Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Em 2003, Saramago perguntava sobre Portugal

Imaginar hoje o que Saramago se fosse vivo, poderia pensar sobre estes dias de Portugal.
Imaginar o seu pensamento, é recuar no tempo e procurar as suas perguntas, as suas questões.
Em 2003, perguntava "Onde está uma ideia de futuro para Portugal?"
Em 2014, estamos no futuro próximo, vivido, para responder à Saramago.
Cada vez mais, a ideia, o pensamento, o elementar princípio da ideia unificadora de Portugal - Não existe.



em, Revista Visão
José Carlos de Vasconcelos
16/01/2003

(...) Estávamos (com Mário Saramago) na sala a conversar sobre tudo isto e perguntei-lhe se tinha a certeza de que Portugal daqui a 50 anos ainda existiria - e ele disse-me que não...

Por passar a estar integrado nos Estados Unidos da Europa?
Porque não temos um projecto de País, um futuro próprio. Vivemos ao deus-dará, conforme o lado de que o vento sopra. Não há um querer próprio, as pessoas já não pensam só no dia-a-dia, pensam no minuto a minuto! Estamos endividados até às orelhas e fazemos uma falsa vida de prosperidade. Aparência, aparência, aparência e nada por trás.
Onde estão as ideias? 
Onde está uma ideia de futuro para Portugal? 
Como vamos viver quando se acabarem os dinheiros da Europa?
Parece que ninguém quer pensar nisto, os governos todos navegam à vista da costa. Falta ousar ir mais além. (...)

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