Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

domingo, 12 de janeiro de 2020

11 de Janeiro de 1997 - "Cadernos de Lanzarote V"

"Lisboa. Leio que Le Figaro dedicou alguns comentário elogiosos à pianista «argentina» Maria João Pires... É um lugar-comum das anedotas internacionais dizer-se que os franceses não sabem geografia. O pio é que, pelos vistos, não estão dispostos a aprendê-la (...) É sempre desculpável um erro involuntário, mas nunca a leviandade, a indiferença, a imponderação. (...)

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11 de Janeiro de 1996 - "Cadernos de Lanzarote IV"

"Há em Oviedo um cão boxer, chamado Simba, que, de vez em quando (soube-o agora por um recorte que de lá me chegou), escreve umas crónicas para os jornais, onde depois saem publicadas com o nome do dono. O dono do Simba é o escritor asturiano Manuel Herrero, que teve a inaudita ventura de lhe haver saído na rifa um cão com habilidades de literato. A mim, que tenho não um, mas três cães, não acontecem fortunas dessas. O que os meus fazem, além do comer, ladrar e dormir que a natureza pede, é entrar-me a toda a hora no escritório para fiscalizar o andamento do trabalho. Greta, que é a mais abelhuda, tem a mania de subir-me para o colo, suponho que para ver de perto o que estou a fazer. Pepe, digno e discreto, como mais velho, limita-se a sentar-se, a levantar a cabeça e a pôr-me uma pata na perna, pregando em mim um olhar que significa claramente: «Como vai isso?» Quanto a Camões, que, esse sim, poderia indicar-me o caminho para a imortalidade, desconfio que resolveu abandonar definitivamente as letras depois de ter escrito Os Lusíadas. Se alguma vez o Manuel Herrero vier de visita a Lanzarote, pedir-lhe-ei que traga consigo o Simba para que leia aos cachorros da casa o belíssimo artigo que sobre eles e sobre mim escreveu, justa e precisamente intitulado «Os amigos de Saramago»…

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11 de Janeiro de 1995 - "Cadernos de Lanzarote III"

"Carlos Câmara Leme, do Público, pediu-me, a propósito da próxima publicação duma edição crítica dos poemas de Ricardo Reis, umas palavras que recordassem as circunstâncias em que os li pela primeira vez." (...)

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Carlos Câmara Leme

Aqui pode ser recuperado um post com entrevista de José Saramago ao jornalista do Público
http://desaramago.blogspot.com/2017/01/o-presente-e-uma-linha-tenue.html
"O presente é uma linha ténue" Recuperação da entrevista de Carlos Câmara Leme a José Saramago (Público, 25/10/1997)

A entrevista pode ser recuperada e consultada aqui
em http://static.publico.pt/docs/cmf/autores/joseSaramago/todosOsNomes.htm

"Público" de 25 de Outubro de 1997
"O presente é uma linha ténue"
Por Carlos Câmara Leme

11 de Janeiro de 1994 - "Cadernos de Lanzarote II"

"José Manuel Mendes partiu hoje, levando umas cinco ou seis horas de gravações. Não lhe invejo a sorte, ter de desenredar de um discurso sempre digressivo e não raro caótico umas quantas ideias mais ou menos aproveitáveis que por lá se encontrem. (...) Chegou carta de Jorge Amado. O Instituto de Letras da Universidade da Bahia organiza em Maio em encontro de tradutores e um seminário de ensino e aprendizagem de tradução (...) Pilar e eu lemos a carta ao mesmo tempo, e quando chegámos ao fim ele perguntou-me: «Que viagens temos em Maio?» Ainda que não pareça decididamente explícito, foi uma maneira de dizer sim..."

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Jorge Amado e José Saramago 
1990 Bahia - Brasil