sábado, 28 de novembro de 2015

A serenidade de Saramago (Cadernos de Lanzarote Diário I) - Entrada de dia 24 de Julho de 1993



«O prazer profundo, inefável, que é andar por estes campos desertos e varridos pela ventania, subir uma encosta difícil e olhar lá de cima  a paisagem negra, escalvada, despir a camisa para sentir directamente na pela a agitação furiosa do ar, e depois compreender que não se pode fazer mais nada, as ervas secas, rente ao chão, estremecem, as nuvens roçam por um instante os cumes dos montes e afastam-se em direcção ao mar, e o espírito entra numa espécie de transe, cresce, dilata-se, não tarda que estale felicidade. Que mais resta, então, senão chorar?»

in, "Cadernos de Lanzarote - Diário I"
Caminho, 1994, página 85

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