Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

No data do nascimento de Charles Darwin recupera-se o post "Perdão para Darwin?" do livro/blog "O Caderno"

No dia em que se comemora a data de nascimento de Charles Darwin, aqui se relembra um post/texto sobre o mesmo.


Pode ser lido online aqui, via página da Fundação José Saramago,
em http://caderno.josesaramago.org/1406.html


"Perdão para Darwin?"

"Uma boa notícia, dirão os leitores ingénuos, supondo que, depois de tantos desenganos, ainda os haja por aí. A Igreja Anglicana, essa versão britânica de um catolicismo instituído, no tempo de Henrique VIII, como religião oficial do reino, anunciou uma importante decisão: pedir perdão a Charles Darwin, agora que se comemoram duzentos anos do seu nascimento, pelo mal com que o tratou após a publicação da Origem das Espécies e, sobretudo, depois da Descendência do Homem. Nada tenho contra os pedidos de perdão que ocorrem quase todos os dias por uma razão ou outra, a não ser pôr em dúvida a sua utilidade. Mesmo que Darwin estivesse vivo e disposto a mostrar-se benevolente, dizendo “Sim, perdoo”, a generosa palavra não poderia apagar um só insulto, uma só calúnia, um só desprezo dos muitos que lhe caíram em cima. O único que daqui tiraria benefício seria a Igreja Anglicana, que veria aumentado, sem despesas, o seu capital de boa consciência. Ainda assim, agradeça-se-lhe o arrependimento, mesmo tardio, que talvez estimule o papa Bento XVI, agora embarcado numa manobra diplomática em relação ao laicismo, a pedir perdão a Galileu Galilei e a Giordano Bruno, em particular a este, cristãmente torturado, com muita caridade, até à própria fogueira onde foi queimado.Este pedido de perdão da Igreja Anglicana não vai agradar nada aos criacionistas norte-americanos. Fingirão indiferença, mas é evidente que se trata de uma contrariedade para os seus planos. Para aqueles republicanos que, como a sua candidata à vice-presidência, arvoram a bandeira dessa aberração pseudo-científica chamada criacionismo."

José Saramago (17 de Setembro de 2008)

em O Caderno
Caminho, 2.ª edição



Mais informação biográfica sobre o cientista
em http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Darwin

"Charles Robert Darwin, (12 de fevereiro de 1809 — Downe, Kent, 19 de Abril de 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da selecção natural e sexual. Esta teoria culminou no que é, agora, considerado o paradigma central para explicação de diversos fenómenos na biologia. Foi laureado com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.

Darwin começou a se interessar por história natural na universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia. A sua viagem de cinco anos a bordo do brigue HMS Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da natureza levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da teoria da Selecção Natural. Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, ele as confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objecções. Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta das suas teorias em 1858.

Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural. Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana, notavelmente "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex, 1871) e "A Expressão da Emoção em Homens e Animais" (The Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872).

Em reconhecimento à importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton. Foi uma das cinco pessoas não ligadas à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século XIX."

67 razões para ler "O Ano da Morte de Ricardo Reis"...


1. Vapor Highland Brigade faz escala em Lisboa

2. 16 anos depois regressa do Rio de Janeiro - Hotel Bragança

3. Visita túmulo de FPessoa no cemitério dos Prazeres

4. Lídia ...
 
5. Lisboa debaixo de chuva e vento... uma constante

6. Passagem de ano 1/1/1936, meia noite e meia hora; Lídia sobe ao quarto; depois Fernando Pessoa sentado no sofá, abraçaram-se, fazem promessas de novos encontros para colocar o diálogo em dia

7. Lídia e Ricardo Reis dormem juntos

8. A forçada ida ao Dona Maria e as apresentações a Marcenda e seu pai Dr. Sampaio

9. Depois do teatro aparece de novo Fernando Pessoa e mais tarde Lídia

10. Ricardo Reis conversa longamente com Marcenda na ausência do Dr. Sampaio

11. Jantam os três na mesma mesa

12. Primeiros mixericos de "sunânbulismo" pelos corredores numa alusão às incursões de Lídia no quarto de Ricardo Reis

13. Leitura de "conspiração" de Tomé Vieira

14. Por curiosidade Ricardo Reis assiste ao cortejo fúnebre do "mouraria" assassinado por José Rola, tal ajuntamento é o exemplo das piores profissões em desfile

