A referência de Hyeronimos Bosch surge n' "As Pequenas Memórias",
página 36, ed. Outubro de 2006, Editorial Caminho.
(...) "A ambiciosa ideia inicial - do tempo em que trabalhava no Memorial do Convento, há quantos anos isso vai - havia sido mostrar que a santidade, essa manifestação «teratológica» do espírito humano capas de subverter a nossa permanente e pelos vistos indestrutível animalidade, perturba a natureza, confunde-a, desorienta-a. Pensava então que aquele alucinado Santo Antão que Hyeronimus Bosch pintou nas Tentações, pelo facto de ser santo, havia obrigado a que se levantassem das profundas todas as forças, as visíveis e as invisíveis, os monstros da mente e as sublimidades dela, a luxúria e os pesadelos, todos os desejos ocultos e todos os pecados manifestos. (...)
De facto, se puséssemos uma criança qualquer, e logo um qualquer adolescente, e logo um qualquer adulto, no lugar de Santo Antão, em quê se expressariam as diferenças? Tal como ao santo assediaram os monstros da imaginação, à criança que eu fui perseguiram-na os mais horrendos pavores da noite, e as mulheres nuas que lascivamente continuam a dançar diante de todos os Antões do planeta não são diferente daquela prostituta gorda que, uma noite, ia eu a caminho do Cinema Salão Lisboa, sozinho como era meu hábito, me perguntou numa voz cansada e indiferente: «O menino quer vir para o quarto?»" (...)
Via Exposição Museu Nacional de Arte Antiga
http://www.museudearteantiga.pt/colecoes/pintura-europeia/tentacoes-de-santo-antao
Do Catalogo:
Assinado por Bosch, este tríptico integra os quatro elementos do Universo (céu, terra, água e fogo) tornando-os cenário de personagens horrendas.
Neste tríptico encontra-se a mais recorrente e central temática de Bosch: a tentação e a solidão do homem justo perante o mal e o diabólico que, de forma expressa no monstruoso e no híbrido ou sob uma falsa e provocadora beleza, domina o mundo terreno.
Nas faces internas, o tríptico mostra três passos da hagiografia de Santo Antão, tentado e seduzido pelos demónios até encontrar o caminho para a salvação através da experiência eremítica. Nas faces externas, visíveis com o tríptico fechado, situação em que normalmente se encontrava, são figuras populares e não demoníacas que acicatam e perturbam o caminho de Cristo da Prisão até ao Calvário; a sua monocromia ajuda a criar uma atmosfera estranha e luarenta, que sublinha a desolação da paisagem e acentua a inquietante certeza de um domínio generalizado do mal.
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