Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

domingo, 15 de novembro de 2015

Cátedra Alfonso Reys - "José Saramago - El nombre y la cosa"

Pode ser visualizado, aqui via YouTube 

"Conferencia impartida por José Saramago en donde hace una revisión del concepto democracia, y cuestiona la fidelidad con la que se aplica el modelo democrático en las instancias (políticas, económicas y culturales) que se denominan a sí mismas democráticas."

"José Saramago: O Amor Possível" de Juan Arias (Edição Manati - 2003)


"O que é a fé? A fé é uma renúncia, renúncia ao saber."


Mas é fato que ainda não encontramos nenhuma civilização capaz de prescindir, livre e completamente, do desejo da existência de Deus. Há quem diga que, se eliminarmos as guerras e as religiões dos livros de história, não sobrará nada, que se poderiam queimar os livros.  
É pior que isso, porque muitas das guerras foram, e continuam a ser, guerras de religião. Se começarmos a pensar nisso, veremos que as religiões dificilmente unem a humanidade, ao contrário, no mais das vezes a dividem. Há coisas imperdoáveis, como as chamadas descobertas de novos povos. Lá iam as caravelas em busca de terras onde havia outros povos, e que é o que faz o padre quando chega ao outro mundo? Diz-lhes: "Vossos deuses são falsos, eu trago comigo o verdadeiro". Isso é um pecado, e recorro agora à teologia, isso é um pecado de soberba, porque é imperdoável que alguém tenha a ousadia, o descaramento de dizer: "Trago comigo o verdadeiro Deus". Isso significa que os deuses que eles tinham deveriam ser eliminados, e a melhor forma de eliminar um deus é eliminar a pessoa que acredita nesse deus. E mais. Vamos imaginar que Deus existe: se existe Deus, não há mais que um deus; se há Deus, só pode existir um deus; então, todas as formas de adorá-lo são válidas, são todas iguais, tanto faz que se diga que é Jesus crucifica-do, o sol, a montanha, um animal ou uma flor. Para Deus, se Deus existe, dá no mesmo que a expressão física, material, se se quiser, dessa essência que seria Deus seja a montanha, o sol ou lá o que for. Por isso volto ao que dizia antes: que, para poder negar Deus, é preciso que eu o tenha aqui, na cabeça, como tenho o diabo, o mal e o bem. 

Mas você não acha que, com os mesmos argumentos com que você o nega, alguém pode dizer o contrário, quer dizer, que sente no seu interior a consciência de que ele pode existir?
A chamada fé é algo que eu não entendo. O que é a fé? A fé é uma renúncia, renúncia ao saber.

in, "José Saramago: O Amor Possível"
de Juan Arias
Manati, edição de 2003
Traduzido por Rubia Prates Goldoni
Páginas 101 e 102

José Saramago e a constatação sobre o mal e as religiões

"Deus é cruel, invejoso e insuportável" - Via YouTube 

(...) Como te atreveste, assassino, a contrariar o meu projecto, é assim que me agradeces ter-te poupado a vida quando mataste Abel, perguntou o senhor, Teria de chegar o dia em que alguém te colocaria perante a tua verdadeira face, Então a nova humanidade que eu tinha anunciado, Houve uma, não haverá outra e ninguém dará pela falta, Caim és, e malvado infame matador do teu próprio irmão, Não tão malvado e infame como tu, lembras-te das crianças de sodoma. Houve um grande silêncio. (...) 
in, "Caim"
Caminho, páginas 180 e 181