sábado, 6 de fevereiro de 2016

"O Leitor volta sempre" - Texto dedicado ao grupo da “Comunidade de Leitores Ler Saramago”

"O Viajante volta já.
Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já." 
(Caminho, 11.ª edição, página 387)

Texto dedicado ao grupo da “Comunidade de Leitores Ler Saramago”
O “Leitor” volta sempre.

O “Leitor” tem de voltar sempre. A leitura nunca pode acabar. Os leitores sim, esses acabam, e mesmo assim serão recordados por outros aquém dedicaram as suas leituras.

Quando o “Leitor” se sentou na sua poltrona, e disse em murmúrio de lábios semicerrados: «Que deverei ler mais se já li tudo!?», bem sabia que não era assim. O fim de uma leitura é somente o início de outra.

Poderemos já ter lido uma montanha de livros, mas será sempre uma ínfima parte de um todo incalculável. É preciso ler o que já foi lido, ler uma e outra vez. Ler agora o que se leu ontem, ler de dia o que se leu de noite, ler em casa e depois na rua, na praia ou no campo, debaixo de uma árvore ou num banco de jardim. Ler num lado e mudar para outro.

É preciso ler e voltar aos parágrafos lidos à pressa e que mal entendemos, ver as anotações e procurar as palavras estranhas, ou digamos, mais complicadas.

 É preciso voltar aos livros já lidos há muito tempo, repeti-los e cumprimentar de novo as suas personagens. Sim, cumprimentar, eles são gente dentro de livros como dizia José Saramago.

É preciso recomeçar a leitura. Sempre. O “Leitor” volta sempre.

Lido por Ódin Santos

Este texto é baseado no último parágrafo do livro “Viagem a Portugal” (página 387), onde José Saramago escreveu “O Viajante volta já” (06/02/2016)

"A Maior Flor e Outras Histórias Segundo José" pela companhia Teatro Art'Imagem

Informação da exibição, hoje no Cine-Teatro Garrett - Póvoa de Varzim (06/02/2016), via Rádio Ondaviva, aqui
"Este sábado à noite, há teatro para ver no Cine-Teatro Garrett Póvoa de Varzim e logo uma peça baseada numa obra José Saramago, mais propriamente o texto “A maior flor do Mundo”. Em bom rigor, o trabalho da Companhia Teatro Art’Imagem inclui outros escritos do prémio Nobel que permitem, refere a promoção do espetáculo, conhecer a humanidade que o escritor deixou como legado para a “procura de um mundo diferente, melhor”. A peça tem a encenação de José Leitão, a interpretação de Daniela Pêgo e Flávio Hamilton e o valor das entradas oscila entre os três euros e meio e os sete euros. O pano sobe às 10 da noite."

Pode ser visualizado aqui, via YouTube

"Vídeo de promoção do espectáculo 
"A Maior Flor do Mundo e Outras Histórias Segundo José",
baseado na obra de José Saramago, com dramaturgia e encenação de José Leitão
e interpretação de Daniela Pêgo e Pedro Carvalho."