Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sábado, 29 de novembro de 2014

Será "Honorato" o início da metamorfose?

Será o pseudónimo de "Honorato", o início do processo da metamorfose, do qual resultou e gerou o escritor José Saramago?
Primeiro com o romance "A Viúva", publicado em 1947, sob o nome alterado pelo editor para "Terra do Pecado", este que antecede a "construção" da obra - "Claraboia", já a década de 50 estava perfeitamente em curso (1953). 
Este livro transporta consigo a curiosa introdução da assinatura sob pseudónimo - Honorato. 
Diz a história dos acontecimentos, que o resultado final foi enviado para apreciação do editor, e que terá ficado esquecido numa gaveta. Em 2011, sessenta anos depois, ganhou nova alma e saído de um lugar esquecido, vê a luz do dia, sendo publicado a título póstumo.
A "Terra do Pecado", que ficará para outro post, e a "Claraboia", são o início de um caminho. O tal "caminho que se faz caminhando", caminho da escrita publicada, que ficou pendurada ou suspensa, entre chavetas ou parênteses da vida, talvez demasiados anos até que a constante publicação literária ganhasse vida e cadência própria. Considero, que o sustento da vida quotidiana, do homem e da sua família, obrigou como é natural a concentrar toda a atenção no trabalho minimamente remunerado, atrasando o germinar do futuro escritor, com a marca de obra tardia.
Em a "Claraboia", a história, a gestão das personagens e seu compasso de "vida" estão presentes, conjuntamente com a consciência e problemática social - o "eu e os outros", porém, o estilo da escrita e pontuação, tal como o temos subentendido quando falamos em (ou de) José Saramago, não existe em 1953. Ainda não existia. Saramago, reconhece que só na criação da obra "Levantado do Chão", às paginas 22 ou 23, se fez um "milagre" (dito por si, com a dúvida sobre o criador do milagre).
Quero com isto afirmar, que a leitura da "Claraboia" deverá ser realizada com os olhos no romance mas com o pensamento numa afirmação pessoal, que ocorre nos anos idos da década de 50 do século passado.
Boa leitura!
Miguel de Azevedo   



Referência, via Biblioteca Activa, da Fundação José Saramago,
aqui, em http://www.josesaramago.org/claraboia-2011/

"- Vivemos entre os homens, ajudemos os homens.
- E que faz o senhor para isso?
- Conserto-lhes os sapatos, já que nada mais posso fazer agora."

«Claraboia é a história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo. Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser.» José Saramago

"Claraboia, cuja redação José Saramago terminou a 5 de Janeiro de 1953, consiste num datiloscrito de 319 páginas, assinado com o pseudónimo de «Honorato»."

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