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Apresentação e informação sobre o site http://h-alt.weebly.com/
"A H- alt é uma revista digital gratuita de BD (HQ) escrita em português e relacionada com as temáticas de ficção-cientifica, fantasia, realidade/história alternativa.
O objectivo desta publicação é divulgar e incentivar produção de pequenas histórias de BD. Existe também a preocupação que os vários participantes criem histórias em equipa (argumentistas/ roteiristas, desenhadores/quadrinistas, coloristas), com o propósito de incentivar o trabalho colaborativo.
Outro dos objectivos desta publicação é fomentar o surgimento de jovens talentos não ignorando em todo o caso autores mais experientes que desejem participar.
O projecto está em constante desenvolvimento tendo sempre em vista a colaboração de vários autores lusófonos (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo-Verde, S. Tomé, Timor-Leste, Guiné-Bissau) em todo o caso a participação de autores de outra nacionalidade não está de algum modo excluída."
Entrevista com João Amaral realizada por Sérgio Santos
João Amaral é um autor português com uma já longa carreira ligada à BD.
Para aceder a mais informação podem consultar o blogue do autor em http://joaocamaral.blogspot.pt/
Biografia
"João Carlos Saraiva Amaral, Lisboa, Novembro de 1966. Frequentou o 2ºano do Curso de Gestão de Empresas do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - ISCTE, e possui um curso de Design Gráfico assistido por computador.
A sua entrada na banda desenhada, em 1994, foi pela porta grande, como inferirá do título do seu primeiro álbum, A Voz dos Deuses, quem tiver lido o romance homónimo de João Aguiar, base para a adaptação literária realizada por Rui Carlos Cunha..
Cinco anos depois colabora na revista Selecções BD (2ª série) com a banda desenhada a preto e branco, Quid Novi in Imperium? - Que Há de Novo no Império?, dividida em dois capítulos, intitulando-se o primeiro O Fim Coroa a Obra, e Dias de Cólera o segundo, publicados naquela revista em Agosto de 1999 e Junho de 2000, respectivamente.
Meses mais tarde, nessa mesma 2ª série de Selecções BD, entre Dezembro de 2000 e Fevereiro de 2001, foi publicada outra obra sua, tal como a anterior também a preto e branco, intitulada O Fim da Linha, para cujo argumento João Amaral se baseou num antigo filme, protagonizado por Gary Cooper e Grace Kelly, "O Comboio Apitou Três Vezes", um "western", mas localizando a acção da banda desenhada numa vila portuguesa .
Missão Quase Impossível é o título do episódio que realizou em sete pranchas, sob argumento de Jorge Magalhães, para a obra homenageante Vasco Granja - Uma Vida... 1000 Imagens, editada em Maio de 2003.
Em 2006 volta a ser editado em álbum, dessa vez com A História de Manteigas no Coração da Estrela.
Foi-lhe publicada mensalmente, a partir de Abril de 2006, a bd O Gui, a Nô... e os Outros, a preto e branco, no jornal paroquiano A Cruz Alta, da igreja de Sintra. João Amaral usou o pseudónimo "Joca", e a banda desenhada teve argumento de Isabel Afonso, que assinava como "Gui", tendo terminado em Outubro de 2008.
Posteriormente, já no seu blogue http://joaocamaral.blogspot.com criou, desta vez "a solo", em tiras, a 24 de Dezembro de 2010, outra série aparentemente infantil, intitulada "Fred & Companhia", mas de vincado carácter crítico e satírico, que também está visível numa importante rede social, no endereço http://facebook.com/fredecompanhia
No seu blogue, o dinâmico autor tem reproduzido bandas desenhadas inicialmente publicadas na revista Selecções BD, que aparecem igualmente no jornal Alentejo Popular, na rubrica "Através da Banda Desenhada" (sob coordenação de Armando Corrêa/Luiz Beira), onde já foi reproduzida a bd Ok Corral (com argumento de Jorge Magalhães), em 2008.
