Os que fazem e concretizam o espírito da revolução, e os seus momentos de pausa e recuos.
Os Apontamentos
Caminho - 2.ª edição / 1990
À espera de Godot? - 17 de Junho de 1975
Godot, quem é? Na peça de Beckett, todo o tempo se passava na espera e na esperança dessa entidade invisível que resolveria todos os problemas, quando chegasse. Quando chegasse, e se chegasse... Quem conhece a peça, sabe que nenhuma diferença há entre o princípio dela e o fim, que a mesma árvore seca cobre ou agride o mesmo esperar e o mesmo desespero. Continuaremos a literatizar? Um pouco mais, apenas, para satisfazer o gosto... Aqueles personagens discutem, ferem-no, alternam o ódio e reconciliação, tudo de acordo com a chamada natureza humana, para Beckett idêntica e transmissível de todos os tempos para todos os tempos: tudo se resumiria a um eterno esperar, a um projecto contínuo, só projecto, sem começo sequer de realização, porque sem Godot nada se pode fazer e Godot não vem...
E nós, em Portugal? Godot chegou a 25 de Abril, e tornou outras vezes: Junho, Setembro, Março recente, não por predestinação ou favor especial dos deuses, mas porque aqui nos esforçámos todos os que querem a Revolução e a estão fazendo. Este Godot de carne, osso e vontade não precisa das artes da dramaturgia, mas depende da vitalidade de um processo que muitas mãos empurram (bem ou mal) e outras procuram travar. (...)
(...) E aqui voltaríamos à peça de Beckett: pela primeira vez, em momento de crise, se passam tão poucas coisas à luz do dia e às claras, e tantas tão secretas, nos bastidores. É como se o Poder (onde esteja) desconfiasse do peso das massas populares e da sua distribuição, e, desconfiando, prefira deliberar, apresentar e praticar sozinho. (...)
Referência na Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperando_Godot
En attendant Godot ou Waiting for Godot, em inglês (À Espera de Godot em Portugal; Esperando Godot no Brasil) foi a primeira peça de teatro escrita pelo dramaturgo Irlandês Samuel Beckett (1906-1989). Escrita originalmente em francês, foi publicada pela primeira vez em 1952 e apresentada no pequeno Théâtre Babylone em Paris, com direção de Roger Blin (1907-1984). O Brasil foi o segundo país a ter uma montagem deste texto, com a direção de Alfredo Mesquita, em 1955. É considerado um das principais textos do teatro do absurdo e a principal obra de Samuel Beckett.
A Criação - Beckett escreveu a peça em 1949 e só veio a publicá-la no ano de 1952, em francês. Em 1955 Beckett realizou sua versão inglesa. Personagens da peça:
Vladimir
Estragon
Pozzo
Lucky
Um garoto
A peça é dividida em dois atos. Nos dois atos, inicialmente contracenam dois personagens: Vladimir (Didi) e Estragon (Gogo). Durante cada um dos atos, que são bem semelhantes, surgem dois novos personagens: Pozzo e Lucky. Além destes, entra em cena no final de cada ato um garoto.
O Enredo - A rubrica inicial define: Estrada, árvore, à noite (Route à la campagne, avec arbre. Soir). Em cena Estragon e Vladimir. Aparentemente esperam um sujeito de nome Godot. Nada é esclarecido a respeito de quem é Godot ou o que eles desejam dele. Os dois iniciam longo diálogo, só interrompido quando da entrada de Pozzo e Lucky. Lucky carrega uma pesada mala que não larga um só instante. O segundo ato desenvolve a mesma dinâmica. O cenário é o mesmo, apenas a árvore está um pouco diferente, agora com algumas folhas. Estragon e Vladimir iniciam sua jornada na espera de Godot. Surgem novamente Pozzo e Lucky. Pozzo está cego e Lucky surdo. Após a partida destes, aparece novamente um garoto anunciando novamente que Godot não virá, talvez amanhã. O diálogo final, que encerra o ato e a peça é o seguinte:
Vladimir: Então, devemos partir? (Alors, on y va?) (Well, shall we go?)
Estragon: Sim, vamos. (allons-y.) (Yes, let's go.)
Eles não se movem. (Ils ne bougent pas.) (They do not move.)
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