Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

31 de Dezembro de 1997 - "Cadernos de Lanzarote V"

(...) "Sossegados , acompanhados por Maria do Céu e por Carmélia, assistíamos (eu com a melancolia do costume) ao escoar dos últimos minutos do ano canário, que são igualmente os do ano português, quando de súbito estoirou um morteiro lá fora. (...) E eu pensei: «Os cães têm razão. Com uma barulheira destas, como é que alguém poderá fazer o seu exame de consciência de fim do ano?»"

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31 de Dezembro de 1996 - "Cadernos de Lanzarote IV"

"Creio ter descoberto esta manhã o que a velhice é realmente. Estava meio acordado meio adormecido, como em Amherst, na manhã em que «vi» desfilar dentro da cabeça o essencial de Todos os Nomes, e repente compreendi que se entra na velhice quando se tem a impressão de ocupar cada vez menos lugar no mundo. (...) O ano entrou em Lanzerote com o acompanhamento bíblico de uma trovoada gigantesca que parecia querer deitar abaixo o céu e afogar a terra num dilúvio." (...)

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31 de Dezembro de 1995 - "Cadernos de Lanzarote III"

"Foi um ano bom. E não encontro melhor maneira de dizê-lo que recordar o que aqui escrevi num dia de Julho de 1993: «Que boas estrelas estarão cobrindo os céus de Lanzarote? A vida, esta vida que, inapelavelmente, pétala a pétala, vai desfolhando o tempo, parece, nestes dias, ter parado no bem-me-quer...»"



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31 de Dezembro de 1994 - "Cadernos de Lanzarote II"

"Escrevo entre as 12 da noite e as 12 da noite. A Península já entrou em 1995, aqui ainda nos restam vinte minutos de 1994 para viver. Em Canárias não fazemos as coisas por menos: necessitamos vinte e quatro badaladas para passar de um ano a outro. (...) O tempo é uma tira elástica que estica e encolhe. Estar perto ou longe, lá ou cá, só depende da vontade." (...) 



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31 de Dezembro de 1993 - "Cadernos de Lanzarote I"

"Ray-Güde enviou-nos fotografias do colóqui de Frankfurt e da ópera de Münster, que me fizeram apetecer tomar um avião e ir ver o espectáculo outra vez." (...)

Tradutora e agente literária Ray-Güde Mertin, colaborou com José Saramago desde meados da década de 80. Faleceu em 14 de Janeiro de 2007. (Fonte DN) 

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