Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Sobre a tese de doutoramento de Horácio Costa - "Cadernos de Lanzarote - Diário II" (22 de Abril de 1994)

"Cadernos de Lanzarote - Diário II"
22 de Abril de 1994

"Todo o dia a ler a tese de doutoramento de Horácio Costa, da Universidade de Yale: José Saramago: o período formativo. Notável, simplesmente. Pela primeira vez alguém deixa de lado a relativa facilidade de análise dos livros que publiquei a partir de Levantado do Chão para atrever-se a penetrar no quase indevassado pequeno bosque do que escrevi antes, não esquecendo mesmo Terra do Pecado, esse primeiro e cândido romance que teria saído a público com o título A Viúva se não fosse o malogrado Manuel Rodrigues, editor da Minerva, que benevolamente me acolhera na sua casa, ter decidido que tal título não era suficientemente comercial... Lendo hoje o estudo minucioso e perspicaz de Horácio Costa, foi todo o passado que se desenhou e reergueu diante de mim. Senti-me de repente muito velho (atenção, velho de tempo, não de vida) e pensei sem nenhuma originalidade: «Quanto caminho andado.» "

in, Caminho
Página 96 


(Capa da edição ESGOTADA - Caminho)