoJ6fqsK7gzI7oTBMS9Dqlnc5Cr4Th_4i3xso1E3_biuIppztpvGhUoWUDfXPfoFz_nLKd_phso/s320/image+%25282%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><b>"Trinta anos antes do referendo do Brexit, </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>José Saramago separou a Península Ibérica do </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>continente europeu no livro A Jangada de Pedra."</b></i></div>
<br />
"A separação ibérica idealizada por José Saramago" - por João Céu e Silva (DN/1864 (01/02/2020)<br />
Pode ser recuperada e consultada aqui<br />
em <a href="https://www.dn.pt/1864/a-separacao-iberica-idealizada-por-jose-saramago-11763278.html">https://www.dn.pt/1864/a-separacao-iberica-idealizada-por-jose-saramago-11763278.html</a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"Não é o cão Constante o protagonista de José Saramago que tem mais importância no romance A Jangada de Pedra, mas até o animal é um símbolo do ceticismo do escritor perante a ideia da integração dos dois países ibéricos na Comunidade Económica Europeia (CEE) - a atual União Europeia. Quem dá início à cena fantástica que separa a península do restante continente europeu é Joana Carda, ao riscar com uma vara de negrilho o chão espanhol perto da fronteira com a França, um gesto que separa a terra ibérica e a empurra para uma viagem em direção aos mares atlânticos do Sul.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>O cão Constante é, no entanto, o ser ibérico que hesita entre as terras de Espanha e as de França ao sentir a fenda abrir-se com o gesto de Joana Carda e que pula para o lado de cá, colocando-se do lado da opção saramaguiana de quem vive na Península Ibérica e é contra o esquecimento atávico dos poderosos da Europa."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG6xkTqVd4nI1y3JJtJ0KxsXXOzL1Oruv_-VxCdocEOtNvW_szxEhsSnh_os4rab6DIKhBeenMWkk8xrvrvJXOw9DcWkDi90G2lqXkTQUtEzTizIEZqf5cGP-0C9i2V8bfNMyT4yv2MXQ/s1600/image+%25283%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG6xkTqVd4nI1y3JJtJ0KxsXXOzL1Oruv_-VxCdocEOtNvW_szxEhsSnh_os4rab6DIKhBeenMWkk8xrvrvJXOw9DcWkDi90G2lqXkTQUtEzTizIEZqf5cGP-0C9i2V8bfNMyT4yv2MXQ/s400/image+%25283%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>"A Jangada de Pedra é o romance publicado em 1986, exatamente </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>quando Portugal e Espanha aderem à CEE numa cerimónia cheia </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>de significado ao usar o claustro do Mosteiros dos Jerónimos para </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>assinar o processo. Saramago é contra por considerar que essa adesão </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>não irá retirar os dois povos de um esquecimento de há muito e de </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>uma falta de identificação com o continente além-Pirenéus."</i></b></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"A Jangada de Pedra é o romance publicado em 1986, exatamente quando Portugal e Espanha aderem à CEE numa cerimónia cheia de significado ao usar o claustro do Mosteiros dos Jerónimos para assinar o processo. Saramago é contra por considerar que essa adesão não irá retirar os dois povos de um esquecimento de há muito e de uma falta de identificação com o continente além-Pirenéus. Na boca das personagens Joana Carda, Maria Guavaira, Joaquim Sassa e José Anainço, além desse cão com um papel preponderante - não é o único cão importante na sua obra - vão-se contando as grandes objeções a essa espécie de unificação europeia e dados exemplos dos desfasamentos entre as culturas e as realidades sociais das duas partes.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Pode-se dizer que A Jangada de Pedra é um argumento que agora se concretiza quando se observa a Inglaterra apostada na efetivação do Brexit, uma ideia para um romance que alguns escritores portugueses consideram genial, apesar de ser unânime que o romance sofre de um grande problema, um início fulgurante e a ausência de matéria-prima para se manter ao mesmo nível literário. Essa questão não escapou ao próprio autor, que como recorda o seu antigo editor, Zeferino Coelho, ouviu Saramago referir que "é um romance em que o clímax está no princípio"."</i></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAYFFsU2HpHAiM_7zGR9w0WDiX3BBTvb5Ea2CCiDts6uP36wTprWMybxNJgSDKaQdPow9UhianPVul-Bu_Gw1mqxwUM4jMtOmcYDzmwBsrPjDveuig0OE4dxsATBtToDLLBdjuM-nr0g0/s1600/image+%25284%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAYFFsU2HpHAiM_7zGR9w0WDiX3BBTvb5Ea2CCiDts6uP36wTprWMybxNJgSDKaQdPow9UhianPVul-Bu_Gw1mqxwUM4jMtOmcYDzmwBsrPjDveuig0OE4dxsATBtToDLLBdjuM-nr0g0/s640/image+%25284%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><i>"A Jangada de Pedra, livro de José Saramago, foi publicado em 1986, </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>no mesmo ano em que Portugal e Espanha aderem à CEE."</i></b></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"A comparação entre A Jangada de Pedra e o Brexit desejado pela Inglaterra salta à vista trinta anos depois, mesmo que esta saída do Reino Unido tenha protagonistas e situações bem diferentes das de José Saramago. No romance, os protagonistas não são tão inventivos como os políticos britânicos e o tremor que leva à separação é feito de simbologias pouco reais: uma meia de lã azul que se desfaz sem um fim, uma pedra lançada ao mar que viaja uma distância impossível ou uma revoada de estorninhos. Mas o ceticismo de Saramago e de algumas das suas personagens em relação à futura União Europeia é replicado no Brexit. Segundo o ex-ministro da Cultura o poeta Luís Filipe Castro Mendes "não foi preciso arrancar a ilha [a Inglaterra] do seu lugar porque já está separada fisicamente do continente", no entanto pode imaginar-se a Inglaterra como a península de Saramago "numa deslocação política rumo aos Estados Unidos". É, no seu entender, "uma perfeita analogia entre uma península que sai da Europa rumo à América Latina e uma Inglaterra que sai rumo à América". Ou seja, conclui: "Um movimento que José Saramago antecipou."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Na base da separação de A Jangada de Pedra está o ceticismo de Saramago. Para Castro Mendes, o "escritor participa de um ceticismo de esquerda, em que vê na Europa uma manifestação do poder do capitalismo, daí não simpatizar com a ideia europeia porque esta tem servido para aprofundar o fosso entre os países com diferentes níveis de desenvolvimento económico dentro da [futura] União Europeia - isso viu-se durante a troika, através de uma clivagem entre credores e devedores que é contra o ideário de solidariedade e de coesão -, que provocou uma evolução negativa nos últimos anos e o consequente crescimento do euroceticismo"."</i></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoDJuk_xHXmnCjLHpOKJWpdskTTErqT80V-MpO-wi3bIdFOkEdkU5rAlf1bRFZKyoo-6Mwld52ob4N7dHZtgsptkQYEdq2YyBCPziADO2CW2lIVuP3Bje8q-xW_xP4LDkERpRUZlTFzOA/s1600/image+%25285%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoDJuk_xHXmnCjLHpOKJWpdskTTErqT80V-MpO-wi3bIdFOkEdkU5rAlf1bRFZKyoo-6Mwld52ob4N7dHZtgsptkQYEdq2YyBCPziADO2CW2lIVuP3Bje8q-xW_xP4LDkERpRUZlTFzOA/s400/image+%25285%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>"Para Zeferino Coelho, tudo tem que ver com a maneira como </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>José Saramago vê a Europa e dá uma versão sobre como nasce </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>o romance: “ele ia num comboio entre paris e Bruxelas com </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>mais gente e conversavam. Então, Saramago propôs às pessoas </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>adivinharem as nacionalidades de cada uma e nenhuma delas falou </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>em Portugal.”© Global Imagens"</b></i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"Para Zeferino Coelho, tudo tem que ver com a maneira como José Saramago vê a Europa e dá uma versão sobre como nasce o romance: "Ele ia num comboio entre Paris e Bruxelas com mais gente e conversavam. Então, Saramago propôs às pessoas adivinharem as nacionalidades de cada uma e nenhuma delas falou em Portugal." Será este esquecimento que há na Europa em relação a Portugal que está na origem do romance, além de que todo o processo da União Europeia do ponto de vista do escritor "depende do grande capital europeu". Portanto, "achava que a utopia de haver uma fuga para esta realidade nos povos ibéricos só resultaria se pudessem ter uma vizinhança com os povos africanos e sul-americanos, que sofrem a mesma opressão da parte do grande capital europeu e americano. Era isto que ele tinha na cabeça e daí a ideia daquela rutura [terrestre], que é uma ideia mágica".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>É o potencial da metáfora inicial de Saramago na construção d'A Jangada de Pedra que mais surpreende os leitores. O seu antigo editor considera que essa criação "acontece muito na obra do Saramago, como no Ensaio sobre a Cegueira, em que as pessoas cegam sem se saber porquê, e assemelha-se ao que se faz na geometria: lança-se um conjunto de dois ou três princípios e deduz-se a partir daí. Foi isso que ele também fez nesse romance."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Magia premonitória</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A escritora Lídia Jorge considera que "na altura achou o livro interessante e, passado todo este tempo, ainda o vê tão forte e premonitório. Ultrapassa uma visão comum portuguesa, é internacional". Para a autora, que recentemente recordou o romance por necessidade de escrever um texto sobre a questão da Europa, o que Saramago faz "numa forma um pouco irónica é intuir o que nós todos só hoje percebemos. Que os países quando não são ilhas gostariam de o ser". No caso da Grã-Bretanha e do Brexit, a Inglaterra já "tem a grande vantagem de ser uma ilha, mas a Alemanha bem gostaria de ter sido uma ilha, tal como a França, e o mesmo se passa com Portugal, que também gostaria de se ter deslocado do seu sítio afastando-se de Espanha." Acrescenta: "A história dos países que são tomados de ideias de grandeza porque têm uma história que é única começam a funcionar no imaginário como ilhas. José Saramago percebeu isto muito bem em 1986, transformando a península nessa jangada porque não é vista pelos outros europeus como um espaço geopolítico importante. O que ele demonstra é que se a Península Ibérica fosse deslocada, tornar-se-ia tão incómoda que toda a gente nela iria reparar."</i></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht7vsErEEcub9tAW2t6pz7ftJGgiJ3S6-wwLrRLkZXrERCnVVMSQHZx57MZjafnKw34xTUSC0C_kMVHfMrl9ekVCInSil_GWvQgSNHMNHYowb4PW9zEeu0qaKRpC58QlN669NmFq9NSs4/s1600/image+%25286%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="516" data-original-width="847" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht7vsErEEcub9tAW2t6pz7ftJGgiJ3S6-wwLrRLkZXrERCnVVMSQHZx57MZjafnKw34xTUSC0C_kMVHfMrl9ekVCInSil_GWvQgSNHMNHYowb4PW9zEeu0qaKRpC58QlN669NmFq9NSs4/s400/image+%25286%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>"Também o escritor Mário Cláudio acha a tese de </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>A Jangada de Pedra muito interessante: "A metáfora </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>que José Saramago escolheu é um achado e qualquer</b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b> autor europeu gostaria de a encontrar, mas a verdade </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>é que só nós é que a poderíamos ter por razões de </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>ordem geográfica e histórica e estaríamos em condições </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>de levar avante um livro destes."© Rui Oliveira /Global Imagens"</b></i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
"<i>Também o escritor Mário Cláudio acha a tese de A Jangada de Pedra muito interessante: "A metáfora que José Saramago escolheu é um achado e qualquer autor europeu gostaria de a encontrar, mas a verdade é que só nós é que a poderíamos ter por razões de ordem geográfica e histórica e estaríamos em condições de levar avante um livro destes." Já se fosse um autor inglês, diz, "não faria a sua ilha deslocar-se para o mar da América do Sul, antes rumar à Irlanda, por exemplo, porque a Inglaterra não tem um imaginário comum tão forte como nós com a América Latina". Para Mário Cláudio, este romance tem características políticas muito especiais. Nada que estranhe: "Os meus livros são políticos também, mesmo que passados noutras épocas. É o caso da reedição recente de As Batalhas do Caia, que aborda a questão ibérica sempre recorrente da anexação de Portugal pelo país vizinho. Coincidentemente, ambos tratam de questões ibéricas."</i></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPlX_MY1BCYeiTbUE47V_UHox9mDhkQ4bKvT0hunrVQujlmse37K3F0nFT8yTmzCjkVf96c1vuD5e1J5YGLh5aC_egMrZ4MHpdNlHR8m-7RFeHo0JBepMPXXlvImCJyN6WcztWI_Om94c/s1600/image+%25287%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPlX_MY1BCYeiTbUE47V_UHox9mDhkQ4bKvT0hunrVQujlmse37K3F0nFT8yTmzCjkVf96c1vuD5e1J5YGLh5aC_egMrZ4MHpdNlHR8m-7RFeHo0JBepMPXXlvImCJyN6WcztWI_Om94c/s400/image+%25287%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>"A escritora Lídia Jorge considera que “na altura achou o livro </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>interessante e, passado todo este tempo, ainda o vê tão forte e </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>premonitório. Ultrapassa uma visão comum portuguesa, </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>é internacional”.© DIANA QUINTELA / GLOBAL IMAGENS"</b></i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"Lídia Jorge alerta ainda para o facto de na altura o romance "ter sido olhado de forma depreciativa porque a ideia que estava na base de José Saramago era a de ser contra a integração de Portugal e de Espanha na CEE. Aparece como um livro ilustrativo de uma ideia antieuropeísta, só que passado este tempo todo essa raiz desaparece para ficar a ideia pura, que é a criação de uma nova geografia. E o desejo que os países têm de uma nova geografia é muito forte, veja-se que no Brexit existe o aproveitamento absoluto dessa ideia e, no momento em que esse país está em crise, pensa que tal situação vem das vizinhanças e quer tornar-se uma ilha. Como já o são, aproveitam isso da forma que estamos a observar".