segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

6 de Janeiro de 1997 - "Cadernos de Lanzarote V"

"Tenho trabalhado com disciplina e louvável pontualidade em Todos os Nomes. Hoje decidi fazer uma pausa na obrigação de passar a estes Cadernos, como diários de bordo que também têm sido, alguns apontamentos, uns anteriores a 24 de Outubro do ano passado, que foi quando comecei a escrever o livro, outros do próprio dia em que lancei ao papel o princípio do romance.
Eis as primeiras  notas:
1. «Dando tempo às coisas, as coisas, em geral, resolvem-se. Em Amherst vi a história de que precisava para Todos os Nomes. (...)
 «Na repartição, ao ler, uma vez mais, o registo da pessoa, encontra um averbamento feito quinze dias antes por um colega: o registo do falecimento da mulher." (...) 
2.«Outra vez a questão dos nomes. À primeira vista, por contraste com o Ensaio, onde nenhuma personagem tem nome, aqui, com este título, parece que deveriam aparecer todos os nomes, que deveria haver mesmo a preocupação de fazê-los sobressair, de jogar com eles. Simplesmente, isso repugna-me. O nome das pessoas é demasiado intrigante para ser banalizado.» (...)
Eis outros apontamento: (...)

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Capa da recente edição da Porto Editora


6 de Janeiro de 1995 - "Cadernos de Lanzarote III"

"A sugestão que fiz em Lisboa, de que o Prémio Stendhal, para melhor justificar o nome que tem, passasse a interessar-se também pelas questões culturais (...) Do que se vai tratar, informa-me agora Dorio Mutti, presidente da Fundação Adelphi, organizadora do Prémio Stendhal, é de analisar os projectos culturais (...) já em curso na Europa, após o que serão propostos ao júri três ou quatro finalistas. É alguma coisa, mas não alcança os objectivos da sugestão que apresentei: trazer ao conhecimento e ao debato públicos os problemas culturais resultantes da integração europeia."

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6 de Janeiro de 1994 - "Cadernos de Lanzarote II"

"Pela segunda vez o impossível aconteceu. (...) Se chega a acontecer terceira, não sei o que sucederá à velha ordem do mundo. Foi o caso que na revista Cambio 16 desta semana apareceu um artigo assinado por Mário Ventura, desses que é costume escreverem-se por esta época sobre os desejos e votos para o ano que entra. Ou já entrou. Em dado passo pergunta-se o articulista se será este ano de 1994 que a literatura portuguesa se verá contemplada com o Nobel, o que, evidentemente, não é novidade (refiro-me à pergunta), porque todos os anos alguém aparece a fazê-la, sem resultado que se veja. O insólito da história consiste em apresentar-se o artigo ilustrado com uma fotografia minha, ainda por cima adornada com uma legenda que me associa ao suspiradíssimo prémio. (...) José Manuel Mendes, que aqui veio para fazer-me uma entrevista, diz que o sucedido prova a existência de Deus. Para o articulista, provará com certeza a existência do Diabo..." 

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Fotografia de José Manuel Mendes tirada por ocasião 
do 4.º aniversário da Fundação José Saramago