Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

domingo, 7 de dezembro de 2014

Citador #18 ... da fealdade segundo o cão Achado, em "A Caverna"

Citador #18
... da fealdade segundo o cão Achado
"A Caverna"
Caminho, página 143



(...) "embora deva observar-se que esta opinião não a formulou o Achado, isso de feio e bonito são coisas que não existem para ele, os cânones de beleza são ideias humanas, Mesmo que fosses o mais feio dos homens, diria o cão Achado do seu dono se falasse, a tua fealdade não teria nenhum sentido para mim, só te estranharia realmente se passasses a ter outro cheiro ou passasses doutra maneira a mão pela minha cabeça." (...) 

A Porto Editora lança a 55.ª edição do "Memorial do Convento"

(Caligrafia da capa por José Mattoso)

Aqui, o link da editora, 

«Um romance histórico inovador. Personagem principal, o Convento de Mafra. O escritor aparta-se da descrição engessada, privilegiando a caracterização de uma época. Segue o estilo: "Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido". Tudo, "era uma vez...". Logo a começar por "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa a até hoje ainda não emprenhou (...). Depois, a sobressair, essa espantosa personagem, Blimunda, ao encontro de Baltasar. Milhares de léguas andou Blimundo, e o romance correu mundo, na escrita e na ópera (numa adaptação do compositor italiano Azio Corghi). Para a nossa memória ficam essas duas personagens inesquecíveis, um Sete Sóis e o outro Sete Luas, a passearem o seu amor pelo Portugal violento e inquisitorial dos tristes tempos do rei D. João V.» (Diário de Notícias, 9 de outubro de 1998).

(Fotografia de José Saramago, nas imediações do Convento de Mafra)


Aqui, link da notícia, em http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=749930

«Memorial do Convento», de José Saramago (Porto Editora)
A Porto Editora continua a lançar as obras de José Saramago, com novas capas e novas revisões. O mais recente livro desta nova etapa é “Memorial do Convento”, um dos livros mais marcantes da carreira do Prémio Nobel da Literatura, em 1998. Desta vez, cabe ao historiador José Mattoso “assinar” a caligrafia da capa (recorde-se que todos os títulos das obras editadas são assinadas por grandes figuras da literatura e da cultura portuguesa, além de amigos de Saramago). Editado em 1982 (já vai na sua 55.º edição, a primeira na Porto Editora), “Memorial do Convento” apresenta como nenhum outro o equilíbrio entre a História, a ficção e o imaginário. É verdade que Blimunda (que tem a aptidão de ver o interior das pessoas aquando em jejum) e Baltazar (ex-militar que perdeu uma mão) assumem os papéis principais do livro, mas não podemos ficar indiferentes, por exemplo, ao Padre Bartolomeu de Gusmão (que abençoa o amor infiel de Baltazar e Blimunda), mas também ao povo, faminto devido aos caprichos de um Rei e de uma Igreja que não olham a meios para alcançarem os seus desejos, muitas vezes irreais. Um livro absolutamente obrigatório!

Apresentação do Cd-Livro do espectáculo "A Viagem do Elefante" - Acert Tondela

CD-Livro do espectáculo A Viagem do Elefante
"14 canções do espectáculo A Viagem do Elefante", do Trigo Limpo - Teatro ACERT, a partir do conto de José Saramago. 
Luis Pastor e A Cor da Língua, na ACERT, Tondela

Aqui link, http://issuu.com/acert/docs/14cancoesve_issuu-2



"A Viagem do Elefante"

Espectáculo teatral de rua, do Trigo Limpo - Teatro ACERT, em coprodução musical com Flor de Jara (Espanha) e parceria da Fundação José Saramago

APÓS A DIGRESSÃO DE SUCESSO EM 2013, O ANO DE 2014 É MARCADO PELA VIAGEM DE SALOMÃO POR VISEU DÃO LAFÕES

Ver o site de 'a viagem do elefante'

SEMPRE CHEGAMOS AO SÍTIO AONDE NOS ESPERAM[1]

