Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Citador #30 - filosofias e incongruências que o "Viajante" deixa alertado - "Viagem a Portugal"

Citador #30
... filosofias e incongruências que o "Viajante" deixa alertado
Caminho, 11.ª edição
Página 195

(...) "Há aqui basta matéria para dissertar sobre incongruências, e, quando já o dedo vai em riste para apontar a primeira, descobre o viajante que deve começar por si mesmo: mau mundo é esse para quem o poeta é poeta só, e cada um de nós nada mais do que pareça. (...)

"Viagem a Portugal" - Este é o Portugal de 1981. Como será o de 2015?

Fotografia com encenação do propósito da obra.
O mapa de Portugal e o livro que resulta das "estórias" do "Viajante".

Deixo um pedido para reflexão.

Este é o Portugal de 1981. Como será o de 2015?


Sinopse da obra, também com edição através da Companhia das Letras (Brasil)
Via página da Fundação José Saramago, em http://www.josesaramago.org/viagem-portugal-1981/

"Em Viagem a Portugal, o pacto de Saramago com a língua se materializa com tanta clareza que chega a parecer um destino – é como se as coisas e as pessoas estivessem estado à espera de seu escritor. Um milhão de viajantes viram os rios, as encostas e as florestas que Saramago viu. Entraram nos mesmos castelos e igrejas. Pediram informação àquele pastor, à fiandeira e ao velho da encruzilhada. Todos deram pasto à vista e à imaginação. Nenhum deles, entretanto, teve como levar a viagem para casa, refazê-la por escrito e escolher que iria partilhá-la infinitamente. Conhecemos, neste livro, que nome se dá às coisas em Portugal, qual é a comida que vai para a mesa, quem pintou o teto daquela capelinha, quando é que chove, de que cor são os olhinhos de Nossa Senhora da Cabeça, o que aconteceu com as flores das amendoeiras que o rei mouro mandou plantar para a sua princesa nórdica, quanto custa passar o tempo nas ruas de Serpa, até que ponto são rápidas as águas do Pulo do Lobo, de que modo se conserva a seriedade perante o são Sebastião sorridente e orelhudo de Cidadelhe, por que morreu Inês, a amante de Pedro, o Cruel, o Cru, o Filho-Inimigo, o Tartamudo, o Dançarino, o Vingativo, o Até-Ao-Fim-do-Mundo-Apaixonado."



Citador #29 ... o "Viajante" e os traços da futura epígrafe do "Ensaio sobre a Cegueira"

Citador #29
O "Viajante"
Caminho, 11.ª edição
Página 152

(...) "os livros de pergaminho iluminados, as pratas, e se todas estas coisas vão assim mencionadas ao acaso, sem critério nem juízo formulado, é porque o viajante tem clara consciência de que só vendo se vê, embora não esqueça que mesmo para ver se requer aprendizagem. Aliás, é isso que o viajante tem andado a tentar: aprender a ver, aprender a ouvir, aprender a dizer." (...)

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” - epígrafe da obra "Ensaio sobre a Cegueira"

As formas várias de olhar, as formas de ver, o que se observa e o que se repara.
Intuir, absorver informação, interpretar e desenvolver a capacidade de interagir com o mundo que nos rodeia.