Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Da militância comunista, do PCP, do comunismo

Ao longo da obra de João Céu e Silva, «Uma longa viagem com José Saramago», é abordada a temática que envolve a militância comunista, quer pela prática, junto do PCP, quer pela teoria, isto no seu pensamento implícito e explícito no seu compêndio literário produzido.



O antes... Saramago explica a João Céu e Silva

(...) Antes do 25 de Abril era militante do Partido Comunista Português desde 1969 e tinha a actividade normal daqueles tempos. Eu nunca passei para a clandestinidade porque não foi necessário, fiz aquilo que tinha que fazer, distribuir papéis, elaborar documentos, enfim, o comum e o normal da época. (...)

Se não tivesse acontecido o 25 de Abril, quatro dias depois seria preso!
Sim, a 29 de Abril estava determinado que eu seria preso. E a coisa acaba assim porque a partir daí já não tive mais patrão. 

Páginas 46 e 47
Edição Porto Editora

A menção da prisão, aparece também mencionada, na entrevista com Fernanda Eberstadt (New York Times) em que diz: "Eu tive sorte. Eu nunca fui preso. Muitas vezes isso poderia ter acontecido, mas os meus camaradas presos tiveram a coragem e a dignidade de não me denunciarem"

O seu posicionamento político e ideologia dificultam o chegar aos leitores ou, pelo contrário, tem facilitado?
Não sei, mas aí entram vário factores. Claro que eu penso aquilo que penso e sou aquilo que sou e do ponto de vista político, ideológico e filosófico isso está muito claro nos meus livros. Mas sem que eu tivesse de preocupar-me com frase de Engels - e o Engels não era qualquer pessoa! - há uma carta em que ele responde a uma jovem escritora que lhe pedia conselhos e em que diz: «Quanto menos se notar a ideologia melhor». Essa frase podia-me ser aplicada. Grande parte dos escritores politicamente empenhados nas ideias socialistas e comunistas, ou coisa que o valha, não leram esta frase ou se a leram não lhe deram importância nenhuma e em muitos casos, designadamente no chamado realismo socialista - onde também há grandes obras -. a ideologia nota-se de uma forma e quantidade que não é necessária.

É muito transparente?
É demasiado óbvio. E é tão óbvio que dá vontade de dizer: «Não faças isso. Não digas. Sugere.» A questão tem de estar lá, no poder de sugestão que a história tenha, que permita ao leitor ir mais além do que aquilo que parece estar dito, porque naquilo que está escrito há implícito uma quantidade de coisas a que o leitor, que é inteligente, é capaz de chegar por sua própria conta. (...)

Página 53
Edição Porto Editora

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