"A Espiritualidade Clandestina de José Saramago", é uma obra profunda, nada imediatista, recomendando-se uma leitura atenta, reflexiva, compassada, com os necessários avanços e retrocessos que a explanação de um pensamento filosófico deverá obrigar no leitor atento.
De autoria do Professor Manuel Frias Martins, Doutorado em "Teoria da Leitura" pela Universidade de Lisboa, estamos perante alguém dotado de excepcional conhecimento e reconhecida experiência crítica e literária, para abordar tão sensível questão, ao ponto de conseguir colocar o leitor "Saramaguiano" atento a um outro vislumbre do feixe de luz que se pode observar do cerne da obra.
A intolerância e cegueira moral, não raras vezes atinge o novo leitor de Saramago, ou aquele que o conheça, tende a resistir à descoberta e leitura do seu legado literário, dando forma ao eterno preconceito que sempre girou à volta do único prémio Nobel da Literatura de língua portuguesa, e que se baseia, a meu ver, em 3 desculpas, ou lugares comuns - o autor é "comunista", é "um ateu pecador" ou os livros são muito complicados de se ler!!!
Na minha modesta leitura, "A Espiritualidade Clandestina de José Saramago", serve também para desmistificar e desmontar alguns destes preconceitos, sempre dogmáticos, e introduzir ou acrescentar a luz e a dúvida. A tal dúvida que remete para o alternativo, o diferente, a outra visão, em suma, o questionar para desassossegar e manter viva a capacidade do ser humano ser intelectualmente independente.
A primeira leitura desta obra foi deveras apaixonante, e não querendo ousar, ou sequer demonstrar capacidade interpretativa das palavras e pensamento do Prof. Manuel Frias Martins, destaco levemente este excerto, transcrito do "prólogo", e também identificativas do objecto desta obra.
(...) "o que me interessa destacar nesta altura é o facto de que, para os admiradores de Saramago que referi atrás, o que importa é o sentido espiritual das suas palavras, tanto nas obras literárias como em discursos proferidos em diversas circunstâncias, e de onde muitos desses leitores fiéis, retiram frases soltas, mas profundas no seu alcance, as quais vão lançando nas redes sociais não só em homenagem a Saramago mas também numa atitude generosa de promoção da sageza e ética. tal é feito, mais uma vez, independentemente das diferenças ideológicas e políticas com o homem e o escritor. Esta realidade indesmentível demonstra por si só que as obras de Saramago se dirigem inequivocamente aos interesses e às necessidades práticas dos leitores, independentemente da geografia e da língua, apontando ao mesmo tempo para a espiritualidade como expressão intensa da verdade, não no sentido da verdade objectiva e positivista da ciência, mas no sentido da verdade como descoberta dinâmica do duplo princípio: o do conhecimento da vida e o da negação de uma existência agrilhoada." (...)
Páginas 16 e 17
(Imagem de artigo publicado no Expresso,
pelo punho de José Tolentino Mendonça)
Sinopse
"Saramago pertence àquele grupo de escritores que parecem ter lido em toda a parte ou vivido em todo o lado, mapeando o humano por sinais identificáveis por todos ao mesmo tempo e decifrados por cada um à sua maneira. Tanto as suas construções ficcionais das atmosferas judaica e cristã como as observações subsidiárias que encontramos dispersas por entrevistas e artigos reflectem uma amplitude de referências culturais onde se abriga um extraordinário ecletismo filosófico e religioso ou, dito de outra maneira, um conhecimento amplo do fundo cultural e religioso da humanidade, o qual é não raras vezes encarado como desafio à razão e à imaginação do próprio escritor. Possuidor de um espírito inquieto quando à humana condição e de um coração ávido de justiça, o homem José Saramago é uma espécie de abrigo intelectual de um escritor que mistura criativamente os inúmeros conseguimentos do pensamento humano independentemente da sua proveniência histórica ou geográfica." - Manuel Frias Martins
(Imagem de artigo publicado no Expresso,
pelo punho de José Tolentino Mendonça)
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