A arte que transporta a Liberdade... os povos se que se exprimem através da arte.
José Saramago foi polémico, considera uns.
José Saramago foi incómodo. muitos o sentem.
José Saramago foi desassossegado, sempre inquieto.
Via Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Censura_em_Portugal)
"Em 1992, o subsecretário da Cultura, António Sousa Lara, vetou a candidatura do romance "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago, ao Prémio Literário Europeu, justificando tal decisão dizendo que a obra não representava Portugal mas, antes, desunia o povo português. Em consequência do que considerou ser um acto de censura por parte do governo português, Saramago mudou-se em 1993 para Espanha, passando a viver em Lanzarote, nas ilhas Canárias."
Este episódio poderá ser marcante, na e da cultura portuguesa, um entre muitos exemplos.
A censura em democracia, circula sem lápis azul... por certo e de certo que quem sente a censura, ela lhe aparece sob a forma mais subtil - o lápis transparente.
O pensamento primeiro, ou dos primeiros que me surge, transporta o peso de uma ideia - Portugal país milenar, de invasões e descobertas, nação una à volta da mesma língua, percorreu meio mundo divido através de uma negociada (tratado de Tordesilhas), onde a cultura há muito que não merece um ministério. Um edifício estatal que proteja e promova as diferente artes e língua.
Nas entrevistas que José Saramago concedeu, muitas vezes aflorou o tema da censura e suas formas de se manifestar, como um sensor das mentalidades e públicas virtudes.
O homem, o democrata, deu por diversas vezes o corpo às balas... demasiadas vezes sozinho.
Um dia, este homem, que amava o seu país - deverá ter pensado... estou farto do lápis azul...
Jornal de Letras
5 de Novembro de 1991
José Carlos de Vasconcelos
"Evangelho Segundo Jesus Cristo" é apresentado
A ideia que Saramago alimentava sobre alguma polémica com a Igreja
(...)
Então ainda pode ser excomungado...
Posso. Mas não penso que a Igreja me tome tanto a sério ao ponto de excomungar...
O tome tanto a sério ou tome tanto a sério o romance?
Acho que a Igreja vai fazer de conta que o livro não existe. O que não significa que não surjam por aí alguns ataques, mas não será a Igreja directamente como instituição que vai produzir uma nota ou um comunicado.
É capaz de dar um editorial da Rádio Renascença...
Sim, um editorial da Rádio Renascença é capaz de dar (risos)...
Isso diverte-o ou preocupa-o?
Nem me diverte nem me preocupa. Cumpri uma espécie de dever: tinha de escrever um livro, está escrito. O que possa acontecer depois atingir-me-á, de uma maneira ou de outra, mas de certa maneira as questões que se vierem a pôr não são comigo. São com o livro. Sou o seu autor e único responsável, não o podem retirar de circulação.
Já não há inquisição...
Não há inquisição, não há censura. (...)
Nesta entrevista, transparece o sentimento da liberdade do autor. É um romance, uma obra, o homem não concebe por estes dias a inquisição e a censura. Não redondo.
Revista Visão
16 de Janeiro de 2003
José Carlos de Vasconcelos
Passados anos... a censura sempre existiu... no tempo e à distância, atenta-se nestas palavras
(...) ... que aliás é (o «senso comum») uma personagem importante do teu último romance...
... um pouco de senso comum: em 1992 era governo o PSD, que pela pena ou a palavra de um subsecretário de estado da Cultura cometeu contra mim um acto de censura que não foi desautorizado pelo secretário de estado, nem pelo primeiro-ministro, nem por ninguém. Protestei, falou-se muito, inclusive na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, saí de Portugal e vim para aqui para Lanzarote. A seguir, veio um governo do PS, com quem tive relações normais, cordiais - para além de as ter, antigas, com alguns dos seus membros. Depois, regressou o PSD ao Governo. E o que eu disse é que não colaboraria com um Governo que cometeu um acto de censura do mais descarado e insultuoso da inteligência e do qual nunca pediu desculpa. E não tenho que colaborar, como se não tivesse acontecido nada, com instituições oficiais que dependem desse Governo. Que me peçam desculpas públicas (não através de uma cartinha confidencial), e a questão resolve-se. Ninguém deste Governo, a que pertencia o actual primeiro-ministro, se insurgiu contra o que se passou. Pelo contrário, chegou a haver um jantar de homenagem ao Sousa Lara! Então que queres que faça? Que não tenha vergonha na cara? O que lhes falta a eles, sobra-me a mim. Ah!, mas o prejudicado é o País... Por muito que me prejudique o País, nunca será tanto como eles o prejudicaram cometendo, com a divulgação internacional que se sabe, um acto de censura contra um escritor português que por acaso, uns anos mais tarde, veio a receber o Prémio Nóbel. (...)
Passado um ano, em Março de 2004, o assunto volta à baila. Talvez mais incisivo e decidido.
Revista Visão
25 de Março de 2004
José Carlos de Vasconcelos
(...)
Como vai o «mal de amor» pela Pátria de Saramago?
O mal de amor de José Saramago pela Pátria é conhecido. Pago todos os impostos em Portugal e voto em Portugal. Se não vivo em Portugal é porque fui maltratado, publicamente ofendido pelo Governo de Cavaco Silva, de que era secretário de Estado da Cultura Santana Lopes e subsecretário de Estado Sousa Lara. E no Governo, a que pertencia Durão Barroso, não se levantou uma única voz dizendo «isto é um disparate, isto não se faz»! Outro dia, alguém falou no caso ao primeiro-ministro (Durão Barroso), que disse querer arrumar o assunto: vinha a Espanha e teria muito gosto em almoçar comigo. Assim, durante o almoço, provavelmente entre a fruta e o queijo, ele diria «vamos pôr uma pedra sobre o assunto, não se fala mais nisso»; e eu diria, «sim senhor, vamos pôr». Só que comigo as coisas não são assim. Ofensa pública, desculpas públicas. (...)
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