Foi este o pulsar afetivo que gerou no Trigo Limpo teatro ACERT a ideia da montagem teatral do conto de José Saramago. Primeiro, a paixão compartilhada pela leitura. Depois, as visões encantatórias que faziam de cada momento lido um momento teatral. Tudo mexia. Os personagens passaram a conviver connosco e a segredarem-nos intenções de saírem do conto para lhes darmos vida. O elefante Salomão povoava-nos sonhos e dava-nos carícias de uma humanidade singular. Agigantá-lo seria um justo merecimento. José Saramago semeava em nós o prazer duma aventura imaginosa e arrojada. Tão somente o escutámos: “As pessoas não escolhem os sonhos que têm, São, pois, os sonhos que escolhem as pessoas”.[2]

Assim sucede quando a literatura, sem mais pretensão que ser literatura, se converte em expressão de vida. A partir desse momento, será já, para sempre, por obra e graça da vida dos leitores, grande literatura, destinada a fortalecer, com audácia, a experiência da liberdade humana e da expressão criadora, essa vontade lúcida que tanto ajuda a sonhar e a construir a realidade desejada.[3]

O QUE DÁ O VERDADEIRO SENTIDO AO ENCONTRO É A BUSCA E QUE É PRECISO ANDAR MUITO PARA ALCANÇAR O QUE ESTÁ PERTO[4]

Caminhos de partilha se impuseram. Convidados, Luis Pastor e Flor de Jara, entraram na aventura afetuosa e generosamente. O cantautor criou com José Saramago “Nesta Esquina do Tempo”, livro/disco em que musicou os seus poemas e que encerra com a voz do nosso escritor. Deitou mãos à guitarra e a sua voz encantou-nos nesta nova viagem.
Delicadamente, contámos o sonho a Pilar del Río que se encantou, maravilhando-nos com sua generosidade. Cumpria-se mais um momento onírico: “Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós”.[5]

Escrevê-lo [A Viagem do Elefante] não foi um passeio ao campo: Saramago lançou-se a esta tarefa quando estava incubando uma doença que tardou meses a deixar-se identificar e que acabou por manifestar-se com uma virulência tal que nos fez temer pela sua vida. Ele próprio, no hospital, chegou a duvidar que pudesse terminar o livro. Não obstante, sete meses depois, Saramago, restabelecido e com novas energias, pôs o ponto final numa narração que a ele não lhe parece romance, mas conto, o qual descreve a viagem, ao mesmo tempo épica, prosaica e jovial, de um elefante asiático chamado Salomão, que, no século XVI, por alguns caprichos reais e absurdos desígnios teve de percorrer mais de metade da Europa.[6]

“FISICAMENTE, HABITAMOS UM ESPAÇO, MAS, SENTIMENTALMENTE, SOMOS HABITADOS POR UMA MEMÓRIA …” [7]

A adaptação dramatúrgica não dispensa a leitura integral do conto “A Viagem do Elefante”. Procurou-se encontrar os trilhos que, literariamente, respeitassem a bússola do itinerário de Salomão, evidenciassem as tensões que, teatralmente, exprimissem a riqueza dos personagens e os momentos mais salientes da aventura transfronteiriça. O paquidermísmo humano e a humanização afetuosa do Salomãozinho, cruzam a narrativa teatral assimilada do texto literário de José Saramago que se caracteriza pelo “humor irreverente, a ironia distanciadora, a compaixão, o humanismo cético e a ternura”, contrabalançada com “a mesquinhez, os inconvenientes próprios do caminho e o desconsolo provocado pelos poderes terrenos e divinos”.[8] Contra factos tão literários, que argumentos restam ao teatro? Somente navegar na narrativa, bem como devolver ao palco os diálogos já tão magnificamente elaborados e o carácter ficcional das situações que, estando a viver nas páginas do livro, pertencem ao imaginário daqueles que, na leitura, assumem a encenação singular que a sua fantasia reclama. Por isso, estamos confrontados não com público desprevenido, mas, em muitos casos, com guardadores de memórias do que leram. Encenadores duma fílmica leitura. Mediadores zelosos que querem identificar a leitura na visão teatral que lhes é proposta.