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Zeferino Coelho não se surpreendeu como a temática quando recebeu o original: "Nada daquilo é estranho na forma como Saramago via a Europa e as questões do mundo. Tem um pouco de realismo mágico, porque é um livro que começa com uma coisa fantástica - a separação do continente europeu - e segue-se um conjunto de coisas também fantásticas que vão acontecendo como surgem na vida, só que irão ter uma importância grande."</i></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOiTWAluOcT1HWF7uGyzWNhFgkVOdmCbEqJ1GlVE4TqAjIg4jF5rvHoj8j3-PJf_0TSnlHp1O_MSxNg26ftytxf9rArPUO1Fa-TrTtcdo8ihiG2sut-ADdUI57CCGVx0gTrn_N-wgOm7o/s1600/image+%25288%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1200" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOiTWAluOcT1HWF7uGyzWNhFgkVOdmCbEqJ1GlVE4TqAjIg4jF5rvHoj8j3-PJf_0TSnlHp1O_MSxNg26ftytxf9rArPUO1Fa-TrTtcdo8ihiG2sut-ADdUI57CCGVx0gTrn_N-wgOm7o/s400/image+%25288%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>"Segundo o ex-ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes, </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>“não foi preciso arrancar a ilha [a Inglaterra] do seu lugar </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>porque já está separada fisicamente do continente”, no entanto </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>pode imaginar-se a Inglaterra como a península de Saramago </b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>“numa deslocação política rumo aos Estados Unidos”.© Global Imagens"</b></i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"Para o escritor Mário Cláudio, A Jangada de Pedra tem apenas o óbice do seu tamanho após a impactante metáfora inicial: "O livro aproveitaria se fosse um pouco mais curto porque haveria uma poupança de prosa benéfica." Já para Luís Filipe Castro Mendes, o romance "é feito com a coerência que José Saramago sabia pôr no seu trabalho e nas alegorias que desenhava". Explica: "Ele constrói o romance a partir de uma suspensão da credibilidade e aproveita esse arrastar telúrico da península pelos mares para criar uma verosimilhança que lhe é habitual. O leitor avança na leitura com aquele pressuposto e dentro dele constrói uma realidade verosímil - essa é a grande força da ficção e do grande romancista - dentro de um pressuposto de total inverosimilhança. Nesse aspeto é magnificamente construído, mas as ideias dos romances de Saramago são sempre grandes."</i></div>
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-48592351347803966182020-05-09T11:59:00.000+01:002020-05-09T12:02:48.230+01:00"Uma pessoa da família" publicado em 1986 na revista "Status" e agora recuperada na edição #75 da revista "Blimunda" (Agosto de 2018)<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>O presente texto pode ser consultado e recuperado aqui</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>em</b> <a href="https://www.josesaramago.org/blimunda-75-agosto-de-2018/">https://www.josesaramago.org/blimunda-75-agosto-de-2018/</a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
"Em <i>1986, a extinta revista brasileira Status publicou um texto de José Saramago sobre a relação de Portugal com a literatura brasileira e vice-versa. Naquela altura o escritor mantinha na mencionada publicação uma coluna intitulada </i><i>Notas do Ultramar. Em 1998, dias após José Saramago ser </i><i>proclamado Prémio Nobel de Literatura, a também brasileira </i><i>revista Bravo! recuperou a citada crónica e publicou-a. Agora, </i><i>20 anos após essa segunda vida do texto cujo título é «Uma </i><i>pessoa da família», chegou a vez da Blimunda divulgá-lo."</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh18A1jog6z48RSwZvcFB4T99ruzTgMtEg6DDgsk3vH95Fr0XBrgT9e7qkWciTpdnmISaSzwQkacxP48TlcKrCaZzDvPLTyuV5fbI1PYL38deGID_sYr0WoluHJw-0LzISVGyOKLc73rs/s1600/transferir+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="259" data-original-width="194" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh18A1jog6z48RSwZvcFB4T99ruzTgMtEg6DDgsk3vH95Fr0XBrgT9e7qkWciTpdnmISaSzwQkacxP48TlcKrCaZzDvPLTyuV5fbI1PYL38deGID_sYr0WoluHJw-0LzISVGyOKLc73rs/s400/transferir+%25281%2529.jpg" width="299" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Revista Blimunda - Capa da edição # 75 - Agosto de 2018</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>"Dizia-me aquele português em São Paulo, ou, por maior rigor, </i><i>de São Paulo, pois aí vive e trabalha e daí não pensar </i><i>retirar-se, dizia-me ele sorrindo com a amizade que </i><i>guarda e a ironia que ao acaso lhe parecia adequada. </i><i>“Sabe você como já chama os brasileiro a Fernando </i><i>Pessoa?”. Levantei um sobrolho perplexo e inquisitivo, </i><i>esperei o fim da pausa retórica que, pelos vistos, o </i><i>meu amigo queria prolongar, enfim acedi a entrar no </i><i>jogo: “Chamam-lhe Fernando Pessoa, suponho”. O tom </i><i>provocador que eu dera à resposta não lhe apagou o </i><i>sorriso, e as palavras seguintes vieram tocadas por um </i><i>certo ar de comiseração que ainda mais afiava a ironia: </i><i>“Chamam-lhe grande poeta da língua portuguesa, pois </i><i>então”. Compreendi onde ele queria chegar: “Não dizem </i><i>grande poeta português?” E ele, empurrando a faquinha: </i><i>“Cada vez se vai dizendo menos”.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Confesso que não gostei. O meu patriotismo </i><i>literário ofendia-se com a ligeireza, a sem-cerimónia dos </i><i>irmão brasis, ou primos, que, não pensando, obviamente, </i><i>em discutir ou ignorar a grandeza do poeta, decidem </i><i>escamotear-lhe a nacionalidade, tomando como </i><i>fundamental, quem sabe, a própria sentença de Pessoa: </i><i>“A minha pátria é a língua portuguesa”. Disse ao amigo </i><i>que a atitude configurava forte abuso, que realmente o </i><i>Brasil sofria de vertigem imperial e que, por esse andar, </i><i>acabariam por levar-nos o próprio Luís de Camões, ou o </i><i>Eça de Queiroz, e a Deus, graças por dos mais escritores </i><i>portugueses conhecerem tão pouco. Exprimi um mau </i><i>humor nacionalista porventura louvável, mas, logo o </i><i>percebi, culturalmente pueril.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>As coisas são o que são, serem-no é a sua irrefragável força, e a nós </i><i>cabe-nos tentar compreendê-las, ajeitá-las, se possível, à </i><i>oportunidade e ao interesse da ocasião, mas respeitando-as sempre, evitando sobretudo cair na tentação da </i><i>avestruz, o que, na circunstância, seria fingir que as </i><i>coisas, afinal, são outra coisa. Não estou a brincar com as </i><i>palavras, pelo menos não mais do que o gosto de ordená-las ao longo de um pensamento para tentar exprimi-lo </i><i>com a maior clareza possível. Se os brasileiros chamam a </i><i>Fernando Pessoa de grande poeta da língua portuguesa é </i><i>porque o admiram e respeitam, porque o desejariam seu. </i><i>Bom proveito, então, lhes faça tanto mais que Fernando </i><i>Pessoa é bastante grande para satisfazer dois países e </i><i>povos, e ainda sobejar Pessoa. também eu desejaria que </i><i>Manuel Bandeira fosse meu como igualmente desejaria </i><i>que o fosse Antonio Machado, nascido aqui ao lado, em </i><i>Espanha, e esse, provavelmente, é o único caso em que </i><i>uma coisa dividida se tornará tanto maior quanto mais </i><i>dividida estiver. Tomem pois os brasileiros, para si, a </i><i>Fernando Pessoa, que não ficaremos mais pobres por isso. </i><i>Pelo contrário. A cultura a que Fernando Pessoa pertence </i><i>é a cultura da fala e da escrita portuguesa, aquela pátria </i><i>única que ele, em palavras brevíssimas e lapidares, como </i><i>convinha, definiu de uma vez para sempre.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Mas seria mais útil que nos entendêssemos </i><i>quanto ao resto. Essa cultura de que a língua portuguesa </i><i>é o veículo e o instrumento não principiou no dia 7 de </i><i>setembro de 1822, quando a independência do Brasil foi </i><i>proclamada. Para trás não ficavam o caos, o tempo das </i><i>trevas, a brutalidade da ignorância. Para trás ficava, sim, </i><i>um formigueiro cultural com quase 700 anos de trabalho </i><i>miúdo e algumas grandes empresas. Usando a metáfora </i><i>mais luminosa, de ar livre e céu aberto, a parte visível da </i><i>cultura que diremos brasileira emerge e assenta, como </i><i>parte visível de um iceberg, sobre a massa profunda da </i><i>história e da cultura portuguesa. </i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A cultura brasileira tem uma pré-história, e essa, dêem-lhe as </i><i>voltas que entenderem é, e não pode deixar de ser, a </i><i>cultura portuguesa. Levem-nos o Fernando Pessoa, </i><i>mas não julguem que levam tudo com ele. Compete </i><i>aos brasileiros, claro está, responder se proclamaram </i><i>o nascimento de sua cultura na mesma data em </i><i>que proclamaram a independência nacional, ou se </i><i>reconhecem como também seu aquele remoto ano em </i><i>que uma palavra se descobriu portuguesa, para, sendo </i><i>história, começar a ser cultura.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Tranquilizai-vos, porém. Cuido saber dos fatos </i><i>da vida o suficiente para não ceder à ingenuidade, </i><i>senão à estupidez, de considerar as culturas brasileira </i><i>e portuguesa como meramente e mutuamente </i><i>complementares de um só corpo cultural, o que, por </i><i>caminho tão vicioso, equivaleria a querer meter num </i><i>saco de conflitos todas as culturas de língua portuguesa, </i><i>a pretexto de uma história em parte comum, ainda </i><i>que sombria e sangrenta, como tantas vezes o foi. Sou </i><i>pouco de impérios, velhos ou novos. O Brasil e Portugal </i><i>vão, cada um por seu pé, aonde tiverem de ir, chegarão </i><i>onde puderem chegar, felizes ou apenas resignados. </i><i>E não creio que, nas horas más, um possa ajudar o </i><i>outro: hoje ninguém ajuda ninguém. Mas somos gente </i><i>de uma imensa família, de uma mesma língua, de uma </i><i>cultura que é, embora diferentemente, mesma. Se os </i><i>brasileiros se recusam a aceitar essa evidência, se o dia </i><i>6 de setembro de 1822 é, para eles, anterior à criação do </i><i>mundo, então façam o favor de nos devolver Fernando </i><i>Pessoas."</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3-Hl9GCCR3JAK3UK3d1hdz3M2F0tjkDho4yjRlchlEhLYxbX5zLQggNiHWpeKl0HHb2oVtpiUSjZiZXdKTXxO_Ox9d4L5Htpt608OJSpb0JIaIdXw3ExLB8Yeacj98X4t_JHavZVve9U/s1600/95575417_678312836303626_2806140436442251264_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1169" data-original-width="826" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3-Hl9GCCR3JAK3UK3d1hdz3M2F0tjkDho4yjRlchlEhLYxbX5zLQggNiHWpeKl0HHb2oVtpiUSjZiZXdKTXxO_Ox9d4L5Htpt608OJSpb0JIaIdXw3ExLB8Yeacj98X4t_JHavZVve9U/s640/95575417_678312836303626_2806140436442251264_n.jpg" width="452" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-86323919372019626562020-05-08T15:53:00.000+01:002020-05-08T15:53:04.353+01:00"Monstro da intolerância voltou" Entrevista ao Folha de São Paulo (12/01/1994)A entrevista pode ser recuperada e consultada aqui<br />
em <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/1/12/ilustrada/2.html">https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/1/12/ilustrada/2.html</a><br />
<br />
"Monstro da intolerância voltou, diz Saramago" por Bob Fernandes<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"Auto-exilado nas Ilhas Canárias desde que o governo português, numa manifestação de intolerância, renegou a inscrição de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" na disputa do Prêmio Europeu de Literatura, José Saramago, 71, escreve "Ensaio sobre a Cegueira". Sobre o romance, com lançamento previsto para este ano, o escritor português guarda silêncio. "Ainda está em gestação", diz. Mas, em entrevista à Folha, fala sobre a intolerância, o Brasil e os brasileiros, o amor, a cidadania, e o processo de escrever."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>"Folha - O sr. está escrevendo "Ensaio sobre a Cegueira", que deve ser lançado este ano. A intolerância será, novamente, o seu tema?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Talvez em sentido muito amplo, mas, sendo um romance, do ponto de vista da técnica narrativa difere bastante do trabalho que tenho feito até aqui. Mas eu não gostaria de ir mais longe porque eu não posso nem devo falar sobre uma coisa que ainda está em gestação.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - A intolerância é uma condição inerente ao homem?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Provavelmente é. Mas é também a consequência de uma luta pelo domínio sobre o outro. Seja qual for a natureza do domínio, seja na relação do colonizador com o colonizado, na própria estrutura de classes, isto está sempre presente no comportamento das pessoas. Mesmo que esta não seja uma intolerância ativa como é a outra, mais radical, a intolerância racial, étnica.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - Como esta que a Europa começa a reviver?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - É. Nós supúnhamos que, depois da última Grande Guerra, dos campos de concentração, tivesse ficado claro até que extremos a intolerância pode levar. Mas nós não nos curamos deste mal, este é um monstro que deita outra vez as garras de fora.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - Onde está o monstro? Na Rússia de Jirinovski, na França de Le Pen, na Alemanha, na ex-Iugoslávia?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Não do mesmo modo, mas em quase toda a Europa. Não com a mesma gravidade há o problema dos ciganos na Espanha, há problemas também em Portugal.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - A questão dos brasileiros em Portugal tem o tamanho que a mídia dá?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Eu creio que não, embora seja óbvio que existam contradições. Mas não são insuperáveis. Pelo que sei, estou um pouco longe, desde a questão muito debatida dos dentistas não há um outro contencioso. Se deixarem as pessoas falarem umas às outras, sobretudo no caso de brasileiros e portugueses, as pessoas acabam se entendendo.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - E as piadas de português?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Podem estar certos os brasileiros de que os portugueses também contam anedotas sobre os brasileiros.