Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 17 de abril de 2020

UnBTV Entrevista: Pilar del Río fala sobre o legado de José Saramago

Pode ser recuperado e visualizado aqui

Sinopse
"A jornalista e tradutora Pilar del Río fala do legado do escritor português José Saramago. Ela foi companheira dele e traduziu várias de suas obras para o espanhol."

Crónica de Pedro Ivo Carvalho (Evasões) "Lanzarote: o caminho das pedras e dos catos" (15/09/2019)

A presente crónica pode ser consultada e recuperada aqui
"Lanzarote: o caminho das pedras e dos catos"
Pedro Ivo Carvalho (Evasões)


"Não é necessária uma orquestra de cores para nos deixarmos enredar. Esta ilha vulcânica consegue ser monocórdica, mas não há, nessa leveza de caráter, qualquer assomo de vulgaridade ou enfado."

"Por mais ínfima que seja, há alguma possibilidade de nos deixarmos arrebatar pela aridez em estado puro? E por aridez entendam a mais completa secura de paisagem. Rocha, rocha, rocha. Sim, há. Pedras negras encavalitadas, formando um intrincado puzzle natural, tão desalinhadas na geometria que parecem ter vida própria. De certeza que foram parar lá sozinhas, só podem ter ido parar lá sozinhas, hospedadas que jazem numa cama definitiva e secular.

Os castanhos dão lugar aos cinzentos, há fases em que o dourado desponta, o vento que sopra de todos os quadrantes assobia de fininho ao nosso ouvido. O vento fala. “Não te distraias, não tentes segurar-me com as mãos”. O caminho das pedras é também o caminho dos catos. Pedras e catos. Catos e pedras. Numa sinfonia agreste sem palco. E sem bichos. Esperem. Minto.

Ali há, rezam as vozes autorizadas da ilha, uma réstia de vida. Um mosquito microscópico que só os apaixonados por mosquitos microscópicos distinguem nas gravuras dos livros de lombada generosa. Não há flores, não há lobos, nem gatos. Não há gaivotas. Mas há mar. Eu não vi o mosquito. Eu não consigo acreditar que ele se multiplique ali. Aquele vale bíblico não é cenário para romance.

Sigo. Garganta seca e olhos escancarados, sempre escancarados. Os vulcões forram a linha do horizonte e garantem a pequenez necessária à nossa condição de invasor. Qual é mesmo o nosso lugar? Verde escuro, castanho claro, negro cerrado. De uma ponta à outra do território duro, cavalgando a pacatez do alcatrão imaculado que rasga as bases das montanhas, podemos repousar, serenamente, sem trânsito, sem barulho. Catos e pedras. Se fecharmos os olhos, quase escutamos o bater de asas do mosquito microscópico. Já alguém o viu fora das lâminas do laboratório? Fujam da estrada, vem aí um carro.

Saramago entregou-se àquela ilha por alguma razão. 
Não quero acreditar que tenha sido apenas por uma, não saberia escolher apenas uma.

O norte. Juram-nos que o vinhedo é um espetáculo à parte. Que não nos deixará os olhos humedecidos como a imponência do adormecido Timanfaya, mas que a peculiaridade dos berços ovalizados amparados da ventania por pedras gastas confere à vinha um estatuto cosmético próximo do bonsai. Posso confirmar: filigrana licorosa, meus amigos.

Não é necessária uma orquestra de cores para nos deixarmos enredar. Lanzarote consegue ser monocórdica, mas não há, nessa leveza de caráter, qualquer assomo de vulgaridade ou enfado. As águas são cálidas, mesmo no oceano revolto, a areia brilha, mesmo quando escura. Saltitamos de estádio mental para estádio mental. A paz seria absoluta se não fossem as hordas de camionetas e de turistas italianos com a mesma projeção vocal de um vulcão zangado. Lemos o que havia para ler dele.

