Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Entrevista ao programa Roda Viva (Brasil - 13/10/2003)

Entrevista ao programa Roda Viva (Brasil) em 13/10/2003
Entrevista realizada pelo jornalista Paulo Markun, conjuntamente com um painel de 9 personalidades da cultura brasileira 


Aqui o link, via Youtube, em  http://www.youtube.com/watch?v=QCACUZly3DM

"O programa Roda-Viva, do canal Cultura, entrevista José Saramago - Escritor Português. Com mais de duas dúzias de livros já traduzidos para sete idiomas, o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura de 1998, reúne em sua obra o pensamento social e humanista que o caracteriza como reconhecido romancista da língua portuguesa e como pensador crítico da globalização, da lógica do mercado e do individualismo que marcam o homem no mundo contemporâneo. José Saramago faleceu dia 18 de Junho de 2010, aos 87 anos."

E eis que os Sábios de Bizâncio foram "convocados" por José Saramago

(...) "Porém, esse não seria grande mal, e daria gosto ao intelecto, se os tempos corressem remansosos, entre o trabalho profícuo e o lazer legítimo. Não vamos invocar aqui os sábios de Bizâncio, os invocamos, sim senhores, mas sem acentuar demasiado, que tendo os invasores em frente das muralhas da cidade, discutiam aprazivelmente o problema do sexo dos anjos ou outros de parelha importância. No entanto, perante a facúndia verbal dos nossos militares, todos oradores, todos homens de caneta, todos escritores ou quase, e pelo menos todos melhores do que jornalistas - as assembleias de Bizâncio ocorrem-nos à lembrança, não tanto pelos sábios (cada Bizâncio e cada Lisboa têm os sábios que podem), mas por causa dos invasores...
É este, sem ofensa repetimos, o espectáculo que Portugal dá aos outros e a si próprio: os letrados, praticamente, não abrem a boca, os militares não mostram jeito de fechá-la, e os invasores, esses, não estão fora das muralhas, mas dentro da cidade, dentro do País, no próprio coração do Povo." (...)

Os Apontamentos
Crónica "A pena e a espada" 
Caminho, pag. 304/305
14 de agosto de 1975

Este era o sentimento, vivido e sentido por Saramago, nos idos anos de 75.
Muita gente falando, discutindo, e ao que parece os militares intelectuais dissertam como quais sábios de Bizâncio.



Informação recolhida via Wikipédia
Aqui http://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Bizantino

"O Império Bizantino foi a continuação do Império Romano durante a Antiguidade Tardia e Idade Média. Sua capital foi Constantinopla (moderna Istambul), originalmente conhecida com Bizâncio. Inicialmente parte oriental do Império Romano (frequentemente chamada de Império Romano do Oriente no contexto), sobreviveu à fragmentação e ao colapso do Império Romano do Ocidente no século V e continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até sua queda diante da expansão dos turcos otomanos em 1453. Foi conhecido simplesmente como Império Romano (em grego: Βασιλεία Ῥωμαίων; transl.: Basileia Rhōmaiōn; em latim: Imperium Romanum) ou România (em grego: Ῥωμανία; transl.: Rhōmanía) por seus habitantes e vizinhos.
Como a distinção entre o Império Romano e o Império Bizantino é em grande parte uma convenção moderna, não é possível atribuir uma data de separação. Vários eventos do século IV ao século VI marcaram o período de transição durante o qual as metades oriental e ocidental do Império Romano se dividiram. Em 285, o imperador Diocleciano (r. 284–305) dividiu a administração imperial em duas metades. Entre 324 e 330, Constantino (r. 306–337) transferiu a capital principal de Roma para Bizâncio, conhecida mais tarde como Constantinopla ("Cidade de Constantino") e Nova Roma.nt Sob Teodósio I (r. 379–395), o cristianismo tornou-se a religião oficial do império e, com sua morte, o Estado romano dividiu-se definitivamente em duas metades, cada qual controlada por um de seus filhos. E finalmente, sob o reinado de Heráclio (r. 610–641), a administração e as forças armadas do império foram reestruturadas e o grego foi adotado em lugar do latim. Em suma, Bizâncio se distingue da Roma Antiga na medida em que foi orientado para a cultura grega em vez da latina e caracterizou-se pelo cristianismo ortodoxo em lugar do politeísmo romano.
As fronteiras do império mudaram muito ao longo de sua existência, que passou por vários ciclos de declínio e recuperação. Durante o reinado de Justiniano (r. 527–565), alcançou sua maior extensão após reconquistar muito dos territórios mediterrâneos antes pertencentes à porção ocidental do Império Romano, incluindo o norte da África, península Itálica e parte da península Ibérica. Durante o reinado de Maurício (r. 582–602), as fronteiras orientais foram expandidas e o norte estabilizado. Contudo, seu assassinato causou um conflito de duas décadas com o Império Sassânida que exauriu os recursos do império e contribuiu para suas grandes perdas territoriais durante as invasões muçulmanas do século VII. Durante a dinastia macedônica (século X–XI), o império expandiu-se novamente e viveu um renascimento de dois séculos, que chegou ao fim com a perda de grande parte da Ásia Menor para os turcos seljúcidas após a derrota na batalha de Manziquerta (1071).
No século XII, durante a Restauração Comnena, o império recuperou parte do território perdido e restabeleceu sua dominância. No entanto, após a morte de Andrônico I Comneno (r. 1183–1185) e o fim da dinastia comnena no final do século XII, o império entrou em declínio novamente. Recebeu um golpe fatal em 1204, no contexto da Quarta Cruzada, quando foi dissolvido e dividido em reinos latinos e gregos concorrentes. Apesar de Constantinopla ter sido reconquistada e o império restabelecido em 1261, sob os imperadores paleólogos, o império teve que enfrentar diversos estados vizinhos rivais por mais 200 anos para sobreviver. Paradoxalmente, este período foi o mais produtivo culturalmente de sua história. Sucessivas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido império e mais territórios foram perdidos nas guerras bizantino-otomanas, que culminaram na Queda de Constantinopla e na conquista dos territórios remanescentes pelo Império Otomano no século XV."