15. Encontros vários com Pessoa

16. As esquerdas ganham as eleições em Espanha vêm famílias fugidas

17. Estado febril e o aconchego e cuidados de Lídia

18. Ofício da PVDE e o boato corre depressa no hotel

19. Dr. Sampaio evita o contacto... Marcenda deixa bilhete por debaixo da porta do quarto de Ricardo Reis... encontro amanhã no Alto de Santa Catarina

20. Pessoa aparece, falam, Ricardo Reis pede-lhe que não esteja presente porque Marcenda estará a chegar... esta pede desculpa pelo pai, deixa morada para saber de novidades do interrogatório. .. afinal de contas Pessoa manteve-se invisível para Ricardo Reis

21. Interrogatório que não o era mas Ricardo Reis assim entendeu. O Doutor-Adjunto e o subalterno Victor (este amigo do gerente do hotel Bragança) deixaram passar em claro alguma ríspidez de Ricardo Reis. Entretanto descansado envia carta para Coimbra.

22. Pondera deixar o Bragança. Continua o mau tempo por Lisboa



23. Aluga casa no Alto de Santa Catarina perto do local onde se encontrou com Marcenda às escondidas

24. A despedida do hotel Bragança e a mudança para a casa nova.... os 2 velhos no jardim do Alto de Santa Catarina são uma constante

25. Lídia aparece de surpresa. Virá fazer a faxina. Marcenda estará para chegar. A melancolia de um homem sem nada para fazer.

26. A semana de ansiedade. O serviço de Lídia. A vizinhança alcoviteira. As novas rotinas.

27. Marcenda aparece de surpresa. O beijo apaixonado.

28. Ricardo Reis entra lentamente ao serviço... arranjou um lugar de médico em substituição

29. As estranhas ideologias fascistas na Europa e os "bodos" pela mediocridade nacional

30. Fernando Pessoa que não tem dado sinal


31. Troca de correspondência com Marcenda... recebe um subscrito violeta... relutância em abrir para saber as novas... paralelo no futuro com As Intermitências da Morte (a cor, coincidência??)

32. A visita de Fernando Pessoa

33. A PVDE através do agente Victor rondando a porta

34. Ricardo Reis lê a Fernando Pessoa as novidades do mundo e de Portugal... os mortos perdem a capacidade de ler, debatem a novidade de Portugal e Alemanha utilizarem o divino como avalista político

35. Episódio com Lídia que volta para a faxina semanal... a tentativa de um acto sexual falhado por incapacidade de Ricardo Reis lhe poder responder... a rispidez deste e a tristeza de Lídia

36. Ricardo Reis recebe a visita de Marcenda no consultório... há desejo reprimido. Um inesperado pedido de casamento prontamente recusado... e "um dia" na despedida

37. Outra carta violeta chegada de Coimbra.... esta matando e acabando o que não poderia ter começado.... "não responda"

38. Continuam os ecos perigosos das guerras... Addis-Abeba arde... 

39. Visitas de Lídia, teorização sobre a duplicidade da mulher a dias e da amante

40. Apanha no Rossio comboio a caminho de Fátima... por conversas com Marcenda, Fátima seria para o Dr. Sampaio uma última esperança para a maleita da filha

41. Os caminhos e as gentes a caminho de Fátima, os milagres que não aconteceram, a impressão que Ricardo Reis ganha pela inadaptação àquele lugar e ao que representa

42. O regresso a Lisboa, as visitas de Lídia e Fernando Pessoa... este apercebe-se que o hálito a cebola estará nas imediações da sua casa... sinónimo de contínua vigilância do agente Victor e da PVDE. Perde o lugar no consultório. Equaciona voltar ao Brasil

43. Fernando Pessoa e Ricardo Reis abordam o Estado e contestam Salazar. Episódio do anúncio de António Ferro e do simulacro de um "ataque aéreo ao Rossio por inimigo desconhecido"

44. As aparições de Fernando Pessoa cada vez mais espaçadas ... passam 6 meses da morte... o esquecimento... o medo de se perder

