Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O relato do "nascimento" da obra "Ensaio sobre a Cegueira"

Como é o processo da criação de uma obra?
Nasce o título, a ideia, a personagem, o fim?
Neste caso, muitas das obras publicadas têm também a referência ao seu "nascimento". Aqui o relato.

(...) Já o "Ensaio sobre a Cegueira" nasceu num restaurante, na Varina da Madragoa, aonde durante anos eu ia muito. Estava a almoçar e a pensar em coisas vagas e de repente fiz esta pergunta: e se nós fôssemos todos cego? E imediatamente dei a resposta à pergunta: mas nós estamos todos cegos! A partir daqui avancei, e como no caso de O Homem Duplicado, a ideia é aquela coisinha que se diz em quatro palavras. Depois há que fazer a história. (fim de citação)

em,
Uma Longa Viagem com José Saramago
João Céu e Silva



"Se podes Olhar, Vê
Se poder Ver, Repara"

Esta obra, antes da simples alegoria, do romance contado, é um poderoso instrumento de reflexão social. 
O homem enquanto indivíduo, e o mesmo homem num colectivo. 
O primado do "Eu" sobre o "Nós"; o "Eu" poderoso e opressor. 
O conflito de uma sociedade, que quando afectada pelo "mal", resolve afastá-lo construindo uma sub-sociedade, esta, num patamar inferior, onde só os afectados pela maleita têm lugar. 
O mal que se apresenta como um elemento transversal, afectando todos sem distinção, como que de uma rede se tratasse e a todos pudesse chegar.
As lutas pela sobrevivência, o "Eu" que readquire a sua "animalidade" pré-histórica e vive/sobrevive pelo instinto.
A heroína. O Cão das Lágrimas.
A sobrevivência.



Informação constante na "Bibliografia Activa", do site da Fundação José Saramago
Aqui: http://www.josesaramago.org/ensaio-sobre-a-cegueira/

«Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como “um rastilho de pólvora”. Uma cegueira colectiva. Romance contundente. Saramago a ver mais longe. Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)


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