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - O sr. tem proposto o regresso do autor, a existência também do cidadão e não apenas do escritor. É isso?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - O cidadão que o escritor é não pode ocultar-se por trás da obra. Ela, mesmo importante, não pode servir de esconderijo para o autor, dar-lhe uma espécie de boa consciência graças à qual ele poderia dizer que está ocupado e não tem tempo para intervir na vida do país.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - Sem tempo para ser cidadão.</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Exatamente. Embora eu não queira dizer com isto que o escritor deva se considerar, ou ser considerado, um guia espiritual.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - Nem o sr. imagina a volta da arte engajada, não?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Realmente não. O que eu digo é que eu tenho, como cidadão, um compromisso com o meu tempo, com o meu país, com as circunstancias, digamos, do mundo. Eu não posso virar as costas a tudo isso e ficar a contemplar minha obra. O futuro irá julgar a obra do autor, mas o presente tem o direito de fazer um juízo sobre o autor, o que ele é.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - O que sobrou, o que é herança da velha história de Portugal e Brasil?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Há uma coisa que é o bem comum, a língua, que é a coisa mais importante que nós deixamos no Brasil. A língua, que foi um elemento de unidade neste país imenso. A questão é saber se os portugueses e os brasileiros têm consciência deste bem comum num mundo como este em que vivemos, que é o mundo da competição, da concorrência, um mundo que luta por dominar. Temos consciência de que esta língua é a quarta ou quinta mais falada no mundo? Eu suspeito que não. Eu sinto que falta quase tudo para potencializar esta realidade. Dá até a impressão de que, uma vez que falamos a mesma língua, não precisamos dialogar.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - O que falta?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - No mínimo um verdadeiro circuito de comunicação interna e, sobretudo, trabalho em comum de brasileiros, portugueses, e africanos de expressão portuguesa.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - Como estamos falando em bem comum, herança cultural, como o sr. vê este processo brasileiro, hoje, de decomposição e recomposição?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Para falar com franqueza, ou o povo brasileiro intervém na sua própria vida –o povo, não os segmentos políticos que o representam – torna isto uma prática quotidiana, ou tudo continuará como sempre foi antes. O povo brasileiro mostrou que, em circunstâncias especiais, é capaz de intervir de uma maneira extraordinária no processo.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - O sr. se refere a que momento?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - A substituição de Collor de Mello, à campanha pelas eleições diretas. Nós sabemos que a carne é fraca, e os políticos são feitos de carne. O que eu me refiro é à ausência de cidadania, do uso da capacidade que cada cidadão tem de intervir na vida do seu país. A partir do momento em que o cidadão renuncia a esta intervenção, o poder real escapa-lhe das mãos.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - Nos seus livros o amor sempre se realiza plenamente, ao contrário da maioria dos autores modernos. É nisto que o sr. acredita?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Sim. Se eu não acreditasse nisto povoaria meus romances de pessoas infelizes, casamentos maus. Sei que a vida toda não é um mar de rosas, sei que há quem escreva coisas contrárias ao que acredita mas, para mim, isto é impossível.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - Pessoas de 20, 18 anos. O sr. consegue entender, acompanhar, como são, hoje, as relações amorosas entre elas?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Eu tenho dificuldades em compreender exatamente. Penso que há alguma coisa, ligada a movimentos recentes, que levam a mulher para uma posição um pouco mais próxima do lar.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Folha - O sr. pede que, no Brasil, seus livros sejam editados com a mesma grafia dos editados em Portugal. Por quê?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago - Eu sou capaz de entender um livro de um autor brasileiro com sua grafia, modos e sintaxe próprios. E sei que os brasileiros também compreendem o que é escrito à maneira de Portugal. Se eu admitisse a mudança, estaria negando a identidade da língua portuguesa."</i></div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-46031947295385977332020-05-08T15:45:00.000+01:002020-05-08T15:45:09.750+01:00Pilar del Río: «Seremos libres si ejercemos nuestro poder cívico» - Publicado no LaMarea (07/05/2020)Entrevista de Olivia Carballar publicado no LaMarea em 07/05/2020 e que pode ser recuperada e consultada aqui<br />
em <a href="https://www.lamarea.com/2020/05/07/pilar-del-rio-seremos-libres-si-ejercemos-nuestro-poder-civico/">https://www.lamarea.com/2020/05/07/pilar-del-rio-seremos-libres-si-ejercemos-nuestro-poder-civico/</a><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><i>"Entrevista a la periodista y presidenta de la Fundación José Saramago </i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>sobre el concepto libertad en estos días de confinamiento."</i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<i style="text-align: justify;">"La literatura es un lugar al que siempre volvemos. Cuando empezó todo esto, corrimos a nuestras estanterías a buscar La Peste, de Albert Camus. Buscamos 1984, de George Orwell. Y buscamos, cómo no, Ensayo sobre la ceguera, de José Saramago. Quizá es buen momento también para leer, como adultos, La flor más grande del mundo, escrito por el Nobel portugués.</i><br />
<div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“Ese cuento lanza una pregunta: ¿y si los mayores tratáramos de aprender lo que venimos enseñando desde hace tanto tiempo? ¿En qué momento nos olvidamos de los valores y el respeto que nos debemos los unos a los otros? El respeto por la naturaleza, el deber de cuidado está ahí, en ese libro de una docena escasa de páginas”, reflexiona la periodista y presidenta de la Fundación José Saramago, Pilar del Río.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Antes de responder, una frase de la Carta Universal de los Deberes y Obligaciones de las Personas propuesta por el escritor: “Mientras los derechos resaltan la libertad, los deberes expresan la dignidad con la que se ejerce la libertad”. Del Río insiste: “La ciudadanía implica deberes. La Declaración de Deberes Humanos, simetría de la de Derechos, existe. Mi trabajo es difundirla como un instrumento más contra el liberticidio”.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿Qué es para usted la libertad?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Un derecho fundamental, como la igualdad y la solidaridad. Insisto: igualdad y solidaridad junto a libertad. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿Cree que en esta pandemia estamos siendo todos igual de libres –o de no libres–?</b> </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>En esta pandemia hay quien se está dando cuenta de que hay valores por encima de los intereses. Y que esforzarse, trabajar por el bien común, compensa. Para disfrutar luego más. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿Seremos menos libres cuando acabe todo esto, si es que acaba de alguna forma?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>No si seguimos ejerciendo nuestro poder cívico: el que hoy nos hace estar en casa y mañana salir a la calle en caso de que algún poder extraño y ajeno quiera conculcar derechos. La sanidad pública, por ejemplo. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿Le asusta que la seguridad se imponga a la libertad? ¿Ha sentido angustia en lo que llevamos de confinamiento?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>No me asusta que la seguridad se imponga a la libertad, simplemente no lo permitiré. ¿Cómo? Votando. Ejerciendo mi poder. No quiero Estados policiales; quiero, sí, Estados responsables que expliquen argumentando y sin sacar fantasmas para dar miedo. El confinamiento lo llevo bien porque sé que estoy contribuyendo al bien común, aparte de a mi propia salud.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿Qué papel debe ejercer el Estado en la libertad de todo ser humano? Hay mucha gente enamorada ahora mismo de Portugal…</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>El Estado debe garantizar la libertad de todos los ciudadanos ya sea en estado de emergencia o en la normalidad, así como el acceso a los bienes comunes de que los ciudadanos conscientes se han dotado y han dotado a la sociedad. De Portugal no te digo nada: desde la Revolución del 25 de Abril hasta ahora los portugueses dan ejemplos permanentemente. Otra cosa es que no los veamos. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿Nos acostumbramos a no ser libres con las políticas austericidas tras la crisis de 2008?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>No nos acostumbramos. De hecho, se salió a las calles y la política en España cambió, pero el poder económico, ese que no nos representa porque no se presenta a las elecciones, trazó un modelo de ser ciudadano, que ahora volverán a proponer: nos quieren indiferentes, resignados o con miedo. Con ciudadanos así el sistema vive más cómodo y hace más negocios.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿Nos cambiará el concepto de libertad esta pandemia o volveremos a nuestra individualidad?</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Espero que hayamos reflexionado. Y que nuestros sentimientos se asienten en las reflexiones de los intelectuales de este tiempo, esas voces morales que estamos necesitando oír.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>¿El ser humano ha sido libre alguna vez? Otro día hablamos de las mujeres…</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Seres humanos libres en sociedades que esclavizan, puede ser, sí los hay. Seres humanos libres compartiendo techo con seres humanos no libres, como las mujeres, eso no lo veo. O con los pobres. O los diferentes… En fin, la libertad, sin la igualdad, me parece algo extraño. Por eso apuesto a que la libertad, junto a la igualdad y la fraternidad son derechos, bienes, que hay que conseguir ejerciéndolos cada día. No encuentro otra."</i></div>
</div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-73282269463837656532020-05-05T16:41:00.000+01:002020-05-05T16:41:45.026+01:00Canal ART.TV "Invitation au voyage" - "Lanzarote, le nouvel amour de José Saramago à Lanzarote" (01/05/2020)<b>Pode ser visualizado e recuperado aqui</b><br />
<b>em</b> <a href="https://www.arte.tv/fr/videos/091152-090-A/invitation-au-voyage/">https://www.arte.tv/fr/videos/091152-090-A/invitation-au-voyage/</a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"Linda Lorin nous emmène à la découverte de notre patrimoine artistique, culturel et naturel. Dans ce numéro : Lanzarote, le nouvel amour de José Saramago - Au Canada, l’épopée de la morue - En Pologne, une idée contagieuse."</i></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB21qYWc0afZvzeWihwFSM2KufIbACmAB5UULOh_L9_WoHXmg_lPMOz_nQAHPBAFtD_9ZIbTn1Al86hGdWMUZ6SFLkPzaYjsaoVqtkwze_IMVrSFJUe_-NwiK7dnl8f_IlhQisnKYy_K4/s1600/95152038_530618320937727_961152550575276032_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="631" data-original-width="1295" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB21qYWc0afZvzeWihwFSM2KufIbACmAB5UULOh_L9_WoHXmg_lPMOz_nQAHPBAFtD_9ZIbTn1Al86hGdWMUZ6SFLkPzaYjsaoVqtkwze_IMVrSFJUe_-NwiK7dnl8f_IlhQisnKYy_K4/s400/95152038_530618320937727_961152550575276032_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"Lanzarote, le nouvel amour de José Saramago </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>À la fin de sa vie, l’écrivain portugais nobélisé José Saramago trouve refuge à Lanzarote, au cœur de l’archipel des Canaries, et puise dans le caractère volcanique de l’île un nouveau souffle littéraire. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Réalisation: Fabrice Michelin"</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyZodsQLyJku2nd9mZ78_uCJGWHPTPkmUDQuRl04msM6vZfjRNSewL6jy2_GSkG_9ACiXw6qNrgjerm19mB57ihJEi3YFkhz6N-WuK140xYrq6hGz9Ot-b1Kk3RgbaEqruEsOzHxgwbp0/s1600/95244396_168674327819075_501186738861899776_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="631" data-original-width="1295" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyZodsQLyJku2nd9mZ78_uCJGWHPTPkmUDQuRl04msM6vZfjRNSewL6jy2_GSkG_9ACiXw6qNrgjerm19mB57ihJEi3YFkhz6N-WuK140xYrq6hGz9Ot-b1Kk3RgbaEqruEsOzHxgwbp0/s400/95244396_168674327819075_501186738861899776_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiDaAqtkIexbTs51Ie4ER6aCdVMC5GDo5uMDWE4Pq_YyNumq-rAQIT0Z1AHcT8PrCYfQ-RP21hycUs2s7JSWb6WeUa0zWn-KSZv34vW6o3TEuI-kCpawwExAzRolCPBbWmfSP84D8paDo/s1600/95346178_526794568013975_1539502564502929408_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="631" data-original-width="1295" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiDaAqtkIexbTs51Ie4ER6aCdVMC5GDo5uMDWE4Pq_YyNumq-rAQIT0Z1AHcT8PrCYfQ-RP21hycUs2s7JSWb6WeUa0zWn-KSZv34vW6o3TEuI-kCpawwExAzRolCPBbWmfSP84D8paDo/s400/95346178_526794568013975_1539502564502929408_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFr421tPdUtfte08XHM0KRDRIXTV2LfLlL7o3WVniChBcU574zJtLpEGUGm7_35mlOn3THJwf0nbPAXAee7QIBwLrbQGgQ1HLip5mUGiFOOZGdmAUIKzHsQc-_1tfRDqoactPqcg3jFhE/s1600/95743464_634656757118512_4877422126136557568_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="631" data-original-width="1295" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFr421tPdUtfte08XHM0KRDRIXTV2LfLlL7o3WVniChBcU574zJtLpEGUGm7_35mlOn3THJwf0nbPAXAee7QIBwLrbQGgQ1HLip5mUGiFOOZGdmAUIKzHsQc-_1tfRDqoactPqcg3jFhE/s400/95743464_634656757118512_4877422126136557568_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_vGR1Y9NlAQj3Y8l0MIfKbJjTCFIn3A24w1is9EodMtGIhhwLGrlDm7g4Uu5v8zj8XVSt-W5coIQVbp_Xa5dMpyXmtfNlaicMLL7U9KljFfCJiet9VgW9qdNtTXczZDllS08zuJEDEXs/s1600/95838270_2761787710616602_6882033274718257152_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="631" data-original-width="1295" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_vGR1Y9NlAQj3Y8l0MIfKbJjTCFIn3A24w1is9EodMtGIhhwLGrlDm7g4Uu5v8zj8XVSt-W5coIQVbp_Xa5dMpyXmtfNlaicMLL7U9KljFfCJiet9VgW9qdNtTXczZDllS08zuJEDEXs/s400/95838270_2761787710616602_6882033274718257152_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-49118954121295730552020-05-05T13:22:00.000+01:002020-05-05T13:22:40.407+01:00Assinalamos o 1.º Dia Mundial da Língua Portuguesa instituído pela UNESCO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSpjO-J6yZJERCCFuLM3dC-jUcS8kGlX-LtmJZNzCIy6H9J4bsL3wIe4LuyYRt0_FbdWTfQHkUKgnZdzf_iIVoZiViUMSokvW5u0N9KdROC7-87c_-nRq4zSOH4BZmO7wyGdcZcZiwISc/s1600/95615027_1033688917031985_4412461271752900608_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="329" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSpjO-J6yZJERCCFuLM3dC-jUcS8kGlX-LtmJZNzCIy6H9J4bsL3wIe4LuyYRt0_FbdWTfQHkUKgnZdzf_iIVoZiViUMSokvW5u0N9KdROC7-87c_-nRq4zSOH4BZmO7wyGdcZcZiwISc/s640/95615027_1033688917031985_4412461271752900608_n.jpg" width="438" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
