Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 29 de março de 2018

"Mafra promove-se pouco através de Saramago, 20 anos depois do Nobel" palavras do investigador Marcelo Gonçalves Oliveira ("SapoMag" e "DN", 23/02/2018)

A nótícia pode ser recuperada e consultada aqui
em https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/mafra-promove-se-pouco-atraves-de-saramago-20-anos-depois-do-nobel
e https://www.dn.pt/lusa/interior/mafra-promove-se-pouco-atraves-de-saramago-20-anos-depois-do-nobel---estudo-9139342.html

"Mafra promove-se pouco através de Saramago, 20 anos depois do Nobel"



"Museu de Escultura fechado há 44 anos no Palácio Nacional de Mafra quer reabrir
Mafra continua sem atrair turismo literário por manter fora da visita ao palácio e à vila a abordagem a José Saramago e à sua obra, 20 anos depois da atribuição do Nobel da Literatura, defenderam hoje investigadores.

“Se quiser ir a Mafra fazer uma visita ao palácio ligada a José Saramago não posso, porque, apesar de conhecer a sua obra e poder visitar o palácio ou a vila, falta algo que faça a ligação entre os dois”, afirmou à agência Lusa o investigador Marcelo Gonçalves Oliveira, que leciona a disciplina de Literatura e Destinos Culturais na Universidade Europeia.

No estudo intitulado “Mafra e Saramago. Estratégias de mediação entre um potencial Património Mundial da Humanidade e uma obra-prima literária do Prémio Nobel”, investigadores daquela universidade consideraram que Mafra só tem a ganhar com a promoção do destino através de Saramago e do romance “Memorial do Convento”, inspirado na história da construção do palácio e traduzido em 50 línguas.

Numa altura em que Mafra formalizou a candidatura do palácio a património mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, na sigla em inglês), os investigadores recordaram que a ligação do património à literatura universal é um dos critérios apreciados pela UNESCO, que distingue também as “Cidades da Literatura”.

“O facto de não haver referências a Saramago no palácio e na vila não prejudica a candidatura, mas se existissem poderiam beneficiá-la”, enfatizou Marcelo Gonçalves Oliveira.

As referências a Saramago e à sua obra resumem-se à Escola Secundária José Saramago na vila e, no palácio, à peça de teatro adaptada do romance por Filomena Oliveira e Miguel Real e encenada pela companhia Éter, assim como às visitas guiadas para as escolas, porque o escritor é estudado no ensino secundário.

Também as páginas na Internet do palácio e do município omitem a ligação de Mafra à obra de Saramago.

Como justificação, é apontado o facto de Saramago ser considerado um autor polémico pela sua orientação política e antirreligiosa e pela intenção de, no “Memorial do Convento”, “manipular” a história, fazendo do povo que participou na construção do monumento protagonista da narrativa em detrimento do rei João V.

Os investigadores defendem que a literatura pode promover experiências de visitação diferentes e recomendam que se recorra às novas tecnologias para incluir Saramago.

“Em vez de remeter para o escritor, pode remeter-se o ‘Memorial do Convento’, cujas personagens principais Baltazar e Blimunda são muito queridas de quem lê e acabam por representar a população de Mafra”, exemplificou Marcelo Gonçalves Oliveira.

De autoria de Marcelo Gonçalves Oliveira, Maria do Carmo Leal, Maria Isabel Roque, Maria João Forte, Sara Rodrigues de Sousa e Antónia Correia, o estudo foi realizado no âmbito de um projeto multidisciplinar sobre destinos turísticos ligados à literatura, que junta investigadores das áreas da literatura, museologia, antropologia, ‘marketing’ e turismo.

O projeto foi financiado pelo grupo internacional de ensino superior de que a Universidade Europeia faz parte.

A investigação foi dada a conhecer em abril do ano passado, em Coimbra, durante uma conferência da UNESCO.

Após a divulgação do estudo, foi anunciada uma rota cultural por Lisboa, Loures e Mafra inspirada em Saramago e no “Memorial do Convento”.

Em 2017, o Palácio de Mafra foi visitado por cerca de 378 mil pessoas."

Pilar del Río: "Cultura e feminismo são indissociáveis" ao "Portal Vermelho" (São Paulo - Brasil, 12/03/2018)

A entrevista de Verônica Lugarini para o "Portal Vermelho" (São Paulo - Brasil) de 12/03/2018 a Pilar del Río, pode ser recuperada e consultada aqui

"Companheira de anos do escritor português José Saramago, a jornalista, tradutora e presidenta da Fundação Saramago, Pilar Del Río conversou com o Portal Vermelho em sua passagem por São Paulo. Com opiniões fortes, Pilar falou sobre sua relação com a literatura: “Sou admiradora da generosidade sem limites que têm os escritores e as escritoras porque compartilham sua intimidade com os leitores”. E foi por essa admiração entre leitor e escritor que conheceu Saramago."

Pilar del Río: "Cultura e feminismo são indissociáveis"
Fotografia de Eduardo Zappia

"A presença de Pilar del Río no Tucarena em São Paulo tomou o espaço. Quando Pilar se levantou para falar, o silêncio e admiração se fizeram presentes. O evento aconteceu nesta última sexta-feira, 8 de março no Dia das Mulheres.

A voz suave e aveludada da companheira do já falecido escritor José Saramago (1922 – 2010) contrasta com as palavras fortes que carregam um discurso tanto político quanto poético. 

Com bom humor, começou dizendo o motivo pelo qual opta por falar apenas em espanhol, apesar de ter a tradução como ofício e ter vivido durante 22 anos com um português.

“Sou tradutora de português para espanhol, mas há uma maldição: os falantes de português nunca falarão espanhol e os falantes de espanhol nunca vão falar português. É impossível porque somos muito próximos e, portanto, sendo duas línguas tão próximas, é melhor que falemos nossas próprias línguas”, explicou Pilar.

Muitas vezes tratada como “viúva de Saramago” por jornalistas, Pilar é incisiva ao falar que viúva é uma palavra horripilante e que "não vivia com Saramago, vivia com o José".

A forma como Pilar e José se conheceram está à altura de romances, onde a escrita une dois amores que apenas esperavam pelo momento do encontro. 

A vida do casal rendeu o documentário intitulado José e Pilar (2010), onde Saramago conta: “Um dia de junho de 1986 telefona para minha casa em Lisboa, onde eu então vivia, uma senhora que dizia chamar-se Pilar del Río, de profissão jornalista, leitora minha e que queria, uma vez que viajaria a Lisboa, gostaria, se eu tivesse tempo, de conhecer-me. E eu disse que sim senhor".

Pilar o procurou porque gostava muito do livro O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) e queria agradecer o prazer da leitura. Entre um café e uma visita ao túmulo de Fernando Pessoa a conexão estava feita e ela não seria rompida até a morte do escritor. Ainda hoje o vínculo é forte, pois Pilar preside a Fundação Saramago, mantendo a obra e as lembranças do escritor para a posteridade. 

Este ato de agradecimento que a fez conhecer Saramago é característico da tradutora e foi lembrado durante a entrevista ao Portal Vermelho quando questionada sobre sua ligação com a literatura. 

“Na literatura o que sou é leitora e admiradora. Sou uma pessoa que toda manhã quando acordo sempre digo: ‘Cinco razões para ver’. Preciso encontrar razões para ir além. Como leitora sou admiradora da generosidade sem limites que têm os escritores e as escritoras porque compartilham sua intimidade com os leitores. Me situo como leitora simplesmente, não sou uma produtora de literatura”, afirmou.

Indissociável da vida do escritor desde que se conheceram, Pilar sempre esteve conectada a vida e obra de Saramago. Pilar traduziu os livros do autor do português para o espanhol e neles, Saramago sempre se referiu a Pilar forma carinhosa, deixando claro que a aguardava para “sentir a quarta dimensão do amor”. 

Em sua dedicatória do livro As Pequenas Memórias (2006), por exemplo, ele escreveu: " A Pilar, que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar”.

Desde 1986, ano em que se conheceram, Saramago publicou 10 romances durante sua vida e em mais da metade deles as dedicatórias são para Pilar. Em A viagem do elefante (2008) ele diz: “A Pilar, que não deixou que eu morresse” e em Caim, último livro publicado em vida (2010), ele escreve: “A Pilar, como se dissesse água”.

