terça-feira, 22 de março de 2016

Trabalhos do campo e dos camponeses mencionados em "Levantado do Chão" e a alusão ao "Cante Alentejano"

Interpretação do Cante Alentejano e sons descritos nos trabalhos dos camponeses em "Levantado do Chão", exibidos na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, 
local iconográfico base para a construção do "Memorial do Convento".

Aqui a representação e união simbólica das duas obras

Vídeo pode ser assistido, via Youtube, aqui

(...) Que os trabalhos de homem são muitos. Já ficaram tidos alguns e outros agora se acrescentam para ilustra-ao geral, que as pessoas da cidade cuidam, em sua ignorância, que tudo é semear e colher, pois muito enganadas vivem se não aprenderem a dizer as palavras todas e a entender o que elas são, ceifar, carregar molhos, gadanhar, debulhar à máquina ou a sangue, malhar o centeio, tapar palheiro, enfardar a palha ou o feno, malhar o milho, desmontar, espalhar o adubo, menear cereais, lavrar, cortar, arrotear, cavar o milho, tapar as craveiras, podar, argolar, rabocar, escavar, montear, abrir as covatas para estrume ou bacelo, abrir valas, enxertar as vinhas, tapar a enxertia, sulfatar, carregar as uvas, trabalhar nas adegas, trabalhar nas hortas, cavar a terra para os legumes, varejar a azeitona, trabalhar nos lagares de azeite, tirar cortiça, tosquiar o gado, trabalhar em poços, trabalhar em brocas e barrancos, chacotar a lenha, rechegar, enfornar, terrear, empoar e ensacar, o que aqui vai, santo Deus, de palavras, tão bonitas, tão de enriquecer os léxicos, bem-aventurados os que trabalham, e que faria então se nos puséssemos a explicar como se faz cada trabalho e em que época, os instrumentos, os apeiros, e se é obra para homem ou para mulher e porquê. (...)

in, "Levantado do Chão"
Caminho, páginas 89 e 90 

Osvaldo Quiroga entrevista José Saramago in, "El Cronista" - Buenos Aires, Argentina (11/09/1998)

"Enquanto falamos aqui, há milhares de milhões de pessoas que estão morrendo de fome. 
Como podemos aceitar que o homem não seja um ser solidário, 
que não pense mais na espécie e tenha se convertido num monstro de egoísmo e ambição 
que despreza milhares de pessoas que não têm nada? 
Não se faz nada para resolver problemas essenciais. 
Para milhões de pessoas no mundo, 
nenhum dos problemas essenciais da vida está resolvido, 
enquanto nos divertimos enviando um aparelhinho a Marte…"

Osvaldo Quiroga entrevista José Saramago
in, "El Cronista" - Buenos Aires, Argentina (11/09/1998)