domingo, 5 de janeiro de 2020

5 de Janeiro de 1995 - "Cadernos de Lanzarote III"

(...) "Quanto ao domínio norte-americano, creio ser ele uma invencível fatalidade: conhecemos-lhe as causas, não lhe ignoramos as intenções, e nada disso foi suficiente para que soubéssemos resistir aos metódicos processos de compressão e laminação cultural de que estamos a ser objecto, com as nossas culturas históricas a perderem rapidamente espessura vital e a coesão. Numa Europa incapaz de questionar-se a si própria, a postura hoje mais comum é a de uma resignação que tocou o fundo.
Escusado será dizer que nenhum estado de espírito poderia convir melhor a um projecto imperial alemão que deixou de dar-se ao trabalho de se disfarçar: ainda o jogo ia no princípio, e já o tínhamos perdido..."

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5 de Janeiro de 1994 - "Cadernos de Lanzarote II"

"De Niterói escreve-me Katia da Matta Pinheiro, que está preparando a sua dissertação de mestrado em História na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Diz-me que escolheu para objecto de pesquisa o Memorial do Convento, desenvolvendo a hipótese, palavras suas, de que o romance encerra possibilidades como obra historiográfica. (...) Katia faz-me perguntas a que irei responder o melhor que possa.
Os professores têm razão, o autor do Memorial não escreveu um livro de história e não tem nada a certeza de que a sociedade portuguesa do tempo fosse, realmente, como a retratou, embora, até ao dia em que estamos, sempre foi ponto de honra nosso sermos menos que os adversários." (...)

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