"Imagem do documentário "José e Pilar", 
do diretor Miguel Gonçalves Mendes (2010)"

Espanhola nascida em Sevilha em 1950, Pilar é feminista, comunista e ateia e se expressou com fervor em uma data que representa as mulheres e a luta por igualdade de direitos.

“Se nós mulheres pararmos, o mundo para. Para seguir sua órbita, o mundo precisa da força das mulheres(...). Queria dizer que precisamos do feminismo, precisamos de educação e precisamos de cultura porque é isso que somos. Somos uma voz que não se pode silenciar porque estamos estudando e porque sabemos que nossas armas não são os tanques, os fuzis, ou as armas, mas a cultura. Pois, com a cultura podemos ir mais longe”, disse aos ouvintes. 

Ao Vermelho Pilar explicou mais sobre essa reflexão:

“Todos nós, e todas as mulheres, sabemos que temos a obrigação e o dever de nos instruir, pois uma pessoa instruída é menos manipulável. E nós, mulheres, não fabricamos filhos para a guerra, nem para morrer. Queremos filhos que tenham cada vez mais capacidade de defesa. Por isso, acredito que a cultura e o feminismo são indissociáveis”. 

Questionada sobre como vê o papel da escritora nesse ambiente cultural de empoderamento feminino que levou ao aumento de publicação de livros de mulheres, Pilar citou Virginia Woolf (1882 – 1941), escritora inglesa que trabalhou questões políticas, sociais e feministas em suas obras.

“Virginia Woolf escreveu uma conferência, já publicada, que nos ensina: ‘Se a mulher não tiver um quarto próprio [em referência ao livro Um teto todo seu], dificilmente poderá escrever’. Porque a história da literatura passada não é uma história que respeitou as mulheres. As mulheres não podiam escrever, ou seja, a escrita não era feita para elas, assim como a música, a pintura, a escultura e não nos era permitido pensar e também não éramos filósofas”. 

“Ultimamente, nós mulheres, estamos ocupando o espaço. Efetivamente, a literatura é algo que se faz entre o papel e a pessoa, logo [as mulheres] têm muito mais dificuldade para publicar e quando publicam, a crítica faz muito menos caso. As escritoras estão piores colocadas e isso não é uma opinião, isso é um dado constatado. Ainda assim, nós mulheres, estamos ocupando um espaço, estamos escrevendo considerações e reflexões. E eu acho isso fantástico porque faz com que saibamos que vamos navegando contra a corrente. Ser mulher continua sendo muito difícil, mas a cada dia [estamos] mais conscientes de quem somos e nos movemos mais”.

Ainda no universo da literatura, Pilar citou escritoras que admira e novamente apareceu o nome de Virginia Woolf.

“Virginia Woolf, que citei agora mesmo, por exemplo. Outro livro é Americanah que é absolutamente maravilhoso [da autora Chimamanda Ngozi Adichie] e estão aparecendo muitas mulheres portuguesas como Lídia Jorge e Agustina Bessa-Luís. Também gosto de Lygia Fagundes Teles. Há escritoras mulheres que são muito interessantes porque têm sempre uma perspectiva distinta”.

Política 

Ainda em seu discurso para o público, na maioria mulheres, Pilar destacou o papel das mulheres latino americanas.

"Pilar del Río durante seu discurso no Tucarena em 8 de março de 2018"

“Uma coisa que se repetia na manifestação e na passeata era: A América Latina será feminista. Por que até agora, as mulheres participaram pouco na construção deste continente e, talvez por isso, esse continente esteja mal. (...) Está tão mal porque sempre houveram elites que governavam (...), elites que não deixaram as mulheres governarem”.

E citou mulheres que hoje estão na política como Michelle Bachelet, presidenta do Chile e Cristina Kirchner, ex-presidenta da Argentina e Dilma Rousseff, ex-presidenta do Brasil que sofreu um impeachment, que chegou ao poder com a proposta de dar continuidade à eficácia do serviço público. Entretanto, ser mulher e ter características femininas pesaram na hora do impeachment.

“Minhas queridas, somos o futuro e temos direitos, todos, mas também temos uma obrigação que é salvar os nossos países porque temos que salvar a humanidade e precisa ser agora, não depois de amanhã. Vamos acabar já com o poder patriarcal”. 


quarta-feira, 28 de março de 2018

Datas de apresentação da peça de teatro baseada na obra de José Saramago "Memorial do Convento" pela "ÉTER - Produção Cultural"

Link da "ÉTER - Produção Cultural" https://www.facebook.com/EterProducaoCultural/


Informação publicada no evento via Facebook
"A ÉTER - Produção Cultural tem o prazer de apresentar para o público em geral, "Memorial do Convento" de José Saramago, com adaptação dramatúrgica de Filomena Oliveira e Miguel Real, em cena desde 2007 no Palácio Nacional de Mafra, com apresentações na Fundação José Saramago, desde 2013 no Centro Cultural Olga Cadaval, Theatro Circo de Braga, Universidade de Évora e no programa Escritarias em Penafiel, dedicado a José Saramago.

Memorial do Convento – Palácio Nacional de Mafra
Terreiro D. João V - 2640 Mafra

2ª TEMPORADA 18h 
07 de Abril
05 de Maio
02 de Junho
07 de Julho
04 de Agosto

Legendado em Inglês
Duração do espetáculo: 90m (aprox)
M/12 anos
Entrada normal: 12,50€
Entrada com desconto: 10€ ( < 18 anos | > 65 anos | Famílias de 4 elementos | Grupo de 10 ou + pessoas | * Entrada Familiar restrito a parentesco directo e sob apresentação de identificação)

As reservas deverão ser levantadas e realizado o seu pagamento na bilheteira e apenas no próprio dia até 30 minutos antes do início do espetáculo.

Horário da Bilheteira do Teatro: 
17h às 18h
O espetáculo começa exactamente à hora marcada e as portas do Palácio Nacional de Mafra encerram às 18h10.

Nota: Não dispomos de pagamento MB
O Auditório situa-se num piso superior, tendo apenas acesso pela escadaria (88 degraus) e o WC encontra-se disponível apenas junto aos Claustros no piso térreo.

Parceiros online: 
Ticketline | Blueticket | Odisseias | Cherryblue

Informações: 929 130 721 
Reservas: book@virtualeter.com

Unidos por um amor maravilhoso, Blimunda e Baltasar reúnem-se a Padre Bartolomeu de Gusmão e ao seu sonho de voar. A Passarola, máquina voadora, misto de barco e de pássaro, nasce do saber científico de Padre Bartolomeu, da força de trabalho de Baltasar e dos poderes de Blimunda recolhendo as vontades humanas (“as nuvens fechadas”) que alimentarão a máquina e a farão voar. A história encantada que revolucionou a literatura portuguesa do nascimento de um convento no século XVIII.

Nesta adaptação dramatúrgica, a relação dinâmica entre os cinco actores, a música original, a luz e os espaços cénicos dão vida a dezassete personagens e a momentos essenciais do Memorial do Convento.

O público pode ainda desfrutar de uma exposição fotográfica relacionada com a ONGD ÚNICA Mixing Cultures, experenciar a instalação multimédia Cabaça 2 - uma experiência baseada na atmosfera característica da Guiné-Bissau e da sua diversidade cultural em forma de som, vídeo, luz, cenografia e fotografia, que podem ser manipulados pelos visitantes através de sensores - e ainda visitar a loja solidária Única Mixing Colors."

sexta-feira, 23 de março de 2018

Recordação da passagem de José Saramago por Torres Novas ("Viagem a Portugal") e a menção ao melhor cabrito assado - via "mediotejo" (Cláudia Gameiro, 22/03/2018)

A reportagem de Cláudia Gameiro (22/03/2018), pode ser consultada aqui 
em http://www.mediotejo.net/torres-novas-ir-ao-cabrito-a-torres-novas-e-lembrar-uma-viagem-de-saramago-c-video/



"Torres Novas Ir ao cabrito a Torres Novas e lembrar uma viagem de Saramago"

"De 23 de março a 1 de abril decorre em Torres Novas, juntando 29 restaurantes, o Festival Gastronómico do Cabrito. Depois de 28 edições, este festival quer continuar a afirmar o que de melhor e mais típico é feito por terras torrejanas, potenciando-se um turismo que se quer cada vez mais integrado. Recordando a história deste projeto, tudo começou há mais de 30 anos, com alguma inspiração no livro “Viagem a Portugal” de José Saramago.

