Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Festival Xalapa - México - Kim Manresa expõe obra (fotografias de prémios Nobel da Literatura) - 4/10/2014






"Ojo por ojo: Genio humano"

Aqui notícia, 

"El Hay Festival Xalapa presenta la obra de Kim Manresa, quien por años ha fotografiado a ganadores del Nobel de Literatura"

Ciudad de México, 4 de octubre 2014
Mostrar la parte más humana de un escritor que ha ganado el Premio Nobel de Literatura no es sencillo. Y si además hay que hacerlo con ingenio y astucia, parece imposible. Sin embargo, el fotógrafo español Kim Manresa consiguió lo que muy pocos: eternizar las huellas de la batalla que han librado frente a la página en blanco. Para lograrlo, Manresa ha visitado a 21 escritores que han obtenido el máximo galardón literario, y ha logrado captar los rasgos inéditos del olimpo literario. Éstas son algunas de las instantáneas que conforman las más de 400 imágenes, donde es posible observar desde la sonrisa tímida de Doris Lessing y la risa franca de Mario Vargas Llosa, los pasos de José Saramago sobre la piel de Lisboa, el encanto de Wislawa Szymborska o la inocencia de Wole Soyinka al sentarse sobre un pupitre en su vieja escuela de Abeokuta.

Saramago olhando Lisboa - Fotografia de Kim Manresa

(Saramago olhando Lisboa - Fotografia de Kim Manresa) 

"Otros autores que Manresa recuerda con aprecio, son José Saramago y Doris Lessing. “Saramago nos dijo que aceptaba las fotografías siempre y cuando él hiciera su vida normal y nosotros como si no existiéramos y  lo acompañamos a un reunión del Partido Comunista y a una reunión familiar”, expresó"

Citador #24 - Blimunda de Jesus, Blimunda mulher... Sete-Luas...

Citador #24
Blimunda
(desenho representativo de Blimunda Sete-Luas e Baltasar Sete-Sóis)


(...) Deveria isto bastar, dizer de alguém como se chama e esperar o resto da vida para saber quem é, se alguma vez o saberemos, pois ser não é ter sido, ter sido não é será, mas outro é o costume, quem foram os seus pais, onde nasceu, que idade tem, e com isto se julga ficar a saber mais, e às vezes tudo. (...)

Página 102

(Quadro de José Santa-Bárbara, da exposição "Vontades")


(...) Blimunda, onde foi que aprendeste essas coisas, Estive de olhos abertos na barriga da minha mãe, de lá via tudo. (...)

Página 331

em, "Memorial do Convento
Caminho, 20.ª edição

Revista Digital "Bliminda" #32 Janeiro de 2015 - para descarregar


Link para descarregar a revista digital, de forma gratuita, 
tal como todos os anteriores números 


Apresentação do #32, via Fundação José Saramago
"O ano de 2015 será o oitavo de existência da Fundação José Saramago – o quinto sem o seu fundador – e o terceiro da Blimunda. Desde que em Junho de 2012 foi publicado o número 1, deparamo-nos todos os meses com o desafio de fazer uma revista de acesso gratuito com qualidade e relevância”, diz o editorial desta edição de janeiro da Blimunda, que começa o ano empenhada em dar voz e espaço a diversas manifestações culturais. Para isso, Sara Figueiredo Costa visita o Museu da Marioneta, em Lisboa, lugar que preserva a história – não só portuguesa, mas de boa parte do mundo – dessa antiga tradição teatral.

Ricardo Viel conversa com o escritor Mempo Giardinelli, cuja dívida de gratidão à Literatura culminou na criação de uma fundação em Resistencia, no Nordeste da Argentina, com o intuito de promover a leitura.

João Monteiro apresenta a segunda parte do seu ensaio “Saramago at the movies” sobre as várias adaptações para o cinema de obras de José Saramago.

Andreia Brites faz uma expedição ao passado e recupera uma análise publicada pelo jornal Expresso há 25 anos sobre literatura infantil e juvenil. Como era vista há um quarto de século a produção para os mais pequenos? O texto responde a essa e outras questões.

A Saramaguiana é ocupada por um texto da investigadora Fernanda Cunha intitulado “A beleza serve-se fria”, em que a autora faz uma análise de Levantado do Chão – romance de José Saramago que completa 35 anos em 2015.

A terminar, os desejos de boas leituras e de um lúcido 2015. Até fevereiro!"


José Saramago: “La paz es una militancia” - texto em homenagem a Ernest Lluch


Para ler e reflectir, via "Memórias" da página da Fundação José Saramago
em http://www.josesaramago.org/jose-saramago-la-paz-es-una-militancia/

"No dia 20 de novembro de 2001, primeiro aniversário da morte do professor e ex-ministro da Saúde espanhol Ernest Lluch, José Saramago participou em San Sebastián numa homenagem ao intelectual assassinado pela ETA. No Teatro Principal, o escritor leu um texto que tinha como título: “La paz es una militancia”. Aqui publicamos a sua intervenção na íntegra (texto em espanhol)."






