Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Folheto da apresentação de “Que Farei com este Livro?”, em 1980 (via Fundação José Saramago)




Porque as memórias não podem ser apagadas, a Fundação José Saramago, através do seu site recorda com estas imagens, o ido ano de 1980.
Para consulta 

"Em 1980, ano em que se assinalava o quarto centenário do nascimento de Luís de Camões, José Saramago escreveu a peça teatral Que Farei com Este Livro?. A obra, que se situa no momento do regresso do autor de Os Lusíadas, foi apresentada pela primeira vez pelo Grupo de Campolide – Companhia de Teatro da Almada. Em 2007, para assinalar os 30 anos da criação do grupo teatral, a peça voltou a ser apresentada pela companhia.

A secção Memória recupera um folheto de 1980 sobre essa primeira representação do texto de José Saramago."


Ricardo Reis com uma curiosa associação de ideias perante S. Francisco de Assis (Convento de São Pedro de Alcântara)

Ricardo Reis, decide dar um passeio, saindo do hotel vê-se impedido de descer em direcção ao Cais do Sodré, por causa das inundações da noite passada, que alagaram com águas sujas e detritos todo o espaço, por tal, sobe a Rua do Mundo, futura da Misericórdia, e chegará a este maravilhoso painel.
Eis a visão do autor.


(Francisco de Assis - painel de azulejos - portão do Convento de São Pedro de Alcântara)

(...) "onde se representa S. Francisco de Assis, il poverello, pobre diabo em tradução livre extático e ajoelhado, recebendo os estigmas, os quais, na figuração simbólica do pintor, lhe chegam por cinco cordas de sangue que descem do alto, do Cristo crucificado que paira no ar como uma estrela, ou papagaio lançado por esses rapazitos das quintas, onde o espaço é livre e ainda não se perdeu a lembrança do tempo em que os homens voavam. Com os pés e as mãos sangrando, com o seu lado aberto, segura S. Francisco de Assis a Jesus da Cruz para que não desapareça nas irrespiráveis alturas, lá onde o pai está chamando pelo filho, Vem, vem, acabou-se o tempo de seres homem, por isso é que podemos ver o santo santamente crispado pelo esforço que está fazendo, e continua, enquanto, murmura, cuidando alguns que é oração, Não te deixo ir, não te deixo ir... (...)

em "O Ano da Morte de Ricardo Reis"
Caminho, 11.ª edição, páginas 62 e 63