José Saramago - Prémio Nobel da Literatura 1998</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiddtBJfrJCNIMDnXC8PTtMfcQnZdo_IOwMd7RIF5stgqfCbBmZwyAhjlBBgvmO5HhDBPmMuSIeaC5kI9dkx4gDJbFfjlM3UdVM563-ziPkhwG3OavIXSvKUT7yN1tS3EML3j5oyv4-LYI/s1600/15591408_1501229093237912_48859448037930523_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="678" data-original-width="960" height="282" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiddtBJfrJCNIMDnXC8PTtMfcQnZdo_IOwMd7RIF5stgqfCbBmZwyAhjlBBgvmO5HhDBPmMuSIeaC5kI9dkx4gDJbFfjlM3UdVM563-ziPkhwG3OavIXSvKUT7yN1tS3EML3j5oyv4-LYI/s400/15591408_1501229093237912_48859448037930523_o.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>"Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura anunciou decisão nesta segunda-feira (25/11/2019) em sua sede em Paris; primeiro-ministro de Portugal, António Costa, compareceu à agência da ONU acompanhado de outros membros do governo."</b></i></div>
Aqui via UNESCO em <a href="https://news.un.org/pt/story/2019/11/1695661">https://news.un.org/pt/story/2019/11/1695661</a><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDMs9MEvLbw7971Ql4wZpzlI98E21fSoEX_uvmdQUeCF6zRyVzIF4n51ecvHCPSZJX37mc48Z0HwatTGR899k12cJ2ILyxg3RPIQ_fluRpCDnIx0-Q054D9i74iTFEJg4n1YsLtzOS5A4/s1600/image560x340cropped.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="340" data-original-width="560" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDMs9MEvLbw7971Ql4wZpzlI98E21fSoEX_uvmdQUeCF6zRyVzIF4n51ecvHCPSZJX37mc48Z0HwatTGR899k12cJ2ILyxg3RPIQ_fluRpCDnIx0-Q054D9i74iTFEJg4n1YsLtzOS5A4/s400/image560x340cropped.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>"Em 2009, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp, </b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>instituiu o 5 de maio como Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Cplp. </b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Foto: ONU News/Alexandre Soares"</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i>O português é língua oficial de nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.</i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i>É também língua oficial da Região Administrativa Especial da Macau, na China.</i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i>Segundo o Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Iilp, existem pelo menos 7 milhões de pessoas que falam português e vivem fora de seus países de origem, na diáspora.</i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i>Desde 2008, a Cplp formalizou uma estratégia de promoção da língua portuguesa chamada de “internacionalização” do idioma para aumentar o número de pessoas que falam português no mundo como língua materna, estrangeira ou de herança.</i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><i>Segundo agências de notícias, os países da Cplp esperam agora que com a decisão da Unesco de conferir um Dia Mundial ao português, aumente o interesse pelo idioma em áreas não-lusófonas, vendo crescer o poder de influência do português e dos países de língua portuguesa no cenário internacional.</i></b></div>
<br />
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-74243789635768844782020-05-04T13:25:00.000+01:002020-05-04T13:25:10.889+01:00Palácio Nacional de Mafra pela objectiva do fotografo JotaEne<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>Uma aproximação ao "Memorial do Convento" de José Saramago</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>A promessa da construção do convento de Mafra por El-Rei D. João V</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>Trabalho fotográfico de JotaEne</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSmEQ7doFAE6qXaUJ6jxV0PG2TOWQUrLbAsxX08_6eUfAvb1sI9jZuI6H1CNMjEA73EZ7nGBFvGybzdlbKanBYFtFwOirwQUXgkoGg4XeLgqBMMjw2ju4k2qsDb6LA3ptnICjqnAAprpQ/s1600/95898445_193297714978276_6348120053291941888_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="720" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSmEQ7doFAE6qXaUJ6jxV0PG2TOWQUrLbAsxX08_6eUfAvb1sI9jZuI6H1CNMjEA73EZ7nGBFvGybzdlbKanBYFtFwOirwQUXgkoGg4XeLgqBMMjw2ju4k2qsDb6LA3ptnICjqnAAprpQ/s400/95898445_193297714978276_6348120053291941888_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Fotografia de @JotaEne</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>(...) "Mas vem agora entrando D. Nuno da Cunha, que </i><i> é o bispo inquisidor, e traz consigo um franciscano </i><i>velho. Entre passar adiante e dizer o recado há vénias </i><i> complicadas, Eloreios de aproximação, pausas e recuos, que são </i><i>as </i><i>fórmulas de acesso à vizinhança do </i><i>rei, e a tudo isto teremos de dar por feito e explicado, </i><i>vista a pressa que traz o bispo e considerando o tremor </i><i>inspirado do frade. Retiram-se a uma parte D. João V e o </i><i>inquisidor, e </i><i>este diz, Aquele que além está é frei </i><i>António de S. José, a quem, falando-lhe eu sobre a </i><i>tristeza de vossa majestade por lhe não dar filhos a </i><i>rainha nossa senhora, pedi que encomendasse vossa </i><i>majestade a Deus para que lhe desse sucessão, e ele </i><i>me respondeu que vossa majestade terá filhos se quiser, e então </i><i>perguntei-lhe </i><i>que queria ele significar com </i><i>tão obscuras palavras, porquanto é sabido que filhos </i><i>quer vossa majestade ter, e ele respondeu-me, palavras </i><i>enfim muito claras, que se vossa majestade prometesse levantar um </i><i>convento na </i><i>vila de Mafra, Deus lhe </i><i>daria sucessão, e tendo declarado isto, calou-se D. Nuno </i><i>e fez um aceno ao arrábido.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Perguntou el-rei, E verdade o que acaba de dizer-me sua eminência, </i><i>que se </i><i>eu prometer levantar um</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>convento em Mafra terei filhos, e o frade respondeu, </i><i>Verdade é, senhor, porém só se o convento for franciscano, e tornou el-rei, </i><i>Como sabeis, e frei António </i><i>disse, Sei, não sei como vim a saber, eu sou apenas a </i><i>boca de que a verdade se serve para falar, a fé não tem </i><i>mais que responder, construa vossa majestade o convento e terá </i><i>brevemente </i><i>sucessão, não o construa e </i><i>Deus decidirá. Com um gesto mandou el-rei ao arrábido </i><i>que se retirasse, e depois perguntou a D. Nuno da </i><i>Cunha, É virtuoso este frade, e o bispo respondeu, Não </i><i>há outro que mais o seja na sua ordem. Então D. João, </i><i>o quinto do seu nome, assim assegurado sobre o mérito </i><i>do empenho, levantou a voz para que claramente o </i><i>ouvisse quem estava e o soubessem amanhã cidade e </i><i>reino, Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um </i><i>convento de </i><i>franciscanos na vila de Mafra se </i><i>a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar </i><i>deste dia em que estamos, e todos disseram, Deus </i><i>ouça vossa majestade, e ninguém ali sabia quem iria </i><i>ser posto à prova, se o mesmo Deus, se a virtude de </i><i>frei António, se a potência do rei, ou, finalmente, a </i><i>fertilidade dificultosa da rainha." (Páginas 13 e 14)</i> </div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-57646231268026497192020-05-02T17:38:00.002+01:002020-05-02T17:47:43.535+01:00Palácio Nacional de Mafra pela objectiva do fotografo Humberto Joaquim <div style="text-align: center;">
<b>Uma aproximação ao "Memorial do Convento" de José Saramago</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Trabalho fotográfico de Humberto Joaquim </b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyD7EohiTTPUl3A8IoYY8CZ3RfuPGKrHjFRAAABm67HAl021-jUesmCzSSZo_ZdQaW1m66TYIdD1-dTIqUPm9NIVgQLb-Q2pn9KhzlYpWoqkM0KGiVvB9AsoX-2dGOkt2W51yBw2HtxxY/s1600/95659655_1123305468033678_4983831237975080960_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1440" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyD7EohiTTPUl3A8IoYY8CZ3RfuPGKrHjFRAAABm67HAl021-jUesmCzSSZo_ZdQaW1m66TYIdD1-dTIqUPm9NIVgQLb-Q2pn9KhzlYpWoqkM0KGiVvB9AsoX-2dGOkt2W51yBw2HtxxY/s400/95659655_1123305468033678_4983831237975080960_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><i style="font-size: x-large;">(...) "Quando de longe avistam os muros brancos da basílica, não gritam, Jerusalém, Jerusalém, por isso é mentira o que disse aquele frade que pregou quando foi levada de Pêro Pinheiro a pedra a Mafra, que todos estes homens são cruzados duma nova cruzada, que cruzados são estes que tão pouco sabem da cruzadia." (...) </i>Pag. 295</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMoj9efd0zPeOWe6q_9ra_kfOjPjRjM6KjQFQxfau2XonT2vCrAfpOrpohzMpBnxZGsfQUWQejd5tAj_LdrhExdZhk56FzvZTFroOH-TEmDoMi3q6WhIaF9tV4QRdJ2PfqjGCHbbuzIRQ/s1600/95827471_929080484193270_4355803235710140416_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="957" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMoj9efd0zPeOWe6q_9ra_kfOjPjRjM6KjQFQxfau2XonT2vCrAfpOrpohzMpBnxZGsfQUWQejd5tAj_LdrhExdZhk56FzvZTFroOH-TEmDoMi3q6WhIaF9tV4QRdJ2PfqjGCHbbuzIRQ/s640/95827471_929080484193270_4355803235710140416_n.jpg" width="424" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><span style="font-size: large;"><b>(...) "Vem chovendo, mas não tanto que o trabalho tenha de parar, excepto o dos pedreiros, pois a água desfaz a argamassa, empoça nas larguíssimas paredes, por isso recolhem-se os operários aos telheiros, à espera que levante, enquanto os canteiros, que são gente fina, batem abrigados o mármore, tanto para a cantaria como para o lavrado, provavelmente prefeririam descansar. A estes tanto faz que as paredes cresçam depressa como devagar, têm o risco da pedra a seguir, caneluras, acantos, festões, acrotérios, grinaldas, estando acabada a obra logo a levam os carregadores a pau e corda, para o telheiro onde com outras ficará guardada, chegando a hora a irão buscar do mesmo modo, salvo se for tão pesada que requeira cabrestante e plano inclinado." (...) </b></span></i><b>Pag. 218</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW57uPzv4S8ZEYlNlk4AsJ6pVUurrd5YCy9JZv_xZ7SjGBtUdcjMdQiQodFubWCv2DAWQn3I_9vOLkhzODmP4eVeR6xDDVHVwmN4BwDnMbsjHkX3QzAkj6MmOww01Ab_jhNZo5o8ahdHc/s1600/96083398_252607999292673_5027050957003816960_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="957" data-original-width="1440" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW57uPzv4S8ZEYlNlk4AsJ6pVUurrd5YCy9JZv_xZ7SjGBtUdcjMdQiQodFubWCv2DAWQn3I_9vOLkhzODmP4eVeR6xDDVHVwmN4BwDnMbsjHkX3QzAkj6MmOww01Ab_jhNZo5o8ahdHc/s400/96083398_252607999292673_5027050957003816960_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><i style="font-size: x-large;">(...) "Enfim o rei bate na testa, resplandece-lhe a fronte, rodeia-a o nimbo da inspiração, E se aumentássemos para duzentos frades o convento de Mafra, quem diz duzentos, diz quinhentos, diz mil, estou que seria uma acção de não menor grandeza que a basílica que não pode haver. O arquitecto ponderou, Mil frades, quinhentos frades, é muito frade, majestade, acabávamos por ter de fazer uma igreja tão grande como a de Roma, para lá poderem caber todos, Então, quantos, Digamos trezentos, e mesmo assim já vai ser pequena para eles a basílica que desenhei e está a ser construída, com muitos vagares, se me é permitido o reparo, Sejam trezentos, não se discute mais, é esta a minha vontade, Assim se fará, dando vossa majestade as necessárias ordens." (...) </i>Pags. 281/282</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh51HrvMKvg6gQXgPSnUmL3YnFEl8mJUY3TlssvTqWHY0xOpERXIWgTBy2TtJuJoxGeoiKW8zf90B-0Eit2p95fKLdy7goiIPaTw3fnq3XmuMfypDqLcdk-D32S5M2CNTgco3-JwHe-grU/s1600/96239738_273248013833785_2405773824311164928_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="957" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh51HrvMKvg6gQXgPSnUmL3YnFEl8mJUY3TlssvTqWHY0xOpERXIWgTBy2TtJuJoxGeoiKW8zf90B-0Eit2p95fKLdy7goiIPaTw3fnq3XmuMfypDqLcdk-D32S5M2CNTgco3-JwHe-grU/s640/96239738_273248013833785_2405773824311164928_n.jpg" width="424" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><span style="font-size: large;">(...) "Estão os três voadores à proa da máquina, vão na direcção do poente, e o padre Bartolomeu Lourenço sente que a inquietação regressou e cresce, é pânico já, enfim vai ter voz é um gemido, quando o sol se puser, descerá irremediavelmente a máquina, talvez caia, talvez se despedace e todos morrerão, É Mafra, além, grita Baltasar, parece o gajeiro a bradar do cesto da gávea, Terra, nunca comparação alguma foi tão exacta, porque esta é a terra de Baltasar, reconhece-a, mesmo nunca a tendo vista do ar, quem sabe se por termos no coração uma orografia particular que, para cada um de nós, acertará com o particular lugar onde nascemos, o côncavo meu no teu convexo, no meu convexo o teu côncavo, é o mesmo que homem e mulher, mulher e homem, terra somos na terra, por isso é que Baltasar grita, É a minha terra, reconhece-a como um corpo." (...) </span>Pag. 201</b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-1701928136102495232020-05-02T12:58:00.001+01:002020-05-02T12:58:37.000+01:00"Memorial do convento, de José Saramago: a desconstrução teológica de Saramago e o fundamentalismo religioso" Por Giselle Lourenço ao "Homo Literatus" (13/08/2016)"Memorial do convento, de José Saramago: a desconstrução teológica de Saramago e o fundamentalismo religioso"<br />
<br />
Pode ser recuperado e consultado aqui<br />
aqui em <a href="https://homoliteratus.com/memorial-do-convento-de-jose-saramago-a-desconstrucao-teologica-de-saramago-e-o-fundamentalismo-religioso/">https://homoliteratus.com/memorial-do-convento-de-jose-saramago-a-desconstrucao-teologica-de-saramago-e-o-fundamentalismo-religioso/</a><br />