“O Viajante… pode aqui declarar que em Torres Novas conheceu, e disso se aproveitou, o mais maravilhoso cabrito assado de toda a sua vida. Como se chega a tal obra-prima de culinária não sabe o viajante, que nisso não é entendido. Porém, confia no seu paladar, que tem discernimentos de sábio infalível, se os há.”

José Saramago, in Viagem a Portugal (1981)

Entre outubro de 1979 e julho de 1980, José Saramago percorreu o país a convite do Círculo de Leitores, que comemorava na época o décimo aniversário da sua implantação em Portugal. Terá dito o autor, segundo a sinopse que apresenta a edição da Porto Editora, “após essa deambulação, misto de crónica, narrativa e recordações, que «o fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite… É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos»”.

Nesta sua “deambulação”, Saramago percorreu em boa verdade grande parte do território do Médio Tejo, tendo parado em Torres Novas e apreciado o que designou de “o mais maravilhoso cabrito assado de toda a sua vida”. A pequena passagem na obra terá servido, em parte, de inspiração para o projeto da Associação dos Amigos de Torres Novas de desenvolver uma Festival Gastronómico do Cabrito no concelho, que teve, entre outros promotores, Joaquim Rodrigues Bicho ou Luís de Sttau Monteiro.

Assim o narra João da Guia, antigo jornalista da Antena 1 e grande mentor do projeto, que conseguiu reunir na primeira edição do Festival um grande número de órgãos de comunicação social nacionais para a sua divulgação. A ideia subjacente a todo a iniciativa era levar o “cabrito a todos”, ricos e pobres, recordando-se o facto de que apesar de haver centenas de pastores no concelho em meados dos anos 80, poucos comiam efetivamente a carne dos cabritos, ficando apenas com as tripas e pequenas partes do animal.

João da Guia estava na Casa do Ribatejo em Lisboa quando o município de Torres Novas fez uma apresentação pública do Movimento de Intercoletividades de Torres Novas, uma iniciativa que uniu os vários quadrantes políticos locais para analisar os “problemas mais gritantes” do concelho e procurar soluções. “Que medidas a tomar?”, era a questão, em relação ao hospital, à poluição, ao rio almonda, à decadência do figo e à promoção turística.

Na sequência deste projeto, que coincidiu com a época da entrada de Portugal na União Europeia, narrou João da Guia ao mediotejo.net, constituiu-se a Associação dos Amigos de Torres Novas, pertencendo este ainda aos órgãos sociais. Foi esta associação que, em conjugação com a Câmara e a ACIS – Associação Empresarial de Torres Novas, Entroncamento, Alcanena e Golegã, criou o Festival Gastronómico do Cabrito, mas também a Feira dos Frutos Secos, que se realiza até hoje.

“Defender a gastronomia e a cabra torrrejana” foi um dos principais objetivos da associação com o festival gastronómico, salientando-se as características específicas deste animal criado na Serra d’Aire, cujo consumo de ervas aromáticas da serra, argumenta João da Guia, lhe dá um sabor muito particular. Acresce, adiantou o jornalista, que o cabrito integrava o primeiro símbolo da heráldica de Torres Novas, tendo-se encontrado também ossadas de cabrito no Castelo de Torres Novas. “A história do cabrito é já dos tempos muito antigos”, constatou, e quis-se preservar essa herança.

Defender a cabra serrana, as queijarias, incentivar a economia local ante a abertura de Portugal para a Europa foi na altura o motor do evento, mas também na perspetiva de levar o cabrito a toda a gente, deixando-se de o relacionar com um produto só para a elite. Procurou-se assim as antigas receitas, concluindo-se que o método de confeção mais tradicional era o cabrito assado no forno, com grelos e arroz de miúdos.

Outra das ideias que estive na base da inspiração do evento foi a passagem de José Saramago por Torres Novas no livro “Viagem a Portugal” e a referência de que comera o melhor cabrito da sua vida. João da Guia não se cansa de enumerar as várias figuras que se envolveram então com o projeto, numa época em que não havia assim tantos festivais gastronómicos e quando se procurava sobretudo potenciar a economia local.

Atualmente já poucos rebanhos há na serra, elogiando João da Guia o projeto do rebanho da Serra d’Aire que se encontra a ser desenvolvido pela junta do Pedrógão. Para Joaquim Cabral, vereador do turismo na Câmara de Torres Novas, o festival é para continuar, equacionando-se no futuro alargar inclusive o período temporal do evento.

Este ano os restaurantes aderentes – atingiu-se o número recorde de 29 – terão uma mesa com produtos locais e pequenos concertos musicais a acompanhar quem queira saborear o cabrito torrejano. Foi ainda lançado um Guia turístico de Torres Novas em inglês.

“Estamos a procurar articular estas coisas cada vez mais”, defendeu o vereador. Potenciar o turismo através de uma integração de tudo o que Torres Novas tem para oferecer, do Boquilobo à Gruta das Lapas, passando pela Serra d’Aire e as suas Pegadas dos Dinossáurios. “Interessa-nos harmonizar tudo de modo global para aumentar o turismo”, defendeu.

Segundo o autarca, Torres Novas registou em 2017 um total de 25 mil dormidas. Para o futuro prevê-se aumentar a oferta de rotas turísticas.

“Este evento representa uma homenagem ao cabrito de Torres Novas e ao próprio José Saramago”, comentou o presidente da Assembleia Municipal, José Trincão Marques, na apresentação do Festival, na sexta-feira, 16 de março. O autarca salientou a importância do turismo para o desenvolvimento local, destacando o papel da agricultura e da pecuária.

Torres Novas | Ir ao cabrito a Torres Novas e lembrar uma viagem de Saramago (c/vídeo)  
A Associação dos Amigos de Torres Novas esteve por trás da fundação do Festival do Cabrito, que pretendia potenciar a economia local e levar o cabrito a todos Foto: mediotejo.net
José Trincão Marques terminaria a sua intervenção a defender o presidente da Câmara, Pedro Ferreira, como o responsável que mais se preocupou com as questões ambientais, lançando o desafio do município se tornar a capital da preservação da natureza.

Já Pedro Ferreira, no mesmo evento, salientou a localização estratégia de Torres Novas e o seu “potencial riquíssimo”, referindo que o festival do cabrito é uma homenagem aos antepassados. Agradeceria assim a João da Guia o trabalho desenvolvido em prol de Torres Novas, mas também ao presidente da junta de freguesia do Pedrógão pelo exemplo dado com o rebanho de cabras da Serra d’Aire."

José Luís Peixoto: "Pessoa y Saramago abrieron las puertas que aún usamos" ao "El Espectador" (16/03)

José Luís Peixoto: "Pessoa y Saramago abrieron las puertas que aún usamos", de Cynthia de Benito (EFE, 16/03/2018) aqui,
em https://www.elespectador.com/noticias/cultura/jose-luis-peixoto-pessoa-y-saramago-abrieron-las-puertas-que-aun-usamos-articulo-744805

"El escritor portugués José Luís Peixoto, una de las plumas más destacadas de su generación, está convencido de que la literatura lusa vive un buen momento en España y América Latina gracias a las puertas que abrieron Fernando Pessoa o José Saramago y que su compañeros, dice a Efe, "aún" usan."

"el escritor José Luis Peixoto, quien anuncia que 
estará en la Feria del libro de Bogotá, el próximo mes. Getty images"


"Es parte de la llamada "herencia recibida" de la que gozan contemporáneos como él que, sostiene, cuentan con referencias ante las cuales se debe "estar a la altura" y "puertas abiertas" en todo el mundo que "aún son utilizadas" por escritores de su generación.

"Siento que algo común a esta generación de autores es no gritar una ruptura con lo anterior, no 'asesinar al padre', porque siento que estamos cómodos con esa herencia", agrega en una entrevista con Efe en Funchal, capital del archipiélago luso de Madeira, durante el Festival Literario que se celebra en la isla. (Lea: El evangelio según Saramago)

Allí, el autor de "Galveias" o "Te me moriste" ha participado en una charla sobre los objetivos de la literatura, actividad que a su juicio "tiene siempre una dimensión política social".

