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"Rara brochura com discurso de José #Saramago de quando recebeu o
Doutor Honoris Causa pela UFMG em 1999."
O titulo Doutor "Honoris Causa" foi proposto pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais e atribuído em 29/04/1999
"Saramago recebe título de Doutor Honoris Causa"
"Num auditório lotado por cerca de 400 pessoas, o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1998, recebeu, no dia 29 de abril, das mãos do reitor Sá Barreto, o título de Doutor Honoris Causa da UFMG, a mais importante honraria concedida pela instituição. "Não é ao Prêmio Nobel que queremos homenagear, mas ao autor do Memorial do Convento, do Evangelho Segundo Jesus Cristo e de Todos os Nomes, à pura voz da dignidade humana em língua portuguesa", disse o Reitor, na abertura da solenidade realizada no auditório da Reitoria.
A cerimônia foi prestigiada pelo cônsul de Portugal em Minas Gerais, Silvino Ferreira Leite, pela secretária de Estado da Educação em exercício, Maria José Vieira Félix, representando o governador Itamar Franco. Participaram também o secretário de Governo da Prefeitura de Belo Horizonte, Paulo Lott, o ex-reitor da UFMG, Aluísio Pimenta, o secretário municipal de Cultura, Arnaldo Godoy, e o estadual, Angelo Oswaldo. A vinda do escritor José Saramago a Belo Horizonte foi viabilizada pelo Projeto Sempre Um Papo, coordenado pelo jornalista Afonso Borges.
Sá Barreto disse que a vinda de Saramago à Universidade marca um dos momentos mais significativos da Agenda Brasil 500 Anos, lançada em janeiro pela UFMG para comemorar os cinco séculos do descobrimento do país: "José Saramago dela participa portando a mais legítima e poderosa das armas, a de seu testemunho humanístico e literário, que passou à condição de patrimônio comum dos homens".
Momento dos discursos elogiosos na atribuição do titulo
Desejo
O escritor foi saudado pelo professor da Faculdade de Letras e diretor da Editora UFMG, Wander Melo Miranda. Ele lembrou que a outorga do título de Doutor Honoris Causa ao autor, proposta pela Congregação da Faculdade de Letras, traduz o desejo da comunidade universitária que ama seus livros, "companheiros no sempre renovado ofício de aprender e ensinar - de viver, em suma".
Pontuado por trechos de livros do escritor, o discurso de Melo Miranda lembrou que a obra de Saramago, em especial Todos os Nomes, representa uma indagação aos limites da solidão humana e sua capacidade de superá-la.
"É por ter-se dedicado a avançar, com tanta paixão e rigor, no escuro e no claro de todos nós, que lhe rendemos esta necessária e justa homenagem", justificou, ao final da saudação.
Em sua explanação, marcada por uma reflexão sobre o papel do autor, Saramago disse estar profundamente grato pela honra de ser acolhido pela UFMG e afirmou que procurará ser digno dela e não desmerecer jamais "do vosso bom juízo, graças ao qual se me abriram as portas desta casa, que a partir de agora considerarei também minha", finalizou.
Imagem da plateia repleta
Música
Um dos destaques da cerimônia foi a apresentação do quinteto de metais Itarratan, da Escola de Música. O grupo executou os hinos nacionais do Brasil e de Portugal. Uma particularidade, ignorada pela maioria dos participantes da cerimônia, marcou a apresentação do hino de Portugal: a ausência da partitura.
"Conseguimos a melodia na Biblioteca da Música e ouvimos um CD-ROM que continha o hino português para conhecermos os arranjos e fazer uma adaptação mais próxima do original. Acho que nos saímos bem", afirma o professor Anor Luciano Júnior, coordenador do quinteto.
Após a cerimônia, a Faculdade de Letras ofereceu coquetel para 200 pessoas, no 4º andar da Reitoria."
O boletim da UFMG, elaborou vários artigos de destaque à atribuição deste titulo.
"Pessimismo marca obra do escritor"
"Aos 76 anos, Saramago tornou-se o primeiro escritor de Língua Portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Ele é um pessimista confesso, traço que marca toda a sua obra. "Sou feliz num mundo triste e pessimista, onde os otimistas são poucos. Eles estão contentíssimos porque acreditam que o mundo é tão bom que não precisa de mudança", disse o escritor, em outubro do ano passado, ao saber de sua escolha para o prêmio da Academia Sueca.
