Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Pilar del Río "O último livro de José Saramago é um abraço aos leitores” - Revista Estante da FNAC (24.09.2018)

"Último Caderno de Lanzarote" - Porto Editora

"O livro que Pilar del Río descreve como um abraço de José Saramago 
aos leitores foi escrito há precisamente 20 anos mas ficou esquecido até agora 
no computador do autor português. O sexto e último volume do diário de José Saramago relata as suas experiências no ano em que conquistou o Nobel." (FNAC)

Pilar del Río "O último livro de José Saramago é um abraço aos leitores”
Revista Estante da FNAC (24.09.2018) por Tiago Matos
Fotografias: Bruno Colaço/4SEE

Pode ser recuperado e consultado aqui  

Nasceu em Espanha e por lá se fez jornalista, mas haveria de chamar casa também a Portugal. Tudo porque um dia, depois de ler O Ano da Morte de Ricardo Reis, decidiu visitar Lisboa e acabou por se encontrar com o seu autor. O homem com quem casou. E junto de quem permaneceu até ao fim. Vinte anos após a conquista do Nobel da Literatura por parte de José Saramago, conversámos com a mulher que preside a fundação criada em seu nome. A mulher que o continua. Pilar del Río.


O livro que Pilar del Río descreve como um abraço de José Saramago aos leitores foi escrito há precisamente 20 anos mas ficou esquecido até agora no computador do autor português. O sexto e último volume do diário de José Saramago relata as suas experiências no ano em que conquistou o Nobel. Chega em outubro às lojas FNAC.

Oito anos após a morte de José Saramago, o autor ainda se mantém presente na nossa sociedade, tanto através da literatura como das ideias que apresentava. Acha que Saramago é hoje um autor mais consensual do que quando era vivo?
José Saramago era, e é, um autor lido e amado em Portugal. E também fora de Portugal. Lê-lo provoca na experiência de leitura um antes e um depois, produz aquele corte de respiração que as grandes obras proporcionam. Não há porque ser consensual, os leitores são múltiplos, com gostos e educação distinta, mas o valor literário é inquestionável. Assim como o orgulho de tantos portugueses que viram como a obra cresceu, livro a livro, e hoje faz parte do que somos, pessoal e coletivamente. Enfim, um orgulho e privilégio de que fomos testemunha.


Na sua opinião, o que torna a obra e personalidade de Saramago tão marcantes?
O estilo literário. A honestidade intelectual. A valentia pessoal. A sua potência criadora. A capacidade para criar personagens inesquecíveis. A sua força transgressora. Talvez seja necessária ainda mais perspetiva temporal para vermos a dimensão desta pessoa com quem nos cruzámos na rua, que era igual a nós e que, no entanto, tinha o dom, a extraordinária capacidade de contar o mundo. Além disso, ao contá-lo levanta-o do chão porque nos faz a todos mais lúcidos e sábios. A sua obra literária é uma constante meditação que nos enriquece.

Foi em 1986, depois de ler O Ano da Morte de Ricardo Reis, que decidiu procurar e conhecer José Saramago.
A minha reação não foi singular: como tantos outros leitores, senti novas necessidades ao ler os seus livros. Com O Ano da Morte de Ricardo Reis soube que tinha de vir a Lisboa para incorporar esta cidade ao meu mapa pessoal. Conheço muitas pessoas que fizeram o mesmo. Insisto que a característica fundamental na obra de José Saramago é não deixar os leitores indiferentes. Depois de ler o seu livro, de uma forma ou de outra continuamos a procura dentro e fora de nós. José Saramago pedia, reclamava “leitores desassossegados”. É disso que se trata.

Será isso prova do poder que a literatura tem para mudar efetivamente a vida das pessoas?
A literatura não muda o mundo. Se assim fosse, com o tanto e de tanta qualidade que se produziu desde os gregos até hoje, o mundo seria outro. Não muda o mundo, dizia, mas a grande literatura intervém, sim, na maneira das pessoas estarem na vida. A forma de olhar e analisar o contexto e o mundo influencia, de maneira categórica, os projetos pessoais: quantas pessoas não decidiram estudar ou mudar de profissão movidas por uma leitura que fizeram de um autor? Não muda o mundo mas dá mais consciência aos leitores.

Saramago acreditava nos livros enquanto instrumento ativo de mudança?
José Saramago repetia até à saciedade que ninguém está obrigado a ler, ainda que acrescentasse, com bom humor, que “ler é bom para a saúde”. A esta frase poderíamos acrescentar outra declaração sua: “Querem-nos amedrontados, resignados ou indiferentes.” Pois a leitura faz-nos capazes de pensar e de enfrentar os lugares-comuns com que o poder – económico, social, religioso – trata de nos adormecer. Sim, ler é bom para a saúde da sociedade e também para a pessoal.

