Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Referência a Benedetto Crosse - José Carlos de Vasconcelos entrevista Saramago

José Carlos de Vasconcelos entrevista José Saramago
Jornal de Letras - 18 de Abril de 1999

No momento em que seria lançado o livro "História do Cerco de Lisboa", foi realizada esta entrevista, de onde a menção a Benedetto Crosse. Quem foi e o que motivou a referência que se transcreve.

José Carlos de Vasconcelos, a propósito da obra carregada por uma profunda encenação histórica, que concorre em paralelo com a participação do revisor Raimundo Silva; questiona José Saramago sobre o estudo e referências na obra.

"O livro obrigou-o a alguma preparação histórica. Isso agrada-lhe?"
Agrada-me muito. E provavelmente cada vez mais. Cada vez melhor compreendo a verdade e significado extremo da célebre frase de Benedetto Crosse: «Toda a história é a história contemporânea»." 
in Conversas com Saramago, Jornal de Letras



Benedetto Croce (Pescasseroli, 25 de fevereiro de 1866 - Nápoles, 20 de novembro de 1952) foi um historiador, escritor, filósofo e político italiano. Os seus escritos giram em torno de um largo espectro temático, sobretudo estética e teoria/filosofia da história. É considerado uma das personalidades mais importantes do liberalismo italiano no século XX.
Croce nasceu em Pescasseroli, na região de Abruzzo, no seio de uma família rica e influente. A sua educação foi marcada por uma atmosfera fortemente religiosa, da qual o jovem Croce cedo se distanciaria. Em 1883, perdeu os pais, Pasquale e Luisa Sipari, assim como a irmã, Maria, todos mortos num terremoto que acometeu a vila de Casamicciola Terme, na ilha de Ísquia, onde a família passava férias. Nesta ocasião, o próprio Croce permaneceu soterrado por longo tempo, tendo corrido sério risco de morte. Após a fatalidade, ele herdou a fortuna da família, o que lhe permitiu viver em relativo conforto, e dedicar tempo à reflexão filosófica.
Na política, foi nomeado senador em 1910. Entre 1920-21 foi ministro da educação. Croce opôs-se ao governo fascista de Benito Mussolini, embora inicialmente o tivesse apoiado.

"Deste Mundo e do Outro" - Saramago e as fortes referências dos avós maternos



José Saramago assume desde sempre a complexidade e a influência dos seus avós maternos, Josefa da Conceição e Jerónimo Melrinho, na sua construção enquanto homem e guias nos seus tempos da juventude na Azinhaga.

No livro de crónicas, "Deste Mundo e do Outro", editado em 1971 pela Editora Arcádia, esta influência vem numa sentida referência aos avós. Sentimento e interrogação.

Na 3.º edição de 1986 - Editorial Caminho, páginas 27 a 31

"Carta para Josefa, minha avó»
"Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo - e eu acredito. (...)
(...) Não sabes nada deste mundo. (...) És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. (...)
(...) Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. (...)
«O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!» É isto que eu não entendo - mas a culpa não é tua."

"O meu avô, também"
(...) "Vem cansado, o velho. Arrasta consigo setenta anos de vida difícil, de desconforto, de ignorância. E, contudo, é um homem sábio, calado e metido consigo, que só abre a boca para dizer as palavras importantes, aquelas que importam. (...)
(...) Só isto - e também o gesto que de repente me põe de pé e a urgência da ordem que enche o quarto aquecido onde escrevo."

Este assunto é confortavelmente retratado com diversos episódios em "As Pequenas Memórias", mas aqui se vinca a importância da forte presença dos seus avós maternos.

Fernando Alves na crónica "Sinais" - A "Escritaria" em Penafiel - Out2009 dedicada a José Saramago

A "Escritaria" na cidade de Penafiel, em 2009 dedicada a José Saramago

Fernando Alves, na sua crónica diária "Sinais" deixou-nos esta memória para o futuro.

http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1391490


http://www.escritaria.pt/

O "Escritaria" de Saramago
Apresentação [setembro 2009]
 
Depois do êxito da primeira edição, dedicado a Urbano Tavares Rodrigues, o "Escritaria em" volta a Penafiel e será dedicado a José Saramago.

Alberto Santos, presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Manuel Andrade, administrador das Edições Cão Menor, António Castanheira, fundador da Escritaria, e Urbano Tavares Rodrigues, escritor|tema da edição que terminou, foram unânimes na escolha do nome que deveria suceder ao de Urbano e foi o próprio escritor quem formalizou o convite, telefonicamente, para Lanzarote.

O formato, que remonta já ao Praxis ou como fazemos o que fazemos de 2006 e cujo sucesso é bem visível pela apropriação que se vai notando pelo país, será mantido com as adapatações justificadas pela especificidade do convidado. O centro da cidade será novamente receptáculo das intervenções que constituem a exposição sobre José Saramago, um colóquio internacional reunirá algumas das personalidades mais relevantes no conhecimento do escritor, um videograma documental tornará evidentes alguns traços da construção da identidade de José Saramago, duas obras de arte em torno da obra do convidado - desta vez da responsabilidade de dois ateliers de arquitectura - passarão a integrar o património cultural de Penafiel, o teatro marcará presença dentro e fora de portas e o cinema chegará pelas mãos de Fernando Meirelles, que trará pessoalmente o seu Ensaio sobre a Cegueira, e por A maior Flor do Mundo, de Juan Pablo Etcheverry. A música poderá ser uma novidade com obras de Azio Corghi sobre textos de José Saramago.

As atribuições mantêm-se: o promotor e anfitrião do Escritaria em é a Câmara Municipal de Penafiel, salientando-se a manutenção do empenhamento pessoal do presidente Alberto Santos; a organização do colóquio e dos espectáculos é das Edições Cão Menor, que também será a editora nacional do DVD; a concepção das intervenções plásticas no espaço da cidade é nossa, com a coordenação gráfica do designer e ilustrador Rui Martins e, finalmente, a produção do videograma é também mais uma vez da escritaria.