Peixoto (Galveias, 1974) ha dado constantes muestras de ello en sus novelas, frecuentemente ambientadas en el mundo rural portugués y con abundantes elementos biográficos, pues él mismo no llegó a la ciudad hasta los 18 años, cuando se marchó a estudiar a Lisboa. Su interés por el interior del país le ha valido un buen número de premios -llegó a ser el vencedor más joven de la historia del Premio José Saramago por "Nadie nos mira"-, y una suerte de fama como retratista de las aldeas lusas, a las que solo ha apartado para abordar desde la "no-ficción" Corea del Norte o Tailandia.

Pero ahora Peixoto, que se resiste entre risas a aceptar que sea considerado el sucesor de Saramago ("entiendo esas palabras como un gran elogio, pero sé que nunca podría ser efectivamente su continuador") se siente impelido a regresar a la ficción.

"Estoy escribiendo una novela en que la ficción está más presente, aunque como en otros libros también me gusta y me parece interesante jugar con la autobiografía", comenta Peixoto, que se niega a desvelar nada más.

El escritor comenzó con la poesía, se pasó a la narrativa y, tras su inmersión en la no ficción (que fue todo un "desafío"), concluye que es "bueno atravesar fronteras" entre lo biográfico -y por tanto real- y la ficción, tendencia que considera "muy contemporánea".

En cualquier caso, también es relevante ejercer el "compromiso social", algo con lo que se siente muy identificado este autor, que emplea un tono sereno y tiene siempre la risa pronta a surgir.

"Cualquier escritor cuando escribe está ejerciendo su compromiso social porque está colocando en el texto gran cantidad de convicciones, incluso formales, que son también un mensaje, una idea transmitida a los otros que tiene su impacto y sus consecuencias", subraya.

El tema sobre el que él ejerce presión son las relaciones de familia y los roles dentro de ella, pero también "la ruralidad", un asunto que lejos de ser exclusivo de Portugal es "un problema incluso en cierta medida ibérico".

"He escrito bastante sobre el mundo rural, tiene mucha importancia escoger ese tema. Creo que los autores pueden llamar la atención para un determinado tema, y creo que es muy relevante hablar de eso en Portugal. Existen desequilibrios muy importantes en diversos aspectos de ese territorio", sostiene.

Lo sucedido el año pasado en el interior de Portugal, donde murieron más de 100 personas en incendios, "fue muy traumático" para el país, apunta Peixoto, que cree necesaria una visión a largo plazo no solo para reconstruir, sino para afrontar los retos de la zona.

Mientras, sus novelas, que hablan de la vida en Galveias o reconstruyen las relaciones madre e hija en torno a la aparición de la Virgen de Fátima hace un siglo, viven su mejor momento de expansión, con varias publicaciones el año pasado en México, Perú o Venezuela. Peixoto planea publicar pronto también Cuba.

El periplo se completa con su presencia en la próxima edición de la Feria del Libro de Bogotá, tras haber publicado tres novelas en Colombia. "Para mí es fantástico, porque siento que hay un interés y curiosidad por la literatura portuguesa contemporánea en esos países, que es muy sorprendente para mí, pero que creo que tiene que ver con la forma en que fueron abiertas las puertas por Saramago, un autor que era y continua siendo muy leído en esos países", sugiere.

Es también un indicador, dice, de cómo Portugal tiene "muchas veces más identificación con América Latina que dentro de la propia Europa, de la cual supuestamente formamos parte"."

quarta-feira, 21 de março de 2018

"Abraço, Carinho, Saudade Dedicatórias para Saramago" por Ricardo Viel (revista Piauí, edição #88 de Janeiro de 2014)

O presento artigo pode ser recuperado e consultado aqui

"Abraço, Carinho, Saudade Dedicatórias para Saramago" 
por Ricardo Viel 
revista "Piauí" edição #88 de Janeiro de 2014



Ilustração: Andrés Sandoval (2013)

"Rubem Braga mandou um abraço num exemplar da Traição da Elegantes, autografado em 1983. O poeta Lêdo Ivo manifestou saudades ao presenteá-lo com A Morte do Brasil. Caetano Veloso, pelo sim e pelo não, anunciou um retrato “distorcido, mas sincero” de sua geração em Verdade Tropical. O econômico Chico Buarque manifestou apenas “carinho” na folha de rosto de Budapeste. José Sarney foi quem mais se derramou. “Ao Saramago, mestre da língua e da ficção, esta história de pescadores do Maranhão, onde não faltam marinheiros das Descobertas, que vagam por todos os mares com as lendas e os encantos do mundo português”, demorou-se em O Dono do Mar.

O visitante curioso – e bairrista – encontra as dedicatórias na seção brasileira da biblioteca que José Saramago, o único Nobel de Literatura da língua portuguesa, mandou construir na ilha espanhola de Lanzarote, onde morou de 1993 até morrer, em 2010. Se Jorge Luis Borges tinha razão e o paraíso for mesmo uma espécie de biblioteca, o ateu Saramago pôde em vida se gabar de ter erguido um aconchegante Éden com vista para o mar.

Levantado no terreno ao lado de sua casa, o edifício pintado de branco tem 100 metros quadrados e a altura de um prédio de dois andares. É cercado por um muro de pedras vulcânicas e enfeitado com uma oliveira portuguesa. Aqui estão guardados 15 mil livros de Saramago, parte da biblioteca que juntou ao longo da vida (milhares de outros volumes foram doados à fundação lisboeta que cuida de seu legado). Um grande feito para quem, como ele, é neto de camponeses analfabetos e só conseguiu comprar seu primeiro livro aos 18 anos.

A construção da biblioteca era um desejo antigo, que se tornou factível depois do Nobel de 985 mil dólares, em 1998. Antes, os livros do português e de sua mulher, a jornalista espanhola Pilar del Río, estiveram por décadas encaixotados no porão da casa. Quando precisavam fazer uma consulta, era mais fácil correr à livraria do que tentar encontrar o título desejado.

Embora houvesse dinheiro, terreno e disposição, a biblioteca demorou a ficar pronta por causa do boom imobiliário na Espanha no começo deste século. Era impossível conseguir pedreiros na ilha do arquipélago das Canárias, a cerca de 130 quilômetros da costa da África e a mil da Península Ibérica. Só em 2006 o prédio ficou pronto.

O processo de catalogação do acervo durou dois anos mais. Os livros estão organizados a partir de critérios definidos por Saramago e Pilar. Ensaio, filosofia, religião, história, jornalismo, política e fotografia têm suas próprias seções. Romance, poesia e conto estão separados por países ou região. Por imposição de Pilar, escritoras ganharam suas próprias estantes para não dividirem espaço com aqueles que não as consideravam suas iguais. “Contra a vontade do Saramago, nesta biblioteca as mulheres estão separadas: são únicas, admiráveis, levadas em conta e queridas”, decretou.

No paraíso do autor do Evangelho Segundo Jesus Cristo e do Ensaio Sobre a Cegueira, há muitos livros sobre religião e ensaios. “Ele comprava muito mais ensaio que romance”, contou Norberto Ruiz Gallego, o livreiro local do escritor. Gallego, o primeiro a abrir uma livraria na ilha de 140 mil habitantes, virou personagem dos Cadernos de Lanzarote, os diários de Saramago. “Finalmente uma livraria em Lanzarote. O livreiro é um homem novo que fala do seu trabalho com entusiasmo”, comemorou o português em 23 de abril de 1994.

“Lembro-me perfeitamente do dia em que ele veio aqui pela primeira vez. Estava com o Pepe, o cachorro, e de cabeça levantada entrou olhando tudo, como se quisesse se assegurar que isso aqui era mesmo uma livraria, não mais um desses lugares que fazem fotocópias, vendem cadernos, canetas e algum ou outro livro”, relatou Gallego. Saramago fez sessões de autógrafo na livraria El Puente, e, sem querer, virou garoto-propaganda do lugar. Logo depois do Nobel, foi fotografado na porta do estabelecimento falando em um pré-histórico telefone celular.

Na biblioteca de Saramago não há exemplares valiosos nem muito antigos. Em frente à mesa onde trabalhava, ficam três sofás de couro que usava para cochilos reparadores. Nas paredes, há retratos de referências literárias (Camões, Drummond e Fernando Pessoa). Sobre os móveis, fotos com amigos e parentes, bonequinhos de Pessoa e Jorge Amado, e uma coleção de miniaturas de elefantes – protagonista de A Viagem do Elefante.