<br />
Homo Literatus - Por Giselle Lourenço (13/08/2016)<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh77omyYjoB6MpwsjUZtQGnqUlM66QI4LhT1uG74A_dsQ4BQiSpdSuD5KhB8-gqRlV9S7mbNLHJHqtT5IhYs8t7ZeDNdc3EHyqocI2YUTtJDEUM_fKX-kIYEtDVwnTCOq_0GAmS-19HPn4/s1600/Saramago+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="485" data-original-width="736" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh77omyYjoB6MpwsjUZtQGnqUlM66QI4LhT1uG74A_dsQ4BQiSpdSuD5KhB8-gqRlV9S7mbNLHJHqtT5IhYs8t7ZeDNdc3EHyqocI2YUTtJDEUM_fKX-kIYEtDVwnTCOq_0GAmS-19HPn4/s400/Saramago+%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Um ensaio sobre Memorial do Convento, de José Saramago</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>"O autor refaz, sob uma crítica ao fanatismo religioso e ao absolutismo monárquico, a história da construção do Palácio de Mafra, Portugal. Mais precisamente, no ano de 1711 tem início a construção do convento que abrigaria, inicialmente, um modesto número de frades franciscanos, em razão de uma promessa feita pelo Rei D. João V para que a Rainha Maria Ana Josefa conseguisse lhe dar um herdeiro. Contudo, a necessidade de um rei megalômano e com medo da morte faz com que mais de quarenta mil portugueses trabalhem para construir uma obra de proporções gigantescas, no intuito de el-rei deixar evidente a marca de sua imponência e a perenidade de sua memória.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Padre Bartolomeu Lourenço, protegido do rei, tinha novas ideias, entre elas, a construção da passarola, para realizar seu sonho de voar. Suas pesquisas voltadas para a construção da engenhoca ficavam encobertas em segredo, incluindo a cumplicidade do rei, pois ao homem, não era permitido voar, dado que isso significava uma heresia ao tentar se comparar a Deus.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Em autos-de-fé, em praça pública, o Santo Ofício executava suas vítimas do século XVIII, em geral acusados de bruxarias, feitiços ou pensamentos de afronta à religião católica. Em um desses autos, Baltasar Sete-Sóis conhece Blimunda (mais tarde chamada de Sete-Luas, pelo Padre Bartolomeu). Blimunda estava a espreitar com discrição a execução ou deportação (a história não evidencia) da própria mãe, acusada de bruxaria. Em meio ao alarido e histeria coletiva de fundo religioso, Blimunda percebe, por um tipo de comunicação com a mãe, que Baltasar era o homem com quem ela deveria viver. Assim, sob o pretexto de saber seu nome, ela o convida para ali ficar com ela.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Baltasar é um ex-soldado da guerra, em decorrência da qual lhe faltam mão e braço esquerdos. Blimunda, assim como a mãe, possuía um dom especial, do qual apenas Padre Bartolomeu sabia, e depois veio a sabê-lo também Baltasar. Em jejum, ela conseguia ver o interior dos homens e de todas as coisas, não espiritualmente ou metafisicamente, mas via a matéria escondida mesmo. Portanto, conseguia ver um tumor ou uma criança no ventre de uma mulher, por exemplo. Ao começar uma relação com Blimunda, Baltasar também se aproxima de Padre Bartolomeu e os três tornam-se amigos fortemente ligados por um segredo e vontade de realização humana: a construção da passarola. Assim, trabalham por anos, com afinco, seguindo as instruções de Padre Bartolomeu para arquitetar a máquina.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Após a conclusão do trabalho, em uma fuga inesperada do Santo Ofício, os três partem para o alto, no primeiro voo da passarola. Como o voo não saiu com toda perfeição esperada nas manobras necessárias, Padre Bartolomeu sente-se fracassado em empenhar sua vida na máquina e ainda por ter envolvido as vidas do casal Blimunda e Baltasar. Por essa razão, some no mundo, e, ao que tudo indica, comete suicídio tomado pela loucura.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Desamparados dos favores do padre, o casal passa a viver em Mafra, onde Baltasar consegue trabalho na construção do convento e de tempo em tempo, sai em misteriosas visitas para cuidar da passarola, encoberta pela mata de Monte Junto, onde caiu após a primeira tentativa fracassada de voo. Durante a narrativa da construção do convento de Mafra, são ressaltadas as diversas mortes que ocorreram em decorrência das condições de trabalho daquela gente, a hipocrisia de uma sociedade que se flagelava em público em ritos religiosos para expurgar seus pecados e o autoritarismo de um monarca que se vangloriava igualando-se a Deus, exibindo seu poder e frequentando conventos femininos em busca dos prazeres sexuais com as freiras, com quem mantinha relações, fazendo nascer vários bastardos dentro dos muros das ordens religiosas.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>O que meu olhar registra sobre a obra de Saramago?</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ao relatar o autor, sob o viés de denúncia o autoritarismo real e o fanatismo religioso (este último, principalmente), adentramos o terreno que favoreceu o recrudescimento de críticas, por parte de uma ala mais conservadora do catolicismo, perante a escrita de José Saramago. Afinal, já é de conhecimento de um grande público o teor nada ortodoxo com o qual o autor aborda temas religiosos e dogmáticos.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ateu, Saramago oferece, em Memorial do convento, uma desconstrução teológica, ou ainda, uma abordagem teológica não convencional.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ao narrar o episódio em que Blimunda, deliberadamente, sai em jejum para a igreja no intuito de olhar para a hóstia consagrada do altar e investigar o que poderia, nela, ser encontrado, o autor destaca a visão de Blimunda a respeito da mesma nuvem de vontades que encontra na maioria dos homens, ou seja, aquela nuvem escura vista por Blimunda, contida na hóstia e que denota a vontade é também o mesmo material encontrado no interior dos homens."</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>"[…] E Blimunda disse, Esperava ver Cristo crucificado, ou ressurrecto em glória, e vi uma nuvem fechada, Não penses mais no que viste, Penso, como não hei-de pensar, se o que está dentro da hóstia é o que está dentro do homem, que é a religião, afinal, falta-nos aqui o padre Bartolomeu Lourenço, talvez ele soubesse explicar-nos este mistério, Talvez não soubesse, talvez nem tudo possa ser expicado […] (SARAMAGO, 1982)."</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>"Ao evidenciar essa semelhança de vontades entre o humano e o divino, Saramago coloca frente a frente duas visões teológicas: uma mais tradicional, que trata da vontade de Deus como algo vertical, que vem como uma ordem de cima para baixo, algo que precisa ser percebido e obedecido; e uma reconstrução teológica que trata a vontade de Deus em consonância com as vontades humanas, algo que pode ser percebido e construído na horizontal, humano e divido em harmonia e semelhança. As vontades dos homens são as mesmas que as vontades de Deus porque é na realização humana que o divino se realiza, que se concretiza. Nesse ponto, convém lembrar a visão teológica de Andrés Torres Queiruga em sua obra A revelação de Deus na realização humana. Na obra, Queiruga trata a revelação como algo que necessita da cooperação do homem para que aconteça. Na apresentação do livro, está contida uma frase de Juan Luis Segundo que diz: “Deus não se revela a não ser na e para a realização dos homens e mulheres que buscam dar sentido a suas existências. ”</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Trata-se de um novo paradigma que concebe a revelação não como um ditado verbal (expressão do próprio teólogo), mas como uma percepção do ser humano sobre suas necessidades em seu processo histórico apoiada em uma escuta atenciosa para uma necessidade maior. Assim como Saramago contrasta em toda sua narrativa com sua desconstrução inusitada com a teologia clássica e seu tom solene sobre os diversos dogmas católicos, Andres Queiruga traz à baila o quanto essa solenidade e abstração afasta-se do sentido bíblico e, consequentemente, da realidade humana.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Uma personagem como Blimunda, retratada como uma mulher despojada, direta, sem pudores desnecessários, capaz de entrever a hipocrisia sustentada nas máscaras do comportamento humano e nos ritos litúrgicos excessivos e não verdadeiros, porque não em consonância com a realidade, traduz a mais inusitada desconstrução teológica do autor de Memorial do convento, que oferta ao símbolo narrativo do despojamento o poder de enxergar a essência do sagrado.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Há ainda um outro aspecto em Blimunda que convém destacar: o contraponto que essa personagem faz com a Rainha Maria Ana Josefa. Enquanto aquela é livre para lidar com a fé da maneira como sente que deve, enquanto é livre para amar e para escolher seu parceiro, enquanto é livre para pensar e para expressar seus pensamentos e aforismos, que ocupavam a reflexão até de Padre Bartolomeu Lourenço, esta estava presa em uma vida de aparências e infelicidades, ciente de que não era amada e nem desejada pelo rei, ciente das traições reais e dos bastardos que nasciam, fantasiando paixões oníricas e impondo-se, depois, a culpa, encontrando na prática da religiosidade muito mais uma maneira de conviver com a suposta culpa que ela achava que tinha do que como uma tábua de salvação para sua vida infeliz.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ampliando as possibilidades teológicas a outras personagens, o narrador (que ora é onisciente e ora adquire a perspectiva e o foco de alguma personagem isolada) traduz nos exatos termos a amizade entre Blimunda, Baltasar Sete-Sóis e Padre Bartolomeu: uma verdadeira trindade humana. Quando toca nesse ponto, também traduz os anseios de novos paradigmas teológicos quanto à trindade, que em meados do século XVIII jamais poderia ser concebida com a participação humana em sua dínamis. Padre Bartolomeu executando o papel do Pai, porque concebe a ideia inovadora e criadora da passarola, Baltasar no papel de Filho, porque acolhe o projeto do Pai e o executa com consciência plena de que deve ir até o fim do projeto (até que, por ele, morre) e Blimunda fazendo as vezes do Espírito, porque possui os dons espirituais necessários para que o trabalho se concretize.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ao longo da narrativa é possível entrever outras desconstruções para além dos dogmas já mencionados, como quando o narrador coloca em xeque o mito bíblico do Paraíso, a validade do sacramento da confissão e a existência do lado esquerdo de Deus:"</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><i>"[…] Que está a dizer, padre Bartolomeu Lourenço, onde é que se escreveu que Deus é maneta, Ninguém escreveu, não está escrito, só eu digo que Deus não tem a mão esquerda, porque é à sua direita, à sua mão direita, que se sentam os eleitos, não se fala nunca da mão esquerda de Deus, nem as Sagradas Escrituras, nem os Doutores da Igreja, à esquerda de Deus não senta ninguém, é o vazio, o nada, a ausência, portanto Deus é maneta […] (SARAMAGO, 1982)."</i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>"Evidentemente, Saramago transpõe para sua obra a visão e os questionamentos de um livre-pensador. Quer também apontar para as armadilhas dos excessos e do fanatismo religioso, que, em vez de contribuir para que a mensagem religiosa seja melhor aproveitada, apenas colabora para um processo de desumanização e de degradação civilizatória. Antes de preconceber qualquer ideia a respeito de sua literatura, tomados por fortes raízes religiosas que temos deste lado do Atlântico (assim como as possuem também o país de origem do autor), convém saber que, apenas com o livre-pensar é possível atingir certos estágios de desenvolvimento, como tem comprovado o nosso processo civilizatório. Disse Bertrand Russell em Ensaios céticos que o livre-pensar jamais será plenamente alcançado, mas que é possível, hoje, aproximar-se bem mais dele.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Podemos dizer que um pensamento é livre quando ele é exposto a uma competição liberada entre crenças, ou seja, quando todas as crenças possam se manifestar, e não haja vantagens ou desvantagens legais ou pecuniárias associadas a elas. (RUSSELL, 1920)</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ainda sobre o tom e o teor nada aveludado da escrita de Saramago, muito provável que seu conterrâneo Eça de Queiroz pudesse apreciar, já que teceu severas críticas à cultura portuguesa de sua época a respeito de uma certa falta de prática realista nas letras.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Sabemos cantar, algumas vezes protestar, jamais explicar. Eis por que não existe crítica em Portugal. Também o romance e o drama, até os últimos tempos, eram somente obras de poesia e de eloquência, algumas vezes, ensaios filosóficos, outras vezes, elegias sentimentais. A ação era concebida fora de toda verdade social e humana. (EÇA DE QUEIROZ, 1880).</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Levando em consideração que escrevo essa resenha no dia da festa de Santo Inácio de Loyola e retomando a ideia da desconstrução teológica que vai ao encontro da tese de Queiruga sobre a participação do homem na revelação, é bom ressaltar que, a despeito de muitos rumores quanto à validade do novo paradigma teológico da participação humana na revelação de Deus, foi o próprio Santo Inácio quem tratou das potências naturais humanas como primordiais para que a graça divina possa atuar – a graça pressupõe a natureza. Foi Santo Inácio quem recomendou que, ao entrar em Exercício Espiritual, o fiel o fizesse de modo a confluir nesse momento suas potências naturais humanas para que a ação de Deus pudesse ser sentida e acolhida: “[…] usa das suas potências naturais mais livremente, para buscar com diligência o que tanto deseja […]”. São essas potências: liberdade, memória, entendimento e vontade. Portanto, também para Inácio, não teria razão de ser uma religião que retirasse do homem sua capacidade racional, que junto com a memória, pudesse estabelecer uma ampliação de horizontes na vivência dessa fé e nas novas luzes teológicas que das experiências humanas pudessem resultar.