Mas não será excessivo, sem embargo, observar que onde poderia parecer que há pouco de Saramago, aqui se encontra todo ele, o mais relevante, a palavra descoberta, sem alardes nem arranjos, sem argumentos nem propósitos que não sejam habitar o centro da língua portuguesa e, uma vez mais, dar a sua versão heterodoxa e complementar da História a partir de ressurreições marginais imaginadas, de uma vontade humanista, de substituir a crónica pela invenção e forçar a alteração da perspectiva acomodada.[9]

[1] José Saramago, A Viagem do Elefante,
[2] idem, O Evangelho Segundo Jesus Cristo,
[3] Jornal de Letras, Artes e Ideias, Testemunho de Fernando Gomez Aguilera sobre obra literária de Saramago, 5/11/08,
[4] José Saramago, Todos os Nomes,
[5] Idem, ibidem,                                  
[6] Mensagem de Pilar del Rio, José Saramago terminou um novo livro. Chama-se A viagem do elefante.
[7] José Saramago, Palavras para uma cidade
[8] Fernando Gomez Aguilera, “Testemunho de sobre obra literária de Saramago”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, 5/11/08
[9] Idem, ibidem

INICIOU A GRAVAÇÃO DO LIVRO/CD " A VIAGEM DO ELEFANTE"
A LOUCURA CONTINUA!



"A VIAGEM DO ELEFANTE" POR VISEU DÃO LAFÕES
Um Roteiro em 2014
Lançamento do Livro

Um espetáculo, uma viagem, um território.

Apresentação integrada no 20º FINTA - Festival Internacional Teatro ACERT

A propósito da circulação do espectáculo “A Viagem do Elefante” criado pelo Trigo Limpo teatro ACERT e promovida pela Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões, é apresentado o livro/roteiro “A viagem do elefante por Viseu Dão Lafões”.
Mais do que um trabalho sobre o eespectáculo é um trabalho sobre o território e o que dele se destacou ao longo desta digressão. Um apelo à visita guiada por um elefante indiano. Um guia por locais habitados por gente boa, com recursos únicos, memórias e identidades que se cruzaram na passagem do elefante Salomão por cada terra. Um território que faça cumprir, citando José Saramago, que “No interior de cada país está o seu destino”.

Quatro criadores (dois fotógrafos, Carlos Teles e Ricardo Chaves, e dois jornalistas, Sara Figueiredo Costa e Ricardo Viel) que acompanharam toda a digressão, mostram-nos o que de melhor descobriram em cada local, apelando ao visitante para que descubra por si um território diverso, rico, estimulante. Um território cheio de sinais de enorme vitalidade, que ousou, demonstrar a cultura como ferramenta essencial de desenvolvimento. Uma comunidade que assumiu, com ousadia, apostar na criação artística como projecto comum aos catorze municípios que a integram. Um território que deixa marcas em quem o visita e que tem como “primeiro cidadão em comum” o elefante Salomão.

O projeto não se confinou às apresentações nem se esgotou numa digressão teatral. A riqueza do processo, nas suas vertentes sociológicas, turísticas e de desenvolvimento regional mereceram, desde o primeiro instante, uma atenção particular.

Uma obra pioneira, reflexo de um projecto pioneiro, que tenta demonstrar a importância de fazer/ pensar diferente em áreas como o trabalho colaborativo, o turismo, o desenvolvimento local e comunitário e das práticas artísticas descentralizadas com repercussões na valorização dos territórios e das suas gentes.

Assim, esta edição literária e fotográfica não é o diário de bordo do eespectáculo“A Viagem do Elefante”. É sim um cicerone que dá conta duma experiência integradora, dando visibilidade aos locais e suas riquezas materiais e imateriais de forma singular. Esta edição desvia se propositadamente do sentido do habitual guia turístico, uma vez que é o Elefante Salomão que ficcionalmente corporiza cumulativamente o papel de viajante e do residente. Com as devidas ressalvas, a opinião de José Saramago na sua “Viagem a Portugal” está subjacente ao que se pretende:

“História de um viajante no interior da viagem que fez, história de uma viagem que em si transportou um viajante, história de viagem e viajante reunidos em uma procurada fusão daquele que vê e daquilo que é visto, encontro nem sempre pacífico de subjectividades e objectividades. Logo: choque e adequação, reconhecimento e descoberta, confirmação e surpresa.”

Aqui o link, http://www.acert.pt/programacao/registo.php?id=795