Embora privada, a biblioteca é aberta ao público das dez da manhã às duas da tarde, exceto aos domingos. Com tempo e paciência, encontram-se nas estantes peças de um relicário afetivo. Afora um ou outro item incongruente que melhor caberia na coleção de um Ionesco – exemplo: um exame de sangue de Pilar do ano de 1998 (colesterol e açúcar controlados) –, das primeiras páginas dos livros o que salta mesmo à vista são as dezenas de dedicatórias.

Na seção feminina, mandaram suas saudações Nélida Piñon, Lya Luft e uma animada Bruna Lombardi (“pelo privilégio do encontro”). Os latino-americanos incluem Carlos Fuentes (“arquipélago de amizade”), Mario Vargas Llosa (“sem a pretensão de ensinar nada”), Ernesto Sabato (“com o amor de um irmão”), o nicaraguense Sergio Ramírez (“que tanto quer a José”) e Gabriel García Márquez (que se identifica como “outro que também escreve”). Numa página do romance De Amor e de Sombras, de Isabel Allende, ficou preservada uma declaração de amor de Pilar, em que ela celebra os 24 anos de “amizade e compreensão” entre os dois.

Na seção dos livros escritos por Saramago ou sobre ele, um exemplar em espanhol de Caim, seu último romance, aparece “cordialmente” firmado pelo autor em março de 2010. Era um agrado à família Barede Ramírez, que deixou o livro para ser autografado e nunca passou para recuperá-lo. Foi uma das últimas dedicatórias que Saramago escreveu.

Ricardo Viel"

"Saramago aún vive en sus lectores" Relato da exposição Mairena del Aljarafe (17/11/2017) e a famosa visita ao "Colegio Aljarafe" em 2003

Aqui http://sevilla.abc.es/provincia/aljarafe/sevi-saramago-vive-lectores-201711162310_noticia.html

"Saramago aún vive en sus lectores
Mairena del Aljarafe acoge este fin de semana un encuentro dedicado al escritor portugués"

"Una de las exposiciones centradas en el escritor"

"Visita de José Saramago al Colegio Aljarafe en 2003"

"Mairena del Aljarafe acogerá este fin de semana el «II Encuentro Ibérico de lectores de Saramago» que reunirá a amantes de las letras y de la obra del afamado escritor portugués, premio Nobel de literatura y fallecido en 2010.

«Queremos unir a través de la literatura, creemos que en estos tiempos convulsos es muy importante el papel de compromiso social que representaba Saramago y que sigue latente en sus obras», asegura Blanca de Pablos, delegada de Cultura, Educación y Universidad del municipio. Los protagonistas del amplio programa de actividades serán, como no podía ser de otra manera, los lectores, que acudirán desde toda España y Portugal para participar en el evento. «El año pasado se celebró en Beja, en Portugal, y desde ese momento Mairena mostró su compromiso para traerlo a Andalucía», explica la delegada municipal.

La coordinación del encuentro corre a cargo de la mairenera Biblioteca José Saramago, que ha invitado al resto de bibliotecas españolas que llevan el nombre del escritor portugués, seis en total, a participar en los actos previstos. Las actividades comenzarán este viernes con la recepción de los visitantes y la apertura de varias exposiciones. Dos de ellas, «Retratos de José Saramago» y «La flor más grande», estarán compuestas de obras realizadas por los alumnos del Colegio Aljarafe con motivo de la visita que el escritor hizo al centro en el año 2003.

La visita en 2003
Precisamente la visita a Mairena del Aljarafe en 2003 será uno de los puntos centrales del encuentro, ya que el viernes por la noche se proyectará un documental con el discurso que el escritor pronunció en el Colegio Aljarafe en aquella ocasión. «Hemos llamado a la proyección 'El Nobel que pudo ser de la paz', ya que Saramago habló en el Colegio Aljarafe de pacifismo y de bondad en un momento que era muy convulso socialmente», detalla Blanca de Pablos.

Además, ya el sábado, tendrá lugar una mesa redonda sobre «La balsa de piedra como metáfora del iberismo» en la que se hablará, según la delegada mairenera, «del profundo deseo que Saramago sentía por la unión de España y Portugal». Participarán Mercedes de Pablos, Juan José Téllez y Diego Mesa.

También se reflexionará sobre lo que tienen en común el califa Al Mu'támid y el escritor y se hará una especie de «hermanamiento cultural» a través de sus figuras. Y, uno de los puntos más importantes del fin de semana: varios lectores, entre los que se encuentran Fernando Iwasaki o Marta Carrasco, elegirán cuál es su texto preferido de Saramago, explicarán al público las razones y lo leerán. «Queremos unir a través de la literatura y compartir gustos y aspiraciones», insiste Blanca de Pablos.

El fin de semana se cerrará con una visita guiada por Ángel del Río sobre los rincones que José Saramago y Pilar del Río frecuentaron en Sevilla. La esposa del escritor finalmente no podrá asistir al encuentro pero, según asegura la delegada municipal, «estará presente en cada momento, al igual que Saramago».

Pilar del Río: “El mayor defecto de Saramago era una virtud, no transigir ante el poder, su honestidad” Entrevista de José Antequera a Pilar del Río (La Crónica del Pajarito, 29/10/2017)

A entrevista de José Antequera a Pilar del Río (La Crónica del Pajarito, 29/10/2017) pode ser recuperada e consultada, aqui

Pilar del Río: “El mayor defecto de Saramago era una virtud, 
no transigir ante el poder, su honestidad”

“Nunca he tenido miedo a ser engullida ni por el ser humano ni por el genio. Conviví con un ser humano de igual a igual, como no puede ser de otra manera en las relaciones de pareja”

"Pilar del Río, presidenta de la Fundación José Saramago
(Foto: Joao Lima/Expresso)"

"Todos los relojes siguen parados a las cuatro en punto de la tarde. Todos y cada uno de ellos. Como si se tratara de una de las asfixiantes y terroríficas alegorías noveladas del genial escritor portugués. A esa hora, justo a las cuatro en punto, se conocieron José y Pilar, y así han quedado las manecillas de los relojes que él coleccionaba, apuntando para siempre hacia ese norte amoroso que marcó la relación entre ambos. “Sí, es verdad, siguen marcando las cuatro de la tarde, cómo iba a interferir yo en un acto poético de esa magnitud”, asegura Pilar del Río (Castril, 1950). Hace ya siete años de aquel odioso 18 de junio en que la maquinaria biológica, el reloj cardiaco de José Saramago, dejó de funcionar. Siete años sin la voz luminosa de la humanidad, siete años huérfanos de Saramago. Desde que él nos dejó, el mundo parece un lugar mucho más negro y oscuro de lo que ya era. Cómo hemos podido seguir viviendo sin él. Hoy Pilar, su esposa, que no su viuda porque ella “muerde” cuando le cuelgan ese funesto cartel, sigue presidiendo en Lisboa la fundación que lleva el nombre del premio Nobel. “No, nunca he tenido miedo a ser engullida ni por el ser humano ni por el genio. Conviví con un ser humano de igual a igual, como no puede ser de otra manera en las relaciones de pareja. En cuanto a escritor e intelectual, lo admiré y admiro tal como hacen miles de personas en el mundo. Y trabajar en su obra es un privilegio, no una merma”. En sus conferencias y charlas por todo el mundo, la periodista y traductora no para de recitar páginas enteras de Saramago en una especie de ofrenda literaria póstuma tan hermosa como extenuante. Su voz es el instrumento que pone música a la letra inmortal del escritor. Un párrafo de una novela o un artículo de prensa aquí, una cita o un pensamiento allí… Para que no se nos olviden las verdades que nos dejó de puño y letra y que ya no queremos escuchar. Y así, mientras Pilar sigue hablándonos de Saramago, él se mantiene vivo en nuestra memoria.