"Os prémios literários são um reconhecimento e agradecem-se. 
E, no dia seguinte, continua-se a trabalhar."

Como vê o momento atual da literatura portuguesa?
Acho que a literatura portuguesa e em português goza de boa saúde. Tenho a certeza de que a participação de Portugal como país convidado da Feira do Livro de Guadalajara, no México, servirá muito bem para se mostrar ao mundo – e também a nós – o valor e a personalidade do que hoje se está a fazer aqui.

Escrever é algo solitário, publicar é uma aventura, estar na livraria é um ato heroico, e estas três lutas podem fazer com que percamos o valor do conjunto, uma plêiade de escritores que estão a dar sentido e personalidade ao momento em que vivemos. Poderiam dizer o mesmo de todas as partes, é possível. O que sei é que aqui é certo e magnífico.

Qual foi o último livro que leu?
De literatura portuguesa, o último que li foi Estuário, da Lídia Jorge. Um livro absolutamente recomendável, um romance ambicioso e profundo que resume o mundo. Também li, há dias, ensaios de vários autores: Revolução, Meu Amor, de Maria Antónia Palla, O Mundo Não Vai Acabar, de Tatiana Salem Levy, e Filhos da América, de Nélida Piñon. Curioso, são todas mulheres…

Saramago apontou um dia Gonçalo M. Tavares como um potencial futuro vencedor do Nobel da Literatura. Na sua opinião, a literatura portuguesa – ou pelo menos a lusófona – pode ter um novo Nobel nos próximos anos?
Pois é, José Saramago apontou Gonçalo M. Tavares como escritor com obra para merecer o Prémio Nobel. Também falou de Mia Couto, tão imprescindível, e de outros escritores de língua portuguesa, mas o mais importante, prémios à parte, é saber que a literatura está viva, que é feita pelos escritores e mantida por nós, leitores.

O reconhecimento de uns e outros, escritores e leitores, é o que nos distingue e fortalece. A literatura é a memória dos países. Oxalá também nós, leitores, sejamos capazes de entender esta responsabilidade e não deixemos de estar interessados naqueles que, cada um com o seu estilo e sensibilidade, nos contam.

Foi há precisamente 20 anos que Saramago foi distinguido com o Nobel. Como é que a Pilar reagiu à notícia?
Com alegria e emoção, como tanta gente no mundo. Agora será publicado um livro (Um País Levantado em Alegria) onde Ricardo Viel, da Fundação, conta as reações que o prémio suscitou em tantos lugares e leitores. Vai ser importante que nos encontremos nessas páginas. E poderemos encontrar até nomes e apelidos, porque serão publicadas reações de notáveis e também cartas de leitores que quiseram marcar presença.

O que mudou na vida de Saramago a partir da distinção?
A vida de José Saramago continuou a ser a que era, o que mudou foi a receção dos seus livros e das suas declarações. De repente o foco sobre si aumentou de maneira impressionante. Insisto: não a responsabilidade, que era um sentido que José Saramago possuía num grau máximo, mas a difusão do que dizia. E não por ser Prémio Nobel, mas sim por ser “esse” Prémio Nobel. Antes e depois outros autores foram galardoados sem que essa repercussão acontecesse.

Digo mais: o que é normal é ser notícia apenas por um dia e ponto final. José Saramago continua a ser um referente deste tempo e o Prémio Nobel reconheceu-o na sua declaração.

Se Saramago não tivesse sido distinguido com o Nobel acha que continuaria a ser tido atualmente como um dos expoentes da literatura portuguesa?
Os prémios não fazem as literaturas, os prémios reconhecem – ou não, se são negligentes – as que existem. Sem o Nobel, José Saramago continuaria a ser o autor de Memorial do Convento, de As Intermitências da Morte, de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Ensaio sobre a Cegueira, para citar alguns títulos. E continuaria a ser, de forma absoluta, literatura universal.

"Os prémios não fazem as literaturas, os prémios 
reconhecem as que existem. 
Sem o Nobel, José Saramago continuaria a ser, de forma absoluta, literatura universal."

Como vê a decisão da Academia Sueca de suspender a atribuição do Nobel da Literatura por tempo indeterminado?
Às vezes é preciso tomar decisões fortes. O famoso “quanto pior, melhor”. Os académicos forçaram uma situação para que se mude o regulamento. Era preciso fazê-lo. Adotaram uma estratégia corajosa.

Qual é, para si, a importância dos prémios literários em geral?
São um reconhecimento e agradecem-se. E, no dia seguinte, continua-se a trabalhar.