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Dada esta resenha na Festa de Santo Inácio, em 31 de julho de 2016"</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>"Tomai, Senhor, e recebei</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>toda a minha liberdade, a minha memória,</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>o meu entendimento e toda a minha vontade,</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes;</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso,</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>disponde de tudo, à vossa inteira vontade.</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta.</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>(Oração de Santo Inácio)"</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>"Algumas curiosidades a respeito da obra</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Em entrevista, Saramago disse que sua escrita peculiar, sem utilizar sinais de pontuação ou parágrafos, é uma tentativa de se colocar como um falante ao escrever, sentindo-se um interlocutor da própria obra e não, propriamente, um escritor. Queria colocar-se num lugar mais comum com todos nós.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A peça Memorial do convento foi apresentada pela primeira (e única?) vez no Brasil em 2013, no complexo Feliz Lusitânia, numa parceria entre a UFPA e a Fundação José Saramago. O local escolhido justifica-se pela arquitetura que melhor reproduziria o cenário da narrativa, que está ambientada no século XVIII.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Saramago, além de explicar sua estratégia peculiar de escrita, também disse em entrevista que, ao visitar o Palácio de Mafra, contemplando sua imponência, escreveria sobre os bastidores da construção do palácio-convento. Arrependeu-se logo depois de ter dito, mas deu cabo da tarefa por ter manifestado o desejo da escrita da obra em voz alta, tendo outras pessoas como testemunha. Disse ainda que, dada a complexidade que o absorveu na construção da narrativa, não a teria feito se não fosse o comprometimento ao qual se sentiu atado quando pronunciou sua vontade em alta voz diante de outras pessoas que, certamente, o cobrariam do feito mais tarde.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A imponência arquitetônica de Mafra só pôde ser erigida graças ao ouro do Brasil. Além de enriquecer os cofres portugueses, quase todo o ouro que lá está é de origem brasileira.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>REFERÊNCIAS</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>SARAMAGO, José. Memorial do convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>RUSSELL, Bertrand. Ensaios céticos. MOTTA, Marisa (Trad.). Porto Alegre: L&PM, 2008.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>EÇA DE QUEIROZ, José Maria. O mandarim. Porto Alegre: L&PM, 2001.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>INÁCIO DE LOIOLA. Exercícios Espirituais: tradução do autógrafo espanhol. DIAS PEREIRA, SJ, Dias Vital (Trad.). BAPTISTA, SJ, F. de Sales. (Org.). Braga: Livraria A. I."</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-69686805951069120152020-05-01T12:07:00.000+01:002020-05-01T12:07:11.621+01:00Pilar del Río "O último livro de José Saramago é um abraço aos leitores” - Revista Estante da FNAC (24.09.2018)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2EWA-XVAKRmuetZ-Ohv-bQaHpXq8zlBG5qyAes1EbPMJv7Y8Ry82sfEUj7D1G8hDJ9hE5IGwJSIW14oaXM36-hV8oV3xaaldkF9a8aARPwflO1CqekwhVwzJE7jfiX-auOViSG8ieVas/s1600/Ultimo-Caderno-de-Lanzarote.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="421" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2EWA-XVAKRmuetZ-Ohv-bQaHpXq8zlBG5qyAes1EbPMJv7Y8Ry82sfEUj7D1G8hDJ9hE5IGwJSIW14oaXM36-hV8oV3xaaldkF9a8aARPwflO1CqekwhVwzJE7jfiX-auOViSG8ieVas/s400/Ultimo-Caderno-de-Lanzarote.jpg" width="266" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
"Último Caderno de Lanzarote" - Porto Editora</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i>"O livro que Pilar del Río descreve como um abraço de José Saramago </i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i>aos leitores foi escrito há precisamente 20 anos mas ficou esquecido até agora </i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i>no computador do autor português. O sexto e último volume do diário de José Saramago relata as suas experiências no ano em que conquistou o Nobel." </i>(FNAC)</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>Pilar del Río "O último livro de José Saramago é um abraço aos leitores”</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>Revista Estante da FNAC (24.09.2018) por <span style="text-align: justify;">Tiago Matos</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b>Fotografias: Bruno Colaço/4SEE</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>Pode ser recuperado e consultado aqui </b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b>em</b> <a href="http://www.revistaestante.fnac.pt/pilar-del-rio-jose-saramago-entrevista/?fbclid=IwAR2_8UIWWy_4HMtbPPRMxhC6P9ItN0DvH1RNMjsLyPZNJZJOoWSaX8QVnLI">http://www.revistaestante.fnac.pt/pilar-del-rio-jose-saramago-entrevista/?fbclid=IwAR2_8UIWWy_4HMtbPPRMxhC6P9ItN0DvH1RNMjsLyPZNJZJOoWSaX8QVnLI</a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Nasceu em Espanha e por lá se fez jornalista, mas haveria de chamar casa também a Portugal. Tudo porque um dia, depois de ler O Ano da Morte de Ricardo Reis, decidiu visitar Lisboa e acabou por se encontrar com o seu autor. O homem com quem casou. E junto de quem permaneceu até ao fim. Vinte anos após a conquista do Nobel da Literatura por parte de José Saramago, conversámos com a mulher que preside a fundação criada em seu nome. A mulher que o continua. Pilar del Río.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfk9mGvX5mEyEi1AWfwXlR97lXiPMEnyFNBQ4L-z8RfGJ-_KB1WW1rZsm2_Q2lYqFQxdTRVHqRQT1ov0L-PJRTNxZNfG6-F0hoZMiHp6UqRcRlKFVLvkwRA4IeRogM_Nna8A_EAXeCn9g/s1600/Pilar-del-R%25C3%25ADo-Bruno-Cola%25C3%25A7o-4SEE-revista-estante-fnac-7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="467" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfk9mGvX5mEyEi1AWfwXlR97lXiPMEnyFNBQ4L-z8RfGJ-_KB1WW1rZsm2_Q2lYqFQxdTRVHqRQT1ov0L-PJRTNxZNfG6-F0hoZMiHp6UqRcRlKFVLvkwRA4IeRogM_Nna8A_EAXeCn9g/s640/Pilar-del-R%25C3%25ADo-Bruno-Cola%25C3%25A7o-4SEE-revista-estante-fnac-7.jpg" width="426" /></a></div>
<br />
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>O livro que Pilar del Río descreve como um abraço de José Saramago aos leitores foi escrito há precisamente 20 anos mas ficou esquecido até agora no computador do autor português. O sexto e último volume do diário de José Saramago relata as suas experiências no ano em que conquistou o Nobel. Chega em outubro às lojas FNAC.</i></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Oito anos após a morte de José Saramago, o autor ainda se mantém presente na nossa sociedade, tanto através da literatura como das ideias que apresentava. Acha que Saramago é hoje um autor mais consensual do que quando era vivo?</b></i></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>José Saramago era, e é, um autor lido e amado em Portugal. E também fora de Portugal. Lê-lo provoca na experiência de leitura um antes e um depois, produz aquele corte de respiração que as grandes obras proporcionam. Não há porque ser consensual, os leitores são múltiplos, com gostos e educação distinta, mas o valor literário é inquestionável. Assim como o orgulho de tantos portugueses que viram como a obra cresceu, livro a livro, e hoje faz parte do que somos, pessoal e coletivamente. Enfim, um orgulho e privilégio de que fomos testemunha.</i></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Lku-HopFmXL7U1cVijVDl17Lo0kmPl4zIRpZfGEAolLCqebCaEmqIs2Vpq7uo6Qi4BuKAFXMhnPtUiOu2p9coyc9EHTpqewbpHvcegArcuGCBGLaYtg9XDSLd2otVNyRKEFcsuBKHX0/s1600/Pilar-del-R%25C3%25ADo-Bruno-Cola%25C3%25A7o-4SEE-revista-estante-fnac-12.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="1050" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Lku-HopFmXL7U1cVijVDl17Lo0kmPl4zIRpZfGEAolLCqebCaEmqIs2Vpq7uo6Qi4BuKAFXMhnPtUiOu2p9coyc9EHTpqewbpHvcegArcuGCBGLaYtg9XDSLd2otVNyRKEFcsuBKHX0/s400/Pilar-del-R%25C3%25ADo-Bruno-Cola%25C3%25A7o-4SEE-revista-estante-fnac-12.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i></i></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><i><br /></i></i></div>
<i><b>Na sua opinião, o que torna a obra e personalidade de Saramago tão marcantes?</b></i><br />
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>O estilo literário. A honestidade intelectual. A valentia pessoal. A sua potência criadora. A capacidade para criar personagens inesquecíveis. A sua força transgressora. Talvez seja necessária ainda mais perspetiva temporal para vermos a dimensão desta pessoa com quem nos cruzámos na rua, que era igual a nós e que, no entanto, tinha o dom, a extraordinária capacidade de contar o mundo. Além disso, ao contá-lo levanta-o do chão porque nos faz a todos mais lúcidos e sábios. A sua obra literária é uma constante meditação que nos enriquece.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Foi em 1986, depois de ler O Ano da Morte de Ricardo Reis, que decidiu procurar e conhecer José Saramago.</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A minha reação não foi singular: como tantos outros leitores, senti novas necessidades ao ler os seus livros. Com O Ano da Morte de Ricardo Reis soube que tinha de vir a Lisboa para incorporar esta cidade ao meu mapa pessoal. Conheço muitas pessoas que fizeram o mesmo. Insisto que a característica fundamental na obra de José Saramago é não deixar os leitores indiferentes. Depois de ler o seu livro, de uma forma ou de outra continuamos a procura dentro e fora de nós. José Saramago pedia, reclamava “leitores desassossegados”. É disso que se trata.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Será isso prova do poder que a literatura tem para mudar efetivamente a vida das pessoas?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A literatura não muda o mundo. Se assim fosse, com o tanto e de tanta qualidade que se produziu desde os gregos até hoje, o mundo seria outro. Não muda o mundo, dizia, mas a grande literatura intervém, sim, na maneira das pessoas estarem na vida. A forma de olhar e analisar o contexto e o mundo influencia, de maneira categórica, os projetos pessoais: quantas pessoas não decidiram estudar ou mudar de profissão movidas por uma leitura que fizeram de um autor? Não muda o mundo mas dá mais consciência aos leitores.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Saramago acreditava nos livros enquanto instrumento ativo de mudança?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>José Saramago repetia até à saciedade que ninguém está obrigado a ler, ainda que acrescentasse, com bom humor, que “ler é bom para a saúde”. A esta frase poderíamos acrescentar outra declaração sua: “Querem-nos amedrontados, resignados ou indiferentes.” Pois a leitura faz-nos capazes de pensar e de enfrentar os lugares-comuns com que o poder – económico, social, religioso – trata de nos adormecer. Sim, ler é bom para a saúde da sociedade e também para a pessoal.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;">"Os prémios literários são um reconhecimento e agradecem-se. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;">E, no dia seguinte, continua-se a trabalhar."</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Como vê o momento atual da literatura portuguesa?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Acho que a literatura portuguesa e em português goza de boa saúde. Tenho a certeza de que a participação de Portugal como país convidado da Feira do Livro de Guadalajara, no México, servirá muito bem para se mostrar ao mundo – e também a nós – o valor e a personalidade do que hoje se está a fazer aqui.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Escrever é algo solitário, publicar é uma aventura, estar na livraria é um ato heroico, e estas três lutas podem fazer com que percamos o valor do conjunto, uma plêiade de escritores que estão a dar sentido e personalidade ao momento em que vivemos. Poderiam dizer o mesmo de todas as partes, é possível. O que sei é que aqui é certo e magnífico.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Qual foi o último livro que leu?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>De literatura portuguesa, o último que li foi Estuário, da Lídia Jorge. Um livro absolutamente recomendável, um romance ambicioso e profundo que resume o mundo. Também li, há dias, ensaios de vários autores: Revolução, Meu Amor, de Maria Antónia Palla, O Mundo Não Vai Acabar, de Tatiana Salem Levy, e Filhos da América, de Nélida Piñon. Curioso, são todas mulheres…</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Saramago apontou um dia Gonçalo M. Tavares como um potencial futuro vencedor do Nobel da Literatura. Na sua opinião, a literatura portuguesa – ou pelo menos a lusófona – pode ter um novo Nobel nos próximos anos?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Pois é, José Saramago apontou Gonçalo M. Tavares como escritor com obra para merecer o Prémio Nobel. Também falou de Mia Couto, tão imprescindível, e de outros escritores de língua portuguesa, mas o mais importante, prémios à parte, é saber que a literatura está viva, que é feita pelos escritores e mantida por nós, leitores.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>O reconhecimento de uns e outros, escritores e leitores, é o que nos distingue e fortalece. A literatura é a memória dos países. Oxalá também nós, leitores, sejamos capazes de entender esta responsabilidade e não deixemos de estar interessados naqueles que, cada um com o seu estilo e sensibilidade, nos contam.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Foi há precisamente 20 anos que Saramago foi distinguido com o Nobel. Como é que a Pilar reagiu à notícia?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Com alegria e emoção, como tanta gente no mundo. Agora será publicado um livro (Um País Levantado em Alegria) onde Ricardo Viel, da Fundação, conta as reações que o prémio suscitou em tantos lugares e leitores. Vai ser importante que nos encontremos nessas páginas. E poderemos encontrar até nomes e apelidos, porque serão publicadas reações de notáveis e também cartas de leitores que quiseram marcar presença.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>O que mudou na vida de Saramago a partir da distinção?