¿Cómo fue el momento mágico? Quiero decir, ¿cómo conociste a José Saramago?
El momento mágico lo sitúo en la librería Repiso de Sevilla, un lunes por la tarde. En un estante del fondo a la izquierda vi un libro de un autor para mí desconocido que me llamó la atención por el título. Se trataba de Memorial del convento. Leí el primer párrafo, me quedé admirada, lo leí en voz alta para las amigas con las que estaba, a cada una le regalé el libro y me fui a casa para seguir leyendo. Eso ocurrió en 1986. Desde entonces no he parado de leer a José Saramago…

Tengo entendido que él decidió detener su colección de relojes a las cuatro en punto, como símbolo de amor hacia ti, ya que os conocisteis a esa hora. ¿Y así siguen los relojes, parados a esa hora?
Siguen marcando las cuatro de la tarde, cómo iba a interferir en un acto poético de esa magnitud…

De alguna manera te enamoraste de un hombre inmortal. ¿Tuviste miedo en algún momento a ser engullida por el genio, a quedar anulada como profesional o incluso como persona?
No, nunca he tenido miedo a ser engullida ni por el ser humano ni por el genio. Conviví con un ser humano de igual a igual, como no puede ser de otra manera en las relaciones de pareja. En cuanto a escritor e intelectual, lo admiré y admiro tal como hacen miles de personas en el mundo. Y trabajar en su obra es un privilegio, no una merma.

Pero renunciaste a buena parte de tu vida por él… ¿Qué te dio Saramago y qué te arrebató?
Dejé de trabajar en periodismo para dedicarme a otras actividades, simplemente. Y José Saramago me aportó lucidez, como a todos sus lectores, y además un idioma, el portugués, y una cultura de la que sabía muy poco y ahora conozco bastante mejor.

La literatura os unía de alguna manera, ¿compartíais gustos por los mismos autores o en eso seguíais caminos diferentes?
Unas veces sí, otras no. Él tenía una especial predilección por Kafka que yo no compartía. Tampoco él era tan perdido de amores por Joyce como lo soy yo, aunque claro que lo leía e incluso fuimos a Dublín a vivir un Bloomsday. Él leía mucha poesía, también ciencia ficción, yo seguía otros caminos.

Pero supongo que habría intercambios encendidos de opiniones, discusiones literarias (y de las otras más domésticas) como en cualquier otra pareja…
Muchas discusiones y muchas risas. Vivíamos en un estado permanente de libertad de expresión y de discusión como estrategia para no caer en el conformismo o en el lugar común. Es importante estimularse intelectualmente y nada mejor que el contraste de pareceres, nunca considerar que no merece la pena discutir: eso es falta de respeto y ahí, caer en la falta de respeto, es de miserables. Bendito sea el debate.

Como traductora y correctora de sus obras al español, ¿te dejaba él libertad para interpretar sus textos o era un jefe inflexible en ese aspecto?
Tener al autor cerca no da libertad a la hora de traducir, siempre le decía que si volviera a nacer querría traducir a un autor de un idioma lejano, el japonés, por ejemplo, y de cinco siglos atrás, para que no me preguntara por qué tomaba determinadas decisiones… Bromas aparte, él no interfería nunca, pero es verdad que yo tampoco me sentía como pez en el agua. He traducido en estado de emoción permanente y eso puede ser una sobrecarga para el lector.

¿Era un hombre con el que resultaba fácil convivir o al contrario tenía esas típicas manías de genio?
Era muy fácil convivir con José Saramago y no tenía esas manías que suelen tener otros escritores, al menos cuando los vemos representados en cine o son retratados… En ese aspecto carecía de aura o “romanticismo”: escribir era un trabajo que hacía con dedicación, cuidado y esmero y punto, sin dramas, ansiedades o angustias.

¿Cuál era su principal virtud?
La honestidad.

¿Y su defecto más notable?
Era una virtud: No transigir ante el poder. Es decir, la honestidad…

¿Con qué se entretenía cuando no estaba escribiendo? ¿Le gustaba el cine, la música, veía algo de televisión?
Adoraba el cine, veía televisión, se reunía con amigos, le encantaba que vinieran amigos a casa, a Lanzarote, se organizaban muchas cenas en nuestra cocina, que está preparada para convivir y para la tertulia. Un paraíso.

Compartiendo tantas cosas como vosotros imagino que también le servirías como fuente de inspiración, ¿cuántas novelas de Saramago están atravesadas por la sombra de Pilar del Río?
Lo que ocurre a lo largo de la vida, las personas que conocemos, las lecturas, los viajes, las distintas experiencias, todo influye en lo que somos y hacemos, pero nunca me convertiría en detective para ver qué hay de mí en la obra de José Saramago.

¿Cuál de todas sus obras sientes más tuya, más influenciada por ti?
No siento ninguna influenciada por mí, sé que desde La balsa de piedra escribió viviendo en compañía de alguien que aparentemente no formaba parte de su entorno: otro país, otro idioma, otra edad. Y esas circunstancias, todas ellas, no parece que fueran negativas, podemos decir viéndolo ahora en retrospectiva.

Los últimos años de su vida sufrió mucho a causa de una larga enfermedad y tú estuviste a su lado hasta el último momento. ¿Qué era lo que más te dolía de verlo así? 
Aunque te parezca duro lo que te voy a decir, no iba sufriendo, simplemente sabía, lo sabíamos los dos, que la naturaleza tiene leyes que son imbatibles. Lo bueno fue que nunca tuvo dolores, escribió hasta meses antes de morir, hizo la vida posible. Ninguno de los dos queríamos cosas imposibles, no perdimos el tiempo en lamentaciones, tratamos de ser eficaces ante la adversidad y punto. Vivimos los dos la vida y la muerte como decidimos hacerlo, sin dar cuentas ni explicaciones.

Pero estuvo escribiendo hasta el final, de hecho preparaba una última novela cuando le sorprendió la muerte. ¿Veremos algún día una nueva novela de Saramago o ya está todo publicado?
Ya está publicada: se titula Alabardas y es un portento de lucidez. Trata de la fabricación de armas, del negocio de las armas, pero no visto desde el fabricante que quiere ganar dinero y para eso se pone de acuerdo con el gobernante, a veces también con el traficante, para organizar guerras y poder seguir experimentando y fabricando armas nuevas de tal manera que unos amplíen beneficios económicos y otro áreas de poder. No, José Saramago dice algo más importante que esto de la fabricación y comercio, se fija en el honesto ciudadano que trabaja en la fábrica de armas y vota a quien le asegure que mantendrá su puesto de trabajo porque se seguirán creando zonas de conflicto en el mundo. Esta novela no fue acabada, pero no importa, el planteamiento está ahí, la reflexión y la historia. Es una novela imprescindible, tanto que a veces pienso que se trata de ocultar del panorama. La portada de Alabardas es un dibujo antibélico de Gunter Grass, que colaboró de esa manera –además del dibujo de la portada hay otros en el interior– con el proyecto del amigo ya muerto. También Roberto Saviano escribe en este libro último de José Saramago.

Hoy presides la Fundación José Saramago y luchas por los derechos humanos. ¿Hemos avanzando o retrocedido en los últimos años en la defensa de los valores humanistas?
Hoy sabemos que hay derechos, aunque no se cumplan. Hoy sabemos que no se puede presumir de tener esclavos aunque haya gente condenada a la esclavitud. En eso hemos avanzado, pero hemos retrocedido porque, disponiendo de tecnología para hacer más agradable la vida de muchos, permitimos que haya continentes enteros sufriendo las consecuencias del desarrollo de algunos. Tenemos derechos, sí, también tenemos deberes. En la Fundación trabajamos en esta segunda parte, los deberes, como si todo dependiera de nosotros. Es un mandato que asumimos a partir del discurso del Nobel.

Las novelas de Saramago son profundamente filosóficas, le gustaba provocar la reacción del lector tocando grandes temas existenciales. ¿Es ese el problema de la humanidad, nos hemos olvidado de la filosofía?
No sé si nos hemos olvidado o simplemente nos hemos dejado embrutecer. Gobernar a consumidores conformistas es mejor que tratar con seres libres, que discuten, reivindican, plantean exigencias, avanzan.

Y con las redes sociales nos hemos hecho quizá más egoístas y superficiales. ¿Qué pensaba Saramago del mundo virtual, de internet?
Los caminos, y las redes son caminos, no nos hacen mejores ni peores. Saramago usaba internet, escribió un blog que también luego se publicó en formato libro, los titulados Cuaderno de Saramago 1 y 2, se comunicaba con amigas y amigos de todo el mundo a través de email. Saramago nunca desistió de usar un medio que le facilitaba la vida. Lo entendía como un instrumento y sabía usarlo.