De que forma será celebrado o 20.º aniversário da conquista do Nobel por parte da Fundação José Saramago?
A Fundação, e aqueles que a nós se associaram, decidiu celebrar os leitores. Para isso será publicado o diário do ano do Nobel, esse original que poderemos ler 20 anos depois e que parece quase uma brincadeira de José Saramago, um gesto inesperado que entendo como um abraço. Também para os leitores aparecerá Um País Levantado em Alegria, que explica como vivemos aqueles dias.

Também haverá sessões literárias na Fundação, homenagens à língua portuguesa, uma sinfonia, as obras de teatro, programas de televisão, os diversos encontros em todo o país e fora de Portugal. Enfim, não queremos que a literatura e os leitores deixem de ser notícia desde o dia 8 de outubro, quando abre o Congresso Internacional sobre José Saramago organizado pelo Professor Carlos Reis, da Universidade de Coimbra.

Tal como refere, em outubro chegará às livrarias um inédito de Saramago, o sexto – e aparentemente último – Caderno de Lanzarote. Como descobriu este volume esquecido?
Descobri-o no disco rígido do computador de Lanzarote. Estava ali, escondido, à espera. Não estava à procura, encontrei-o porque havia chegado a hora de partilhá-lo.

O que podemos esperar?
Ali encontramo-nos com o homem prévio à notícia do Nobel, com o que era a sua vida e o que nela fazia, e o que aconteceu naqueles dias de outubro a dezembro de 1998. Manifestar-se-á, de forma rotunda, a austeridade, que era uma característica de José Saramago, a sua forma de ver o mundo naqueles dias em que, por decisão própria, viveu para os outros, sem guardar nada. Porque era o seu prémio, eram os seus livros, mas sem os leitores nada poderia ter acontecido. Este último livro de José Saramago é um abraço aos leitores.

Por: Tiago Matos
Fotografias: Bruno Colaço/4SEE

Assinalamos a data histórica do 1.º de Maio

Fotografia no pós 25 de Abril de 1974
José Saramago numa intervenção e acção de esclarecimento



Cartaz do artista plástico José Santa-Bárbara alusivo ao 1.º de Maio


"Intermitencias: La muerte masiva" publicado por Miguel Koleff no HoyDía Córdoba - Argentina (30/04/2020)



A crónica de Miguel Koleff pode ser consultada e recuperada aqui
em https://hoydia.com.ar/cultura/68884-intermitencias-la-muerte-masiva.html



…em menos de quarenta e oito horas

qual rastilho de pólvora, qual nova

epidemia, alastrou a todo o país (José Saramago).


"El coronavirus es, por cierto, muy peligroso, pero si no estuviera asociado a la muerte masiva tal vez sería más llevadero. Ese es –en realidad- el verdadero problema que trae aparejada la enfermedad; contradice la idea de que morimos en el momento justo y de que nuestra muerte es individual, nos pertenece de manera unívoca. La muerte masiva degrada «mi» muerte, al decir de Heidegger, y eso es lo imperdonable. Según Byung-Chul Han, “La muerte no supondría una violencia si fuera un final resultante de la vida, del tiempo de la vida. Solo así es posible vivir la vida desde sí misma hasta el final, morir en el momento justo. Sólo las formas temporales del final generan, contra la terrible infinitud, una duración, un tiempo pleno, lleno de significado”. (Han, El aroma del tiempo. Un ensayo filosófico sobre el arte de demorarse, 2019 [2009], p. 22).

Recuperemos dos pensamientos del extracto reproducido. Por un lado, la violencia que supone que nos arranquen la existencia cuando a la Parca se le da la gana y sin consultarnos; y por otro lado, la consideración sobre la «vida plena», esa que le daría sentido y justificaría su continuidad. Aunque los dos están imbricados, sobre el segundo mucho no podemos decir ya que depende de nuestra responsabilidad y de nuestro esfuerzo en función de las circunstancias en las que nos toca actuar y/o intervenir. Pero sobre el primero cabe detenernos un poco más. Porque trasunta violencia; y porque no respeta la singularidad de cada quién; aparece así de la nada, nos fulmina y nos reduce a un cadáver de entre los muchos que se «amontonan sin cesar», según la fórmula de Walter Benjamin en su tesis 9 de “Filosofía de la Historia”. Este punto es crucial en el contexto del Covid-19 y no podemos ignorarlo: perturba, molesta y nos pone en estado de alerta.

Quien mejor se ha referido a este tópico es, posiblemente, el escritor portugués José Saramago, que, en su novela “Las intermitencias de la muerte” nos plantea alguna reflexión sobre el asunto. Al comienzo del libro, aparece «la muerte» como personaje (escrita en minúscula) que –declarada en huelga- deja de incidir en la vida humana y desaparece de escena, para luego -después de algunos meses- retomar las tareas y ponerse al día con los fallecimientos pendientes. Acción esta que ejecuta sin piedad, y sin medir la forma en que socava el sistema administrativo, político, económico y social, abarrotado de tanta demanda.

