Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Revista Blimunda - Enquanto aguardamos a edição deste mês, recordamos Cortázar (Fevereiro 2014)

Capa da edição #21 - Fevereiro 2014

Sinopse da edição, via Fundação José Saramago, aqui

"A Blimunda de fevereiro dá destaque ao início do Ano Cortázar, com duas crónicas, assinadas por Pilar del Río e Ricardo Viel sobre o Grande Cronópio.

Sara Figueiredo Costa escreve sobre o último trabalho de Miguel Gonçalves Mendes, Nada Tenho de Meu, diário de viagem filmado e escrito na companhia de João Paulo Cuenca e Tatiana Salem Levy.

Organizado pela Fundação Tomás Eloy Martínez, pela revista Anfíbio e pela editora Planeta, a primeira edição do Prémio de Crónicas La Voluntad teve como vencedora a crónica de María Silvina Prieto, condenada a prisão perpétua por um erro que prefere não pormenorizar, que nos conta uma experiência  vivida nos dias de prisão.

No infantil e juvenil, Andreia Brites entrevista Teresa Calçada, coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares e precursora dos caminhos da leitura pública em Portugal.

A fechar, a Saramaguiana publica uma leitura a partir de Ensaio sobre a Cegueira, por Eula Carvalho Pinheiro, e um texto de Joan Morales Alcudia, autor do livro recentemente editado em Espanha, Saramago por José Saramago."

Crítica a "Jangada de Pedra" - "The New York Review of Books" por David Gilmour "Adrift in Iberia" (05/10/1995)

"Em duas suculentas e compactas páginas, com uma caricatura de Levine que me mostra sentado na Península Ibérica como numa barca, com os remos nas mãos, The New York Review of Books fala da Jangada de Pedra e passa em revista os outros romances publicados nos Estados Unidos, a saber, o Memorial, o Reis e o Evangelho. A crítica de David Gilmour é excelente, bem informada e destituída de preconceitos, mesmo quando o autor se refere às minhas convicções de comunista. É sempre útil saber como nos vêem os outros. Em especial quando não são os nossos..."
José Saramago, Cadernos de Lanzarote III (19/09/1995)

(José Saramago em caricatura de David Levine)

Apresentação da crítica ao livro "Jangada de Pedra", pela "The New York Review of Books". Artigo intitulado "Adrift in Iberia" de David Gilmour (05/10/1995)

Pode ser consultada e lida, aqui 

Tradução de Giovanni Pontiero - "Harcourt Brace"

"The Pyrenees have been more of a psychological barrier for mankind than a physical one. Although armies have long known how to go round them, ideas have seldom followed the drums. So often they seem to have been launched at the center, to have hit the mountain tops and then bounced back to the thrower; on occasion they have cleared the heights only to fall into ungrateful hands that have hurled them furiously back.

General Franco, for example, felt that he had nothing to learn from Europe - except, of course, for some military lessons from Germany. Everything he believed to be wrong with Spain - liberalism, socialism, freemasonry, and so on - was an unwelcome import from Europe. In the nineteenth century, which he called “the negation of the Spanish spirit,” continental contamination had turned his country into a “bastardized, Frenchified and Europeanized” monstrosity. For her salvation, he proclaimed, Spain needed to return to the Golden Age of Ferdinand and Isabella, an age during which the Moors could be persecuted and the Jews expelled without interference from busybodies such as the League of Nations or the European Community.

Confronted so often by such attitudes, northern Europeans found it easy to accept the self-image of the Iberian conservatives. Yes, they used to say, perhaps Spain is different, it is after all very near Africa, and the Arabs were there for an extraordinarily long time. Look at their habits too, the way they kill bulls for pleasure and shoot prisoners and inquisite heretics. It’s not at all European, at any rate not at all nineteenth-century Anglo-French European. Perhaps they are simply not by nature suited to representative government.