¿Qué hubiera dicho (o escrito) Saramago sobre esta oleada de terror suicida que se extiende por todo el mundo?
Nunca me permitiría el lujo de decir qué habría hecho o qué haría Saramago, sé lo que hizo y dijo. Escribió Ensayo sobre la ceguera primero y luego Ensayo sobre la lucidez. Creo que ahí está todo dicho, el terror suicida, sus causas lejanas, sus consecuencias atroces en los países y en las personas. En Caín reflexionó con amargura acerca del papel de las religiones, del factor Dios, en tantos conflictos de la historia de la humanidad.

El sistema económico que aplasta al hombre, la sociedad de consumo, la pérdida de identidad del individuo son grandes asuntos en la obra de Saramago. ¿Crees que hay esperanza para los que nada tienen o todo irá a peor?
Lo de tener confianza en el presente y en el futuro es asunto a decidir entre todos. Si queremos una sociedad de consumidores excluiremos a quienes no puedan consumir, en la esperanza de que no nos toque a nosotros. Si optamos por ser ciudadanos, tendremos que ser protagonistas de nuestro tiempo, pensar, intervenir, cuestionar, asumir responsabilidades… Eso da trabajo, pero también satisfacciones.

Porque además parece que los ciudadanos seguimos estando un tanto adormecidos…
Adormecidos nos quieren. Resignados, indiferentes o temerosos: ese es el plan. En nuestras manos está contradecir este proyecto.

¿Por qué ni siquiera un movimiento ciudadano tan brutal como el 15M ha conseguido esa revolución social tan necesaria?
Creo que el 15M consiguió mucho, cambió paradigmas en España. Ver la sociedad política de hoy y la de hace unos años es ver la diferencia que existe entre el día y la noche. Desde la jefatura de Estado a la gente en la calle han cambiado muchas cosas, hay representantes de la sociedad en ayuntamientos y parlamentos de manera que era impensable hace 10 años. Y a estos cambios se les tiene miedo: basta ver la inquina con la que los medios de comunicación tratan lo nuevo que ha surgido en España para entender que le teme, que piensan que si lo nuevo avanza con firmeza ellos van a perder privilegios que creían suyos. Se necesita tiempo para avanzar, pero este país salió con el 15M de cierta modorra y ahora está tratando de avanzar de acuerdo con criterios que son propios, intentando vencer las normas que imponen los “elegidos” de arriba. Costará, pero el pasado es pasado y hemos entrado en otra era.

Saramago siempre mostró un gran compromiso político y social con los más desfavorecidos. ¿Ha perdido la literatura de hoy ese compromiso?
En absoluto: la literatura no tiene por objetivo cambiar el mundo, sí llegar a los lectores y eso cada autor lo hace como considera conveniente. José Saramago decía que escribía para desasosegar. En estos momentos estoy leyendo El cuento de las criadas, de Margaret Atwood, que recomiendo vivamente. Hay muchos escritores contemporáneos que nos hacen más humanos y más grandes al leerlos, y esto es importante no solo para cada uno de nosotros, que lo es, también es importante para las sociedades.

¿Y el periodismo? Tampoco parece atravesar por su mejor momento…
Hay muchos medios que están intentado sobrevivir al poder de los grandes grupos hegemónicos,  a pensamiento –y verdad– únicos. La sociedad digital nos ayuda a lectores y a  profesionales en el intento de combatir las hegemonías del pasado. Como decía García Márquez, ahora podemos hacer periódicos –o radios, o televisión– desde el valor de contar, actuando como si esta profesión de verdad fuera la más bonita del mundo, sin necesidad de pasar por los filtros e intereses de los grandes grupos multimedia.

¿Le perjudicó a José su condición de comunista y ateo? ¿Fue un hándicap en su carrera literaria?
No, por favor. Para quienes eso fuera un impedimento es que ya estaban antes fuera del tiempo y del universo de la literatura.

La izquierda en España, y también en Europa, vive momentos de crisis. ¿A qué crees que es debido?
A que ha faltado reflexión. No a la izquierda política, que esa gestionaba, digo a la izquierda social, a la universidad como foro que lanza ideas, a los centros de cultura, a los profesionales… Creo que hubo una cierta retirada de los espacios públicos, que fueron de nuevo tomados por la tradición y los grupos conservadores, de modo que llegó un día en que la izquierda progresista y libre se encontró sin lugar, perpleja, preguntándose cómo ha sucedido esto. La izquierda se tiene que reconstruir desde la ideas y también desde las movilizaciones. Los seres humanos somos razón y conciencia, que no se nos olvide.

Has decidido nacionalizarte portuguesa, ¿qué te empujó a hacerlo? ¿tan harta has acabado de España?
Solicité la nacionalidad portuguesa por romanticismo y también por una razón práctica: pagar en Portugal los impuestos que podría generar la obra de José Saramago en el mundo. Él era portugués, pagar los impuestos en su país era, para él, insisto, una regla de obligado cumplimiento, y yo no quise abandonar esta práctica, así que me hice portuguesa. O también portuguesa. Ya me queda menos para cumplir mi sueño, que es tener tantas nacionalidades como amigos en el mundo…

Saramago apostaba por una Unión Ibérica entre España y Portugal, ¿estás de acuerdo con esa idea utópica?
Estoy de acuerdo en la necesidad de entendimiento entre los pueblos y las sociedades, y parece que en eso estamos, basta ver la gente que va y viene de un extremo a otro de la península, recorriéndola… En cuanto a los estados, prefiero el federalismo a otra cosa, pero la verdad es que el discurso de las banderas y las patrias no me emociona, como decía la canción que cantábamos contra Franco, la música militar no me hace levantar…

Ahora que se aproxima el referéndum en Cataluña no sería tan mala idea…
Pues sí, sería bueno que los catalanes y los otros pueblos de la península se pudieran expresar acerca de si quieren formar parte de un estado federal o confederal atendiendo a la geografía y a las razones históricas… Pero esto no va a pasar, el poder político es conservador, en el caso de España lo de “una, grande y libre” está muy arraigado, parece, según se oye, que tendremos estas fronteras hasta el final de los tiempos, cueste lo que cueste, dicen algunos… Y será así hasta que las sociedades consigan argumentar en todos los foros, expresándose con razones y diciendo claro si quieren ser plurales y plurinacionales. Yo prefiero ser plural e igual a otros que cobijarme en discursos excluyentes, que detesto.

Lo cierto es que en España pasan cosas extrañas, como ese fiscal anticorrupción que tenía una cuenta en Panamá. ¿Eso también pasa en Portugal?
Sí pasa: la corrupción está en los seres humanos y en todas partes. Luego, como ciudadanos, tenemos que votar y vigilar para que haya leyes justas. Ese es nuestro trabajo.

Libertad, igualdad, fraternidad… qué lejos parecen quedar esos nobles ideales ¿no?
Intentemos hacerlos posibles. Lo lejano se acerca si nos acercamos.

Siempre has sido una feminista convencida. Con Trump en el poder, ¿es el feminismo más necesario que nunca?
Trump es una anécdota, terrible, sí, pero anécdota. El feminismo es necesario porque es una teoría de igualdad entre hombres y mujeres. Sin esta igualdad no puede haber justicia. Somos diversos pero iguales. Los movimientos feministas estamos tratando de vencer inercias, prácticas y teorías históricas para hacer del planeta un lugar en que nacer y vivir como mujer no sea una condena o un hándicap. El feminismo es dignidad. Por cierto, esta tesis de dignidad está presente en todos los libros de José Saramago, no necesitaba teorizar para atribuir a las mujeres el papel de coprotagonistas que la historia y el patriarcado que dicta los comportamientos vienen negando desde siempre, aunque, ya lo sabemos, enfrentando al sentido común.

En tus conferencias vas intercalando párrafos de la obra de Saramago, como tratando de mantener viva su voz. ¿Te preocupa que esa voz se pueda perder algún día?
No me preocupa y no creo que suceda: es demasiado limpia, inteligente, lúcida, compasiva y solidaria esa voz como para perderse. José Saramago, y lo sabemos millones de lectores, es nuestro mejor yo, no lo vamos a perder.

