quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Presidenta, a Fundação... Pilar del Río unificadora

"Presidenta"


"Este texto cerra meio ano de trabalho. Outros trabalhos e anos sucederão a estes se os fados assim quiserem. Hoje, por coincidência dia do seu aniversário, o meu tema é Pilar. Nada de surpreendente para quem quiser recordar o que sobre ela tenho dito e escrito em já quase um quarto de século que levamos juntos. Desta vez, porém, quero deixar constância, e supremamente o quero, do que ela significa para mim, não tanto por ser a mulher a quem amo (porque isso são contas do nosso rosário privado), mas porque graças à sua inteligência, à sua capacidade criativa, à sua sensibilidade, e também à sua tenacidade, a vida deste escritor pôde ter sido, mais do que a de um autor de razoável êxito, a de uma contínua ascensão humana. Faltava, mas isso não podia imaginá-lo eu, a idealização e a concretização de algo que ultrapassasse a esfera da actividade profissional ou que dela pudesse apresentar-se como seu prolongamento natural. Foi assim que nasceu a Fundação, obra em tudo e por tudo obra de Pilar e cujo futuro não é concebível, aos meus olhos, sem a sua presença, sem a sua acção, sem o seu génio particular. Deixo nas suas mãos o destino da obra que criou, o seu progresso, o seu desenvolvimento. Ninguém o mereceria mais, nem sequer de longe. A Fundação é um espelho em que nos contemplamos os dois, mas a mão que o sustém, a mão firme que o sustém, é a de Pilar. A ela me confio como a qualquer outra pessoa não seria capaz. Quase me apetece dizer: este é o meu testamento. Não nos assustemos, porém, não vou morrer, a Presidenta não mo permitiria. Já lhe devi a vida uma vez, agora é a vida da Fundação que ela deverá proteger e defender. Contra tudo e contra todos. Sem piedade, se necessário for."

Aqui link, via Caderno, em http://caderno.josesaramago.org/31612.html

José Saramago... visão sobre diversos conceitos


... tenho muitas razões para achar que tomámos o caminho errado ...

Aqui, link via Youtube, em https://www.youtube.com/watch?v=EyOcrtCwekM

Citador #16 ... não seremos todos descartáveis... em "A Caverna"

Citador #16
... não seremos todos descartáveis... em "A Caverna"



(...) Depois, falando lentamente, como se tivesse de arrastar atrás de si cada palavra, disse, Desculpa-me, não queria ofender-te, não queria ser desagradável contigo, às vezes não o posso evitar, parece ser mais forte do que eu, e não vale a pena que me perguntes porquê, não te responderia, ou dir-te-ia mentiras, mas há razões, se as procurarmos encontramo-las sempre, razões para explicar qualquer coisa nunca faltaram, mesmo não sendo as certas, são os tempos que mudam, são os velhos que em cada hora envelhecem um dia, é o trabalho que deixou de ser o que havia sido, e nós que só podemos ser o que fomos, de repente percebemos que já não somos necessários no mundo, se é que alguma vez o tínhamos sido antes, mas acreditar que o éramos parecia bastante, parecia suficiente, e era de certa maneira eterno pelo tempo que a vida durasse, que é isso a eternidade, nada mais do que isso." (...)

em, "A Caverna"
Caminho, 2000
Páginas 106 e 107

Palavras de Cipriano Algor, para Marçal Gacho, seu genro. 
Um acabado de descer à terra, outro com o sonho de subir ao topo do centro.