Iberian liberals and socialists long sought to overthrow this self-fulfilling cliché, and in 1936 some Europeans responded by joining the International Brigades. It is strange therefore to find the idea of peninsular uniqueness endorsed and transmuted into fiction by an unrepentant Portuguese Communist. In The Stone Raft José Saramago cuts Iberia physically from Europe without any feelings of regret or nostalgia. As he remarked after the novel’s publication in Portugal, he was happy to imagine himself on that immense raft (Iberia) which had nourished the roots of his identity and collective heritage.1 Like Franco, he required nothing more from Europe.

Saramago is not afraid of the contamination of any formal European ideology. Indeed, as a supporter of the Portuguese Communist Party, he is hardly in a position to denounce foreign dogmas. His real objection is to European practices and attitudes, to the habit of interference that is built into the EC, to the condescension and indifference which the central, more populous powers of the Community display to the slighter countries of the periphery. These habits have fashioned a nationalist from unlikely material, a nationalist whose Iberian vision, however, is sometimes disturbed by a residual feeling that Spain too is not entirely innocent of condescending behavior toward her smaller neighbor."

... da reflexão constante


Recuperação de texto "Apresentação do catálogo da exposição de João Hogan" (Beja 1983) - "Cadernos de Lanzarote Diário III" (19/03/1995)

19 de Março (de 1995)
"Mexendo em antigos papéis, veio-me às mãos a apresentação que, vai em doze anos, escrevi para o catálogo duma exposição de João Hogan. Reli-a, sorri de algumas ingenuidades, mas achei que não era justo fazê-la regressar à obscuridade do gavetão donde tinha saí-do, sem lhe dar a oportunidade de submeter-se a outros juízos que não tivessem sido os meus, evidentemente suspeitos de parcialidade, ou os de Hogan, que nunca me disse o que pensou do palavreado. Por isso, aqui fica:

"Hogan: retrospectiva" Beja, 1983 - (Dimensões 61 x 43 cm) 
Promoção da Câmara Municipal de Beja; Associação de Municípios de Distrito de Beja

«Sobre o cavalete, o pintor colocou uma tela branca. Olha-a como a um espelho. A tela é aquele único espelho que não pode reflectir a imagem do que está diante de si, daquilo que com ele se confronta. A tela só mostrará a imagem do que apenas noutro lugar é encontrável. É isso a pintura. A pintura não está no espelho branco e opaco que é a tela. A pintura não está, sequer, no mundo que, por todos os lados, rodeia tela, cavalete e pintor. A pintura está, inteira, na cabeça do pintor. Ao pintar, o pintor não vê o mundo, vê a representação dele na memória que dele tem. A pintura é, em suma, a representação duma memória. 
«João Hogan, pintor, está na sua oficina. São quatro paredes apertadas, um casulo minúsculo de silêncio, fechado por sua vez num claustro antigo. Os quadros encostam-se uns aos outros, esteiam-se como placas geológicas, descem do tecto como severos jardins suspensos, formam um labirinto de três dimensões, porventura inextricável. Não faltariam, ao correr da comparação, outras analogias: é o bruxo na sua caverna, é o criador criando universos novos para emendar os antigos, é Fausto convocando os espíritos. Afinal, é só, e basta, João Hogan, pintor. Move-se devagar, tranquilo, no reduzido espaço desafogado que ainda lhe resta, todos o seus passos e atitudes são rigorosos, precisos, nenhuma exuberância, a palavra breve, se tem de a dizer, o sorriso sossegadamente irónico, de mansa ironia, porque a si mesmo primeiramente se terá julgado, e, tendo-o feito, compreendeu que não precisava doutro tribunal nenn doutro réu. A isto se chama, às vezes, sabedoria. 
«Fala-se facilmente da sabedoria do filósofo, do sábio, do escritor, não se fala da sabedoria do pintor. E, contudo, um artista como este, que parece estar trabalhando desde o princípio do mundo, transporta, no gesto que mesmo antes de chegar à tela ou ao papel é já traço e cor, um acúmulo de experiências, um saber que transcende a simples técnica que tem de haver no desenhar e no pintar, para se localizar nas camadas pro-fundas onde o inconsciente pessoal e colectivo a todo o momento está procurando as formas e as vozes da sua expressão possível. A pintura, como Leonardo da Vinci disse um dia, é realmente coisa mental. 