¿Te molesta que te sigan conociendo como “la viuda de Saramago”?
Me molesta mucho porque nunca me he definido a mí misma por mis vinculaciones familiares o afectivas, por ser hija, madre o esposa, mucho menos por haber sido algo de eso… Y me molesta que los compañeros me llamen así porque demuestran un alto nivel de pereza intelectual, es tirar por lo obvio, lo más fácil. Definir a una persona en base a las relaciones que tiene con otra es faltarle el respeto: somos lo que hacemos de nosotros mismos, no lo que dicta el entorno que tenemos, sea el que sea. O sea, muerdo si oigo lo de “viuda de”. Puestos a simplificar, se puede decir que trabajo en el “proyecto Saramago”.  Por lo menos da qué pensar.

terça-feira, 20 de março de 2018

"Entre o claro e o escuro: Uma poética da angústia em Saramago" de Jacob dos Santos Biziak (Ano da edição 2016)

Aqui link para apresentação da obra, 

"Pensando na especificidade da representação artística do ficcão romanesca contemporânea, entendemos que há uma nova postura diante do que seria a realidade e das suas possibilidades de ganhar contorno pela linguagem. Sendo assim, esta pesquisa busca articular a mimesis empreeendida pelo romance contemporåneo e o comportamento do narrador. Logo, ocorre um questionamento - muitas vezes, metalinguístico - do real criado pela diegese. O narrador promove mais um bordeamento do que um preenchimento de sentido; o que nos levou à ideia de que a narração do romance contemporâneo se estrutura como angústia. Então, acreditamos que o narrador é o elemento narrativo central para termos acesso à construção da realidade apresentada pela ficção romanesca contemporânea. Diante disso, elegemos a angústia como afeto majoritariamente presente dentro deste romance, não só enquanto tema, mas também como constituinte da estrutura diegética. Dada esta situação, escolhemos dois romances de Saramago - pertencentes a fases distintas da obra do escritor, História do cerco de Lisboa e Ensaio sobre a cegueira - como exercício de análise dentro da proposta descrita anteriormente. Por fim, esta pesquisa busca não somente contribuir com estudos a respeito do romance contemporâneo, mas também sobre o funcionamento do narrador diante da tarefa de representar uma realidade. A respeito da metodologia, sobre a mimesis, a obra de Luiz Costa Lima é fundamental ao trabalho; principalmente pelo percurso diacrônico que propõe, ao mesmo tempo em que revê suas próprias postulações sobre o assunto. A obra de Genette é a base que permitiu fazer os estudos sobre narrador evoluírem em nosso trabalho. Sobre a angústia, são centrais as obras de três pensadores: Kierkegaard, Freud e Lacan (além de obras de intepretação da arte a partir destes mesmo autores)

How to cite this document
BIZIAK, Jacob dos Santos. Entre o claro e o escuro: uma poética da angústia em Saramago. 2015. 135 f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciencias e Letras (Campus de Araraquara), 2015"



Aqui link para apresentação da obra, 
em https://www.travessa.com.br/entre-o-claro-e-o-escuro-uma-poetica-da-angustia-em-saramago/artigo/061ddfef-f708-4fae-a646-a273db9d2ce8

SINOPSE

"O caminho rumo àquilo que conhecemos como arte moderna e arte contemporânea e também rumo à filosofia contemporânea consagra-se com o reconhecimento da noção de verdade não mais sob uma ótica essencialista, que “moraria” no objeto, mas enquanto intervalo. Desta forma, os valores não são substância a ser alcançada, mas movimento a ser sempre repetido e rememorado no espaço necessário entre o Eu e o Outro. A única forma de estabelecer ligações entre um e outro é por meio do campo simbólico das representações, que, por seu turno, são significantes que, para manutenção do desejo, nunca podem ser reduzidos a um sentido estanque. Isso, de forma muito simplificada, é o princípio constituinte do angústia, que conduz à fundação do humano, que, por seu turno, remete à arte.

Sendo assim, este trabalho de doutorado busca analisar a presença da angústia dentro de duas obras do escritor português José Saramago: História do cerco de Lisboa (1985) e Ensaio sobre a cegueira (1995). Entendemos, nesta pesquisa, que a angústia, dentro do amplo quadro da ficção contemporânea, é representada não somente enquanto figura ou tema, mas, acima de tudo, como estrutura narrativa; uma vez que a narração se processa como angústia. Nas duas obras apontadas, a partir da maneira como o narrador exerce sua postura provisória diante dos fatos, assumindo o discurso como intervalar, a angústia torna-se o próprio material de que a obra romanesca é feita.

Dessa maneira, o ponto estabelecido para chegada é o cotejamento entre as duas obras do escritor lusitano de maneira a apontar uma possível poética organizadora de sua produção romanesca. Para isso, estabelecem-se relações, ao fim do trabalho, com outros livros do autor. O mais interessante é que a constatação da angústia como causadora de um efeito de sujeito intervalar ocorre, paulatinamente, junto com a ideia de que existam peculiaridades na ficção contemporânea e sua mímesis.

autor: Jacob dos Santos Biziak (2016)"

"The Tale of the Unknown Island" foi apresentado no "Gate Theatre" (Londres) ("The Guardian" 19/09/2017) - "O Conto da Ilha Desconhecida"

Adaptação de "O Conto da Ilha Desconhecida" baseada na obra original de José Saramago.

A informação relativa ao espectáculo apresentado, pode ser recuperada e consultada aqui
em https://www.theguardian.com/stage/2017/sep/19/the-unknown-island-gate-theatre-london-review-jose-saramago

"The Unknown Island review – Saramago odyssey asks the audience to dream"

Adapted from José Saramago’s short story, Ellen McDougall’s grownup fairytale draws spectators into a circle of bread, wine and storytelling

"Questioning the old certainties … The Unknown Island. Photograph: Cameron Slater"

"The Gate’s new artistic director, Ellen McDougall, begins her tenure by offering us the essentials of life, sharing bread, wine and storytelling with her audience in this version of Nobel prize-winning writer José Saramago’s short story.

Adapted by McDougall and Clare Slater, it becomes something like a grownup version of Jackanory as we are told of a man who asks the king for a boat so he can find an unknown island. Rosie Elnile’s design wraps the entire Gate space in blue fabric, suggesting both the sea and a dreamworld. As we enter, the only other flash of colour is from a red sailing boat.

McDougall’s previous big hit at this address was Roland Schimmelpfennig’s rewriting of Greek myth, Idomeneus, a play that questioned all the old certainties of an ancient story. She does the same here and with similar playfulness – including plenty of her trademark balloons, used to clever comic effect."

"Unique viewpoint … Zubin Varla. Photograph: Cameron Slate"

"The show challenges us to imagine a new way of living – and to be brave enough to try to seize it. When the king confidently tells the man that all the islands “are on the maps”, the man defies that thinking by pointing out that “only the known islands are on the maps”. He is joined on his quest by the palace’s cleaning woman, who is similarly intent on taking control of her own story.

On the surface, the show looks like the simplest kind of storytelling, but it is smartly conceived, down to the way the audience are seated around the edge of the playing space so they form a community, constantly catching each other’s reactions. The production shares the storytelling between performers Jon Foster, Hannah Ringham, Thalissa Teixeira and Zubin Varla, who may swap characters but always seem to offer their own view of the tale, their voices lapping over each other like the waves of the sea.

And McDougall gives us the chance to own the story, too, inviting the audience to dream their own dreams."


Link de apresentação da peça de teatro

Apresentação da peça de teatro

"What is this unknown island you want to go in search of?
If I could tell you that, it wouldn’t be unknown. 

You want to go in search of an unknown island.  
Because somewhere out there, there must be something else. 
Because you want to find out who you are when you are there. 

You ask the king for a boat. 
You don’t know where you are going, or even how to sail.
You won’t take no for an answer. 

The Unknown Island is a beautiful, inventive and rebellious adventure story about dreaming of the impossible and trying to cross the vast distances between ourselves and each other.

Based on Nobel prize-winning novelist Jose Saramago’s short story, The Tale of the Unknown Island, adapted for the stage by Ellen McDougall and Clare Slater."

"Gate Theatre"

Gate Theatre
11 Pembridge Road
Notting Hill Gate - London W11 3HQ
Box office: 020 7229 0706