Como é o processo da criação de uma obra?
Nasce o título, a ideia, a personagem, o fim?
Neste caso, muitas das obras publicadas têm também a referência ao seu "nascimento". Aqui o relato.
(...) Já o "Ensaio sobre a Cegueira" nasceu num restaurante, na Varina da Madragoa, aonde durante anos eu ia muito. Estava a almoçar e a pensar em coisas vagas e de repente fiz esta pergunta: e se nós fôssemos todos cego? E imediatamente dei a resposta à pergunta: mas nós estamos todos cegos! A partir daqui avancei, e como no caso de O Homem Duplicado, a ideia é aquela coisinha que se diz em quatro palavras. Depois há que fazer a história. (fim de citação)
em,
Uma Longa Viagem com José Saramago
João Céu e Silva
"Se podes Olhar, Vê
Se poder Ver, Repara"
Esta obra, antes da simples alegoria, do romance contado, é um poderoso instrumento de reflexão social.
O homem enquanto indivíduo, e o mesmo homem num colectivo.
O primado do "Eu" sobre o "Nós"; o "Eu" poderoso e opressor.
O conflito de uma sociedade, que quando afectada pelo "mal", resolve afastá-lo construindo uma sub-sociedade, esta, num patamar inferior, onde só os afectados pela maleita têm lugar.
O mal que se apresenta como um elemento transversal, afectando todos sem distinção, como que de uma rede se tratasse e a todos pudesse chegar.
As lutas pela sobrevivência, o "Eu" que readquire a sua "animalidade" pré-histórica e vive/sobrevive pelo instinto.
A heroína. O Cão das Lágrimas.
A sobrevivência.
Informação constante na "Bibliografia Activa", do site da Fundação José Saramago
Aqui: http://www.josesaramago.org/ensaio-sobre-a-cegueira/
«Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como “um rastilho de pólvora”. Uma cegueira colectiva. Romance contundente. Saramago a ver mais longe. Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)
Sem comentários:
Enviar um comentário