Ao longo da obra de João Céu e Silva, «Uma longa viagem com José Saramago», é abordada a temática que envolve a militância comunista, quer pela prática, junto do PCP, quer pela teoria, isto no seu pensamento implícito e explícito no seu compêndio literário produzido.
O antes... Saramago explica a João Céu e Silva
(...) Antes do 25 de Abril era militante do Partido Comunista Português desde 1969 e tinha a actividade normal daqueles tempos. Eu nunca passei para a clandestinidade porque não foi necessário, fiz aquilo que tinha que fazer, distribuir papéis, elaborar documentos, enfim, o comum e o normal da época. (...)
Se não tivesse acontecido o 25 de Abril, quatro dias depois seria preso!
Sim, a 29 de Abril estava determinado que eu seria preso. E a coisa acaba assim porque a partir daí já não tive mais patrão.
Páginas 46 e 47
Edição Porto Editora
A menção da prisão, aparece também mencionada, na entrevista com Fernanda Eberstadt (New York Times) em que diz: "Eu tive sorte. Eu nunca fui preso. Muitas vezes isso poderia ter acontecido, mas os meus camaradas presos tiveram a coragem e a dignidade de não me denunciarem"
O seu posicionamento político e ideologia dificultam o chegar aos leitores ou, pelo contrário, tem facilitado?
Não sei, mas aí entram vário factores. Claro que eu penso aquilo que penso e sou aquilo que sou e do ponto de vista político, ideológico e filosófico isso está muito claro nos meus livros. Mas sem que eu tivesse de preocupar-me com frase de Engels - e o Engels não era qualquer pessoa! - há uma carta em que ele responde a uma jovem escritora que lhe pedia conselhos e em que diz: «Quanto menos se notar a ideologia melhor». Essa frase podia-me ser aplicada. Grande parte dos escritores politicamente empenhados nas ideias socialistas e comunistas, ou coisa que o valha, não leram esta frase ou se a leram não lhe deram importância nenhuma e em muitos casos, designadamente no chamado realismo socialista - onde também há grandes obras -. a ideologia nota-se de uma forma e quantidade que não é necessária.
É muito transparente?
É demasiado óbvio. E é tão óbvio que dá vontade de dizer: «Não faças isso. Não digas. Sugere.» A questão tem de estar lá, no poder de sugestão que a história tenha, que permita ao leitor ir mais além do que aquilo que parece estar dito, porque naquilo que está escrito há implícito uma quantidade de coisas a que o leitor, que é inteligente, é capaz de chegar por sua própria conta. (...)
Edição Porto Editora
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