João Hogan, Paisagem, 1964, óleo sobre tela, 81 x 100 cm
Via http://quadrogiz.blogspot.pt/2013_10_01_archive.html

«Mas, em João Hogan, a expressão dessas vozes e dessas formas percorre caminhos que o levam, simultaneamente, a procurar reproduzir o sentido máximo das coisas (ou a máxima concentração do sentido que têm) e o despojamento de todo o sentido (ou o instante primitivo, se não o primitivo olhar, em que as coisas não têm mais sentido que serem-no). São dois extremos que se tocam, é uma contradição aparente. Tentarei ser mais claro. 
«De toda a obra de João Hogan escolho uma das suas paisagens de subúrbio ou um amontoado de pedras, aí onde não se divisa um vulto humano, um mero rasto de passagem, excepto, talvez, por aqui e além, o afloramento impreciso de uma cor, de um volume, acaso já obra das mãos, acaso ainda acidente natural. Em rigor, tal paisagem não existe na realidade. O pintor, como foi dito já, representa no quadro a memória, agora reelaborada pela consciência, duma memória de paisagem. Vemos colinas redondas, cobertas de verde não de verdura, vemos penhascais cortados de planos não de pedreiras. Entendamo-nos: não é de paisagem que estamos tratando aqui, mas de pintura, não ' o pareci-do que devemos procurar, mas o profundo. João Hogan não se oferece para guiar o contemplador o quadro a um certo arrabalde de Lisboa, o que João Hogan propõe é um lugar de pintura. Qualquer coincidência entre isto e aquilo será sempre fortuita e irrelevante. 

João Hogan, Sem título, 1972, óleo sobre tela, 130 x 180 cm

«Ora, esta paisagem, que justamente é confluência de memórias, espaço de reunião cumulativa, foco de sugestões e apelos - esta paisagem vem a definir-se em síntese essencial por via de um processo selectivo que precisamente faz da verdura a cor verde e da pedreira corte e plano. Então, e é aqui que reside a resolvida contradição entre os pontos de partida e o ponto de chegada, é quando o quadro aparentemente menos diz que mais exprime, e a paisagem surge diante dos nossos olhos como se ninguém a tivesse visto antes, como se fosse nosso o primeiro olhar que a encontra e nesse mesmo acto a mostra. A arte de João Hogan é, como por uma espécie de prodígio inesperado, a arte do primeiro olhar. 
«Pelo seu próprio, natural caminho, Hogan atinge, duplamente, a raiz da pintura e a raiz do ser. O mundo em que nos introduz está, quase sempre, desabitado. Mas é um mundo em expectativa, um mundo que espera os seus homens, ou porque eles ainda não nasceram, ou porque dele foram retirados. Porém, não esqueçamos que diante desta paisagem solitária esteve o homem que a criou. Foi dele o primeiro olhar. Cabe-nos a nós olhar agora, para podermos ver o que ele viu já: os homens que habitarão, por direito, este lugar. De pintura, como foi dito. De vida, como se acrescenta. Que tudo é o mesmo.»

No conjunto, não está mal. E a propósito: como pintaria João Hogan. se ainda fosse vivo, esta ilha de Lanzarote?"
in, "Cadernos de Lanzarote Diário III"
Caminho, páginas 70 a 73


Breve biografia, via WikiPédia, aqui
"De ascendência irlandesa, era neto do aguarelista Ricardo Hogan e sobrinho do pintor Álvaro Navarro Hogan.
Entre 1930 e 1939 trabalha numa oficina de marcenaria; entretanto inscreve-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, que abandona ao fim de apenas um ano letivo, para continuar, em 1937, os estudos com Frederico Ayres e Mário Augusto na SNBA. Apresentará a sua obra publicamente pela primeira vez em 1942, na Exposição de Arte Moderna do SPN, Lisboa.
Está representado em diversas coleções e museus, nomeadamente no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, no Museu do Chiado e no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Foi sócio fundador da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, em Lisboa, onde dirigiu diversos cursos de gravura, tendo um papel importante na formação das gerações mais novas (muitos dos actuais gravadores de Portugal foram seus alunos).