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A vida de José Saramago continuou a ser a que era, o que mudou foi a receção dos seus livros e das suas declarações. De repente o foco sobre si aumentou de maneira impressionante. Insisto: não a responsabilidade, que era um sentido que José Saramago possuía num grau máximo, mas a difusão do que dizia. E não por ser Prémio Nobel, mas sim por ser “esse” Prémio Nobel. Antes e depois outros autores foram galardoados sem que essa repercussão acontecesse.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Digo mais: o que é normal é ser notícia apenas por um dia e ponto final. José Saramago continua a ser um referente deste tempo e o Prémio Nobel reconheceu-o na sua declaração.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Se Saramago não tivesse sido distinguido com o Nobel acha que continuaria a ser tido atualmente como um dos expoentes da literatura portuguesa?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Os prémios não fazem as literaturas, os prémios reconhecem – ou não, se são negligentes – as que existem. Sem o Nobel, José Saramago continuaria a ser o autor de Memorial do Convento, de As Intermitências da Morte, de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Ensaio sobre a Cegueira, para citar alguns títulos. E continuaria a ser, de forma absoluta, literatura universal.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><i>"Os prémios não fazem as literaturas, os prémios </i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><i>reconhecem as que existem. </i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><i>Sem o Nobel, José Saramago continuaria a ser, de forma absoluta, literatura universal."</i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><i><br /></i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Como vê a decisão da Academia Sueca de suspender a atribuição do Nobel da Literatura por tempo indeterminado?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Às vezes é preciso tomar decisões fortes. O famoso “quanto pior, melhor”. Os académicos forçaram uma situação para que se mude o regulamento. Era preciso fazê-lo. Adotaram uma estratégia corajosa.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Qual é, para si, a importância dos prémios literários em geral?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>São um reconhecimento e agradecem-se. E, no dia seguinte, continua-se a trabalhar.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>De que forma será celebrado o 20.º aniversário da conquista do Nobel por parte da Fundação José Saramago?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>A Fundação, e aqueles que a nós se associaram, decidiu celebrar os leitores. Para isso será publicado o diário do ano do Nobel, esse original que poderemos ler 20 anos depois e que parece quase uma brincadeira de José Saramago, um gesto inesperado que entendo como um abraço. Também para os leitores aparecerá Um País Levantado em Alegria, que explica como vivemos aqueles dias.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Também haverá sessões literárias na Fundação, homenagens à língua portuguesa, uma sinfonia, as obras de teatro, programas de televisão, os diversos encontros em todo o país e fora de Portugal. Enfim, não queremos que a literatura e os leitores deixem de ser notícia desde o dia 8 de outubro, quando abre o Congresso Internacional sobre José Saramago organizado pelo Professor Carlos Reis, da Universidade de Coimbra.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>Tal como refere, em outubro chegará às livrarias um inédito de Saramago, o sexto – e aparentemente último – Caderno de Lanzarote. Como descobriu este volume esquecido?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Descobri-o no disco rígido do computador de Lanzarote. Estava ali, escondido, à espera. Não estava à procura, encontrei-o porque havia chegado a hora de partilhá-lo.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><b>O que podemos esperar?</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ali encontramo-nos com o homem prévio à notícia do Nobel, com o que era a sua vida e o que nela fazia, e o que aconteceu naqueles dias de outubro a dezembro de 1998. Manifestar-se-á, de forma rotunda, a austeridade, que era uma característica de José Saramago, a sua forma de ver o mundo naqueles dias em que, por decisão própria, viveu para os outros, sem guardar nada. Porque era o seu prémio, eram os seus livros, mas sem os leitores nada poderia ter acontecido. Este último livro de José Saramago é um abraço aos leitores.</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Por: Tiago Matos</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Fotografias: Bruno Colaço/4SEE</i></div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-91583504569973740992020-05-01T11:10:00.001+01:002020-05-01T11:10:54.540+01:00Assinalamos a data histórica do 1.º de Maio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZMnYKNplkgAcgDZR5WbVxEUr-HMdqRno2HNWs9MJcILu0MNn_tKK1TG_42KNQT5kUJ1jk_f76mIJJCOCvmlzmbXDZkwdojFY-eQL7lKYL8j4ML2ZHdpeA8wdw2jPq0kyZUGoxz8rIv7E/s1600/95218680_3421144434579692_4671868083726450688_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="468" data-original-width="720" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZMnYKNplkgAcgDZR5WbVxEUr-HMdqRno2HNWs9MJcILu0MNn_tKK1TG_42KNQT5kUJ1jk_f76mIJJCOCvmlzmbXDZkwdojFY-eQL7lKYL8j4ML2ZHdpeA8wdw2jPq0kyZUGoxz8rIv7E/s400/95218680_3421144434579692_4671868083726450688_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Fotografia no pós 25 de Abril de 1974</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
José Saramago numa intervenção e acção de esclarecimento</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCWAV7Bo058s9m_QWP18lFvlyoLxXm3pnA4qgfIDS1oZ-Goiz2ynW2fORReggfbrEv3sk2D84OaP1W6YtDq5me3PskTMBe5_rWHlbRIur1LXUvGkt9RK43MOf6h-HjLCeM5P6-_gK_6MI/s1600/95444686_3421144491246353_6059042353107173376_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="495" data-original-width="720" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCWAV7Bo058s9m_QWP18lFvlyoLxXm3pnA4qgfIDS1oZ-Goiz2ynW2fORReggfbrEv3sk2D84OaP1W6YtDq5me3PskTMBe5_rWHlbRIur1LXUvGkt9RK43MOf6h-HjLCeM5P6-_gK_6MI/s400/95444686_3421144491246353_6059042353107173376_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Cartaz do artista plástico José Santa-Bárbara alusivo ao 1.º de Maio</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-45501762470863381942020-05-01T10:42:00.000+01:002020-05-01T10:42:59.542+01:00"Intermitencias: La muerte masiva" publicado por Miguel Koleff no HoyDía Córdoba - Argentina (30/04/2020)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0SAuCZuYluVeSvUUH5S1z2xyAvamM3BX9_JJOWI7RaNqXHbCZrpHVKgMfjHvtiYEioIOAo-doncXTRR7Nii_Zxj3OhDUu3Yvi1Dz6BiRMy_5FmcyADPtuJenGMJ_dEY1RtZ7tMbhj69s/s1600/koleffpag8web.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="730" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0SAuCZuYluVeSvUUH5S1z2xyAvamM3BX9_JJOWI7RaNqXHbCZrpHVKgMfjHvtiYEioIOAo-doncXTRR7Nii_Zxj3OhDUu3Yvi1Dz6BiRMy_5FmcyADPtuJenGMJ_dEY1RtZ7tMbhj69s/s400/koleffpag8web.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<b>A crónica de Miguel Koleff pode ser consultada e recuperada aqui</b><br />
<b>em</b> <a href="https://hoydia.com.ar/cultura/68884-intermitencias-la-muerte-masiva.html">https://hoydia.com.ar/cultura/68884-intermitencias-la-muerte-masiva.html</a><br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><i>…em menos de quarenta e oito horas</i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>qual rastilho de pólvora, qual nova</i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>epidemia, alastrou a todo o país (José Saramago).</i></b></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"El coronavirus es, por cierto, muy peligroso, pero si no estuviera asociado a la muerte masiva tal vez sería más llevadero. Ese es –en realidad- el verdadero problema que trae aparejada la enfermedad; contradice la idea de que morimos en el momento justo y de que nuestra muerte es individual, nos pertenece de manera unívoca. La muerte masiva degrada «mi» muerte, al decir de Heidegger, y eso es lo imperdonable. Según Byung-Chul Han, “La muerte no supondría una violencia si fuera un final resultante de la vida, del tiempo de la vida. Solo así es posible vivir la vida desde sí misma hasta el final, morir en el momento justo. Sólo las formas temporales del final generan, contra la terrible infinitud, una duración, un tiempo pleno, lleno de significado”. (Han, El aroma del tiempo. Un ensayo filosófico sobre el arte de demorarse, 2019 [2009], p. 22).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Recuperemos dos pensamientos del extracto reproducido. Por un lado, la violencia que supone que nos arranquen la existencia cuando a la Parca se le da la gana y sin consultarnos; y por otro lado, la consideración sobre la «vida plena», esa que le daría sentido y justificaría su continuidad. Aunque los dos están imbricados, sobre el segundo mucho no podemos decir ya que depende de nuestra responsabilidad y de nuestro esfuerzo en función de las circunstancias en las que nos toca actuar y/o intervenir. Pero sobre el primero cabe detenernos un poco más. Porque trasunta violencia; y porque no respeta la singularidad de cada quién; aparece así de la nada, nos fulmina y nos reduce a un cadáver de entre los muchos que se «amontonan sin cesar», según la fórmula de Walter Benjamin en su tesis 9 de “Filosofía de la Historia”. Este punto es crucial en el contexto del Covid-19 y no podemos ignorarlo: perturba, molesta y nos pone en estado de alerta.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Quien mejor se ha referido a este tópico es, posiblemente, el escritor portugués José Saramago, que, en su novela “Las intermitencias de la muerte” nos plantea alguna reflexión sobre el asunto. Al comienzo del libro, aparece «la muerte» como personaje (escrita en minúscula) que –declarada en huelga- deja de incidir en la vida humana y desaparece de escena, para luego -después de algunos meses- retomar las tareas y ponerse al día con los fallecimientos pendientes. Acción esta que ejecuta sin piedad, y sin medir la forma en que socava el sistema administrativo, político, económico y social, abarrotado de tanta demanda.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Hagamos el esfuerzo de detenernos en esta fase que, bien podríamos llamar la de la “muerte masiva”, y pensemos como se parece a la que estamos viviendo de manera global cuando, a cada minuto, el número de óbitos se extiende considerablemente por efecto de un virus incontrolable. Los féretros de cartón de Guayaquil podrían servir de ejemplo y explicar un colapso semejante sin necesidad de ahondar en detalles escabrosos. Vayamos a la cita: “Mucho más que una hecatombe. Durante siete meses, que fueron tantos los que duró la tregua unilateral de la muerte, se fueron acumulando en una nunca vista lista de espera más de sesenta mil moribundos, para ser exactos sesenta y dos mil quinientos ochenta, que descansaron en paz por obra de un instante único, de un segundo de tiempo cargado de una potencia mortífera que exclusivamente encontraría comparación en ciertas reprobables acciones humanas. A propósito, no nos resistiremos a recordar que la muerte, por sí misma, sola, sin ninguna ayuda exterior, siempre ha matado mucho menos que el hombre (Saramago, 2005, p. 141).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Tal como se expone en el fragmento, la «potencia mortífera» se desencadena con un poder aniquilador sin precedentes. Finalmente, es su prerrogativa, lo que le corresponde ejecutar después de un período de inactividad y alcanza a aquellos que ya estaban marcados. A diferencia del coronavirus, que prolonga la agonía en una curva cada vez más creciente, la «hecatombe» de Saramago afecta un solo país y se produce en una fecha concreta. Fuera de ello no hay diferencias. El ser humano desaparece como si fuera una mosca y las condiciones productivas se alteran radicalmente.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Si a la medicina le importan los vivos; a la política, la funcionalidad del sistema; y a la seguridad, el cumplimiento de las obligaciones dispuestas por el Estado; a la filosofía y a la literatura lo que le preocupa es conocer la razón de esa metamorfosis que nos hace devenir en cifra a expensas de un proyecto de vida. O, dicho de otra forma: cuál es el sentido de nuestro paso por este mundo si es tan fácil borrarnos de un plumazo. A Saramago eso no se le escapa y avanzadas algunas páginas, jaquea a la propia muerte con el amor humano que nunca pudo entender haciéndola actuar de manera más amable y generosa. Para el autor, queda claro, el modo de vivir se estrecha al modo de morir.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Algunos pensadores de la actualidad, al analizar el efecto devastador de esta pandemia, profetizan el fin del capitalismo, considerando que este sistema económico y social ha invertido las prioridades y nos ha alejado significativamente de aquello que nos constituye como especie. No podemos saber a ciencia cierta si el pronóstico es acertado o no, pero lo que sí podemos chequear –y sobra evidencia- es que para cuidarnos del virus debemos potenciar lo que este orden mundial ha querido siempre de nosotros: que seamos individualistas, que estemos solos, que mantengamos la distancia, que temamos los contactos próximos y que abandonemos la emoción y el sentimiento que comunican los besos y abrazos que antes creíamos imprescindibles. Han señala que «la revuelta contra la muerte, la hipertrofia del yo y la ciega negación de lo distinto se condicionan y refuerzan mutuamente» (Han, Muerte y alteridad, 2018 [2012, p. 10). En las medidas adoptadas para protegernos se construye este perfil, lo vemos a diario, lo que no deja de ser curioso porque va a contrapelo de lo que esta muerte, igualadora y colectiva, quiere enseñarnos. Ella avasalla las clases sociales, neutraliza las diferencias articuladas por las mañas del poder y nos hace parte de una misma comunidad de víctimas, incluso a pesar de nosotros mismos.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>La novela de Saramago comienza y termina igual: «Al día siguiente no murió nadie» (Saramago, 2005, p. 274). La frase coincide pero las circunstancias no. Al final del libro, aquello que era la predicción del horror que empezaba a instalarse, se transforma en la promesa de algo distinto: un futuro que puede llegar a escribirse con mayúscula y que dependerá de los sobrevivientes.</b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Fuentes consultadas</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Han, B.-C. (2018 [2012). Muerte y alteridad. Buenos Aires: Herder.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Han, B.-C. (2019 [2009]). El aroma del tiempo. Un ensayo filosófico sobre el arte de demorarse. (P. Kuffer, Trad.) Buenos Aires: Herder.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago, J. (2005). As intermitências da morte. Lisboa: Caminho. Traducción al español de Alfaguara."</i></div>
