Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos
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quinta-feira, 10 de março de 2016

José Saramago e o seu "Camões"


“Entra, chegaste à tua casa”: assim entrou Camões na vida de José Saramago. 
No momento em que Manuel Maria Carrilho, ministro da Cultura de Portugal, anunciava a José Saramago que lhe tinha sido concedido o maior galardão literário da língua portuguesa" (...)
(...) "O animal entrou pela porta aberta do jardim, mexendo sem jeito as pernas, um pouco desajeitado, feliz por ninguém o maltratar. Quando Saramago apareceu a anunciar que tinha recebido o Prémio Camões, soubemos, soubemo-lo nesse instante, que o cão que tinha encontrado a sua casa não ia ter outro nome que o do grande poeta português. E assim, pelo menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de vezes por dia, foi vida e foi homenagem. E este cão doce e nobre, que nunca aprendeu a comer devagar porque até chegar à Casa tinha tido que lutar contra a fome e o abandono, com a sua gravata branca desenhada no pelo negro, que foi o modelo para “O Achado” d’ A Caverna, um cão que, como todos os cães que Saramago inventa, é a melhor resposta animal à melhor consciência humana" (...)

O presente texto, de Pilar del Río, pode ser recuperado através da página da 
Fundação José Saramago, aqui

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Citador #21 ... o cão Achado e o oleiro Cipriano Algor ... as lágrimas presentes

... o cão Achado e o oleiro Cipriano Algor 
... as lágrimas presentes
... um que as chora, o outro que as seca

Citador #21
em, "A Caverna"
Caminho
Página 263


(...) "Do que Cipriano Algor pensou não merece a pena falar porque já o tinha pensado em outras ocasiões e desse pensar se deixou informação mais do que suficiente. Se algo de novo aqui aconteceu foi ele ter deixado escorregar pela cara abaixo umas quantas custosas lágrimas, há um ror de tempo que elas andavam lá represadas, sempre vai não vai a ponto de se derramarem, afinal estavam prometidas para esta hora triste, para esta noite sem lua, para esta solidão que não se resignou. O que realmente não foi nenhuma novidade, porque já tinha sucedido uma outra vez na história das fábulas e dos prodígios da gente canina, foi ter-se chegado o Achado a Cipriano Algor para lhe lamber as lágrimas, gesto de consolação suprema que, em todo o caso, por muito comovente que nos pareça, capaz até de tocar os corações menos propensos a manifestações de sensibilidade, não nos deveria fazer esquecer a crua realidade de que o sabor a sal que nelas estão tão presente é apreciado em grado sumo pela generalidade dos cães." (...) 

domingo, 7 de dezembro de 2014

Citador #18 ... da fealdade segundo o cão Achado, em "A Caverna"

Citador #18
... da fealdade segundo o cão Achado
"A Caverna"
Caminho, página 143



(...) "embora deva observar-se que esta opinião não a formulou o Achado, isso de feio e bonito são coisas que não existem para ele, os cânones de beleza são ideias humanas, Mesmo que fosses o mais feio dos homens, diria o cão Achado do seu dono se falasse, a tua fealdade não teria nenhum sentido para mim, só te estranharia realmente se passasses a ter outro cheiro ou passasses doutra maneira a mão pela minha cabeça." (...)