Sobre Sofía Gandarias, a pintora que retratou José Saramago - "Cadernos de Lanzarote Diário III" (19/08/1995)

Informação sobre a pintora Sofía Gandarias - http://gandarias.es/

19 de Agosto (de 1995)

"Com o título de O Rosto e o Espelho ou a Pintura como Memória, escrevi hoje para o catálogo da exposição que Sofía Gandarias vai apresentar em Lisboa o seguinte breve texto, por onde se verá que ainda não pude libertar-me completamente dos cegos do Ensaio e que certas ideias do Manual se mantêm constantes: 

Título "Saramago" - Técnica Oleo sobre lienzo y arena
Año 1995 - Medidas 162x130 cm

«O pintor está diante do espelho, não de viés ou a três-quartos, conforme se queira designar a posição em que costuma colocar-se quando decide escolher-se a si mesmo para modelo. A tela é o espelho, é sobre o espelho que as tintas irão ser estendidas. O pintor desenha com rigor de cartógrafo o contorno da sua imagem. Como se ele fosse uma fronteira, um limite, converte-se em seu próprio prisioneiro. A mão que pinta mover-se-se-á continuamente entre os dois rostos, o real e o reflectido, mas não terá lugar na pintura. A mão que pinta não pode pintar-se a si própria no acto de pintar. É indiferente que o pintor comece a pintar-se no espelho pela boca ou pelo nariz, pela testa ou pelo queixo, mas deve ter o cuidado supremo de não principiar pelos olhos porque então deixaria de ver. O espelho, neste caso, mudaria de lugar. O pintor pintará com precisão o que vê sobre aquilo que vê, com tanta precisão que tenha de perguntar-se mil vezes, durante o trabalho, se o que está a ver é já pintura, ou será apenas, ainda, a sua imagem no espelho. Correrá portanto o risco de ter de continuar a pintar-se infinitamente, salvo se, por não ter podido suportar mais a perplexidade, a angústia, resolveu correr o risco maior de pintar enfim os olhos sobre os olhos, perdendo assim, quem sabe, o conhecimento do seu próprio rosto, transformado num plano sem cor nem forma que será necessário pintar outra vez. De memória. 
«As telas de Sofía Gandarias são estes espelhos pintados, de onde se retirou, recomposta, a sua imagem, ou onde, oculta, ainda se mantém, talvez sob uma camada de luz dourada ou de sombra nocturna, para entregar ao uso da memória o espaço e a profundidade que lhe convêm. Não importa que sejam retratos ou naturezas-mortas: estas pinturas são sempre lugares de memória. De uma memória visual, obviamente, como se espera de qualquer pintor, mas também de uma memória cultural complexa e riquíssima, o que já é muito menos comum num tempo como o nosso, em que os olhares, quer o do quotidiano, quer o da arte, parecem satisfazer-se com discorrer simplesmente pela superfície das coisas, sem se darem conta da contradição em que se encontram, em confronto com um olhar científico moderno que transferiu o seu campo principal de trabalho para o não visível, seja ele o astronómico ou o subatómico. 
«Para Sofía Gandarias, um retrato nunca é só um retrato. Algumas vezes parecerá que ela se propôs contar-nos uma história, relatar-nos uma vida, quando, por exemplo, rodeia o seu retratado de elementos figurativos cuja função, ou intenção, se há-de supor alegórica, como um hieróglifo cuja decifração mais ou menos rápida irá depender do grau de conhecimento das respectivas chaves por parte do observador. É transparente, por exemplo, o significado da presença da pirâmide maia no retrato de Octavio Paz, ou o de uma Melina Mercuri atada ao Pártenon, é-o muito menos o de Graham Green olhando por uma janela com as vidraças partidas, ou o de Juan Rulfo amarrado às tumbas de Comala. Encarada deste ponto de vista, a pintura de Sofía Gandarias, com independência do seu altíssimo mérito artístico e da sua evidente qualidade técnica, poderia ser entendida como um exercício literário para iniciados capazes de organizar os símbolos mostrados, e portanto completar, em nível próprio, a enigmática proposta do quadro. Tratar-se-ia de uma consideração flagrantemente redutora, em todo o caso absolvida pelo próprio imediatismo da leitura, se a pintura de Sofía Gandarias não fosse o que, de modo superior, é: a singularidade de uma memória de relação. 