45. Ricardo Reis sem consultório e pouca vontade de exercer deixa-se levar pela preguiça dos dias... dorme ... dorme

46. Dia da Raça. Fernando Pessoa apercebe-se que sobre Camões não escreveu... inveja?


47. Lídia confessa a Ricardo Reis o atraso de 10 dias... Virá filho de pai incógnito? 

48. Ricardo Reis e Fernando Pessoa em nova visita abordam os vários heterónimos, a estátuas que são retiradas e a questão do filho indesejado

49. Espanha e as revoltas, Franco... abordagem à ingenuidade que paira sobre as ilusões criadas à volta da Mocidade Portuguesa e a Juventude Hitleriana

50. Fernando Pessoa que não tem aparecido. Ricardo Reis vai aos Prazeres. 4371 é onde se dirige

51. General Milan d'Astray a caminho da guerra em Espanha estará de passagem por a Lisboa, isto inquieta Ricardo Reis ao ponto de procurar Fernando Pessoa

52. O contínuo desleixo de Ricardo Reis. O pequeno rádio para ouvir as novas. Os espanhóis exilados no hotel Bragança e nos Estoris que retornam a uma Espanha com novos poderes e governos nacionalistas

53. Ricardo Reis e a voz dos jornais. Lídia e a voz do irmão comunista

54. Badajoz rendeu-se. A praça de touros será palco da vingança... o cheiro e imagem de sangue dos milicianos prisioneiros corre numa arena de outras lides

55. Franco tomará Madrid para erradicar o mal do comunismo e marxismo. Em Portugal organizam-se demonstrações de nacionalismo em comícios contra esses males dos vermelhos.

56. Ricardo Reis vai ao comício no Campo Pequeno por curiosidade e por alguma convicção. Estão lá os de Itália, Alemanha e Espanha. O comício apela à criação de uma legião cívica... terá camisa verde para não copiar os seus iguais da Europa.

57 . Lídia há muito que não aparece. Ricardo Reis está num contínuo estado de desleixo... passa os dias a dormir... escreveu uma carta a Marcenda que a rasgou ... mas seguiu um verso para a posta restante de forma anónima...

58. Lídia apareceu... desespero dela... o irmão irá no Afonso de Albuquerque e outros barcos para uma suposta revolta... tem medo... nem o peso de carregar um filho de homem que não o quererá como um pai quer a um filho lhe afronta tanto como a vida do irmão... desespero...

59. Ricardo Reis descerá à beira do rio... vê os hipotéticos futuros revoltosos barcos em hora de almoço... vê passar o zepellin Hindemburgo que vem largar correspondência para que algum navio a leve para a América do Sul... Victor aparece de surpresa e Ricardo Reis depois de dizer que "estava a observar os barcos e o rio", seguiu caminho como se fugisse do agente do cheiro a cebola

60. Tiros vindos dos barcos. A revolução? RR vem para a rua e afinal é o ataque vem Forte de Almada que disparam contra os barcos... e do Forte do Duque... o Afonso de Albuquerque e Dão são atingidos... rendem-se...


61. Ricardo Reis refugia-se em casa.... chora desalmadamente... "sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo"...

62. Ricardo Reis levanta da cama e apronta-se... segue em direcção ao hotel Bragança... a Pimenta e ao gerente Salvador perguntará por Lídia... não estando só poderia estar em socorro ou de novidades do seu irmão revoltoso...

63. O jornal do dia seguinte dá notícia da morte de doze marinheiros, feridos e outros presos. Daniel Martins, irmão de Lídia morreu...

64. À noite Pessoa apareceu... sentaram-se e assim ficaram... o inevitável anúncio... os nove meses de transição que Fernando Pessoa tinha falado passaram... "não nos tornaremos a ver"

65. Ricardo Reis levanta-se, pega no livro que nunca conseguira ler, aquele que não devolveu da viagem de regresso no Highland... "the god of the labyrinth"... então vamos disse... não conseguirá ler é a primeira virtude que perde com a morte... deixo o mundo aliviado de um enigma

66. Então vamos, disse Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo Reis

67. Aqui onde o mar se acabou e a terra espera.

Epígrafe "Ricardo Reis regressou a Portugal depois da morte de Fernando Pessoa" José Saramago