Antes, em Fevereiro de 2007, realizara numa só prancha o episódio Sonhos para a obra colectiva "Príncipe Valente no século XXI", publicada no fanzine Efeméride (nº2).
Quid Novi in Imperium? - Que Há de Novo no Império?, banda desenhada de grande fôlego, que teve início nas Selecções BD, com os dois primeiros episódios, e que ficou incompleta por desaparecimento daquela revista, tem tido continuidade na blogosfera, com o seguinte alinhamento:
"Acabou a Representação", 3º episódio (10 pranchas), em 11 de Janeiro de 2010
"Ao Homem!" 4º episódio (12 pranchas), em 19 e 20 de Janeiro de 2010
"O Dente do Lobo" (9 pranchas), em 4, 5, 6 e 7 de Maio de 2010, sendo que este último episódio foi igualmente publicado no citado jornal Alentejo Popular em 2012.
Ao nível mais elevado de edição da BD, ou seja, na publicação em álbum, este prolífico autor tem também as seguintes obras:Bernardo Santareno (2006), História de Fornos de Algodres (2008), Cinzas da Revolta(2012) e A Viagem do Elefante (2014).
Excepto Cinzas da Revolta, excepcionalmente assinada por um pseudónimo, Jhion, e feita sob argumento de Miguel Peres, todas as restantes obras publicadas em álbum são de sua completa autoria.
João Amaral foi o Convidado Especial da Tertúlia BD de Lisboa em Maio de 1999."
Como foi o seu relacionamento na infância com o desenho e a BD?
Aos 4 ou 5 anos quando estava na mercearia do meu avô davam-me papeis para eu desenhar e eu passava tardes a fazer os meus rabiscos. Sempre tive duas paixões muito interligadas que surgiram na mesma altura (primária): A BD e o cinema. Na BD sempre achei fabuloso poder desenhar e contar uma história ao mesmo tempo. No momento em que eu descobri que o cinema e a BD utilizam o mesmo tipo de linguagem e planos fiquei encantado. A utilização de storyboards aliás é muito frequente no cinema.
Já quando andava na primária já dizia que quando fosse grande gostaria de ser desenhador de BD. Existe depois uma grande vantagem da BD em relação ao cinema, na 7º arte o trabalho é colectivo e exige um grande planeamento e muitas vezes orçamentos consideráveis. Na BD com poucos recursos e de forma mais autónoma e personalizada conseguimos criar projectos muito interessantes.
Por isso é que muitas vezes se diz que a BD é o cinema dos pobres?
Eh! Pois é um bocadinho assim. Mas eu também não a vejo assim porque apesar de tudo sempre vi a BD como uma arte adulta.
Ainda existe aquele estigma que a BD é para crianças, apesar de existir um grande público adulto que lê BD?
Depois do 25 de Abril vence-se o estigma de que a banda-desenhada era para as criancinhas. Na escola escutei muitos professores dizerem que a BD era para preguiçosos que não queriam ler. Na actualidade a situação já é muito diferente. Aliás hoje eu vou às escolas em acções de divulgação e noto que a BD já faz parte do programa das escolas. No pós 25 de Abril a situação mudou radicalmente, tivemos acesso a conteúdos que nunca tinham aparecido no mercado e existiu uma expansão para outros públicos. Depois dos anos 80 regressou um pouco o estigma de que a BD era para crianças. Isso aborrece-me um pouco. Mas as coisas vão mudando aos pouco e o que eu gosto da actualidade é que existem cada vez mais artistas e uma maior diversidade de estilos.
Como vê a carreira de autor de BD em Portugal?
Mão-de-obra não falta em Portugal basta espreitar os vários fóruns na Internet para vermos que existe muito talento. O problema realmente é a nível da sustentabilidade do negócio. Costumo dizer por brincadeira que para se gostar de fazer uma carreira na BD é preciso ser-se completamente tarado! Não é garantidamente pelo dinheiro, aliás eu disse à minha mulher quando começamos a namorar que eu tinha uma amante chamada BD que me ocupava boa parte dos dias. Ela hoje percebe isso.
