Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

6 de Janeiro de 1997 - "Cadernos de Lanzarote V"

"Tenho trabalhado com disciplina e louvável pontualidade em Todos os Nomes. Hoje decidi fazer uma pausa na obrigação de passar a estes Cadernos, como diários de bordo que também têm sido, alguns apontamentos, uns anteriores a 24 de Outubro do ano passado, que foi quando comecei a escrever o livro, outros do próprio dia em que lancei ao papel o princípio do romance.
Eis as primeiras  notas:
1. «Dando tempo às coisas, as coisas, em geral, resolvem-se. Em Amherst vi a história de que precisava para Todos os Nomes. (...)
 «Na repartição, ao ler, uma vez mais, o registo da pessoa, encontra um averbamento feito quinze dias antes por um colega: o registo do falecimento da mulher." (...) 
2.«Outra vez a questão dos nomes. À primeira vista, por contraste com o Ensaio, onde nenhuma personagem tem nome, aqui, com este título, parece que deveriam aparecer todos os nomes, que deveria haver mesmo a preocupação de fazê-los sobressair, de jogar com eles. Simplesmente, isso repugna-me. O nome das pessoas é demasiado intrigante para ser banalizado.» (...)
Eis outros apontamento: (...)

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Capa da recente edição da Porto Editora


6 de Janeiro de 1995 - "Cadernos de Lanzarote III"

"A sugestão que fiz em Lisboa, de que o Prémio Stendhal, para melhor justificar o nome que tem, passasse a interessar-se também pelas questões culturais (...) Do que se vai tratar, informa-me agora Dorio Mutti, presidente da Fundação Adelphi, organizadora do Prémio Stendhal, é de analisar os projectos culturais (...) já em curso na Europa, após o que serão propostos ao júri três ou quatro finalistas. É alguma coisa, mas não alcança os objectivos da sugestão que apresentei: trazer ao conhecimento e ao debato públicos os problemas culturais resultantes da integração europeia."

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6 de Janeiro de 1994 - "Cadernos de Lanzarote II"

"Pela segunda vez o impossível aconteceu. (...) Se chega a acontecer terceira, não sei o que sucederá à velha ordem do mundo. Foi o caso que na revista Cambio 16 desta semana apareceu um artigo assinado por Mário Ventura, desses que é costume escreverem-se por esta época sobre os desejos e votos para o ano que entra. Ou já entrou. Em dado passo pergunta-se o articulista se será este ano de 1994 que a literatura portuguesa se verá contemplada com o Nobel, o que, evidentemente, não é novidade (refiro-me à pergunta), porque todos os anos alguém aparece a fazê-la, sem resultado que se veja. O insólito da história consiste em apresentar-se o artigo ilustrado com uma fotografia minha, ainda por cima adornada com uma legenda que me associa ao suspiradíssimo prémio. (...) José Manuel Mendes, que aqui veio para fazer-me uma entrevista, diz que o sucedido prova a existência de Deus. Para o articulista, provará com certeza a existência do Diabo..." 

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Fotografia de José Manuel Mendes tirada por ocasião 
do 4.º aniversário da Fundação José Saramago