Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Reflexão sobre o passado e presente - "Cadernos de Lanzarote Diário III" (24/02/1995)

(Fotografia do filme documentário "José e Pilar"
A equipa de Miguel Gonçalves Mendes e José Saramago)

24 de Fevereiro (de 1995)
Para mim, filosoficamente (se posso ter a pretensão de usar tal palavra), o presente não existe. Só o tempo passado é tempo reconhecível - o tempo que vem, porque vai, não se detém, não fica presente. Portanto, para o escritor que eu sou, não se trata de «recuperar» o passado, e muito menos de querer fazer dele lição do presente. O presente vivido (e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo de facto) apresenta-se unificado ao nosso entendimento, simultaneamente completo e em crescimento contínuo. Desse tempo que assim se vai acumulando é que somos o produto infalível, não de um inapreensível presente." 
in, "Cadernos de Lanzarote Diário III"
Caminho, páginas 52 e 53 (24 de Fevereiro de 1995)
  

Sem comentários:

Enviar um comentário