Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Blog/Livro O Caderno 2 - "Poetas e Poesia" post de homenagem a Mario Benedetti, com Prólogo de José Saramago para a música de Tania Libertad "La Vida Ese Paréntesis"

Tania Libertad com Mario Benedetti

Pode ser consultado e lido, aqui em http://caderno.josesaramago.org/41965.html
"Poetas e poesia"
"Não será com todos nem será sempre, mas às vezes acontece o que estamos vendo nestes dias: que, por ter morrido um poeta aparecem, em todo o mundo, leitores de poesia que se declaram devotos de Mario Benedetti e que precisam de um poema que expresse o seu desconsolo e talvez também para recordar um passado em que a poesia teve lugar permanente, quando hoje é a economia que nos impede de dormir. Assim, vemos que de repente se estabelece um tráfico de poesia que deve ter deixado perplexos os medidores oficiais, porque de um continente a outro saltam mensagens estranhas, de factura original, linha curtas que parecem dizer mais do que à primeira vista se crê. Os decifradores de códigos não têm mãos a medir, há demasiados enigmas para decifrar, demasiados abraços e demasiada música acompanhando sentimentos que são demasiados: o mundo não poderia suportar muitos dias desta intensidade emocional, mas tão-pouco, sem a poesia que hoje se expressa, seríamos inteiramente humanos. E isto, em poucas linhas, é o que está sucedendo: morreu Mario Benedetti em Montevideo e o planeta tornou-se pequeno para albergar a emoção das pessoas. De súbito os livros abriram-se e começaram a expandir-se em versos, versos de despedida, versos de militância, versos de amor, as constantes da vida de Benedetti, junto à sua pátria, aos seus amigos, ao futebol e alguns boliches de trago largo e noites mais largas ainda.Morreu Benedetti, esse poeta que soube fazer-nos viver os nossos momentos mais íntimos e as nossas raivas menos ocultas. Se com os seus poemas saímos à rua – lado a lado somos muito mais que dois –, se lendo “Geografias”, por exemplo, aprendemos a amar um país pequeno e um continente grande, agora, segundo as cartas que chegam à Fundação, recuperaram-se momentos de amor que deram sentido a tempos passados, e quem sabe se presentes. Isso também o devemos a Benedetti, ao poeta que ao morrer fez de nós herdeiros da bagagem de uma vida fora do comum." (19 Maio de 2009)

* Prólogo de José Saramago
(La Vida Ese Paréntesis - Intro - Tania Libertad/Mario Benedetti)

"Tania y Mario: la libertad"*

"No es verdad que el mundo está todo descubierto. El mundo no es sólo la geografía con sus valles y montañas, sus ríos y sus lagos, sus planicies, los grandes mares, las ciudades y las calles, los desiertos que ven pasar el tiempo, el tiempo que nos ve pasar a todos. El mundo es también las voces humanas, ese milagro de la palabra que se repite todos los días, como un corona de sonidos viajando en el espacio. Muchas de esas voces cantan, algunas cantan verdaderamente. La primera vez que oí cantar a Tania Libertad tuve la revelación de las alturas de la emoción a que puede llevarnos una voz desnuda, sola delante del mundo, sin ningún instrumento que la acompañara. Tania cantaba a capella "La paloma" de Rafael Alberti, y cada nota acariciaba una cuerda de mi sensibilidad hasta el deslumbramiento.Ahora Tania Libertad canta a Mario Benedetti, ese gran poeta a quien tan bien le sentaría el nombre de Mario Libertad...Son dos voces humanas, profundamente humanas, que la música de la poesía y la poesía de la música han reunido. De él la palabras, de ella la voz.Oyéndolas estamos más cerca del mundo, más cerca de la libertad, más cerca de nosotros mismos."



Exposição Lanzarote "A Janela de Saramago" em Santo Tirso na Fábrica Santo Thyrso (8/5 a 16/6)


(Capa da obra de João Francisco Vilhena)


Para ser consultado aqui,
em http://www.jornaldoave.pt/index.php/santo-tirso/241-inauguracao-da-exposicao-lanzarote-a-janela-de-saramago

"Fábrica de Santo Thyrso acolhe exposição de fotografia até 16 de junho
A Câmara Municipal de Santo Tirso, inaugura na sexta-feira, dia 8 de maio, pelas 18h30, a exposição Lanzarote a Janela de Saramago, do fotógrafo João Francisco Vilhena. Patente na Fábrica de Santo Thyrso até dia 16 de junho, “Lanzarote a Janela de Saramago” é um diário/caderno de notas sobre o olhar sensorial e apaixonado do escritor, visto e filtrado pelo olhar de um fotógrafo que em 1998 esteve em Lanzarote para o retratar, e que 15 anos depois regressa para capturar novas imagens e sentir o que aquela terra, no meio do oceano, representou para o único prémio Nobel de Literatura da língua portuguesa.
Nos seus diários sobre Lanzarote, em entrevistas e conferências, Saramago declarou o seu amor pela ilha e confessou um imaginário regresso aos lugares da infância perdida. Em Lanzarote um novo homem revela-se e é revelado. “Quantas maneiras haverá de ser feliz? Começo a crer que as conheço a todas.” É essa atmosfera que João Francisco Vilhena retrata e apresenta no seu trabalho. A tranquilidade, refletida nas palavras, a influência da paisagem, a luz e as nuvens, o mar e o silêncio, a temperatura das cores, tudo isso influenciou a escrita e a vida de Saramago. Através das suas imagens João Vilhena procura retratar Lanzarote como uma janela aberta por Saramago. O lugar e sua paisagem como símbolo de uma nova fase; uma nova literatura, uma nova vida, um momento diferente de criação e do homem.
Esta é ainda uma exposição/instalação visual e sonora, composta por fotografias a preto e branco e sépia interagindo com frases de José Saramago. A exposição conta ainda com uma instalação sonora em que ouvimos a voz de José Saramago, integrada numa partitura musical criada para a exposição pelos Cindy Kat. 
A exposição tem entrada gratuita e pode ser vista de segunda a sexta-feira entre as 9h00 e as 18h00, e ao fim de semana entre as 14h00 e as 18h00.
JOÃO FRANCISCO VILHENA nasceu em Lisboa, em 1965.
Trabalhou como fotojornalista e colaborou com diversos jornais e revistas, em Portugal e no estrangeiro, tais como Ler, Elle, Máxima, Marie Claire, Oceanos, Visão, Grande Reportagem, Colóquio-Letras, Der Spiegel, o suplemento cultural DNA e Le Monde. Foi editor fotográfico do semanário O Independente e do semanário Sol, bem como diretor de arte da Tabacaria – revista literária da Casa Fernando Pessoa. Tem realizado diversas exposições em Portugal e no estrangeiro. Assinou vários livros em coautoria. Tem participado como júri em prémios de fotografia."