Noutros tempos ser um autor de BD seria mais fácil?
Já tenho vinte anos de carreira e pelo que compreendi sempre foi difícil seguir uma carreira como autor de BD, aliás eu tenho a particularidade de ter falado com grandes mestres que me elucidaram como eram as coisas noutros tempos. E nunca foi fácil, nem sei se alguma vez o será.
É uma pena que na BD a realidade entre Portugal e Bélgica não seja parecida.
No mercado franco-belga existe uma industria e é uma realidade completamente diferente. Nunca me esqueço da 1º vez que fui a Angoulême na altura fiquei completamente espantado com os inúmeros eventos, tive então a noção que estava noutro mundo. Recomendo vivamente quem deseja seguir a carreira de autor de BD a ir ao festival de BD de Angoulême, não só para procurarem oportunidades de trabalhos mas também para poderem escutar uma série de dicas e conselhos de grande utilidade.
A animação nunca foi uma tentação?
Tenho muito respeito pelo trabalho minucioso e dedicado dos animadores. Mesmo com o auxilio de computadores continua a ser uma trabalho muito moroso e que exige muito sacrifício e abnegação. Muitas vezes é um trabalho mais aliciante para uma equipa e que exige outros recursos, nesse aspecto sinto-me mais confortável no papel individual de autor de BD.
Presumo que prefere antes trabalhar a solo?
No meu caso já trabalhei em equipa e a solo. Depende muito das parcerias, desde que existe química o trabalho em equipa poderá ser muito proveitoso. No meu trabalho com o Miguel Peres nas "Cinzas da Revolta" por exemplo nunca me passaria pela cabeça fazer um álbum sobre a guerra colonial. Até porque existem poucas obras de ficção sobre esse período temporal e onde ainda existem muitas feridas por curar. Gostei muito da experiência e fiquei muito entusiasmo posteriormente no desenvolvimento do projecto.
Em relação ao seu trabalho mais recente a adaptação da obra de Saramago "A viagem do elefante", quanto tempo demorou a conceber o projecto desde o principio? Podia falar-nos um pouco desse projecto.
Demorei aproximadamente dois anos e meio. Existem algumas diferenças entre "As cinzas da revolta" e a "Viagem do elefante", num álbum a acção passa-se numa área mais localizada, noutro ocorre em vários locais. Decidi que o próprio Saramago fosse transformado numa personagem, sendo o narrador da história. A narração dele no livro é tão irónica e pertinente que eu achei que ele merecia aparecer em destaque. O próprio conceito de viagem a Viena tem um conceito muito metafórico que permite várias leituras e que me seduziu muito.
O Saramago tem muitos livros onde existem várias metáforas intemporais.
O primeiro livro que eu quis adaptar para BD do Saramago foi o Ensaio sobre a cegueira, acabei por não seguir esse caminho quando tomei conhecimento que o Fernando Meirelles ia fazer um filme baseado nessa obra. Quando vi o filme fiquei contente por não ter feito a adaptação porque reparei que existiam muitas consonâncias e similaridades na forma como o Meirelles idealizou o filme. O facto de cegueira aparecer representada em branco e não em negro como seria habitual é algo que está presente no livro e que funciona muito bem no filme, eu identifico-me perfeitamente com essa opção criativa. Se eu algum dia fizer a adaptação da obra será um trabalho mais livre e irei procurar não estar tão preso ao romance. Mas isso é algo que pertence ao futuro, ainda não decidi nada.
E projectos futuros de adaptações literárias de autores portugueses ?
