Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 31 de março de 2015

Acordo de parceria entre a Fundação José Saramago e Casa Fernando Pessoa

A Cultura, a sua força, a sua vida.
A Cultura que se mexe e move.
Saramago e Pessoa, o desassossego que nos mantém inquietos...




Informação em detalhe, recolhido via página da Fundação José Saramago,

"Casa Fernando Pessoa e Fundação José Saramago assinam acordo"

"A partir de hoje, Fernando Pessoa e José Saramago cruzam-se de modo mais marcado e efectivo: as duas casas de autor, que trabalham para dar a conhecer o melhor da literatura, assinam um acordo de parceria no sentido de desenvolver acções comuns e conjuntas.
A Fundação José Saramago e a Casa Fernando Pessoa (equipamento municipal gerido pela EGEAC) associam-se de modo a trabalhar em conjunto na promoção do conhecimento sobre dois nomes maiores da cultura portuguesa e no sentido de estimular o gosto pelo livro e pela leitura.
No âmbito desta parceria, estão acções como o ciclo Sem casas não haveria ruas, já em curso e em articulação com a editora BOCA, que leva leituras e contos a cada uma das instituições em meses alternados. O arranque fez-se em Fevereiro, em torno de Nuno Bragança, na Casa Fernando Pessoa; continua hoje, 27 de março, na Fundação José Saramago, desta feita com o actor e contador Carlos Marques e O gosto das palavras.
No futuro e em crescendo as acções consideram um bilhete de desconto mútuo (ao entrar na segunda instituição o visitante da primeira apenas paga €1), o desenvolvimento da iniciativa Os dias do Desassossego em Novembro, roteiros que unam as duas Casas, entre outras acções concertadas junto dos diferentes públicos.
O acordo agora assinado tem vigência de um ano, prorrogável a mais dois.

A parceria com a Casa Fernando Pessoa, que agora se aprofunda, depois do arranque do passado mês de novembro com o(s) Dia(s) do Desassossego, cumpre um objectivo fundamental para a Fundação José Saramago, o de trabalhar em conjunto com outras entidades do meio cultural da cidade de Lisboa. E que melhor parceiro que a Casa Fernando Pessoa, a outra casa de autor da capital. Se Lisboa tem a felicidade de contar com estes dois equipamentos, só podia fazer sentido que o trabalho em conjunto passasse a ser uma realidade. O crescimento do turismo em Lisboa é hoje uma realidade, para o qual, na nossa opinião, deve contar em grande medida a oferta cultural, garantindo que muitos dos que nos visitam, nacionais e estrangeiros, possam ter contacto com a vida e obra de dois dos grandes escritores universais, fundamentais para um maior entendimento da realidade portuguesa e mundial.

Sérgio Machado Letria - Director

Colaborar de forma continuada e alargada com a Fundação José Saramago é para a Casa Fernando Pessoa o prolongamento natural e desejado das anteriores iniciativas conjuntas. As duas casas de autor de Lisboa passam a desenvolver uma programação articulada e dialogante, procurando desenvolver o eixo que se estende entre um espaço e o outro e actuando conjuntamente em circuitos que estimulem o interesse e o contacto dos leitores com dois grandes escritores que são de Lisboa e do mundo.

Clara Riso - Directora"



Autor vs Narrador em Saramago - Opinião de Manuel Frias Martins (A Espiritualidade Clandestina de José Saramago)

Sobre a temática e categorização do "agente" ou "criador" literário, neste caso, referindo-se ao paradigma diferenciador da existência de um autor e/ou narrador, Manuel Frias Martins na sua obra, "A Espiritualidade Clandestina de José Saramago", explana de forma directa e incontornável o posicionamento de José Saramago sobre esta matéria.
Este pequeno excerto (Capítulo I, "O lugar do autor" - "A escrita de si"), foca na primeira pessoa o pensamento inicial e que acompanhará toda a obra - o homem que cria, o gerador da ideia, assume total controle e estatuto de autor



(...) foi o próprio José Saramago quem acabou por confirmar aquilo que aqui chamo de narrativa de si quando se associou às personagens que ia construindo. Num texto de cordato desacordo com alguns académicos acerca das figuras de narrador e do autor, José Saramago afirmou sem quaisquer ambiguidades que o «autor está no livro todo, o autor é o livro todo, mesmo quando o livro não consiga ser todo o autor», acentuando a ideia de que ele, José Saramago, era Blimunda e Baltasar, Jesus e Maria Madalena, José e Maria, Deus e o Diabo, etc., e, suma, todas as personagens que ele havia criado em toda a sua obra. (...)

em "A Espiritualidade Clandestina de José Saramago"
Manuel Frias Martins
Fundação José Saramago, página 38

"Balanço" post do Blog/Livro "O Caderno" em 5 de Janeiro de 2009

Quando a tarefa termina ou o se esgota, dos seus propósitos originais, eis que urge o balanço.
Aqui, eu em balanço, testemunho.


Estátua de Miguel Ângelo, retratando Moisés 
(Igreja de San Pietro in Vincoli - Roma, Itália)

Pode ser lido e consultado, aqui

"Balanço"

"Valeu a pena? Valeram a pena estes comentários, estas opiniões, estas críticas? Ficou o mundo melhor que antes? E eu, como fiquei? Isso esperava? Satisfeito com o trabalho? Responder “sim” a todas estas perguntas, ou a mesmo só a alguma delas, seria a demonstração clara de uma cegueira mental sem desculpa. E responder com um “não” sem excepções, que poderia ser? Excesso de modéstia? De resignação? Ou apenas a consciência de que qualquer obra humana não passa de uma pálida sombra da obra antes sonhada. Conta-se que Miguel Ângelo, quando terminou o Moisés que se encontra em Roma, na igreja de San Pietro in Vincoli, deu uma martelada no joelho da estátua e gritou: “Fala!” Não será preciso dizer que Moisés não falou. Moisés nunca fala. Também o que neste lugar se escreveu ao longo dos últimos meses não contém mais palavras nem mais eloquentes que as que puderam ser escritas, precisamente essas a quem o autor gostaria de pedir, apenas murmurando, “Falem, por favor, digam-me o que são, para que serviram, se para algo foi”. Calam, não respondem. Que fazer, então? Interrogar as palavras é o destino de quem escreve. Um artigo? Uma crónica? Um livro? Pois seja, já sabemos que Moisés não responderá."

em "O Caderno"
Caminho, 2.ª edição, publicado a 5 de Janeiro de 2009