Citador #2 - Final de acto

Citador #2
a ideia "final de acto"

Na obra "Terra do Pecado"

"Pois eu tenho ideias diferentes acerca disso a que se chama final de acto. Penso que a humanidade futura não terá meios, nem possibilidades, nem forças, para fugir ao seu destino de vencida. E então, o final do acto será a Terra continuando a girar no espaço levando no dorso um carregamento de cadáveres até que o empresário se resolva a tirar a peça de cena."

O relato do "nascimento" da obra "Ensaio sobre a Cegueira"

Como é o processo da criação de uma obra?
Nasce o título, a ideia, a personagem, o fim?
Neste caso, muitas das obras publicadas têm também a referência ao seu "nascimento". Aqui o relato.

(...) Já o "Ensaio sobre a Cegueira" nasceu num restaurante, na Varina da Madragoa, aonde durante anos eu ia muito. Estava a almoçar e a pensar em coisas vagas e de repente fiz esta pergunta: e se nós fôssemos todos cego? E imediatamente dei a resposta à pergunta: mas nós estamos todos cegos! A partir daqui avancei, e como no caso de O Homem Duplicado, a ideia é aquela coisinha que se diz em quatro palavras. Depois há que fazer a história. (fim de citação)

em,
Uma Longa Viagem com José Saramago
João Céu e Silva



"Se podes Olhar, Vê
Se poder Ver, Repara"

Esta obra, antes da simples alegoria, do romance contado, é um poderoso instrumento de reflexão social. 
O homem enquanto indivíduo, e o mesmo homem num colectivo. 
O primado do "Eu" sobre o "Nós"; o "Eu" poderoso e opressor. 
O conflito de uma sociedade, que quando afectada pelo "mal", resolve afastá-lo construindo uma sub-sociedade, esta, num patamar inferior, onde só os afectados pela maleita têm lugar. 
O mal que se apresenta como um elemento transversal, afectando todos sem distinção, como que de uma rede se tratasse e a todos pudesse chegar.
As lutas pela sobrevivência, o "Eu" que readquire a sua "animalidade" pré-histórica e vive/sobrevive pelo instinto.
A heroína. O Cão das Lágrimas.
A sobrevivência.



Informação constante na "Bibliografia Activa", do site da Fundação José Saramago
Aqui: http://www.josesaramago.org/ensaio-sobre-a-cegueira/

«Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como “um rastilho de pólvora”. Uma cegueira colectiva. Romance contundente. Saramago a ver mais longe. Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)