Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"Um ensaio itinerante para ler José Saramago - paisagens", de Pedro Fernandes (Revista 7faces)

Um ensaio itinerante para ler José Saramago - paisagens, de Pedro Fernandes de Oliveira Neto (encarte para a edição especial Variações de um mesmo tom: diálogos sobre a poesia de José Saramago)

Aqui, o link para consulta, em http://www.revistasetefaces.com/2012/07/blog-post_22.html



Género
Ensaio

Capa
Pedro Fernandes de Oliveira Neto

Páginas
102

Outras informações
O catálogo inclui entrevista exclusiva com o professor Horácio Costa e inéditos de José Saramago

Descrição
Não foi de heterônimos como Pessoa, que foi único em cada um dos vários, mas disse ser a soma de todas as suas personagens. Não alçou a qualidade de Super-Camões, como Pessoa ao encontrar Portugal para encontrar a língua, Mensagem, mas sucede e ladeia Camões, e sucede e ladeia Pessoa, como escritor, que se sentiu responsável pela sua língua, por pensar o destino do povo Português, lançando jangada de pedra ao mar, assumindo o posto de Ricardo Reis, a vagar por Portugal, a procurar quê de povo, a encontrar quê de gente, ao enxergar todos cegos, e entregar a uma mulher, a mulher do médico, olhos para vê o que não se via e coragem, coragem de um povo que levantado do chão, cumpre o seu destino de ser filho, e filho, pai, de pai, avô, numa ciranda de povo, que se é continuidade e se é continuísmo, como foi continuidade e continuísmo de um avô analfabeto e criador de porcos, fiel ao seu ofício a cumprir destino, como certo oleiro que ver recusado pelo centro a matéria de trabalho de suas mãos, mãos que também, ao correr teclas, postaram um não reescrevendo a história da presença moura em Lisboa, postando imagens, certo de que, se pintura, há o momento em que não comporta mais pinceladas, mas se palavras, podem prolongar-se ao infinito, lição de manual, de pintura, de caligrafia, de viagem que pela geografia dos mitos, das crenças, da geografia, viagem do viajante que passeia aqui e acolá, a ermo, armado de humor, armado de ironia, por temas, e por espaços quando viajante às margens do Douro vê que a mistura das águas e o ir e vir dos peixes não responde a fronteiras, fronteiras que pode haver entre si e si mesmo, quando duplicado, cópia de si mesmo, no tempo que viu todas as reproduções desfazer o insubstituível, e que não calou caderno porque nele expôs pensamentos acerca das pessoas e das coisas pelos anos, observador de Lanzarote, que antes de lá está e por razão de lá ir, contou de Cristo e o Evangelho, e na barca presenciou entre o Deus pai e o Cristo filho a conversa de todos os tempos enquanto Caim viajava tempos por sina e imposição deste mesmo Deus, pois este nome, José, de este também outro nome, Saramago, que fez da escrita, da devoção à língua, do senso de ser português, e de ser português, ser Camões, ser Pessoa, ser Portugal, que cumpriu seu destino de achar o mundo em caravelas, procurou levar Portugal a cumprir seu destino pela língua em palavras, fiou ser estes todos os nomes.

Gustavo Leite Sobral

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