Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 31 de março de 2015

Autor vs Narrador em Saramago - Opinião de Manuel Frias Martins (A Espiritualidade Clandestina de José Saramago)

Sobre a temática e categorização do "agente" ou "criador" literário, neste caso, referindo-se ao paradigma diferenciador da existência de um autor e/ou narrador, Manuel Frias Martins na sua obra, "A Espiritualidade Clandestina de José Saramago", explana de forma directa e incontornável o posicionamento de José Saramago sobre esta matéria.
Este pequeno excerto (Capítulo I, "O lugar do autor" - "A escrita de si"), foca na primeira pessoa o pensamento inicial e que acompanhará toda a obra - o homem que cria, o gerador da ideia, assume total controle e estatuto de autor



(...) foi o próprio José Saramago quem acabou por confirmar aquilo que aqui chamo de narrativa de si quando se associou às personagens que ia construindo. Num texto de cordato desacordo com alguns académicos acerca das figuras de narrador e do autor, José Saramago afirmou sem quaisquer ambiguidades que o «autor está no livro todo, o autor é o livro todo, mesmo quando o livro não consiga ser todo o autor», acentuando a ideia de que ele, José Saramago, era Blimunda e Baltasar, Jesus e Maria Madalena, José e Maria, Deus e o Diabo, etc., e, suma, todas as personagens que ele havia criado em toda a sua obra. (...)

em "A Espiritualidade Clandestina de José Saramago"
Manuel Frias Martins
Fundação José Saramago, página 38

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