Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"Centauro" conto do "Objecto Quase", na voz e antologia de contos de Nadine Gordimer

Centauro, de José Saramago, publicado numa antologia de contos


Informação, via Fundação José Saramago

“Centauro” de José Saramago, publicado numa antologia de contos na Alemanha, Itália, França, Grécia e México.

“Centauro” de José Saramago, originalmente publicado em Objecto Quase, fez parte de uma selecção de 21 contos de escritores internacionais, com a curadoria de Nadine Gordimer. A antologia conta com textos de: Chinua Achebe, Woody Allen, Margaret Atwood, Nadine Gordimer, Günter Grass, Hanif Kureishi, Gabriel García Marquez, Claudio Madris, Arthur Miller, Es’kia Mphalele, Njabulo Ondebele, Kenzaburo Oé, Amos Oz, Salman Rushie, Ingo Schulze, Susan Sontag, Paul Theroux, Michel Tournier, John Updike e Christa Wolf, além de José Saramago. Como refere Nadine Gordimer na introdução: “Las veintiún historias contenidas aquí están escritas con diferentes «voces», estilos intensamente individuales que reflejan las maravillosas posibilidades del uso de la palabra en la pluma de escritores vivos, entre los cuales se cuentan cinco ganadores del Premio Nobel de Literatura. Todos se unen para brindar el gozo de la lectura a cualquiera que tome entre sus manos esta excepcional y extraordinaria recopilación de talento creativo.”

Inicialmente publicada na Alemanha, em 2004 com a chancela da BvT, esta antologia foi também publicada em Itália (Feltrinelli, 2005), França (Éditions Grasset & Fasquelle, 2005), Grécia (Kastaniotis, 2005) e México (Sexto Piso Editorial, 2006).


No site do "The Guardian", existe a possibilidade de ouvir a voz de Nadine Gordimer, na leitura do conto "Centauro".


"Nadine Gordimer reads 'The Centaur' by José Saramago
José Saramago tackles the conflict between mind and body in 'The Centaur', says Nadine Gordimer
It is in many ways a unique story. Here is a creature imagined, something that is higher and better and different from a man. Here is the dream of a creature that is half horse, half man, who has the physical fitness of a horse and the mental complexity of a man. This extraordinary fable shows the depths of the human confusion that the creature faces. It is a wonderful way of looking into the conflict between what one's body desires or dictates – sexual desire as part of our power; it's through sexual desire that you take possession, after all – and many of one's other ideals about how we ought to approach another being. There's as much in this little story as in 20 novels and 20 poems."



Quem é Nadine Gordimer?
Numa simples introdução recolhida na Wikipédia, aqui em http://pt.wikipedia.org/wiki/Nadine_Gordimer

Nadine Gordimer (Joanesburgo, 20 de Novembro de 1923 — Joanesburgo, 13 de Julho de 20141 2 ) foi uma escritora sul-africana. É autora de mais de 30 livros, na sua maioria crónicas sobre a deterioração social que afetou a África do Sul durante o regime do apartheid. Desde o romance de estreia, The Lying Days (1953), até The Conservationist (1974), obra com que foi vencedora do Prémio Man Booker, dedicou-se a dramatizar as difíceis escolhas morais surgidas numa sociedade marcada pela segregação racial.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1991 e, mais recentemente, a Legião da Honra, na França. Continua a explorar os problemas que assolam o país em livros como O engate (2004) e Beethoven Was One-Sixteenth Black (Beethoven era 1/16 Negro), uma colectânea de contos ainda no prelo.
A escritora foi uma das mais importantes vozes contra o apartheid na África do Sul e, a maior parte dos seus mais de 30 livros, foi focada na situação social do país durante esse período.

João Amaral adapta "A viagem do Elefante" para álbum de BD - Exccepcional!!!

E eis que chega mais um momento, muito aguardado, numa espera muito viva, para conhecer a história adaptada de "A Viagem do Elefante", em versão BD - banda desenhada.
Através das pranchas, ilustradas por João Amaral, iremos conhecer Salomão e todos os que o conduzem... pela Europa... até ao seu destino... aquele em que... 

"Sempre chegamos aonde nos esperam" 