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-75339819422226376752020-04-30T10:20:00.000+01:002020-04-30T10:20:31.306+01:00The James Joyce Pub em Madrid<div style="text-align: center;">
Quem visita o The James Joyce Pub em Madrid </div>
<div style="text-align: center;">
encontra-se também com grandes criadores. </div>
<div style="text-align: center;">
Um deles, José Saramago.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<a href="https://www.jamesjoycemadrid.com/">https://www.jamesjoycemadrid.com/</a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikrxoUQb6KLp5X5EEbIR3MC6Hin42Y3bPisBnZgJF8XAXTKk5OB14uWn7lXzv6O9o7MUN-9sByl_RatxSqD0DBgcXBJ6zazgpITs95_s0tHsjZZ83sXaiAUsEJOMIZFQp6TtfjSqXQZdc/s1600/95358348_1095944424108751_3597911623030800384_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="720" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikrxoUQb6KLp5X5EEbIR3MC6Hin42Y3bPisBnZgJF8XAXTKk5OB14uWn7lXzv6O9o7MUN-9sByl_RatxSqD0DBgcXBJ6zazgpITs95_s0tHsjZZ83sXaiAUsEJOMIZFQp6TtfjSqXQZdc/s640/95358348_1095944424108751_3597911623030800384_n.jpg" width="360" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh42W-scWB-XfKVXgYfRXHkgk1vqMkNIM0xLK2wMU2DDDC0ZO35EibuIQ0O0GY4CGDb8GN5psr-HgKPVGFacBsFq5vIWJC2EFhtK0xTf1g9YU4xQeGuPWsz8ltzbmDxxFc6XXA_UsskckA/s1600/drinks-at-the-james-joyce-madrid.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh42W-scWB-XfKVXgYfRXHkgk1vqMkNIM0xLK2wMU2DDDC0ZO35EibuIQ0O0GY4CGDb8GN5psr-HgKPVGFacBsFq5vIWJC2EFhtK0xTf1g9YU4xQeGuPWsz8ltzbmDxxFc6XXA_UsskckA/s400/drinks-at-the-james-joyce-madrid.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-6624787025271066852020-04-28T17:04:00.000+01:002020-04-28T17:04:57.894+01:00"Não tenho esse sentido do artista torturado. Para mim escrever é um trabalho" - O Mirante (15/08/1992)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtMklN0V5160u53EvcYeB5P1Oda1v61c7cvtr0EqsRhZyZ2jU7CNIyPdVu6nOc2mNr_9VNYEBQqGJY3BelTrRg0WT0NG7TyW3Oh83Tqx54B-f3Z2H5KkKnH2sd5cgbSJ6AzaoA2gMZHv8/s1600/95142452_240901767151721_8531481435721170944_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="720" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtMklN0V5160u53EvcYeB5P1Oda1v61c7cvtr0EqsRhZyZ2jU7CNIyPdVu6nOc2mNr_9VNYEBQqGJY3BelTrRg0WT0NG7TyW3Oh83Tqx54B-f3Z2H5KkKnH2sd5cgbSJ6AzaoA2gMZHv8/s400/95142452_240901767151721_8531481435721170944_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<i>"Reportagem de Joaquim António Emídio e Alberto Bastos</i><br />
<i>Texto publicado na edição de O MIRANTE de 15 de Agosto de 1992"</i><br />
<b>Pode ser recuperado e consultado aqui</b><br />
<b>em</b> <a href="https://omirante.pt/textos-que-fizeram-historia/2020-03-12-Nao-tenho-esse-sentido-do-artista-torturado.-Para-mim-escrever-e-um-trabalho">https://omirante.pt/textos-que-fizeram-historia/2020-03-12-Nao-tenho-esse-sentido-do-artista-torturado.-Para-mim-escrever-e-um-trabalho</a><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>"José Saramago esteve na Golegã a conversar com os leitores do seu concelho.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Cada acto cometido à nossa volta, quer pelos nossos parentes, quer pelos nossos amigos, quer pelos nossos inimigos, influi de maneira decisiva na nossa vida. Os livros que eu escrevi, existem por esta razão muito simples: porque o meu pai foi para Lisboa quando eu tinha três anos. Se não fosse assim eu, provavelmente, tinha ido para a loja do senhor Vieira vender açúcar ou para a loja defronte vender chitas e riscados. Era agora o José Saramago da Azinhaga, digno cidadão, mas não existiam os livros que escrevi.".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>José Saramago, esteve na segunda-feira, 10 de Agosto de 1992, nas piscinas da Golegã e falou de si e dos seus livros. Natural de Azinhaga, freguesia daquele concelho, o autor de "O Evangelho segundo Jesus Cristo", foi o principal convidado do FTM - Encontros de Arte Contemporânea.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Falou durante mais de duas horas para perto de uma centena de pessoas. Respondeu a perguntas, contou histórias e irritou-se por duas vezes com observações, a despropósito, de um espectador. Chamam-lhe vaidoso e escritor de livros chatos. A conversa começou por aí. Sobre a pluralidade que existe em cada um de nós. Sobre quem é o José Saramago. O autor visto pelos outros e o autor visto por ele próprio.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Cada um de nós, fisicamente, é apenas um, mas contudo, se olharmos para dentro de nós, encontramos várias pessoas e o grande esforço que fazemos ao longo da vida é para que os outros nos vejam como um só. É o esforço para controlarmos a nossa pluralidade.".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Faz uma pausa, reflecte, e retoma a resposta. "Eu tenho uma péssima reputação neste país. Não porque tenha roubado ou assassinado, mas sou tido como uma pessoa antipática, presunçosa, complicada, orgulhosa. Aqueles que me querem mesmo mal, até dizem que eu sou muito vaidoso. O que eu posso dizer de mim é que, pelo menos, sou uma pessoa bastante coerente. Quase me apetece dizer que eu sou de uma coerência total. Não renego nada do que fiz.".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Saramago foi minucioso nas respostas, como é minucioso nos livros. Nunca se importou de se alongar até sentir que todos tinham compreendido exactamente o que ele tinha para dizer. Deu conselhos sobre leituras, confessou que está a ler George Steiner e o último livro de contos do Gabriel Garcia Marques e lembrou e citou outros escritores: Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Gil Vicente, Alexandre O'Neil.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"O Alexandre O'Neil dizia, com muita graça e com muita inteligência, dirigindo-se aos autores, aos escritores: "Não contem a vidinha. A vidinha não tem importância nenhuma". Eu trato de ir procurar os meus temas, não na minha própria vida pessoal, mas na visão que eu tenho do mundo, da sociedade, do homem, da história e da cultura. É aí que procuro os meus temas.".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Numa conversa com José Saramago era quase inevitável falar do livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" e da polémica que causou (em Abril de 1992, o subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, vetou o livro para o Prémio Literário Europeu). Saramago reconheceu que a Igreja portuguesa foi bastante discreta relativamente ao assunto e considerou que a atitude de Sousa Lara, o seu censor, foi uma atitude a nível puramente pessoal.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Sobre o livro disse ser fundamentalmente um livro sobre a culpa. "A culpa do pai de Jesus, José, que tendo sabido, conforme se conta nos evangelhos, pela visita de um anjo, que Herodes ia mandar matar os meninos de Belém, não fez aquilo que era natural, que era bater à porta dos vizinhos e dizer-lhes para porem os filhos a salvo.".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Com a noite a arrefecer, arrefeceu também a conversa. Apesar disso o escritor ainda respondeu a algumas outras questões sobre a maneira como escreve, para quem escreve e qual a relação entre escritor e leitores. "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" foi o único livro em que Saramago contrariou o seu hábito de escrever apenas de tarde. A meio do livro teve um problema numa vista, estava em Roma e esteve em risco de cegar. Depois recuperou. Recuperou da vista e da escrita que praticou em ritmo intensivo. De resto, confessa, não dramatiza no acto de escrever.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Não tenho esse sentido do artista torturado. Escrever é uma coisa que eu faço, da parte da tarde, sem romantismo nenhum. Para mim escrever é um trabalho. Um trabalho com a matéria. Um trabalho com a palavra. Não estou à espera que o Espírito Santo me venha segredar ao ouvido como é que eu vou escrever.".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Acrescenta que também não pensa nos eventuais leitores. "Também não escrevo para ninguém. A ideia de que o escritor tem em mente um público, é uma ideia que eu considero absurda. Não há um público para o autor. O que se estabelece depois entre o escritor e os leitores é o afecto. Afecto no sentido de que para o leitor, aquele autor é necessário. A grande tarefa do leitor não está em perceber a história que está a ser contada, mas reconhecer que em cada livro vem uma pessoa, que é o autor, que é preciso conhecer.".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Reportagem de Joaquim António Emídio e Alberto Bastos</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Texto publicado na edição de O MIRANTE de 15 de Agosto de 1992"</i></div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-45451074776485991542020-04-25T12:08:00.003+01:002020-04-25T12:08:58.952+01:00"A Noite" - Peça de teatro, 1979<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEOg_51ktjuD2_l9hHaNOOvye5SvXKfFuDyk6ERoYveEb8-Uz3gEu8m27GutjcqFFE2cRJnpuKtxONsv990BqBxpZHResMr7jwKYvFQ-qmgKcsiFHaZWZ5BAyQ8tFtWswBtKUzbD2Ir74/s1600/94784301_570029070300624_7419083415703519232_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<div class="separator" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;">"A Noite" - Peça de teatro, 1979</span></div>
<div class="separator" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<img border="0" data-original-height="720" data-original-width="400" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEOg_51ktjuD2_l9hHaNOOvye5SvXKfFuDyk6ERoYveEb8-Uz3gEu8m27GutjcqFFE2cRJnpuKtxONsv990BqBxpZHResMr7jwKYvFQ-qmgKcsiFHaZWZ5BAyQ8tFtWswBtKUzbD2Ir74/s640/94784301_570029070300624_7419083415703519232_n.jpg" width="353" /><br />
<div class="separator" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbxdcW1XRAgIKfydv0sjJZlu7eRW6nZEBpYKukKD5qDYWINvEhHM4RXNwJb6RscxMAVe_SbiKVjkknA2VBqhVHSGspvbwvAaOUlnzzQKTh3zUNb0YJmE_Hgt-66aqWcE-ITkv_bhgO9Z8/s1600/95137517_3564573676891481_2725003277245612032_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; display: inline !important; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="400" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbxdcW1XRAgIKfydv0sjJZlu7eRW6nZEBpYKukKD5qDYWINvEhHM4RXNwJb6RscxMAVe_SbiKVjkknA2VBqhVHSGspvbwvAaOUlnzzQKTh3zUNb0YJmE_Hgt-66aqWcE-ITkv_bhgO9Z8/s640/95137517_3564573676891481_2725003277245612032_n.jpg" width="353" /></a><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Sinopse que pode ser consultada e recuperada na página da Fundação José Saramago</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://www.josesaramago.org/a-noite-1979/">https://www.josesaramago.org/a-noite-1979/</a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx__T7OnV-jg92lzfANJ0goQJYleHOY8HJQnhc_8UdPTzTLg8KXnmcF9R1ftkFjv4GoSWfolsF5JTtXSUJiA-7J3b6m7ZHJeW-YfKmkrWR_4aBqENaWKGtFGw0clClM76e9vuSXKrYMto/s1600/94626629_613322206063570_735655531900829696_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="720" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx__T7OnV-jg92lzfANJ0goQJYleHOY8HJQnhc_8UdPTzTLg8KXnmcF9R1ftkFjv4GoSWfolsF5JTtXSUJiA-7J3b6m7ZHJeW-YfKmkrWR_4aBqENaWKGtFGw0clClM76e9vuSXKrYMto/s400/94626629_613322206063570_735655531900829696_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-size: large;">«Depois de ter feito jornais, escreveu sobre eles. Foi em “A Noite”, a primeira obra dramática de Saramago que o escritor dedica a Luzia Maria Martins, a pessoa que o “achou capaz de escrever uma peça”. Seria mesmo. A noite de que se fala nesta peça ficou para a história: de 24 para 25 de Abril. A acção passa-se na redacção de um jornal em Lisboa e autor avisa: “Qualquer semelhança com personagens da vida real e seus ditos e feitos é pura coincidência. Evidentemente.” Nem outra coisa seria de esperar. A ironia passa também pela história desta noite em que administradores e redactores entram em conflito. Uns a gritar que a máquina “há-de parar” e outros a defender que ela “há-de andar”. Quando o escreveu, Saramago já sabia que, para o bem e para o mal, a máquina tinha continuado a andar. “A Noite” chegou aos palcos em Maio de 1979 pelo Grupo de Teatro de Campolide. Com encenação de Joaquim Benite e direcção musical de Carlos Paredes, a peça contava, entre outros, com a participação de António Assunção no papel do chefe de redacção Abílio Valadares.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)</span></i></div>
Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5302519577558501493.post-78084895218942349012020-04-25T12:02:00.001+01:002020-04-25T12:02:32.069+01:0025 de Abril - Continuar Abril - Continuar Saramago<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbKJMFLpLnxawjeG1HCkHAQJWQGQUvBK9Xr0-3C570ndOlWPRlFZpZqQ4vd31L1sw6k9XC4Fi2R6XTUJy8xj-DZoXNoL9A4O_KCJZAwonpOQ0x7dHVKfEIIcNTa4ZQroWCpUW7AbhL1VI/s1600/30425271_2040313995996083_5008610330475322533_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbKJMFLpLnxawjeG1HCkHAQJWQGQUvBK9Xr0-3C570ndOlWPRlFZpZqQ4vd31L1sw6k9XC4Fi2R6XTUJy8xj-DZoXNoL9A4O_KCJZAwonpOQ0x7dHVKfEIIcNTa4ZQroWCpUW7AbhL1VI/s400/30425271_2040313995996083_5008610330475322533_o.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Três obras emblemáticas de José Saramago </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
onde o despontar e a presença do 25 de Abril de 1974 marca presença de forma muito vincada. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
O senhor "H" do manual, </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
a redacção e as rotativas de A Noite </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
os Mau-Tempo no Lavre que resistem à ditadura da fome</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
25 de Abril de '74</div>
<br />Saramago Apontamentoshttp://www.blogger.com/profile/13608129906714511002noreply@blogger.com0