Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Citador #16 ... não seremos todos descartáveis... em "A Caverna"

Citador #16
... não seremos todos descartáveis... em "A Caverna"



(...) Depois, falando lentamente, como se tivesse de arrastar atrás de si cada palavra, disse, Desculpa-me, não queria ofender-te, não queria ser desagradável contigo, às vezes não o posso evitar, parece ser mais forte do que eu, e não vale a pena que me perguntes porquê, não te responderia, ou dir-te-ia mentiras, mas há razões, se as procurarmos encontramo-las sempre, razões para explicar qualquer coisa nunca faltaram, mesmo não sendo as certas, são os tempos que mudam, são os velhos que em cada hora envelhecem um dia, é o trabalho que deixou de ser o que havia sido, e nós que só podemos ser o que fomos, de repente percebemos que já não somos necessários no mundo, se é que alguma vez o tínhamos sido antes, mas acreditar que o éramos parecia bastante, parecia suficiente, e era de certa maneira eterno pelo tempo que a vida durasse, que é isso a eternidade, nada mais do que isso." (...)

em, "A Caverna"
Caminho, 2000
Páginas 106 e 107

Palavras de Cipriano Algor, para Marçal Gacho, seu genro. 
Um acabado de descer à terra, outro com o sonho de subir ao topo do centro.


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