"João Amaral é um autor de BD que gosta de transformar em imagens sequenciais, vulgo banda desenhada, grandes obras literárias. 
Depois de o ter feito com "A Voz dos Deuses", de João Aguiar, consolidou o gosto por este género de tarefas exigentes, e ei-lo que, após dois anos e meio de trabalho intenso, apresenta em adaptação à BD "A Viagem do Elefante", romance de José Saramago.
Em conversa com o casal João Amaral e Cristina Amaral, fiquei a saber que tinha sido ela que, após leitura do romance, aconselhou o marido a lê-lo também. Cristina é uma leitora compulsiva, conhece bem o marido, sabe que ele tem capacidade para se abalançar a este tipo de tarefas exigentes e muito trabalhosas. A reacção de João Amaral foi entusiástica ao longo da leitura do romance e, conforme me disse em conversa casual, as imagens começaram de imediato a formar-se na sua imaginação. 
 Assim, sob o efeito ainda da leitura, lançou-se à concretização gráfica. 
Claro que a passagem para figuração narrativa de uma extensa obra literária por um único autor representa um trabalho imenso, estou a referir-me às várias e exigentes tarefas de adaptar para guião o texto original de José Saramago, que é o verdadeiro argumento; em seguida esboçar num layout cento e vinte pranchas, cada uma delas com várias vinhetas - veja-se a prancha aqui ao lado -, depois passá-las a tinta, em seguida fazer a legendagem, tanto as legendas didascálicas sob as vinhetas, como as que têm de ser inseridas dentro dos balões de fala. E, finalmente, colorir todas as pranchas (repito: cento e vinte!), ou seja, fazer a arte final.
Após todo este trabalho ecléctico - uma banda desenhada, quando feita por um único autor, exige que ele seja polivalente, o que é o caso de João Amaral -, teve ainda o trabalho de capista, isto é, fazer uma ilustração para a capa, e só então deu a obra por terminada, obra que demorou a realizar, como acima já ficou dito, cerca de dois anos e meio, numa média de oito horas de trabalho por dia, considerando o pormenor de que houve pranchas que levaram uma semana a fazer (quanto tempo terá levado José Saramago a escrevê-la?).
"A Viagem do Elefante" em BD está enfim pronta, e será posta à venda no próximo dia 21 do corrente mês de Novembro em todas as livrarias do país.
Quanto ao lançamento oficial, será feito mais tarde, em data e local que será divulgado em devido tempo."


Para conhecer a obra de João Amaral 







Da militância comunista, do PCP, do comunismo

Ao longo da obra de João Céu e Silva, «Uma longa viagem com José Saramago», é abordada a temática que envolve a militância comunista, quer pela prática, junto do PCP, quer pela teoria, isto no seu pensamento implícito e explícito no seu compêndio literário produzido.



O antes... Saramago explica a João Céu e Silva

(...) Antes do 25 de Abril era militante do Partido Comunista Português desde 1969 e tinha a actividade normal daqueles tempos. Eu nunca passei para a clandestinidade porque não foi necessário, fiz aquilo que tinha que fazer, distribuir papéis, elaborar documentos, enfim, o comum e o normal da época. (...)

Se não tivesse acontecido o 25 de Abril, quatro dias depois seria preso!
Sim, a 29 de Abril estava determinado que eu seria preso. E a coisa acaba assim porque a partir daí já não tive mais patrão. 

Páginas 46 e 47
Edição Porto Editora

A menção da prisão, aparece também mencionada, na entrevista com Fernanda Eberstadt (New York Times) em que diz: "Eu tive sorte. Eu nunca fui preso. Muitas vezes isso poderia ter acontecido, mas os meus camaradas presos tiveram a coragem e a dignidade de não me denunciarem"

O seu posicionamento político e ideologia dificultam o chegar aos leitores ou, pelo contrário, tem facilitado?
Não sei, mas aí entram vário factores. Claro que eu penso aquilo que penso e sou aquilo que sou e do ponto de vista político, ideológico e filosófico isso está muito claro nos meus livros. Mas sem que eu tivesse de preocupar-me com frase de Engels - e o Engels não era qualquer pessoa! - há uma carta em que ele responde a uma jovem escritora que lhe pedia conselhos e em que diz: «Quanto menos se notar a ideologia melhor». Essa frase podia-me ser aplicada. Grande parte dos escritores politicamente empenhados nas ideias socialistas e comunistas, ou coisa que o valha, não leram esta frase ou se a leram não lhe deram importância nenhuma e em muitos casos, designadamente no chamado realismo socialista - onde também há grandes obras -. a ideologia nota-se de uma forma e quantidade que não é necessária.

É muito transparente?
É demasiado óbvio. E é tão óbvio que dá vontade de dizer: «Não faças isso. Não digas. Sugere.» A questão tem de estar lá, no poder de sugestão que a história tenha, que permita ao leitor ir mais além do que aquilo que parece estar dito, porque naquilo que está escrito há implícito uma quantidade de coisas a que o leitor, que é inteligente, é capaz de chegar por sua própria conta. (...)

Página 53
Edição Porto Editora

Luís Cília canta poema de José Saramago em 1967 - «Contracanto»



Aqui o link do blog, em
http://samuel-cantigueiro.blogspot.pt/2010/06/jose-saramago-luis-cilia-contracanto.html

"Estávamos em 1968. Luís Cília, o grande divulgador da poesia portuguesa, mostrava-nos em disco (“La poesie portugaise de nos jours et de toujours – 1, de 1967)” e aqui, num programa da TV francesa, este “Contracanto”, escrito por um autor pouco conhecido."

Contracanto

Aqui longe do sol que mais farei
Senão cantar o bafo que me aquece?
Como um prazer cansado que adormece
Ou preso conformado com a lei

Mas neste débil canto há outra voz
Que tenta libertar-se da surdina
Como rosa-cristal em funda mina
Ou promessa de pão que vem das mós

Outro sol mais aberto me dará
Aos acentos do canto outra harmonia
E na sombra direi que se anuncia
A toalha de luz por onde vá.

(José Saramago)