Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 6 de abril de 2018

"O Ano da Morte de Ricardo Reis" apresentado pelo Teatro Municipal Baltazar Dias (Madeira - Março 2018) nas comemorações dos 130 anos

Crónica "O Ano da Morte de Ricardo Reis: mais um projecto inovador" de Carlos Gonçalves - Investigador Integrado no INET-md (FSCH/UNL) - publicada a 29/03/2018 no "JM Madeira" e que pode ser consultada e recuperada aqui

"Nos passados dias 9, 10 e 11 de março, os madeirenses tiveram a feliz oportunidade de assistir a um espectáculo de elevada qualidade artística - criativa e interpretativa -, ao qual foi dado o título de “o ano da morte de Ricardo Reis”, numa adaptação do original de José Saramago.
Este espectáculo que juntou cerca de 60 jovens artistas em palco, integrou-se nas comemorações dos 130 anos do Teatro Municipal Baltazar Dias. Tratou-se de uma organização da Secretaria Regional de Educação, através da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (DSEAM), com produção da Câmara Municipal do Funchal.
A mim, pessoalmente, não me surpreendeu a qualidade deste espectáculo performativo de música, dança e teatro, pois assisti a todas as grandes produções da DSEAM, ao longo dos últimos treze anos. Mas acredito que para alguns dos madeirenses que lotaram os três espetáculos, possa ter sido uma surpresa inusitada. Pegar num original do consagrado escritor madeirense José Saramago é, por si só, um grande risco, pois trata-se de retratar Fernando Pessoa, através do seu heterónimo Ricardo Reis. O espetáculo está dividido em dez cenas, todas elas passadas após a morte de Fernando Pessoa, numa adaptação de Carolina Caldeira, com direcção artística de Juliana Andrade, composição e direcção musical de Márcio Faria. A estes jovens docentes juntam-se Diana Pita, Roberto Moritz e Maurício Freitas. Sem dúvida uma equipa de “ouro” que a DSEAM conta para criar e dirigir espectáculos de qualidade. Uma verdadeira “Equipa de Criativos” que se mantêm na Madeira e não emigrou, como tantas outras.
Não posso deixar de destacar as competências da equipa de produção, coordenada por Ricardo Araújo, sob a direcção-geral de Virgílio Caldeira, bem como a equipa do Teatro Municipal, liderada por Sandra Nóbrega.
Sobre esta produção começo, naturalmente, pelo início de qualquer projecto criativo e inovador: Escolher a ideia! Depois a construção/adaptação de um texto/libreto; a criação da música original e respectiva orquestração; a criação das coreografias e finalmente a encenação com todas as suas facetas, incluindo a cenografia, desenho de luz, sonoplastia, etc… etc… Só quem nunca criou e montou um espectáculo desta natureza poderá ficar indiferente. Este foi mais um trabalho dedicado de vários meses de professores, alunos e técnicos que encarnam um papel de “profissionais”, no verdadeiro sentido da palavra. A mensagem ficou e a elevada qualidade artística e interpretativa também. Resta-nos questionar a oportunidade destas produções regionais poderem sair da Ilha e estar no todo nacional, representando o que de BOM aqui se produz e realiza. Para quando os apoios devidos a esta mobilidade, imprescindível para o reconhecimento dos artistas madeirenses? Será que as verbas da Santa Casa não poderiam servir, igualmente, para esta missão artístico-cultural?
Termino com um dos pensamentos de Fernando Pessoa “Só a Arte é útil. Crenças, exércitos, impérios, atitudes – tudo isso passa. Só a Arte fica, por isso só a Arte se vê, porque dura”.

Mais informação pode ser consultada e recuperada aqui

Cartaz alusivo ao evento


"Com o espetáculo "O ano da morte de Ricardo Reis" terminamos de uma forma incrível as comemorações dos 130 anos. Durante 11 dias o Teatro realizou 11 eventos numa programação cultural de excelente qualidade em parceria com 9 entidades e que envolveu mais de 200 artistas e cerca de 3 mil espetadores. Muito obrigada a todos os que quiseram associar-se às estas comemorações."





"Registo fotográfico da estreia no palco do 
Baltazar dias do espectáculo "O Ano da Morte de Ricardo Reis"