Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Já disponível a edição de "O conto da ilha desconhecida" em formato e-book com ilustração de Juergen Cannes


O post da Companhia das Letras pode ser consultado aqui para pesquisar as várias formas de acesso:

Os trabalhos do autor Juergen Cannes, aqui em https://www.facebook.com/sailor.juergen/

"Já está disponível o e-book de "O conto da ilha desconhecida", de José Saramago, uma edição especial ilustrada por Juergen Cannes.

Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas. Este pequeno conto de José Saramago pode ser lido como uma parábola do sonho realizado, isto é, como um canto de otimismo em que a vontade ou a obstinação fazem a fantasia ancorar em porto seguro."

Acto da doação do espólio de José Saramago - 10/12/2016, 16h30m na Biblioteca Nacional de Portugal



Comemorações do 15.º aniversário da Biblioteca Municipal José Saramago (Loures)

A notícia do evento pode ser recuperada e consultada aqui 
em http://www.cm-loures.pt/Conteudo.aspx?DisplayId=2515

"Dando início às comemorações do 15.º aniversário da BMJS, o vice-presidente da Câmara Municipal de Loures, Paulo Piteira, começou por ler uma carta de Fundação José Saramago, que se demonstrou reconhecida pelo nome do escritor estar associado a esta Biblioteca.
Paulo Piteira afirmou ser “um dia muito feliz para quem trabalha nesta casa da cultura que pertence à população” e “que tem prestado um grande serviço à comunidade”, sendo “um espaço de literacia” que “possibilita o acesso à cultura, ao lazer e ao saber”.
O vice-presidente destacou o trabalho desenvolvido ao longo de 15 anos, evidenciando a vertente social, com o “trabalho muito estreito com as crianças” e “em que temos procurado apoiar as atividades de outras bibliotecas e coletividades”.



“Este ano é particularmente feliz porque inaugurámos a Biblioteca Municipal Ary dos Santos, que passou a servir toda a área oriental do concelho” e “hoje podemos sentir-nos orgulhosos do percurso que temos feito no Município”, afirmou Paulo Piteira, que realçou a “importância que o poder local tem no país, na altura em que festejamos 40 anos de democracia autárquica”.
Com a leitura de um excerto de Levantado do Chão, uma das obras fundamentais de José Saramago, Paulo Piteira, terminou a sua intervenção dedicada aos 15 anos de existência da BMJS.
Cerca de uma centena de pessoas assistiu à inauguração da exposição de artes plásticas Units of Order, de Mónica Capucho, que explicou ter optado “por materiais de construção que se integrassem no espaço da biblioteca” e na qual utilizou “jogos de linguagem”. A exposição está patente até 28 de janeiro de 2017, nos espaços da biblioteca.

Carlos Marques e o "Grupo Algures Colectivo de Criação"

"Seguiu-se, na sala Multiusos, o concerto-teatral Levantei-me do Chão, baseado nas obras de José Saramago, interpretado por Carlos Marques, do grupo Algures, Coletivo de Criação. As comemorações do aniversário terminaram com os elementos do Entrelinhas, comunidade que utiliza a biblioteca como espaço de convívio e trabalho, a lerem um poema e a cantarem os parabéns à BMJS."

"Um conto de fadas desencantado" de Bernardo Carvalho baseado no conto "O Lagarto"

O texto de análise de Bernardo Carvalho foi publicado no "Blog da Letrinhas" e pode ser recuperado e consultado aqui em http://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudos/visualizar/Um-conto-de-fadas-desencantado

Mais informações sobre a editora que edita a obra de José Saramago no Brasil, pode ser acedida em http://www.blogdacompanhia.com.br/ e http://www.companhiadasletras.com.br/

"Um conto de fadas desencantado" por Bernardo Carvalho

"Desde criança, ouço dizer que a literatura de cordel é um vestígio da Idade Média. Daí que não podia imaginar outra coisa além de uma história medieval quando soube da edição de um conto de fadas escrito por José Saramago e ilustrado por J. Borges, mestre pernambucano da xilogravura e da literatura de cordel. Na verdade, o conto de Saramago não tem nada de fadas. O autor toma a precaução de deixar isso bem claro logo no primeiro parágrafo. Ninguém mais acredita em fadas.

O lagarto do título é o que nos resta do dragão. De imaginário e extraordinário na sua existência há apenas o fato de aparecer de repente numa rua de Lisboa. Saramago, homem da razão num tempo em que a razão dá sinais de fraquejar, tenta resistir como pode. Alerta que sua história é o que hoje cabe à nossa desilusão: um conto sem fadas. Até a metamorfose simbólica do lagarto, cercado de polícias nas ruas de Lisboa, estará limitada ao que pode haver de menos imaginário e menos mágico (o vermelho sangue) para terminar na imagem surrada de uma pomba, representação inverossímil da paz onde tudo a contradiz.

Imagem do trabalho em xilogravura de J. Borges 

"O lagarto é um oximoro: um conto de fadas desencantado. É o esforço de um sopro de utopia onde a imaginação já não se aguenta em pé, constrangida pelo lugar-comum. E é por isso que as ilustrações de J. Borges ganham aí um papel ainda mais encantador, porque continuam aludindo, sem pudor nem medo, a um universo mágico que já não pode existir. Como nos quadros de Bruegel, são vestígios do encanto possível, não de fadas, mas do homem comum, num tempo que insiste em nos impor o clichê medieval das trevas."

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"Bernardo Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em 1960. Estreou com Aberração e desde então tem se destacado como um dos melhores escritores contemporâneos brasileiros, traduzido para diversos idiomas. É autor de Simpatia pelo demônio, Nove noites e Reprodução."