Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

"Cadernos de Lanzarote Diário V" - 10/01/1997 (a propósito do Ensaio sobre a Cegueira)

"10 de Janeiro"
"Barcelona, Palácio Guell. Gravação da entrevista para o programa Negro sobre Blanco, Fernando Sánchez Dragó. O tema foi o Ensaio sobre a Cegueira. Ajudaram generosamente à conversa Raúl Morodo, actual embaixador de Espanha em Lisboa, e Miguel Durán. A propósito, Miguel contou que, no tempo do franquismo, um notável do regime, cujo nome, se chegou a dizê-lo, me escapou, sugeriu ao governo a construção duma cidade destinada exclusivamente a cegos. A ideia não foi por diante, mas é fácil perceber quão fecunda era de possibilidades: depois dessa primeira experiência talvez começasse a haver cidades de surdos, cidades de coxos, cidades de manetas, cidades de gagos, cidades de mudos, cidades de mongolóides, cidades de paraplégicos, cidades de epilépticos, e, com a continuação e o êxito da prática segregativa, acabaríamos fatalmente por construir cidades para velhos, cidades para loucos, cidades para enfermos em fase terminal, enfim, para quantos se configurassem como elementos perturbadores do viver da comunidade dos normais. Naquele momento, enquanto ouvia a tenebrosa história, as antigas cavalariças do Palácio Güell, onde nos encontrávamos, rodeados de focos e de câmaras, sob a inquietante mole neogótica do edifício, envolvidos por uma arquitectura que poderia servir de cenário a um filme de Drácula — tudo aquilo me pareceu (apesar do respeito que devo ao génio de Gaudí) uma antecipação do pesadelo inumano de que nos falava Miguel Durán."

in, "Cadernos de Lanzarote Diário V"
Caminho, páginas 16 e 17 (10/01/1997)

José Saramago - "Una perspectiva en final del milenio" - Conferência realizada pela Cátedra Alfonso Reyes (01/12/1999)

Cátedra Alfonso Reyes
"Una perspectiva en final del milenio" - Conferência realizada a 1 de Dezembro de 1999
Monterrey - México

Pode ser recuperada e visualizada, via YouTube, aqui


"Diálogo con estudiantes en el que José Saramago reflexiona sobre su obra 
literaria y su concepción de la literatura."