Não sei, neste momento não sei. Actualmente fiz duas adaptações "Voz dos Deuses de João Aguiar " e "A viagem do Elefante" de José Saramago. Nenhum desses projectos surgiu por encomenda ou sugestão, foram livros marcantes com as quais me identifiquei e onde consegui visualizar quase um "storyboard mental" da história. Já li vários livros que gostei muito mas nem em todos acontece o fenómeno referido anteriormente. Em todo o caso as duas adaptações que fiz deram-me muito trabalho por isso sinto que devo ser muito criterioso na escolha de um obra com a qual me identifique e onde sinta que poderei fazer um bom trabalho com o qual me orgulhe. Existe também um trabalho de pesquisa e análise dos cenários e ambientes que exige tempo e na medida do possível que possa existir uma deslocação ao local. Trabalhar só com fotografias e filmes acaba também por ser limitado, apesar de existir muita informação graças à Internet.
Gosta portanto de fazer viagens exploratórias quando está a criar um trabalho de BD?
Não há nada como estar no local onde a acção da história se passa. Para mim foi excelente ter ido a Angola quando estava a trabalhar nas "Cinzas da revolta". Porque dessa maneira é possível captar pequenos pormenores ( cor da terra, pôr do sol...). Aliás já tinha conversado com um amigo angolano que me havia referido por exemplo a diferença em relação ao pôr do sol mas só quando estamos lá conseguimos perceber melhor. Claro que isso é muito relativo, porque uma coisa é irmos ao local e a acção da história passar-se noutro contexto histórico mas não há dúvida que é uma boa ajuda. Muitas vezes alguma ideias para a BD podem surgir dessas viagens e isso será uma mais-valia.
Poderia falar-nos melhor da sua colaboração na revistas das Selecções BD e da Rua Sésamo.
Entrei na Rua Sésamo por intermédio de um amigo e foi mais na fase final. Trabalhei como colaborador deles e ainda desenhei algumas histórias dos últimos números.
Nas Selecções BD convidaram-me para entrar, o editor Jorge Magalhães gostou do meu trabalho na "Voz dos Deuses". As histórias teriam que ser a preto e branco por uma questão económica.
Nos seus últimos trabalhos trabalha com a coloração digital, sente-se confortável?
Sim. Um dos motivos porque me sinto confortável tem a ver com a similaridade de processos que existe na pintura analógica a óleo com a pintura digital. No principio senti algumas dificuldades mas com o tempo habituei-me. Algumas pessoas pensam que trabalhar em computador acelera o processo de trabalho, em algumas questões pode ser assim mas também existe uma maior exigência que obriga a que se perca mais tempo.
Pode-nos dizer de autores de BD que mais admira? Tem sido uma influência e porquê?
Se eu for falar de todos os autores que me influenciaram ficávamos aqui a conversar quase o dia inteiro. O Hermann influenciou-me muito, gostei muito de o ter conhecido pessoalmente no Festival de Beja. Ele é um dos meus grande ídolos, adorei o Bernard Prince , nunca gostei tanto da série Comanche. As Torres de Boy-Mouris marcou uma mudança, o Hermann revelou ser um óptimo argumentista e um aguarelista brilhante capaz de trabalhar a cor directamente de forma espantosa. O William Vance foi também uma grande influência e tenho muita pena que ele esteja a sofrer com Parkinson o que o impede de trabalhar.
E o Hugo Pratt?
O Hugo Pratt foi complicado. Eu fui um daqueles jovens leitores que escreveu para a revista Tintim a protestara dizer que as histórias dele não deveriam aparecer porque o homem não sabia desenhar. Hoje eu reconheço o Hugo Pratt é para adultos e era sobretudo um argumentista fora de série. Existem álbuns dele que eu aprecio muito, nomeadamente as célticas. O traço dele apesar de estilizado é muito funcional e ele consegue com poucos traços ser muito eficaz. Aliás ele dizia uma coisa muito interessante : "Não sei se viajo para ter uma desculpa para contar histórias ou se conto histórias para ter uma desculpa para viajar".
E outros autores?
Gosto do demolidor do Frank Miller, assim como 300. O X-man do Chris Claremont e do Jim Lee é também fantástico. Aprecio também o Akira do Otomo. Existem outros, sejam eles autores europeus, americanos ou japoneses.