"No centenário de Álvaro Cunhal" ... a serenidade crítica em tom elogioso

Para visita e consulta, aqui
em http://caderno.josesaramago.org/159992.html



"No centenário de Álvaro Cunhal"

"Não foi o santo que alguns louvavam nem o demónio que outros aborreciam, foi, ainda que não simplesmente, um homem. Chamou-se Álvaro Cunhal e o seu nome foi, durante anos, para muitos portugueses, sinónimo de uma certa esperança. Encarnou convicções a que guardou inabalável fidelidade, foi testemunha e agente dos tempos em que elas prosperaram, assistiu ao declínio dos conceitos, à dissolução dos juízos, à perversão das práticas. As memórias pessoais que se recusou a escrever talvez nos ajudassem a compreender melhor os fundamentos da raquítica árvore a cuja sombra se recolhem hoje os portugueses a ingerir os palavrosos farnéis com que julgam alimentar o espírito. Não leremos as memórias de Álvaro Cunhal e com essa falta teremos de nos conformar. E também não leremos o que, olhando desde este tempo em que estamos o tempo que passou, seria provavelmente o mais instrutivo de todos os documentos que poderiam sair da sua inteligência e das suas finas mãos de artista: uma reflexão sobre a grandeza e decadência dos impérios, incluindo aqueles que construímos dentro de nós próprios, essas armações de ideias que nos mantêm o corpo levantado e que todos os dias nos pedem contas, mesmo quando nos negamos a prestá-las. Como se tivesse fechado uma porta e aberto outra, o ideólogo tornou-se autor de romances, o dirigente político retirado passou a guardar silêncio sobre os destinos possíveis e prováveis do partido de que havia sido, por muitos anos, contínua e quase única referência. Quer no plano nacional quer no plano internacional, não duvido de que tenham sido de amargura as horas que Álvaro Cunhal viveu ainda. Não foi o único, e ele o sabia. Algumas vezes o militante que sou não esteve de acordo com o secretário-geral que ele era, e disse-lho. A esta distância, porém, já tudo parece esfumar-se, até as razões com que, sem resultados que se vissem, nos pretendíamos convencer um ao outro. O mundo seguiu o seu caminho e deixou-nos para trás. Envelhecer é não ser preciso. Ainda precisávamos de Cunhal quando ele se retirou. Agora é demasiado tarde. O que não conseguimos é iludir esta espécie de sentimento de orfandade que nos toma quando nele pensamos. Quando nele penso. E compreendo, garanto que compreendo, o que um dia Graham Greene disse a Eduardo Lourenço: «O meu sonho, no que toca a Portugal, seria conhecer Álvaro Cunhal». O grande escritor britânico deu voz ao que tantos sentiam. Entende-se que lhe sintamos a falta."

em. O Caderno 2, 31 de Julho de 2009


"Este texto de José Saramago, por ocasião dos 90 anos de Álvaro Cunhal, foi publicado na revista “Pública” do “Público” de 9 de Novembro de 2003"

“Não é o santo que alguns louvam nem o demónio que outros aborrecem, é, mas não simplesmente, um homem. Chama-se Álvaro Cunhal e o seu nome foi, durante anos, para muitos portugueses, sinónimo de uma certa esperança. Encarnou convicções a que guardou inabalável fidelidade, foi testemunha e agente dos tempos em que elas prosperaram, assistiu ao declínio dos conceitos, à dissolução dos juízos, à perversão das práticas. As memórias pessoais que se recusou a escrever talvez nos ajudassem a compreender melhor os fundamentos da raquítica árvore a cuja sombra se recolhem hoje os portugueses a comer os palavrosos farnéis com que julgam alimentar o espírito. Não leremos as memórias de Álvaro Cunhal e com essa falta teremos de nos conformar. E também não leremos o que, olhando desde este tempo em que estamos o tempo que passou, seria provavelmente o mais instrutivo de todos os documentos que poderiam sair da sua inteligência e das suas finas mãos de artista: uma reflexão sobre a grandeza e a decadência dos impérios, incluindo aqueles que construímos dentro de nós próprios, essas armações de ideias que nos mantêm o corpo levantado e que todos os dias nos pedem contas, mesmo quando nos negamos a prestá-las. Como se tivesse fechado uma porta e aberto outra, o ideólogo tornou-se autor de romances, o dirigente político retirado passou a guardar silêncio sobre os destinos prováveis e possíveis do partido de que foi, por muitos anos, contínua e quase solitária referência. Quer no plano nacional, quer no plano internacional, não duvido de que sejam de amargura as horas que vive o meu camarada Álvaro Cunhal. Não é o único, e ele o sabe. Algumas vezes o militante que sou não esteve de acordo com o secretário-geral que ele foi, e disse-lho. A esta distância, porém, já tudo parece esfumar-se, até as razões com que, sem resultado que se visse, nos pretendíamos convencer um ao outro. O mundo seguiu o seu caminho e deixou-nos para trás. Envelhecer é não ser preciso. Ainda precisávamos de Álvaro Cunhal quando ele se retirou. Agora, quando cumpre os seus noventa anos, talvez já não precisemos dele. Mas o que não conseguimos é iludir esta espécie de sentimento de orfandade que nos toma quando nele pensamos. Quando nele penso.”