Título "Pessoa" - Técnica Oleo sobre lienzo
Año 1995 - Medidas 195x130 cm

«De dupla relação, acrescentarei. A do retratado e da sua circunstância, exposta na distribuição dos elementos pictóricos secundários do quadro, e em que naturalmente se apreciarão questões como a semelhança, a pertinência, a concatenação plástica; e outra, a meu ver não menos importante, que é a relação cultural que Sofía Gandarias, a pintora, mas sobretudo a pessoa desse nome, mantém com a circunstância vivencial e intelectual dos seus retratados. Aqui trata-se claramente de pintura, mas trata-se também da expressão intensíssima de uma memória cultural particular. Mais do que simplesmente pintar retratos de figuras ditas públicas, o que Sofía Gandarias faz é convocar um por um os habitantes da sua memória e da sua cultura, aqueles a quem ela própria chama "as presenças", transportando-os para uma tela onde terão o privilégio de serem muito mais do que retratos, porque serão os sinais, as marcas, as cicatrizes, as luzes e as sombras do seu mundo interior. 
«Há melancolia nesta pintura. A melancolia de nos sabermos fugazes, transitórios, pequenos corpos cadentes que se apagam quando mal começaram a brilhar. O fundo quase sempre escuro dos quadros de Sofía Gandarias é uma noite, os rostos e os símbolos que como satélites os rodeiam são apenas os nosso pálidos e humanos fulgores. O mundo é o que somos, e esta pintura um dos seus sentidos.» 
in, "Cadernos de Lanzarote Diário III"
Caminho, páginas 142 a 145 (19 de Agosto de 1995)

Título "Año de Nacimiento de Ricardo Reis" 
Técnica Óleo, arena y polvo de mármol
Año 1995 - Medidas 230x200 cm.



Sofía Gandarias, faleceu dia 23 de Janeiro de 2016, em Madrid
"Sofia era uma amiga antiga de Portugal, do Centro Nacional de Cultura, de Helena e Alberto Vaz da Silva, de Yehudi Menuhin. Há cerca de um ano esteve connosco com seu marido Enrique Barón Crespo cheia de entusiasmo e de projetos, com a ideia de poder trazer-nos a Portugal algumas das suas obras emblemáticas. Em casa de Francisco Balsemão foi uma noite plena de sonhos e de futuro. Em si a literatura e a pintura estavam intimamente ligadas. Trabalhou intensamente até nos deixar e em Sevilha (no Espaço Santa Clara) é possível visitar uma extraordinária exposição de 28 telas que assinala os quatro séculos da morte de Miguel de Cervantes - «Coloquio de Perros». O conto é uma extraordinária metáfora humana. Quis que tudo ficasse pronto e conseguiu, apesar da doença. Sofia era determinada e persistente. A vida era um bem sagrado. Deixa-nos esse extraordinário exemplo. Amiga de José Saramago e de Pilar del Rio, o autor de «Memorial do Convento» definiu as suas telas como «espelhos pintados». É a defesa da dignidade humana que está sempre presente, invocando Kafka, o holocausto, a memória de Velasquez, a lembrança do seu País Basco e de Guernica… O carácter sombrio de muitas das suas telas é um grito de alerta, um apelo humaníssimo, para que não se esqueça a barbárie! 
Sofia Gandarias fica na nossa memória como uma mulher de fibra e de sensibilidade, de amizade e afetos! Ao Enrique e ao Alejandro enviamos a expressão mais funda da nossa amizade e solidariedade! Sofia continua connosco." 
Guilherme d’Oliveira Martins