Hagamos el esfuerzo de detenernos en esta fase que, bien podríamos llamar la de la “muerte masiva”, y pensemos como se parece a la que estamos viviendo de manera global cuando, a cada minuto, el número de óbitos se extiende considerablemente por efecto de un virus incontrolable. Los féretros de cartón de Guayaquil podrían servir de ejemplo y explicar un colapso semejante sin necesidad de ahondar en detalles escabrosos. Vayamos a la cita: “Mucho más que una hecatombe. Durante siete meses, que fueron tantos los que duró la tregua unilateral de la muerte, se fueron acumulando en una nunca vista lista de espera más de sesenta mil moribundos, para ser exactos sesenta y dos mil quinientos ochenta, que descansaron en paz por obra de un instante único, de un segundo de tiempo cargado de una potencia mortífera que exclusivamente encontraría comparación en ciertas reprobables acciones humanas. A propósito, no nos resistiremos a recordar que la muerte, por sí misma, sola, sin ninguna ayuda exterior, siempre ha matado mucho menos que el hombre (Saramago, 2005, p. 141).

Tal como se expone en el fragmento, la «potencia mortífera» se desencadena con un poder aniquilador sin precedentes. Finalmente, es su prerrogativa, lo que le corresponde ejecutar después de un período de inactividad y alcanza a aquellos que ya estaban marcados. A diferencia del coronavirus, que prolonga la agonía en una curva cada vez más creciente, la «hecatombe» de Saramago afecta un solo país y se produce en una fecha concreta. Fuera de ello no hay diferencias. El ser humano desaparece como si fuera una mosca y las condiciones productivas se alteran radicalmente.

Si a la medicina le importan los vivos; a la política, la funcionalidad del sistema; y a la seguridad, el cumplimiento de las obligaciones dispuestas por el Estado; a la filosofía y a la literatura lo que le preocupa es conocer la razón de esa metamorfosis que nos hace devenir en cifra a expensas de un proyecto de vida. O, dicho de otra forma: cuál es el sentido de nuestro paso por este mundo si es tan fácil borrarnos de un plumazo. A Saramago eso no se le escapa y avanzadas algunas páginas, jaquea a la propia muerte con el amor humano que nunca pudo entender haciéndola actuar de manera más amable y generosa. Para el autor, queda claro, el modo de vivir se estrecha al modo de morir.

Algunos pensadores de la actualidad, al analizar el efecto devastador de esta pandemia, profetizan el fin del capitalismo, considerando que este sistema económico y social ha invertido las prioridades y nos ha alejado significativamente de aquello que nos constituye como especie. No podemos saber a ciencia cierta si el pronóstico es acertado o no, pero lo que sí podemos chequear –y sobra evidencia- es que para cuidarnos del virus debemos potenciar lo que este orden mundial ha querido siempre de nosotros: que seamos individualistas, que estemos solos, que mantengamos la distancia, que temamos los contactos próximos y que abandonemos la emoción y el sentimiento que comunican los besos y abrazos que antes creíamos imprescindibles. Han señala que «la revuelta contra la muerte, la hipertrofia del yo y la ciega negación de lo distinto se condicionan y refuerzan mutuamente» (Han, Muerte y alteridad, 2018 [2012, p. 10). En las medidas adoptadas para protegernos se construye este perfil, lo vemos a diario, lo que no deja de ser curioso porque va a contrapelo de lo que esta muerte, igualadora y colectiva, quiere enseñarnos. Ella avasalla las clases sociales, neutraliza las diferencias articuladas por las mañas del poder y nos hace parte de una misma comunidad de víctimas, incluso a pesar de nosotros mismos.

La novela de Saramago comienza y termina igual: «Al día siguiente no murió nadie» (Saramago, 2005, p. 274). La frase coincide pero las circunstancias no. Al final del libro, aquello que era la predicción del horror que empezaba a instalarse, se transforma en la promesa de algo distinto: un futuro que puede llegar a escribirse con mayúscula y que dependerá de los sobrevivientes.


Fuentes consultadas

Han, B.-C. (2018 [2012). Muerte y alteridad. Buenos Aires: Herder.

Han, B.-C. (2019 [2009]). El aroma del tiempo. Un ensayo filosófico sobre el arte de demorarse. (P. Kuffer, Trad.) Buenos Aires: Herder.

Saramago, J. (2005). As intermitências da morte. Lisboa: Caminho. Traducción al español de Alfaguara."