Filho e neto de agricultores pobres, José Saramago de Souza nasceu na aldeia portuguesa de Azinhaga, no Ribatejo, em 1922. Mudou-se com a família para Lisboa dois anos depois. Por falta de condições financeiras, abandonou a escola para trabalhar como mecânico. Foi desenhista, editor, tradutor e jornalista sem jamais ter freqüentado uma universidade.
Em mais de 50 anos de carreira, Saramago publicou 25 livros, entre romances, poesias, crônicas e contos. Seu primeiro livro, Terra do pecado, foi lançado em 1947, mas somente em 1980, quando publicou Levantado do Chão, o escritor começou a ganhar notoriedade. Em 1982, o best-seller Memorial do Convento o projetou para além das fronteiras de Portugal. O êxito internacional se firmou em 1986, com Jangada de Pedra, uma parábola sobre as relações de Portugal e Espanha com o resto da Europa.
Nos anos 90, Saramago se consagra definitivamente como um dos maiores escritores contemporâneos ao lançar O Evangelho segundo Jesus Cristo, versão romanceada da vida de Cristo, e Ensaio sobre a cegueira, um libelo contra a intolerância. O conjunto da sua obra já foi traduzido para 25 idiomas.
Militante
Em seu parecer para a Comissão de Legislação do Conselho Universitário, o relator Célio Celso destaca inúmeras honrarias que atestam o reconhecimento internacional da obra literária de Saramago, entre elas a de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas e os títulos de Doutor Honoris Causa das universidades de Turim (Itália), Sevilha (Espanha) e Manchester (Inglaterra).
Intelectual engajado nos movimentos de esquerda, Saramago é militante histórico do Partido Comunista Português. "Serei sempre comunista", costuma dizer toda vez que indagado sobre a sua opção ideológica. Há dois anos, abraçou a causa dos sem-terra brasileiros ao prefaciar um livro co-editado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e pelo músico Chico Buarque.
Drummond disse ter sido alvo de "honraria indevida"
O escritor Carlos Drummond de Andrade foi protagonista de uma verdadeira novela em torno da entrega do título de Doutor Honoris Causa. Por unanimidade, Drummond foi indicado pelo Conselho Universitário para receber o título em março de 1973. O então reitor Marcelo Vasconcellos Pinheiro encaminhou ofício ao escritor, sugerindo que ele escolhesse a data da homenagem.
No mês seguinte, Drummond enviou uma resposta na qual já demonstrava certa resistência a receber o título: "Devo confessar que o propósito manifestado por essa nobre instituição cultural despertou em mim a sensação de ser alvo de uma honraria indevida".
E justificou: "Nenhuma falsa modéstia inspirou esta afirmação. Ela é antes motivada pela concepção, que tenho, da importância e especificidade da missão universitária". Ao final da mensagem, pediu à UFMG que aguardasse "ocasião propícia" para formalizar a entrega, alegando que sua saúde o impedia de viajar a Minas naquele momento.
Em 1987, por ocasião das comemorações dos 60 anos da UFMG, o então reitor Cid Veloso pretendia enviar ao Rio de Janeiro uma comissão especial do Conselho Universitário para, enfim, entregar o diploma a Drummond. Mas a morte do escritor, em agosto daquele ano, impediu que a novela tivesse final feliz.
Ao lado de Drummond e Niemeyer
Da ilha de Lanzarote, na Espanha, onde mora, José Saramago enviou um fax ao reitor Sá Barreto aceitando o convite para ser o próximo Doutor Honoris Causa da UFMG. No texto de oito linhas, datado de 12 de março, o escritor manifestou satisfação por figurar ao lado de Drummond e Niemeyer na seleta lista de agraciados com o título:
Não preciso sublinhar quanto me honra a atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Minas Gerais. Saber que o meu nome vai ficar ao lado dos nomes de Carlos Drummond de Andrade (de quem tão injustamente a Academia Sueca não se lembrou para o Nobel...) e de Oscar Niemeyer (de quem sou amigo e a quem tanto admiro) é algo que nunca esteve entre as minhas mais ousadas esperanças. Devo ao Reitor e ao Conselho Universitário da UFMG essa profunda alegria. Espero poder corresponder sempre, em dignidade e em fidelidade, à honra que se me faz."