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"Pensando na especificidade da representação artística do ficcão romanesca contemporânea, entendemos que há uma nova postura diante do que seria a realidade e das suas possibilidades de ganhar contorno pela linguagem. Sendo assim, esta pesquisa busca articular a mimesis empreeendida pelo romance contemporåneo e o comportamento do narrador. Logo, ocorre um questionamento - muitas vezes, metalinguístico - do real criado pela diegese. O narrador promove mais um bordeamento do que um preenchimento de sentido; o que nos levou à ideia de que a narração do romance contemporâneo se estrutura como angústia. Então, acreditamos que o narrador é o elemento narrativo central para termos acesso à construção da realidade apresentada pela ficção romanesca contemporânea. Diante disso, elegemos a angústia como afeto majoritariamente presente dentro deste romance, não só enquanto tema, mas também como constituinte da estrutura diegética. Dada esta situação, escolhemos dois romances de Saramago - pertencentes a fases distintas da obra do escritor, História do cerco de Lisboa e Ensaio sobre a cegueira - como exercício de análise dentro da proposta descrita anteriormente. Por fim, esta pesquisa busca não somente contribuir com estudos a respeito do romance contemporâneo, mas também sobre o funcionamento do narrador diante da tarefa de representar uma realidade. A respeito da metodologia, sobre a mimesis, a obra de Luiz Costa Lima é fundamental ao trabalho; principalmente pelo percurso diacrônico que propõe, ao mesmo tempo em que revê suas próprias postulações sobre o assunto. A obra de Genette é a base que permitiu fazer os estudos sobre narrador evoluírem em nosso trabalho. Sobre a angústia, são centrais as obras de três pensadores: Kierkegaard, Freud e Lacan (além de obras de intepretação da arte a partir destes mesmo autores)
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BIZIAK, Jacob dos Santos. Entre o claro e o escuro: uma poética da angústia em Saramago. 2015. 135 f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciencias e Letras (Campus de Araraquara), 2015"
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SINOPSE
"O caminho rumo àquilo que conhecemos como arte moderna e arte contemporânea e também rumo à filosofia contemporânea consagra-se com o reconhecimento da noção de verdade não mais sob uma ótica essencialista, que “moraria” no objeto, mas enquanto intervalo. Desta forma, os valores não são substância a ser alcançada, mas movimento a ser sempre repetido e rememorado no espaço necessário entre o Eu e o Outro. A única forma de estabelecer ligações entre um e outro é por meio do campo simbólico das representações, que, por seu turno, são significantes que, para manutenção do desejo, nunca podem ser reduzidos a um sentido estanque. Isso, de forma muito simplificada, é o princípio constituinte do angústia, que conduz à fundação do humano, que, por seu turno, remete à arte.
Sendo assim, este trabalho de doutorado busca analisar a presença da angústia dentro de duas obras do escritor português José Saramago: História do cerco de Lisboa (1985) e Ensaio sobre a cegueira (1995). Entendemos, nesta pesquisa, que a angústia, dentro do amplo quadro da ficção contemporânea, é representada não somente enquanto figura ou tema, mas, acima de tudo, como estrutura narrativa; uma vez que a narração se processa como angústia. Nas duas obras apontadas, a partir da maneira como o narrador exerce sua postura provisória diante dos fatos, assumindo o discurso como intervalar, a angústia torna-se o próprio material de que a obra romanesca é feita.
Dessa maneira, o ponto estabelecido para chegada é o cotejamento entre as duas obras do escritor lusitano de maneira a apontar uma possível poética organizadora de sua produção romanesca. Para isso, estabelecem-se relações, ao fim do trabalho, com outros livros do autor. O mais interessante é que a constatação da angústia como causadora de um efeito de sujeito intervalar ocorre, paulatinamente, junto com a ideia de que existam peculiaridades na ficção contemporânea e sua mímesis.
autor: Jacob dos Santos Biziak (2016)"
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