em https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/mafra-promove-se-pouco-atraves-de-saramago-20-anos-depois-do-nobel
e https://www.dn.pt/lusa/interior/mafra-promove-se-pouco-atraves-de-saramago-20-anos-depois-do-nobel---estudo-9139342.html
"Mafra promove-se pouco através de Saramago, 20 anos depois do Nobel"
"Museu de Escultura fechado há 44 anos no Palácio Nacional de Mafra quer reabrir
Mafra continua sem atrair turismo literário por manter fora da visita ao palácio e à vila a abordagem a José Saramago e à sua obra, 20 anos depois da atribuição do Nobel da Literatura, defenderam hoje investigadores.
“Se quiser ir a Mafra fazer uma visita ao palácio ligada a José Saramago não posso, porque, apesar de conhecer a sua obra e poder visitar o palácio ou a vila, falta algo que faça a ligação entre os dois”, afirmou à agência Lusa o investigador Marcelo Gonçalves Oliveira, que leciona a disciplina de Literatura e Destinos Culturais na Universidade Europeia.
No estudo intitulado “Mafra e Saramago. Estratégias de mediação entre um potencial Património Mundial da Humanidade e uma obra-prima literária do Prémio Nobel”, investigadores daquela universidade consideraram que Mafra só tem a ganhar com a promoção do destino através de Saramago e do romance “Memorial do Convento”, inspirado na história da construção do palácio e traduzido em 50 línguas.
Numa altura em que Mafra formalizou a candidatura do palácio a património mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, na sigla em inglês), os investigadores recordaram que a ligação do património à literatura universal é um dos critérios apreciados pela UNESCO, que distingue também as “Cidades da Literatura”.
“O facto de não haver referências a Saramago no palácio e na vila não prejudica a candidatura, mas se existissem poderiam beneficiá-la”, enfatizou Marcelo Gonçalves Oliveira.
As referências a Saramago e à sua obra resumem-se à Escola Secundária José Saramago na vila e, no palácio, à peça de teatro adaptada do romance por Filomena Oliveira e Miguel Real e encenada pela companhia Éter, assim como às visitas guiadas para as escolas, porque o escritor é estudado no ensino secundário.
Também as páginas na Internet do palácio e do município omitem a ligação de Mafra à obra de Saramago.
Como justificação, é apontado o facto de Saramago ser considerado um autor polémico pela sua orientação política e antirreligiosa e pela intenção de, no “Memorial do Convento”, “manipular” a história, fazendo do povo que participou na construção do monumento protagonista da narrativa em detrimento do rei João V.
Os investigadores defendem que a literatura pode promover experiências de visitação diferentes e recomendam que se recorra às novas tecnologias para incluir Saramago.
“Em vez de remeter para o escritor, pode remeter-se o ‘Memorial do Convento’, cujas personagens principais Baltazar e Blimunda são muito queridas de quem lê e acabam por representar a população de Mafra”, exemplificou Marcelo Gonçalves Oliveira.
De autoria de Marcelo Gonçalves Oliveira, Maria do Carmo Leal, Maria Isabel Roque, Maria João Forte, Sara Rodrigues de Sousa e Antónia Correia, o estudo foi realizado no âmbito de um projeto multidisciplinar sobre destinos turísticos ligados à literatura, que junta investigadores das áreas da literatura, museologia, antropologia, ‘marketing’ e turismo.
O projeto foi financiado pelo grupo internacional de ensino superior de que a Universidade Europeia faz parte.
A investigação foi dada a conhecer em abril do ano passado, em Coimbra, durante uma conferência da UNESCO.
Após a divulgação do estudo, foi anunciada uma rota cultural por Lisboa, Loures e Mafra inspirada em Saramago e no “Memorial do Convento”.
Em 2017, o Palácio de Mafra foi visitado por cerca de 378 mil pessoas."
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