Saramago entregou-se àquela ilha por alguma razão. Não quero acreditar que tenha sido apenas por uma, não saberia escolher apenas uma. Lanzarote são pedras e catos, mas é, sobretudo, uma via-sacra que vai dar a um lugar melhor dentro de nós. Fica uma cicatriz enorme no corpo encolhido. Deem-nos luxúria, sinfonias, o Olimpo, até. Mas poucas imagens serão tão plenas na função de nos humanizar como a aspereza deste ancoradouro vulcânico. Catos e pedras. Pedras e catos. Flores."

Edição especial sobre a obra de José Saramago pela "Santa Barbara Portuguese Studies"

Foi publicado no Facebook na página da I Cátedra Internacional José Saramago noticia da futura publicação de um trabalho sobre a obra de José Saramago.
Será uma edição especial a sair nesta primavera pela Santa Barbara Portuguese Studies

Santa Barbara Portuguese Studies
Department of Spanish and Portuguese
University of California Santa Barbara
Santa Barbara, CA 93106-4150


Informação em detalhe e que vamos seguir com enorme atenção.

 O draft do primeiro artigo já pode ser consultado aqui

"A SUA JANGADA AINDA FLUTUA SOBRE AS ÁGUAS — HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO DEZ ANOS APÓS A SUA MORTE"
editado por Burghard Baltrusch e Antía Monteagudo Alonso, e que reunirá os seguintes estudos:

A sua jangada ainda flutua sobre as águas. Revisitando José Saramago dez anos após a sua morte — com Sena e Sartre ao fundo
Burghard Baltrusch (Universidade de Vigo)

Deitado no chão. O romance Claraboia no contexto de uma pré-história literária de José Saramago
Luís Ricardo Duarte (Jornal de Letras, Artes e Ideias)

A língua do Poder segundo Saramago
Rosaria de Marco (Università degli Studi Suor Orsola Benincasa)

Los mil y un relatos politológicos de Saramago en su Balsa de piedra
Enrique José Varela Álvarez (Universidade de Vigo)

A Jangada de Pedra e a súa localización política
Celso Cancela (Universidade de Vigo)

A Jangada de Pedra como personagem: da consciência de si à construção de um modelo alternativo à sociedade capitalista
Ana Cláudia Henriques (Universidade de Aveiro)

Literatura, política e amor em Último Caderno de Lanzarote (O diário do Nobel)
Manuel Frias Martins (Universidade de Lisboa)

Caim, um herói da post-modernidade
José Vieira (Universidade de Coimbra)

A cidade en O Ano de 1993
Antía Monteagudo Alonso (Universidade de Vigo)

Monumentos e espaço ficcional: ficções e realidades em O Ano da Morte de Ricardo Reis
Mirielly Ferraça (Unicamp/Brasil)
Stanis David Lacowicz (UFPR/Brasil)

A construção do Eu em Todos os nomes: uma visão a partir da psicologia narrativa
Raquel Sabino (Universidade de Évora)

No início era a palavra: a força da narrativa saramaguiana na construção cinematográfica, a partir de O Homem Duplicado
Maria de Lourdes Pereira (Universitat de les Illes Balears)

La Passarola. Proyectos de Animación a partir de una representación y adaptación libre de los pasajes originales del texto de José Saramago, Memorial del convento
Sol Alonso Romera (coord.), Andrea Alonso Casado, Gels Caletrío, Sarah Espinosa, Yvonne M. López Gaus, Alba Velázquez García (Facultade de Belas Artes, Universidade de Vigo)

Presentación de proyecto. Resultados alcanzados en la realización de un cortometraje de animación, basado en el texto de José Saramago el Cuento de la Isla Desconocida (Conto da Ilha Desconhecida)
Sol Alonso Romera (Facultade de Belas Artes, Universidade de Vigo)

Planificación de la animación de Desquite 
José Chavete Rodríguez (Facultade de Belas Artes, Universidade de Vigo)