(Fotografia do filme documentário "José e Pilar"
A equipa de Miguel Gonçalves Mendes e José Saramago)
24 de Fevereiro (de 1995)
Para mim, filosoficamente (se posso ter a pretensão de usar tal palavra), o presente não existe. Só o tempo passado é tempo reconhecível - o tempo que vem, porque vai, não se detém, não fica presente. Portanto, para o escritor que eu sou, não se trata de «recuperar» o passado, e muito menos de querer fazer dele lição do presente. O presente vivido (e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo de facto) apresenta-se unificado ao nosso entendimento, simultaneamente completo e em crescimento contínuo. Desse tempo que assim se vai acumulando é que somos o produto infalível, não de um inapreensível presente."
in, "Cadernos de Lanzarote Diário III"
Caminho, páginas 52 e 53 (24 de Fevereiro de 1995)