Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"O Conto da Ilha Desconhecida" adaptado e encenado por Rita Lello - em cena no Teatro A Barraca

"Uma ilha onde os adultos entram pela mão das crianças"

"Elenco renovado da peça com Tiago Assis, Samuel Moura, Nádia Yracema e Rita Soares
Fotografia de Jorge Amaral/Global Imagens"

Mais informações aqui - Teatro A Barraca (Lisboa)

A presente reportagem foi publicada, via Diário de Notícias por Marina Marques, e pode ser recuperada e consultada, aqui
em http://www.dn.pt/artes/interior/uma-ilha-onde-os-adultos-entram-pela-mao-das-criancas-5428201.html

"Um homem desce as escadas, por entre o público, chega ao palco, e apresentando-se à porta do rei diz: "Dá-me um barco." Assim, mesmo, sem mais rodeios. A narradora contextualiza dando um significado aos adereços em palco: "A casa do rei tinha muitas portas, mas aquela era a das petições." O mote está lançado e o espaço físico enquadrado. À ação junta-se um rei que também será mais tarde capitão do porto e uma mulher da limpeza. É em torno destas personagens que gira O Conto da Ilha Desconhecida, um espetáculo adaptado e encenado por Rita Lello, a partir do texto de José Saramago.

Uma escolha pouco óbvia para um espetáculo pensado para crianças a partir dos 4 anos, reconhece Rita Lello. "Queríamos adaptar um Saramago para miúdos porque, na verdade, é uma escrita muito visual. E este Conto da Ilha Desconhecida é particularmente visual", explica. A Maior Flor do Mundo foi a primeira escolha, mas, sendo "uma viagem que passa por vários espaços físicos concretos, tornava-se difícil levar a cena". A escolha acabou por recair neste O Conto da Ilha Desconhecida porque, "como se trata de uma viagem interior torna mais possível a construção e a adaptação cénica", conta Rita Lello.

Essa não foi, no entanto, a única razão: "Optámos por este [texto] também porque é muito mais abrangente: veicula conceitos universais com os quais nascemos. Enquanto a sociedade não nos estragar, nós queremos todos partilhar, encontrar um caminho, aprender, evoluir, queremos todos justiça. E é sobre isso que este texto fala: encontrar o caminho para um sonho, para uma sociedade melhor. Mais justa. Ora, as crianças já nascem com isso e portanto são conceitos que não são difíceis de elas entenderem. São mais difíceis de um adulto abraçar do que as crianças entenderem". Por isso, acrescenta: "Este acaba por ser um espetáculo em que os pais entram pela mão das crianças... esperemos."

Esta é, de resto, uma das marcas do trabalho de Rita Lello. "Se calhar não podemos considerar nem o texto nem o espetáculo como sendo para infância. É um texto ao qual as crianças também aderem, mas é um texto verdadeiramente para todos. Esse foi sempre o trabalho que a mim me interessou fazer e à Barraca. Espetáculos para todos. Prefiro muito mais um teatro em que se crie um espaço de transversalidade em termos geracionais do que aquela coisa de fazer os espetáculos só para as crianças."

Outro traço do trabalho de Rita Lello é usar exclusivamente as palavras do autor em cena. "Neste caso levei o desafio ao limite e está o conto integral em cena", adianta. E para resolver a oscilação entre narração e ação, "temos personagens que narram tudo, que metem o bedelho nas ações das outras, e temos personagens que só se narram a si próprias, ou seja, narram a sua própria componente emocional ao mesmo tempo que a vivem", explica.

Outra curiosidade do espetáculo é o facto de os mecanismos de mudança de cenários, de som e luz estarem todos no palco, à vista de todos. Esta componente pedagógica "tem a dupla graça de serem os mesmos mecanismos nos barcos e nos teatros", destaca.

Estreado em 2006, e em cena por duas temporadas, já têm uma ideia da reação do público. "Tivemos reações maravilhosas de pais com os filhos ao colo a chorar de felicidade, porque o espetáculo é muito emocional, é sobre uma utopia. Acho que as pessoas saem deste espetáculo com o sonho alimentado, com a abertura de uma possibilidade de amor, de beleza, de partilha, de construção de uma sociedade alternativa onde as pessoas possam esperar ser felizes. Este homem corre e sabe para onde corre e consegue construir realmente o seu mundo, a sua vida, o seu futuro. Acho que é isso que comove as pessoas." E o pequeno trecho do Homem do Leme, dos Xutos & Pontapés, dá uma ajuda.

Ficha de espetáculo

O Conto da ilha desconhecida

De José Saramago

Adaptação e encenação de Rita Lello Teatro Cinearte, Largo de Santos, 2, Lisboa

Sábados às 15.00 e domingos às 11.00

Para maiores de 4 anos"

"Camões, Pessoa, Saramago : trois géo-stratégies littéraires" Conferência de Diogo Sardinha - Festival L'Incertitude (Paris - 3/11 18h30m)


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[#Festivalincertitude] Conférence : Camões, Pessoa, Saramago : trois géo-stratégies littéraires, par Diogo Sardinha, le 3 novembre à 18h30

"Camões, Pessoa, Saramago : trois géo-stratégies littéraires"

"José Saramago a imaginé, dans son roman "Le Radeau de pierre", un phénomène géologique par lequel la péninsule Ibérique se détache du sud de la France et se met à naviguer sur l'océan Atlantique, traînant l’Espagne et le Portugal vers une nouvelle destinée maritime. Paru en 1986, le livre fait écho à l’œuvre de deux écrivains majeurs, Camões, auteur du poème épique "Les Lusiades" qui, au XVIe siècle, chante le voyage de Vasco de Gama ; et Fernando Pessoa qui, au début du XXe siècle, met en vers le Portugal de la fin d’empire. Trois moments historiques sont ainsi recréés, fictionnés et fixés par le génie de trois écrivains. Nous prendrons leurs textes comme des visions des mondes qui leurs sont contemporains et des propositions pour ce que ces mondes allaient devenir.

Diogo Sardinha, ancien président du Collège international de philosophie, formé dans les universités de Lisbonne et de Paris-Nanterre, a travaillé aux universités Catholique de São Paulo, Freie de Berlin et Columbia de New York. Il est l’auteur d’"Ordre et temps dans la philosophie de Foucault" (2011) et de "L’Émancipation de Kant à Deleuze" (2013).

Organisé en partenariat avec le Centre de philosophie des sciences de l'université de Lisbonne."