José Saramago.
Uma visão apaixonada, sobre o homem que da Estátua descobriu a Pedra.
Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"
"Não me agradam as grandes frases nem a retórica das acções. Mas é verdade que nos meus romances aparecem personagens, sobretudo mulheres, dotadas de um heroísmo discreto, natural, como uma emanação de sua personalidade. São mulheres, inclusive, dispostas ao sacrifício por compaixão, compadecer-se com o outro, um sentimento que tem que ver com a piedade, não com a grandiloquência. Nesse modelo de mulher, que se repete de livro em livro, com nomes diferentes e em épocas diferentes, se está a forjar uma nova forma de humanidade, uma forma distinta de “ser humano”.
“Las palabras ocultan la incapacidad de sentir”, ABC (Suplemento ABC Literario), Madri, 9 de agosto de 1996
"Poema do Livro "Provavelmente Alegria" de José Saramago, dito por Maria do Céu Guerra, incluido na homenagem que o PCP lhe fez por ocasião do 10.º aniversário da atribuição do Prémio Nobel da Literatura."
«A transformação social. A contestação. Personagens em diálogos. As cruentas desigualdades sociais. Surgem as perguntas proibidas. Vai-se adquirindo consciência e espaço, para que tudo se levante do chão. Um livro composto por 34 capítulos. No 17.º está a tortura e a morte de Germano Santos Vidigal. Germano, o nome que significa irmão, o homem da lança. Apesar de vencido, o sacrifício da sua vida indica o caminho. “Já o encontraram. Levam-no dois guardas, para onde quer que nos voltemos não se vê outra coisa, levam-no da praça, à saída da porta do sector seis juntam-se mais dois, e agora parece mesmo de propósito, é tudo a subir, como se estivéssemos a ver uma fita sobre a vida de Cristo, lá em cima é o calvário, estes são os centuriões de bota rija e guerreiro suor, levam as lanças engatilhadas, está um calor de sufocar, alto. “As mulheres são também chamadas à primeira linha das decisões neste belo romance de Saramago. O diálogo monossilábico entre marido e mulher da família Mau-Tempo vai-se alterando. Interessante observar uma narrativa que vai da submissão ao sentido de libertação, através de gerações.»
(Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)
"À memória de Germano Vidigal e José Adelino dos Santos, assassinados."
José Saramago
"O assassinato de Germano Vidigal, em 28 de Maio de 1945, está ligado à luta dos operários agrícolas de Montemor-o-Novo, e em geral em todo o Alentejo, por jornas mais elevadas. No início desse ano, em localidades como Albernôa, Machede, Montemor, São Manços, Ermidas e Alvalade, os assalariados rurais tinham-se já erguido na reclamação de melhores salários e do fornecimento de géneros." - http://www.avante.pt/pt/1905/pcp/108879/
O "Levantado do Chão" não é uma obra política, mas reproduz muito daquilo que foi a resistência das famílias de camponeses e demais trabalhadores do campo à penúria, à fome e pobreza.
Será mesmo um "Ensaio sobre a Penúria". - Rui Santos
A "Comunidade de Leitores Ler Saramago", orientada pela Professora Maria Leiria, reúne-se na primeira e última quinta-feira do mês, com o intuito de descobrir a mensagem sempre desassossegada e as suas personagens.