Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

José Saramago - dos manuscritos... da velha Hermes, até ao portátil

Do seu punho, escrito desde os idos tempos em que os primeiros rascunhos dificilmente teriam a sorte de serem bafejados com a luz do dia; passando aos dias em que usava uma muito comentada "velha máquina Hermes", onde deverá ter rezado a paz à sua alma, como se uma máquina a pudesse ter, com o final do trabalhoso dactilografar de "O Ano da Morte de Ricardo Reis". E por fim, o computador e o portátil de secretária.
Não me é difícil de imaginar o homem, saltando estas etapas, criando condições para que o fluir das duas linhas fossem tão compatíveis com o andamento com que escrevia. Referia ele, que era escritor de poucas rasuras... soube acompanhar os dias...





23 de Junho de 2009, por ocasião do lançamento de "O Caderno" - João Céu e Silva apresenta esta crónica no DN

"José Saramago mais virtual do que nunca"

"Ao Nobel já não faltam muitas experiências de vida. Desta vez, quem dispensar a  razão física da existência pode assistir à apresentação de 'O Caderno' em qualquer parte do planeta.
Da velha máquina de escrever Hermes, em que ainda dactilografou O Ano da Morte de Ricardo Reis, até ao moderno computador portátil em que já escreveu A Viagem do Elefante, foi um longo caminho para José Saramago, que se diz ser pouco dado às tecnologias. Mas essa sua afirmação parece ser quase tão etérea quanto o espaço virtual onde se iniciou quase diariamente, por imposição da mulher, Pilar del Río, e cuja produção bloguista já resulta em livros, como o que esta quinta-feira será lançado oficialmente em Lisboa.



O Caderno de José Saramago reúne textos que o escritor vai colocando, por norma, entre segundas e sextas-feiras no seu blogue - e que o DN reproduz em simultâneo - e trata de temas tão diversos como a reconstituição do percurso do seu último romance, o comentário à oferta que Hugo Chávez fez a Obama, um exemplar do livro As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, e que tanta polémica provocou ou a entrada intitulada A Coisa Berlusconi, que ainda mais celeuma gerou.
Os textos de O Caderno não são um género novo no Nobel, que já o cultivou nos cinco volumes de Cadernos de Lanzarote, mas desta vez tem o picante de nascerem na Internet e de as reacções serem em tempo real. São estas implicações na literatura e do comentário sobre a sociedade que o escritor irá eleger na apresentação do volume que reúne algumas dezenas de posts, numa sessão que conta com a participação de dois bloguistas assumidos, a Ciberescritas Isabel Coutinho e o Bibliotecáriodebabel José Mário Silva, e que irão comentar o meio ano de vida do Blogjosesaramago.
Antes mesmo da sessão, já se sabe um pouco da opinião do escritor sobre a actividade dos blogues. Em entrevista ao jornal argentino Clarín, Saramago contesta a ligeireza com que muitos escrevem neste espaço: "A prática do blogue levou muitas pessoas que antes pouco ou nada escreviam a escrever. Pena que muitas delas pensem que não vale a pena se preocupar com a qualidade do que se escreve." E acrescentou: "Pessoalmente cuido tanto do texto de um blogue como de uma página de romance."



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